(Significa: Dono do Rio, esse nome foi dado pelos antigos índios que habitavam a região)

Pantanal, seus rios e suas lendas:

 Rio Paraguai. Rio São Lourenço. Rio Taquari. Rio Miranda.

Os Negrinhos do Amolar. O Minhocão do Pantanal.

Regiões do Pantanal: A grande região pantaneira, tem características próprias, conforme a geologia, as vegetações, e principalmente as nascentes dos rios que as formam. Seguindo essas características, a grande planície foi dividida em 11 regiões.

 Pretendemos ao longo dos trabalhos, e das viagens irmos descrevendo, alguns aspectos principais de todas as regiões que passamos, de caminhonete, de ATV, de barco, avião e de trem.

  1. O Pantanal Introdução e considerações.
  2. Todos os rios do pantanal, nascem nas serras, ao redor da planície pantaneira. Chapada dos Guimarães, Serra de Maracaju, Furnas do Mutum, Serra da Bodoquena.
  3. Viagem a Fazenda Furna do Mutum. Nascente do Rio Taquari. Nascente do Rio Coxim, região de Camapuã.
  4. Rio Paraguai, sua importância. Seus afluentes principais.
  5. Viagens ao Pantanal. Corumbá. Passo do Lontra.
  6. Pescaria ao Rio São Lourenço. Vila Santa Izabel. Região do Tarigara.
  7. Viagem com o Barco Shekinah, Corumbá, Rio Paraguai Mirim. Baia São Francisco.
  8. Viagem com o Barco Shekinah de Corumbá até o Rio Piquiri, MT. Tucunaré. Animais. Onças.
  9. Transpantaneira. Porto Jofre.
  10. Estrada Parque Pantanal. Passo do Lontra, Transpantaneira, Porto Manga e Corumbá.
  11. Passagem pela cidade de Bonito, MS.
  12. Viagem pelo Rio Miranda até o Hotel Flutuante, encontro do Rio Miranda com o Aquidauana.
  13. Pescaria no Passo do Lontra, e Rio Vermelho, ninhais.
  14. Viagem de ônibus HULK, ao Rio Miranda.
  15. Viagem de trem para Corumbá, 30 horas, pela Estrada de Ferra Noroeste do Brasil.

        VIAGEM AO PANTANAL

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Esta é uma visão inesquecível do pôr do sol no Pantanal, Rio Paraguai. Talvez esta imagem seja o símbolo de nossa eterna e memorável lembrança de toda essa planície, onde a natureza e o eterno poder de Deus tenha criado um ambiente que seria a excrescia da natureza ainda pouco tocada pelo homem.  

Cada pôr do sol nas águas do Pantanal, é um novo e inesquecível espetáculo da natureza. Nestes 30 anos de ida ao Pantanal, não tenho nenhuma fotografia do pôr do sol, que seja, se quer, semelhante a outra.

Introdução: Os primeiros viajantes na região, comandados pelo explorador espanhol Álvar Núñez Cabeza De Vaca (1559), referem-se à região dos Xaraiés como um lugar de grandes águas entrecortadas por muitos rios, de comida farta, habitado por milhares de indígenas possuidores de prata e ouro.

Já o nome Xaraiés tem raízes históricas ligadas aos povos indígenas que habitavam as margens do rio Paraguai, na região de Cáceres. A existência dessas tribos talvez seja a única verdade que restou da lenda da “Laguna”, essa lenda se referia a uma baia Verde, pela existência em seu fundo de um tapete de esmeraldas.

Com traços mistos das culturas amazônica e andina, o Povo de Xaraiés viveu por oito séculos no Pantanal de Cáceres, onde habitou aterros, erguidos por povos mais antigos, e construiu grandes cidades. O grupo vivia sob uma refinada teia social, com elaborados rituais fúnebres, mas acabou dizimado pelos europeus antes de 1750. Restam apenas vestígios dessa civilização de grandes ceramistas do Pantanal.

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Esta é uma urna funerária de cerâmica, encontrada por uma pesquisadora, na região habitada, a mais de 8 mil anos, pelos povos Xaraiés. É uma prova inconteste da existência, destes primitivos habitantes em toda a região do Pantanal. Quando observamos os índios, no interior do Pantanal, notamos algumas lendas, e histórias que nos lembra a cultura dos primitivos povos andinos.

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Em um voo de Rondonópolis para Vela Santa Izabel, estando bem baixo, 2000 pés, foi possível tirar essa foto. Esta tribo de índios como dezenas de outras, já existiam no pantanal a mais de mil anos antes dos portugueses descobrirem o Brasil.

Fotografei esta taba de índios pantaneiros, a 20 minutos de voo de Rondonópolis. Situada a margem direita do Rio São Lourenço. Provavelmente são de origem Bororos ou Guatós. No pantanal, na fase de seu descobrimento, ano de1.520 pelos espanhóis, haviam numerosas tribos de índios em todo Pantanal. Índios Canoeiros, Índios Cavaleiros, Guaicurus, Guaranis, Bororos, entre tantos outros, que habitavam este grande e rico Pantanal. Nesta fotografia do Google, pode-se ver perfeitamente a localização da tribo indígena.

Na Guerra do Paraguai, os índios tiveram uma atuação determinante, junto as tropas brasileiras no Pantanal. No meu tempo de ginásio o professor de História do Brasil, mestre Guerreiro, em altos brados falava dos índios cavaleiros, falava da atuação do mestiço Guia Lopez, hoje é nome de rua em várias cidades.

Estive em uma tribo de índios Bororos, margem esquerda do rio São Lourenço, já a 20km antes da barra com o rio Paraguai. Conversei longamente com o chefe. Logicamente servimos, a ele e ao grupo, alimentos e coca cola. Ele falou-me que há tempos imemoráveis, existiam trilhas unindo todas as tribos indígenas da região pantaneira. Frisava bem! Elas ainda existem, sou capaz de ir por trilhas até Aquidauana, em uma semana. Não me estenderei mais neste relado, mas ele foi recheado de lendas e histórias míticas. Que irei narrando nos momentos oportunos.   

RIO PARAGUAI

Esta fotografia da nascente do rio Paraguai foi retirada do Google. Ele nasce a 290m de altitude. Ele nasce no município de Alto Paraguai MT, depois de percorrer mais de 2600 Km, desagua no Rio Paraná, formando junto com o rio Uruguai o grande estuário do PRATA. Seu trajeto no Pantanal é bastante sinuoso, como consequência ele é lento, se uma canoa for solta em Cáceres, ela demoraria 6 meses para chegar ao Oceano Atlântico.  Nas minhas navegações pelo rio, constatei uma velocidade média de suas águas de 7 km/hora.

De uma modesta nascente, depois de receber afluentes importantes, passa pela região de Corumbá este majestoso rio. Suas águas unem países, marcam divisas, por ela passam barcaças. É enfim, a espinha dorsal do Pantanal. Descrever o que passou por suas águas, é contar a verdadeira História do Pantanal.

Origem geológica do Pantanal: O Pantanal Mato-Grossense é considerado a maior planície alagada contínua do mundo, com 140.000 km2 em território brasileiro, localizados nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Trata-se de bacia sedimentar de origem quaternária, irrigada pelo rio Paraguai e seus afluentes. Constitui-se de um amplo vale de formação sílico-calcária, com relevo plano ou levemente movimentado, formando uma planície sedimentar que apresenta então, um ciclo de inundações periódicas.

Assim, o solo do Pantanal é enriquecido periodicamente pelas águas da cheia, que trazem argila e matéria orgânica proveniente da decomposição dos detritos acumulados na sua camada superficial, e dos planaltos ao redor da região onde nascem os rios.

O rio Paraguai é a espinha dorsal de todo Pantanal, nasce na Chapada dos Parecis, no estado de Mato Grosso e banha também o estado de Mato Grosso do Sul. Suas duas margens são brasileiras. Faz fronteira do Brasil com a Bolívia só num trecho ao sul.

Seus principais afluentes são os rios: Sepotuba, Cabaçal, Jauru, São Lourenço, Paraguai Mirim, Pacu, Velho, Negrinho, Taquari, Abobral, Miranda, Novo, Nabileque, Apa (que faz a divisa do Brasil X Paraguai), Negro (Bolívia e Paraguai), Branco, Tereré, Aquidabã e Apa, no território brasileiro. Os afluentes Ypané, Monte Lindo, Jejuí, Manduvirá, Piribebuy, Pilcomayo, Tebicuari e Bermejo são afluentes fora do território do Brasil.

TODOS OS RIOS DO PANTANAL, NASCEM NAS SERRAS, AO REDOR DA PLANÍCIE PANTANEIRA.

Tivemos oportunidade de encontrar algumas escarpas do Planalto Central onde os rios nasciam.

Esta é uma fotografia muito importante, pois exemplifica como nascem os rios, incluindo os afluentes do Rio Paraguai. Esta é a nascente do rio Coxim, na Serra do Camapuã. Foi tirada por mim, em um voo de Três Lagoas para a cidade de Coxim, estava a 6.000 pés de altitude, e o sol propiciou, o contraste das dezenas de nascentes do rio na serra. Camapuã que significa, seios de mulher, em tupi-guarani.

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Estas são as visões de 6000 pés de altitude das duas formações na montanha, que os índios a associavam aos seios de mulher. Claro, que do chão e mais perto a visão será completamente diferente. As fotografias não estão nítidas devido à grande quantidade de bruma seca existente em todo pantanal, nesta época.

Em 1593, os jesuítas espanhóis, procedendo da região de Guairá e subindo o rio Paraná e depois o rio Pardo, se estabeleceram com uma povoação à margem do ribeirão Camapuã, a 18,0km do Porto de desembarque no Rio Pardo e a 3,0;km abaixo da atual cidade de Camapuã. Essa redução dos jesuítas concentrou, na época, um grande número de índios catequizados, foi construída pelos paulistas, por volta de 1650, e tornou-se pouso das bandeiras que demandavam no rio Coxim, rumo às minas de ouro em Cuiabá. A rota das longas viagens, de São Paulo a Cuiabá (uma distância de 530 léguas por via fluvial).

Os desbravadores, se organizavam na vila de São Paulo, faziam seus grandes barcos, chamados de batelões, e partiam em caravanas em busca de ouro na região de Cuiabá e Poconé. A bandeira, como podem ser chamados, saiam da cidade hoje chamada de Tietê, e desciam o Rio Tietê. No trajeto do rio tinham que transportar, por terra, os batelões nas cachoeiras do rio. A mais importante era o Salto do Avanhandava, hoje submersa pela Barragem de Promissão.

Depois haviam outras, mas em todas as dificuldades eram evidentes que, somente eram vencidas pela motivação da busca do ouro. Depois de meses de “navegação”, chegavam ao grande Rio Paraná, aí buscavam o Rio Pardo ou o Sucuriu, e subiam o rio até sua cabeceira, onde termina a bacia do Prata.

Havia uma serra limitando as bacias do Prata e do Paraguai, a serra como podemos ver na fotografia se chamava Serra do Camapuã, neste ponto tinham que levar seus batelões por uns 12 km, até atingirem o Rio Coxim. Este ponto deu origem a um entreposto muito famoso nesta imensa travessia. Camapuã.

Desciam o rio Coxim, até o Rio Taquari, onde surgiu o povoamento de Coxim. Desciam o Rio Taquari até o Rio Paraguai, subiam o rio até a cidade de Cuiabá. Segundo um viajante do tempo do ouro, no trajeto todo haviam 524 cachoeiras e corredeiras a serem transpostas. Mas, tanto ouro compensava todo o sacrifício, sem contar os índios da região que nem sempre eram amistosos. Bem isso é uma outra história.

DEPOIS DE SOBREVOAR A REGIÃO DE CAMAPUÃ, CHEGAMOS À CIDADE DE COXIM.

A pista do aeródromo de Coxim era de terra, e neste dia que eu aterrizei lá, haviam dois cavalos no meio da pista, tive que arremeter, é sempre tenso estes procedimentos. Fiz o contorno da pista, espantaram os animais e pude fazer um procedimento de pouso tranquilo.

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Nas fotografias anteriores nota-se a presença de uma bruma envolvendo todo ambiente. No Pantanal, devido as queimadas, forma-se no ar uma bruma seca, que impede o voo visual quando se sobe a mais de 3.000 pés. Olhando o altímetro do avião, pode-se ver estamos a quase 6.000 pés, já não enxerga mais nada, a navegação torna-se de instrumento, e voar assim naquele tempo era muita tensão para piloto. Não existia o GPS. Não existia nenhum apoio de instrumento nos aeródromos de nossos destinos, era tudo visual, o que tornava em certo momento a navegação aérea, muito angustiante.

O QUE É BRUMA SECA: Assim como a neblina a névoa seca (também conhecida por bruma seca ou nevoeiro fotoquímico) é formada quando há a condensação de vapor d’água, porém em associação com a poeira, fumaça e outros poluentes, o que dá um aspecto acinzentado ao ar. Porém, quando ocorre nas proximidades de aeroportos, a redução da visibilidade pode chegar a afetar a aviação.

Logo depois que saímos de Coxim, a bruma seca estava muito densa, não senti segurança para rumar para Cáceres, mudei a rota para Rondonópolis, depois de 20 minutos a rádio da cidade foi sintonizada, nos dando a direção correta do rádio farol, NDB. Com mais tranquilidade, cheguei à cidade, onde de alegria pedi ao companheiro que registrasse este momento. Ao lado da pista, passa uma rodovia, Rondonópolis X Cuiabá, onde tem um posto de gasolina. Fomos ao posto, onde bons e frescos pastéis, matou nossa fome e a ansiedade. Na região, a bruma estava menos densa, depois de comermos e abastecer o avião, partimos para Cáceres.

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Aí estou em Rondonópolis, feliz de ter chegado bem. As condições para o voo não estavam nada boas. Aproveitei para abastecimento do avião. São essas recordações que nos mantem vivos, mesmo com o passar inexorável do tempo.

Cada pouso e decolagem, traçando a rota das viagens, são como sinapses que se formam em nossa mente, nos mantendo vivos e com esperanças de nunca pousarmos nossa existência para sempre, no aeródromo do passado.

A grande região, da planície pantaneira, é considerada uma depressão geológica, situada entre grandes Chapadões. O grande rio Paraguai, nasce na Chapada dos Parecis, serraria essa que praticamente limita a Bacia do Prada da imensa Bacia Amazônica.

CHAPADAS, SERRAS E PLANALTOS QUE CONTORNAM O PANTANAL BRASILEIRO

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Imagem é do Google. A vista do início da Chapada dos Guimaraes, quando se sai de Cuiabá. Os limites escarpados do planalto propiciam cenários de rara beleza, pelo seu contraste com a planície, pela cor rosa de seus arenitos metamórficos, onde a mata a seus pés, parece pelejar para aumentar seu domínio. Verde exuberante, preenchendo suas furnas, onde em lugares a água mina, humedecendo o solo.

Sem dúvida é um lugar digno de ser visitado, andamos pelos lugares mais representativos de ATV e Motos. Um paraíso para as trilhas, uma experiência repleta de belezas e inundando o corpo de adrenalina. Essas trilhas da Chapada foram feitas, por mim de ATV e 3 amigos de moto.

Uma das visões mais extraordinárias da Chapada dos Guimarães é logo na subida da serra a cachoeira do Véu das Noivas. A água se precipita nas matas, cavando uma bela caverna, próxima as águas em queda. Nos paredões, de 80m de altura, pode-se constatar, as dezenas de camadas de rochas areníticas metamorfoseadas, que permaneceram após sua formação geológica, de milênios passados.

Do alto do mirante da chapada a visão se perde nas infinitas distâncias do Pantanal. Pode-se ver o caminhar das nuvens cúmulos, refletidas na verde planície. Tempo depois a Este aparece um cumulo nimbos, que se desloca para o mirante. A altura do lugar começa a atrair raios, que estouram estrondosamente a nosso redor, por segurança imediatamente todos entram dentro de seus veículos, efeito da gaiola de Faraday

 O Parque Nacional da Chapada dos Guimarães é uma unidade de conservação brasileira, situada no estado de Mato Grosso, nos municípios de Chapada dos Guimarães e Cuiabá, que recebeu a guarda federal. Possui uma área total de 33 mil hectares. Fica na região de Cuiabá, a Este da cidade. No alto da chapada se descortina uma vista maravilhosa de toda região do Pantanal. Todos pequenos rios que nascem nesta chapada desaguam no rio Cuiabá, que mais ao Sul, recebe o Grande rio São Lourenço, na região do Pirigara, depois o rio Piquiri (Itiquia), ao receber esses afluentes, perde o nome de rio Cuiabá e passa a se chamar de Rio São Lourenço, que mais ao Sul, na região da Serra do Amolar desagua no Rio Paraguai. A hidrografia da região, é de um valor inestimável, como área de procriação de peixes, aves, animais e flora.

O Rio São Lourenço nasce na Serra de São Jerônimo ao Norte de Rondonópolis e próximo a esta cidade, recebe o rio Vermelho. Continua tortuoso pelo Pantanal, criando meandros de raras belezas, em todo seu trajeto.  Na região da Vila Santa Izabel, se ramifica inicialmente em dois braços, depois em dezenas, um verdadeiro delta, como de outros grandes rios, ao desembocarem no mar, como por exemplos: Rio Amazonas, Nilo, Danúbio, Mississipi, entre outros. Esta região é chamada de Pirigara.

Este complexo hidrográfico, berço criador de peixes, desagua todo no Rio Cuiabá, que a partir deste ponto passa ser chamado, com toda propriedade, de Rio São Lourenço.

 Mas ao Sul, O Rio Paraguai, depois de Corumbá, recebe importantes Rios que nascem no Planalto Central. O Rio Taquari, que nasce nas furnas do Mutum, e o Rio Coxim que nasce na Serra do Camapuã, que era um referencial geográfico importantíssimo, para os bandeirantes que se dirigiam ao Pantanal, para a região de Poconé e Cuiabá. Nessa região, onde nasce o rio Coxim.

VIAGEM A FAZENDA DE UM AMIGO DO GUSTÃO, O PAULETE. FAZENDA FURNA DO MUTUM.

INFORMAÇÕES PARA CHEGAR À FAZENDA: Para chegar lá na fazenda de avião é muito fácil, ele disse: Coloque na bússola 280 graus, e 15 minutos de voo depois de Cassilândia. Certo? Não tem erro! Aí você estará sobre a fazenda. Na frente da casa há uma piscina.  A pista fica ao lado. É aterrissar.  

Decolei de Cassilândia seguindo as instruções. Claro esperava uma piscina de águas azuis maravilhosa. Vi as casas, mas nada de piscina, apenas um grande tanque para bebedor de bois. Passei rasante e lá foi, a procura da piscina azul. Meu avião Corisco, voa em média 4,6 quilômetros por minuto, passaram os 6 minutos, e nada. Eu disse ao Gustão, estamos perdidos.

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Dei 180 graus na rota e voltei no rastro. Nada de piscina azul. O sol se escondia, o dia terminando, tínhamos que pousar.

O sol paulatinamente ia descendo no horizonte. Os princípios da aviação, manda termos sempre um aeródromo de alternativa, contudo ali no meio do nada, não teríamos tempo para nenhuma alternativa, teria que achar um aeródromo qualquer e pousar.

Tinha acabado de passar por uma ravina, e no topo havia uma faixa de terra, que daria para pousarmos. Passei rasante, para ver, dei 180º no voo e vim com 30° de flaps, trem de pouso baixado e travado.

Pousamos em uma pista improvisada, tive que pular valeta e desviar de cupins. O Gustão foi pedir para dormirmos na fazenda, fiquei no avião. Meu amigo não voltava mais, me preocupei. Daí uns 50 minutos ele veio e contou.

O administrador da fazenda achou que éramos bandidos e segurou o Gustão, como refém. Pegou o nome completo dele, o telefone de sua casa em Araçatuba. Em seguida chamou no rádio o dono da fazenda que era de Birigui. O dono ligou para casa do Gustão e verificou a veracidade da história. Somente então concordou com nosso pouso, e mandou chamar-me.

O incidente foi porque dias antes grileiros, tentaram roubar a fazenda, e trocaram tiros, com os moradores. Incluindo que bateram em dois empregados, jogaram eles no barranco, e fizeram ameaças que voltariam, para pegar muito mais dinheiro.

Assim quando aterrissamos, todos se armaram, e esconderam atrás das casas e no mato. A sorte é que o Gustão com sua pose de grande pecuarista, foi chegando com a mão abanando e cantando, e eu fiquei sentado segurando o cachorro debaixo da asa do avião.

Quando o intercurso terminou, eu e Gustão vimos o perigo que passamos. Do meio do mato, atrás das casas, saíram mais de 15 capangas da fazenda todos com carabina 44 na mão. Se tivéssemos no precipitado, talvez, nossa vida terminaria ali mesmo.

Fizeram uma bela janta para nós, uma galinhada. Dormimos bem, e no outro dia nos mostraram o rumo da fazenda, era bem perto 3 a 4 minutos de voo, o problema era a piscina que de azulzinha, não tinha nada. Era água natural, escura, que eu havia confundido com um bebedor de vaca. A Fazenda se chamava de A Furna do Mutum.

Importante esta fotografia, eu a cavalo, vendo a nascente do Rio Taquari, faz exatamente 42 anos que eu a tirei.

Realmente o dono da fazenda era muito amigo do Augusto, nos recebeu muito bem. Ele ficou muito preocupado conosco, pois viu perfeitamente quando passamos pela propriedade, e não paramos, sabia que estávamos perdidos lá para frente. Disse, que confiou no piloto, pois sabia não faríamos aventuras. Deus ajudou.

No outro dia sai com o cachorro, que se chamava Tejo, nas pastarias da grande propriedade, havia muitas perdizes e codornas. Logo fiz a caçada, minha meta são sempre 5 peças, que me satisfazem e acredito que o cachorro também, pois voltamos todos felizes, ele abanando o rabo.

No outro dia, fui convidado para conhecer a nascente do famoso rio Taquari. Pegamos 3 cavalos, e saímos conhecendo a grande fazenda Furnas do Mutum. Esta fotografia, foi tirada pelo meu primo, eu a cavalo observando o riacho após a nascente do importante rio. Realmente a nascente do rio fica na encosta do Planalto Central.   

Nossa estada na Fazendo do amigo do Gustão foi muito instrutiva e edificante. Pois ele nos mostrou de forma contundente como as plantações no Planalto Central, nas cabeceiras dos rios que correm para o Pantanal, sem curvas de níveis corretas, sem que as matas galerias estivessem sendo respeitadas. Levariam de forma inquestionável, a destruição e o assoreamento dos rios no Pantanal. Citou de imediato os rios: Coxim, Taquari, Aquidauana. e São Lourenço.

Decolamos da fazenda felizes por termos encontrado amigos, mas triste pelas perspectivas futuras. 

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CONTINUANDO PELO RIO PARAGUAI.

O rio Paraguai e seus afluentes, são os formadores e manutentores do grande Pantanal, os afluentes trazem “alimentos” (nutrientes), as plantas os filtram e depositam no solo, solo de aluvião, este é um equilíbrio complexo e delicado.

Depois da cidade e Corumbá, o rio recebe importantes afluentes, que são símbolos desta riquíssima a região:

PARAGUAI MIRIM: Na realidade não é um rio e sim como depois mostrarei, é um corixo do rio Paraguai, que se inicia a 107 Km, ao norte de Corumbá, na Fazenda Sucuri e Baia São Francisco. Por sinal um dos corixos mais lindos que conheço em todo o pantanal.

Descendo o Paraguai para o Paraguai Mirim, com a alegria de poder fazer um belo passeio e boa pescaria. A frente dá para observar bem o limite das águas, “escuras” do Rio Paraguai, e as claras águas do corixo do Paraguai Mirim.

Saí do Rio Paraguai, e a jusante uns 35Km de Corumbá, entramos no Corixo Paraguai Mirim, não me contive ao ver o pantanal da região tão deslumbrante. As matas galerias se refletindo nas limpas águas do rio. Um senário deslumbrante, muitos pássaros, tudo estático, como as sombras da vegetação, apenas o barco cortando as águas, nos propiciava uma visão cinematográfica de todo ambiente.

No início da pesca a Any já havia faturado 2 peixes, aí sua fisionomia de pura satisfação.

RIO NEGRINHO: Ele desemboca, no Paraguai Mirim, alguns quilômetros antes do rio Paraguai. Este rio, aumentou muito seu volume, devido ao assoreamento do Rio Taquari, que jogou parte de suas águas no Neguinho. Ver artigo a FLORESTA DAS ÁRVORES MORTAS.

RIO TAQUARI. Ele recebe o Rio Coxim na cidade do mesmo nome. Infelizmente como previ ele não é mais totalmente navegável devido a seu catastrófico assoreamento. Em 1982, fotografei o rio Taquari chegando turvo, como uma esteira rolante de terras do Planalto, e suas águas não chegavam ao Rio Paraguai, eram represadas e entravam pelos camalotes e capinzais, para saírem mais a baixo limpas. Então, toda a terra, vinda se depositava em seu delta, com isso uma mudança drástica na região ocorreu, e parte do rio mudou de curso.

RIO NEGRO: Depois do Taquari vem este rio, de águas limpas, não o naveguei. Contudo concluo que ele deve ser um corixo também.

RIO ABOBRAL. Também é um rio de fortes características, fiquei hospedado na Fazenda Santa Clara, várias vezes, com isso foi possível conhecer bem o rio, tem uma flora e fauna digna de ser vista. A maior quantidade de aves: mutuns e jaós, que já vi foi nas matas do Rio Abobral, uns 20 minutos de motor depois da ponte da estrada de Passo do Lontra para o Esquinão. Na região baixa do Abobral vi também a maior colônia de aves negras, Itapicurus, em toda a região que visitei do pantanal, lá essas aves são chamadas de frango d`água. Chegavam à tardezinha em incontáveis bandos, havia momentos que chegavam a escurecer o céu.

Estes rios citados, desembocam próximos ao Porto Manga.

RIO MIRANDA: Depois do Abobral, desemboca este rio, já falei muito sobre ele. Já o naveguei praticamente todo, na área navegável, de sua foz até o quilômetro 50, da estrada de Aquidauana a Bonito. Acredito ser este rio um dos mais ricos, que naveguei, pesquei, e fotografei no pantanal. Ele desemboca na região de Morrinhos, pouco ao norte da ponte para Corumbá.

O rio é um dos mais piscosos que já frequentei, em seus poços muitos peixes já foram pegos. Já presenciei neste rio cardumes de curimbatás, lambaris, pintados. O importante que atrás destes cardumes, vinham cardumes de jaus, cacharas, dourados, entre outros, se banqueteando das milhares de iscas que iam à frente.

Os lambaris por exemplo, chegavam a pular nos barrancos, fugindo dos dourados, e estes, quase saiam fora da água para pegá-los. Na calada da noite, ouvíamos a típica batida dos grandes pintados pegando os curimbatás.

 A vida selvagem do rio também sempre presente, jacarés aos milhares, assim como capivaras, cervos do pantanal, ariranhas e algumas vezes onças e na parte mais alta antas. A maior sucuri que já vi foi neste rio.

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Como disse o Miranda é especial, aí estão as magníficas instalações do “Rancho”, que diziam ser frequentado pelo ex-presidente Lula e do governador Zeca do PT.

Este lugar, deste majestoso rancho de pesca, era no passado uma instalação, que poderia servir também para irem pescar, mas pertencia a imensa fazenda da Bodoquena. O dono? Nada além que a organização Rockefeller, durante muitos anos os agrônomos da faculdade de Piracicaba, eram escolhidos para visitarem esta imensa fazenda. O grupo escolhido vinha de trem pela estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Os futuros agrônomos eram instruídos dentro dos mais altos padrões do manejo do gado e dos pastos. Não acreditavam, no que viam, pois a fazenda era tão grande que os veterinários, levavam sal para os gados, nas distantes invernadas de avião.

A história deste estágio na Bodoquena, era motivo, para os alunos estudarem muito, e participarem ativamente das aulas de campo.

Depois essa imensa fazendo foi adquirida pelo Bradesco, onde foi transformada em uma fundação, incluindo escola primária e secundária, consultório de dentista e de médico. Ao longe parecia até uma cidade, a sede da fazenda. Atualmente ela pertence a uma grande empresa do agronegócio.

Segundo consta hoje, este “rancho” está ligada a políticos de Mato Grosso.

Este é o mapa da região do pantanal e as áreas circunvizinhas onde nascem os rios, que vão para o pantanal. A parte mais clara é o Pantanal, a grande planície com períodos que fica alagada. A parte escura do mapa é o planalto central, onde nascem os rios, que desaguam no pantanal em sua margem esquerda. As principais cidades da grande região estão perfeitamente localizadas no mapa. O Rio Apa é o último rio no Brasil, pois é um rio na divisa entre o nosso país e o Paraguai. E dá para ver também a divisa do Matogrosso do Norte, MT e o Matogrosso do Sul MS.

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Esta é uma vista do ano de 1978, de Corumbá, a capital indiscutível do Pantanal. A fotografia foi tirada da cobertura do barco Shekinah, depois da primeira grande curva do rio, isto é, com 30 minutos de rio acima, a 10 Km/h.

Maciço do Urucum. No sopé ou no contraforte desta importante serra está a bela cidade de Corumbá.

Maciço do Urucum ou Morro do Urucum (recebeu este nome pela cor de cavalos antigos de suas terras que se assemelha ao urucum, referindo-se a sua cor, vermelha) é uma morraria localizado ao Sul de Corumbá. Esta serra é famosa por ser a maior e a mais culminante formação rochosa do Estado, com altitude de 1065 metros. Em razão da natureza das suas rochas, o Maciço do Urucum possui grandes reservas minerais, que se destaca o manganês tipo pirolusita e criptomelana (possui a maior reserva do Brasil e uma das maiores do mundo, podendo ser extraído 30 milhões de toneladas) e o ferro tipo hematita e itabirita. Suas jazidas estão sob o controle da seguinte empresa: Vale do Rio Doce e Urucum Mineradora.

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Esta uma visão do ponto mais alto da serra do Urucum, vista da estrada.

Da estrada, Br-262, depois da ponte do Rio Paraguai, avista-se a importante Serra do Urucum. Todo fica vermelho, ao transitarmos pela rodovia, o asfalto e o acostamento, sem mencionarmos os caminhões carregados de minério, até parece que até os choferes estão vermelhos.

O cenário é impressionante, a estrada sobe a imensa encosta da montanha, em forma de caracol. Os grandes caminhões que sobem a montanha, pelas curvas fechadas, nos pareceram, quanto lá bem no alto, a mais de 1.000 metros de altitude, pequenas formigas saúvas vermelhas, lentamente caminhando umas atrás das outras, montanha a cima, até sumirem nos montes de minério extraído. Parei no acostamento, e olhei bem para a grande serra, não sei porque, mas tudo se movimentando, nas distâncias do horizonte, me representou no momento, um formigueiro de formigas cortadeiras em plena atividade.

Da estrada ainda pode-se ver mais ao longe uma grande extensão da serra. Toda a terra na região tem a coloração do urucum, vermelha. Por motivo, como já disse, até o pelo dos cavalos claros, era da coloração do urucum, daí veio o nome da serra. Quando nos aproximamos de Corumbá, de avião, vindo do Este para Oeste a Serra do Urucum de destaca na paisagem, e sabemos a Este da Serra corre o grande Rio Paraguai.

Este mapa esquemático dá uma ideia da localização do Pantanal, em relação a outros estados no Brasil.

VIAGEM AO SHEKINAH COM SAÍDA NO DIA 19-05-2001.

Convidei 3 companheiros para irmos pescar no barco Shekinah. Esta Chalana era minha e mais 5 sócios. Meus amigos, logo se entusiasmaram, fizeram uma sugestão. Antes de irmos para Corumbá, passarmos pela cidade de BONITO MS, para uns mergulhos, no rio de águas limpas, e também conhecer a Gruta Azul. Lógico que concordei, pois seria um ótimo programa.

Optamos por ir de Aquidauana para Bonito por estrada de terra, que seria mais perto, e cruzaríamos a cabeceira do Rio Miranda.

Aí estamos na ponte do Rio Miranda, no chamado quilômetro cinquenta, um lugar com corredeiras, e bom para pegar uns dourados. Eu, Maluf e Marcelo. É incrível imaginar que esse rio percorrerá lindas regiões, fará centenas de meandros pelo pantanal a fora, e em forma de um delta praticamente a mais de 800Km a baixo, desagua no Rio Paraguai. Nesta ponte o que admirei mais, além de uns dourados batendo na margem direita, foi a substituição da mata galeria por uma faixa imensa de bambual.

CIDADE DE BONITO. Desta ponte estávamos a 50Km da famosa cidade, onde as águas são transparentes e o turismo está em alta. É a principal cidade da Região da Serra da Bodoquena. A cidade fica na região chamada de Depressão de Miranda, a 350m de altitude. A cidade está em meio a um dos vales desse planalto, cuja rocha predominante é o calcário.

Tive nesta viagem a Bonito, a oportunidade de mergulhar nas límpidas águas do rio Formoso, e nadar com muitos peixes, incluindo não tive oportunidade de fotografar, mas na margem do rio haviam duas sucuris, segundo o guia estavam acasalando. Deu para vermos, mas não estávamos com a câmara certa para a fotografia, incluindo que a corrente do rio foi nos levando para frente. Essa fotografia minha foi tirada pelo guia.

São fotografias antológicas do mergulho, um dourado maravilhoso, e vimos centenas de piraputangas e piavuçus. A segunda fotografia é da Gruta Azul, ela somente recebe a luz do sol as 12:00hs do dia, ficamos esperando para a foto, ela está a 80m de profundidade do solo.

Falar de Bonito, seria descrever um dos lugares mais bonitos do Brasil.

De Bonito, saímos com destino da cidade de Bodoquena, depois Miranda e pegamos a rodovia para Corumbá.

Chegamos e Ladário e fomos diretos para o porto.

Este é o extraordinário barco Shekinah, que durante 25 anos tantas alegrias em pescarias, e aventuras, nos têm proporcionado. Mostrei esta foto para os companheiros, para motivá-los para a pescaria. Ele estava prontinho nos esperando, no porto Limoeiro, em Ladário X Corumbá.

Este barco tem muitas histórias, na medida do possível irei descrevendo para nós. São 25 anos de aventuras, que o tempo passou, nos dando alegres e felizes lembranças, como alguma coisa, que sempre fez parte de nossa própria existência. Quando eu e amigos o compramos, não sabíamos como ele nos seria tão importante.

Sempre navegando com ele, explorando rios e corixos, com as canoas que levávamos, que foi possível para mim conhecer um pouco dos lugares importantes do Pantanal.

O Shekinah ancorado, sua imagem refletida nas águas, é uma cena que não sai de minha imaginação. Anos de uso desta chalana, tantas emoções e aventuras, principalmente ao lembrar dele aí estacionado na entrada da Baia Vermelha, em mansas águas. Depois desta fotografia, nos reunimos e resolver pintar o barco novamente.

HISTÓRICO DO PANTANAL: Há muitos anos ouço falar no Pantanal, histórias de caçadas de Francisco de Barros Júnior, que escreveu um livro antológico Caçando e Pescando por Todo Brasil. Ele foi pago para divulgar a carabina Remington Calibre 22, no tempo que somente se usava a carabina calibre 44, que foi a arma usada para a conquistado o Oeste Americano.

Depois a epopeia do Marechal Rondon. Que foi incumbido de traçar as linhas telegráficas por todo oeste do Brasil, usado postes de aroeira, que muitos existem até hoje. Ligou a capital Rio de Janeiro a Manaus. O Marechal foi incumbido de acompanhar o presidente dos USA, Roosevelt, em uma viagem que deu origem a um livro. Subiram o Rio Paraguai e foram até a Amazônia, onde um rio desconhecido foi descoberto pela expedição e recebeu o nome do Presidente americano, Rio Roosevelt 

PRIMEIRA VIAGEM AO PANTANAL, EM COXIM.

Entre outras dezenas de histórias. Logo que tive condições econômicas, em 1975, comprei a estão grande perua, Veraneio e convidei meus amigos pescadores para irmos conhecer o famoso Pantanal de Mato Grosso  

Esta é uma fotografia histórica, estamos no posto do Dito, na saída de Ribeirão para irmos para o Pantanal, de perua Veraneio. Todos sentíamos uma emoção extraordinária, pela aventura. Destino a cidade de Coxim.

Não preciso dizer que adorava minha perua veraneio, era companheira de todas minhas aventuras e viagens. Como os carros da polícia eram desta marca, quando eu chegava na faculdade, quando ia com ela, os funcionários me gozavam falando: O camburão do Sérgio Lima, chegou. Eu a vendi com 180.000Km, sem nunca dar um defeito. Ela adorava gasolina, fazia em média 4 a 5 Km/litro, e cada pneu, durava no máximo 18.000Km.

Por exemplo, saia de Ribeirão Preto para o Pantanal, com toda traia e companheiros, procurando andar a 120 Km/h, mas quando passava São José do Rio Preto, 200Km, tinha que abastecer o tanque, iam 40 litros em média de gasolina. Para abastecer novamente em Presidente Prudente.

Depois quando entrava em Mato Grosso, nas estradas de terras e trechos de barros e atoleiro, era em segunda marcha e com o pé no fundo, se parasse ela enterrava na lama. Passava nesses trechos, pela força da inércia, a velocidade não podia cair de 60 Km/h. Era aventura e lama.

Não imaginávamos a situação, de alguns pedaços de estrada que teríamos que passar, no Mato Grosso. Por exemplo, pegamos um longo desvio de puro barro, era na segunda macha, e o pé-na-tábua, senão, atolávamos mesmo. Não podia ter prudência, às vezes, pelo meio do mato ou do pasto, tínhamos que sair, pois havia um ou dois caminhões atolados e não havia passagem.

Os primeiros trechos ruins de terra, eram desvios, situados entre o Porto XV até o Trevão. No meio desse trajeto havia lugares melhores, até um de 40 km de asfalto muito ruim. Esta fotografia, de 1975, na ocasião sei, as estradas eram de terra, e sofríamos para passar, mas éramos acostumados, com isso. Tínhamos treino para pilotar no barro, e realmente chovia muito mais que hoje. Ir para Mato Grosso era sempre uma aventura.  

H:\Estrada para Pantanal ++.JPG

Hoje as estradas e as caminhonetes são maravilhosas, as estradas para o Pantanal são ótimas. Esta curva é a saída da represa de Jupiá, na entrada de Mato Grosso, em Três Lagoas.

Mesmo com algumas dificuldades depois de 24 horas de viajem chegamos ao destino.

Este era o posto de gasolina, em nossa chegada a Coxim. A perua   estava com “sede”. Ademarsão, Regis, Grandini e Nuti, superfelizes pela chegada. Veja e olhe, como era a cidade de MS, naqueles tempos. Éramos jovens e biologicamente audazes, a viagem tinha sido uma deliciosa aventura, já estávamos loucos para acampar e começar a pescaria. Estávamos preparados para acamparmos na Cachoeira das Palmeiras, era um lugar maravilho e de muitos peixes.

No posto o frentista nos deu uma notícia triste. Nos perguntou vão acampar nas Palmeiras?

Disse, há uns 5 dias atrás, deu um vendaval na região de Coxim, e na Cachoeira das Palmeiras, uma grande árvore caiu sobre um carro, matando um pescador, que estava dentro. Essas notícias, empanam um pouco nosso ânimo, pois é triste demais, saber de uma fatalidade desta. Mas desastres naturais, as vezes são inevitáveis, mesmo quando somos prevenidos.

Este nosso acampamento na cachoeira das Palmeiras. Quantos dourados vimos dar pulos espetaculares para subir a cachoeira. No poço a baixo da corredeira, os pintados disputavam espaços, pegar os peixes ali seria até uma traição a esportividade de uma pescaria.

O lugar era um paraíso, sombra, grandes árvores, muitos pássaros, e o rio entulhado de peixes, muita calma em todo lugar, poucas pessoas, era a paz com a natureza. Nessa época, este lugar não era muito conhecido, as estradas não facilitavam, assim alguns anos foi possível desfrutar de toda esta tranquilidade.

Muitos pescadores predadores, abusaram demais da situação, por este motivo que a pesca na cachoeira logo mais, foi proibida terminantemente.  

Anos depois, ao ir para abastecer o avião em Coxim, tirei esta fotografia, recordando os velhos tempos, quando era possível acampar aí, e não havia abuso na quantidade de peixes que se pegava.

Esta uma fotografia a 1500 pés de altitude, em nossa chegada a cidade de Coxim, vindo de Três Lagoas. Esta cachoeira como já disse fica no Rio Taquari, antes da cidade de Coxim, onde ele recebe o Rio Coxim. Realmente dá muita saudade dos anos passados, da beleza extraordinária do lugar, dos peixes na piracema, das araras nas palmeiras, na simplicidade dos moradores do lugar. Comia-se um belo prato de tábua de pacu frita, em um humilde rancho na beirada do rio, perto da Corredeira do Sabão. Uma mesa tosca, um banco improvisado, uma cerveja gelada e uma travessa de fritas de peixes, pegos ali na hora, e tudo banhado na maior hospitalidade e simplicidade. São coisas do passado que não voltarão jamais.  

Por estes motivos que gostamos de recordar, os bons e inesquecíveis tempos que passaram. Aí, estou descarregando a veraneio, junto ao avião Cessna 172, do Aeroclube de Ribeirão Preto, junto com o mecânico Nenê. A aeronave, está revisada e pronta, pois irei com ela para Corumbá. O aeroclube tinha tantos aviões, que nós sócios, acertávamos com a “chefia” Dona Pina, e alugávamos os aviões, pagando somente a hora de voo, para trabalhar ou mesmo ir pescar por este mundo a fora.

Depois de 2 anos de viagens de Veraneio, percebi o grande tempo que perdíamos na viagem, resolvi aprimorar meu “Brevê”, para ganhar tempo e curtir minha paixão pela aviação. Este é um Cessna 172, com o qual muitas vezes fui pescar em Coxim, Porto Murtinho e Corumbá. Depois consegui evoluir, tive oportunidade, e comprei meu próprio avião.

VOANDO DE EMB-711C PARA CORUMBÁ.

Estou em Aquidauana, eu e meu companheiro, infelizmente, já falecido Dr. Regis. Abastecendo meu novo avião, um EMB-711C, que era mais rápido e mais econômico, chamado no Brasil de Corisco. Não esqueço que no aeródromo de Aquidauana, havia uma sala do acerto de conta e do cafezinho, onde havia um belo vaso de plantas, onde estava escrito: NÃO FUMO, SOMENTE BEBO ÁGUA. Era importante, pois naquele tempo todos fumavam, quando após o café jugavam o cigarro no vaso de plantas!

Aí está o Corisco (EMB-711C), com o qual voei durante 16 anos por todo este maravilhoso Brasil. No momento desta foto estou muito animado, pois com os dois tanques do avião cheios, com o Pantanal pela frente, disposto a fotografar tudo. Seria a primeira vez que voaria essa rota com este equipamento.

Já estava informado, o Pantanal estava cheio, não havia passagem por terra de Miranda, para Corumbá, a cidade estava esses dias isolada, queria muito documentar essa cheia histórica.

Visão do Pantanal, na rota de Aquidauana X Corumbá, 20 minutos fora. Estávamos a 3000 pés de altitude. Era período da cheia. A visão durante todo percurso foi maravilhosa. Estas baias azuis são de água doce. As de água amarelada, como a da esquerda são salobras, isto é a água tem sal. Essas baias dão vida à planície pantaneira. Na cheia, como agora, as águas fertilizam o solo, na seca nessas áreas, nasce o capim mimoso, que dará alimento aos animais. Mesmo nessa altitude, o verde da imensa planície, se mistura com o azul do céu, no distante horizonte, formando uma linha tênue, no infinito de nossa visão. São imagens importantes e inesquecíveis para todos nós que gostamos do pantanal.

A atmosfera estava equilibrada com as águas pantaneiras, o avião avançava a 270 Km/h, como se estivéssemos sentados em um “tapete voador”, olhando toda aquela natureza em homeostase. Nunca havia, se quer imaginado, um dia documentar este fenômeno, da Ecologia Pantaneira na região do Aquidauana e Corumbá, tendo ao lado direito da rota a região da Nhecolândia.  

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A fotografia mostra um traçado de água do Rio Aquidauana, cruzando as águas pantaneiras, o azul, é o reflexo do céu limpo, nas espelhadas águas da cheia. 

Depois desta visão, desviei 15 graus da rota para Este queria ver se a enchente tinha chegado ao Rio Miranda, sim o rio estava no meio de toda a enchente pantaneira. Era muita água, meu Deus, que riqueza de vida este Pantanal. Durante 25 anos, que refiz essa rota, nunca mais vi uma enchente desta proporção. Essa imagem é histórica e importantíssima para mim.

A enchente ultrapassou o Passo do Lontra, inundou toda a região da Fazenda Santa Clara, praticamente uniu a calha do Miranda com a planície do Rio Abobral.

Anos depois estive hospedado na Fazenda Santa Clara, mesmo para os empregados da pousada, aquela enchente havia sido histórica.

Essa fotografia é importante também. O encontro da estrada Transpantaneira que no passado vinha de Poconé, até a curva do Leque, ou esquinão, onde se encontrava com a Ecológica, para Porto Manga e Corumbá. Somente duas vezes que tive oportunidade de ver uma cheia desta magnitude. Atualmente o Pantanal tem sofrido com secas mais persistentes e queimadas maiores.

Neste dia de minha fotografia, praticamente todo pantanal estava inundado, milhares de quilômetros quadrados coberto de água. A situação do esquinão exemplifica de forma clara as proporções das águas na planície pantaneira.

ESQUINÃO, na segunda fotografia do Google, tudo em maior aumento e bem esclarecido. Quando esta primeira foto foi tirada toda a região estava de baixo da água. Estive aí de quadriciclo, mas não deu para passar. Os companheiros de Jeep também não, assim não conseguimos ir até o Porto Manga. Foi uma das maiores enchentes que já vi no Pantanal.

ESTRADA PARQUE PANTANAL: Começa 9km antes do Passo do Lontra, Rio Miranda, e vai até o Porto Manga, passamos também pelo Rio Abobral, chega ao famoso Esquinão ou Curva do Leque, onde a estrada do Passo do Lontra se encontra com a Transpantaneira, que vem do Norte, e se dirigem indo para direção oeste, que terminando no Porto Manga. Era parte do trajeto da antiga estrada de Miranda para Corumbá. Na fotografia anterior ela estava completamente inundada.

Esta é a imagem atual do Esquinão ou Curva do Leque, do lado direito da fotografia a estrada que vai ao Passo do Lontra, do lado esquerdo a Transpantaneira, para o Norte, região da Nhecolândia. A última vez que aqui estive, há anos atrás, tudo isso estava debaixo da água, em uma das maiores inundações do Pantanal, isso em anos passados. Há anos que não tem cheias.

Ao lado da caminhonete S-10, havia uma área alagada, e pode fotografar esta ave procurando comida. Jaçanã, não sei se é devido à música, mas tenho uma predileção especial por esta avezinha, muito bonita, com as patas desproporcionais, para caminhar nos brejos, sem se afundar. Quando têm filhotes, os camuflam muito bem, e quando aparece qualquer ameaça, elas saem voando, espalhafatosamente, para desviar a atenção do predador.

Acredito que os moradores do Esquinão, não imaginam, que poderá haver uma nova enchente, nesta área, pois estas construções são novas, se vier uma cheia, acredito que tudo ficará sob a água. Esta estrada, pelo GPS, não tem mais que no máximo, 8m acima do nível dos rios da região. Hoje esta estrada está sendo chamada, depois de receber a transpantaneira de Estrada Parque Pantanal

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           Esta fotografia tirei, em um voo de Aquidauana para Corumbá, estava a 3.000 pés de altitude, infelizmente não dá para notar, mas o curral da fazenda estava cheio de gado. Vi também algumas cabeças de bois perdidas ou mesmo mortas pela inundação. Como tudo na natureza, certos fenômenos, traz vida, mas em algumas situações algumas mortes também. O maravilhoso verde do capim submerso, é o adaptado e extraordinário capim MIMOSO, que irá engordar todo o gado, e herbívoros do Pantanal. Esta água está inundando para oeste mais de 100km de distância, chegando logicamente até o Rio Paraguai.

Esta imagem do Porto Manga no Google Earth é muito ilustrativa. A estrada que vem do Passo do Lontra, Estrada Parque Pantanal, chega na margem esquerda do rio, a travessia para a outra margem é por balsa. Depois a estrada segue até Corumbá. No porto, ainda existe uma pequenina casinha de metal, feita pelo Marechal Rondon. Onde foi instalado a rede telegráfica, pelo ilustre Marechal, unindo o Brasil, do Rio de Janeiro, que era a capital a Manaus, a cidade mais distante do território nacional na época.

Lembranças do passado, como eram as estradas, os animais, e as dificuldades das viagens.

H:\Terra Miranda XCorumbá ++.JPG

Estradada do Passo do Lontra – Pantaneira, passando Rio Abobral, destino ao Porto Manga e Corumbá, com travessia de balsa no rio Paraguai. Na foto um bando de quatis e de urubus. Esta fotografia era no tempo da seca. Quando o Pantanal enchia o mesmo trecho mudava de imagem, como pode-se ver.

Esta estrada hoje reestruturada passou se chamar, Estrada Parque Pantanal, que teve suas pontes reestruturadas e erguidas, para não mais serem recobertas pelas águas das enchentes, pode-se nesta fotografia, ver de forma evidente a grande cheia do pantanal. Grande parte da estrada vira um rio, os corixos que passam sobre as pontes, escoam as águas, contudo nem sempre dão conta, aí a cheia invade a transpantaneira e a estrada de Passo do Lontra até Porto Manga (Estrada Pantanal Parque).

H:\TRANSPANTANEIRA 25KM.JPG

A estrada estava inundada, estes pescadores de isca, atolaram, pois, erraram o leito da estrada tivemos que dar recurso para eles.

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Depois de socorrer os pescadores de isca, encontramos esse quadro, de inundação e passagem dos fios de alta tensão, que levam a energia para Corumbá. Tudo inundado, os índios com propriedade, chamavam de: O MAR DE XARAIES.

Nesta fotografia baixamos o nível do voo, para vermos melhor, estávamos a 1000 pés de altitude, o Pantanal cheio como nunca. Havia grandes trechos da estrada coberta por água. Neste ano, 1978, se não me esqueço foi uma das maiores cheias que houve na região. Vi mais à frente, uma carreta imersa nas águas da grande enchente. Não deu tempo de fotografar, comuniquei com o rádio o fato a Corumbá. Pode- se notar na foto, a rede de alta tensão, que leva energia para Corumbá.   

Neste ponto da rota, podemos ver o rio Aquidauana cheio, quase desaparecendo nas águas. Estamos exatamente sobre o Hotel Flutuante, ou seja, o lugar onde o rio desagua no Miranda. Incrível as maravilhas destes lugares no Pantanal. Com esta cheia, o próximo ano seria de muita fartura.

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Em um voo de jato comercial, da TAM, de Campo Grande para Cuiabá, tirei essa fotografia do Rio Taquari, para vermos melhor seus inúmeros meandros, no seu curso. Esse era o ano de 1985, uma maravilha. (Hoje segundo reportagem da EPTV- Globo -Ribeirão Preto – este rio está morto.)

 A chegada em Corumbá foi emocionante, pois achei uma pista longa e asfaltada, e com os amigos esperando.

Essa viagem que acabamos de descrever, foi muito importante, pois passamos por uma grande enchente do Pantanal no Mato Grosso do Sul, estamos aí na capital do Pantanal sul. Logo voltaremos a descrever outros aspectos dessa maravilhosa região.

VAMOS FALAR DE UMA VIAGEM AO RIO SÃO LOURENÇO.

Politicamente existem 2 pantanais, o Norte (Mato Grosso) e o Sul (Mato Grosso do Sul), contudo ecologicamente falando, é apenas um bioma único. Os fatores ecológicos são intimamente interligados.

Existe no norte do Pantanal o Rio São Lourenço, ele é de uma importância imensa para a ecologia, pois quando ele recebe, ou desagua no Rio Cuiabá, o faz em forma de um complexo delta, são dezenas de braços, onde as águas são ricas em nutrientes, são rasas, recebendo muita luz do sol, o que permite a região ser o lugar de maior reprodução de peixes em todo Pantanal. Esta região recebe o nome de: Perigara ou Tarigara.

Por esse motivo, contactei um conhecedor da região, para nos guiar em uma excursão por toda região do Rio São Lourenço. Seu apelido era Fininho.

Esta viagem iniciou em 31-07-1978

O Rio São Lourenço como outros do Pantanal sempre nos traz lembranças, fracionadas, de lugares, nascentes, matas, animais e pessoas. Encontramos uma pessoa de apelido Fininho, que dizia conhecer todo o Rio São Lourenço. Assim marcamos de pegá-lo, em Rondonópolis e iniciarmos pescando e conhecendo o rio mais ao norte, em sua nascente, na Serra de São Jerônimo. Na realidade essa serra é um contraforte do Planalto Central, com relação à Chapada dos Guimaraes.

Para esta excursão nos organizamos muito, eu e mais 11 companheiros. Todos detalhes e planos de viagem foram muito bem acertados.

Um caminhão com todos materiais, motores, víveres, equipamentos de pesca, foi mandado 3 dias antes de saímos de avião para Rondonópolis onde nós nos encontraríamos. De Ribeirão Preto a Rondonópolis por rodovias são 1090 Km aproximadamente.

De avião creio, que com uma parada, para abastecimento, em Coxim demoramos umas 3 horas.

O primeiro passeio foi passar por Jaciara, e chegar em Dom Aquino, onde nos contrafortes do Planalto Central, ao Sul da Chapada dos Guimarães, nas entranhas da Serra dita de São Jerônimo, nasce no meio de uma pequena mata o famoso rio São Lourenço. Foto do Google.

Depois de muitas nascentes, dois braços de riachos se unem formando o grande rio São Lourenço, que desse escarpas a fora, gerando energia, irrigando lavouras e alegrando cidades, até a planície pantaneira.

Dom Aquino é um município do estado de Mato Grosso. estando a uma altitude de 283 metros. Localizada no Vale do Rio São Lourenço a 172 Km de Cuiabá. Conta com diversas fontes de águas cristalinas e é conhecida como a Capital Estadual da Água Mineral. Mas também possui potencial para ser uma cidade turística, em seus domínios são encontrados cânions, cavernas e cachoeiras

Dom Aquino ainda detém o título de maior reserva de água mineral do planeta. De acordo com pesquisas, a água mineral encontrada no município de Dom Aquino, possui características únicas, como leveza e suavidade, qualidades que faz dela, uma das melhores águas mineral do Estado de Mato Grosso.

O rio desce pela serra, com muitos meandros e corredeiras. Pela serra ele apresenta múltiplos pontos bom de pesca. Em uma de suas grotas na serra chegamos a ver uma onça parda, a suçuarana. Por sinal um dos animais mais lindos e imponentes que já observei.

Saindo de Rondonópolis, com destino as nascentes do rio São Lourenço, fiquei um pouco perdido, perto da Fazenda Floresta, localizei uma pista no meio da mata, desci o trem de pouso e aterrissei. Quando fui recebido, espantei com o aspecto dos empregados, mas fui bem recebido. Era um acampamento, no meio da mata das furnas, estavam em derrubada, para formar pasto ou plantar soja, me indicaram a direção da nascente do Rio.

Serra de Maracaju e rio Aquidauana – Pantanal – MS

Fotografia do Google.

O rio São Lourenço, corta a Serra de São Jerônimo, antes de penetrar no pantanal e receber o Rio Vermelho. Sobrevoar essa região é ver imagens maravilhosas, escarpas, trilhas e matas. Ao final, o pantanal sem fim. Sobrevoei este vale do rio, contudo não consegui uma fotografia tão boa como essa.

Quando se está pilotando e tentando fotografar, a baixa atitude, nossa atenção é máxima, pois um erro a 300 Km/h, pode ser fatal.

Esta fotografia está prejudicada por uma camada de nuvens cúmulos de bom tempo. Contudo dá para observar o Rio São Lourenço chegando perpendicularmente, ao rio Vermelho. O rio São Lourenço parecendo menor que o Vermelho, contudo, o volume de água do primeiro é maior, está mais fino pelo fato de sua correnteza ser muito maior, vem da serra, e o vermelho já está correndo manso pela planície.

As características do rio São Lourenço, são muito próprias, pois ele corta a serra em curvas fechadas, e suas águas, encontrando os grandes matacões em seu trajeto, forma imensos rodamoinhos, onde os motores de popa dos botes urram para atravessar.

Nessa região do alto São Lourenço, ficamos acampados apenas dois dias, pois as condições de navegabilidade não eram favoráveis, incluindo dois companheiros, ao descerem o rio, em uma curva o motor de popa morreu, e a corrente os levaram para baixo de uma árvore espinhenta. Machucaram bastante até saírem da enrascada.

O motor de popa deles, não pegou mais, por sorte um companheiro passou por eles e os rebocou para o acampamento. Decidimos no outro dia levantar acampamento e irmos, para o baixo São Lourenço.

RIO VERMELHO. No trajeto de irmos para a região de Vila Santa Izabel, passamos pelo Rio Vermelho, para mim, suas águas tem um aspecto assustador, pois estão erodindo o planalto, e assoreando a maravilhosa planície. É muito triste de ver, saber, e nada poder fazer.

O rio tem o nome de uma maneira correta, pois sempre que passei por ele suas águas estavam vermelhas mesmo. Ele carrega em suas águas milhões de toneladas de terra do Planalto Central onde nasce. Ele corta a cidade de Rondonópolis. Neste ponto ainda não recebeu as águas no rio São Lourenço.

INDIOS DO SÃO LOURENÇO.

Dez a quinze minutos depois que decolei do aeródromo de Rondonópolis, passei por uma das tribos dos índios Bororos, esta tribo faz parte de uma nação muito importante por todo o Pantanal. Há mais de 80 anos, meu pai e um grupo de aventureiros, pescadores e caçadores, estiveram com os Bororos, no rio Itiquira. Contava meu falecido pai, que muito eles aprenderam com os bororos, a respeito, dos carreiros dos animais das matas. E somente esperavam, uma paca para matar no carreiro certo se fosse, para a alimentação.

Eles haviam levado, algumas latas de banha para trazerem as caças, não havia no tempo nem gelo e muito menos geladeiras. O certo é que todas as latas voltaram vazias. Um médico, importante que foi junto, DR. Walter Avancini, depois de anos passados, ainda contava em detalhes, a viagem pelo sertão de Mato Grosso, e as maravilhas que haviam visto.

Depois que me estabeleci, no baixo rio São Lourenço, próximo a região do Tarigara, fui até a aldeia dos bororos, e tive uma longa conversa com um dos chefes da aldeia. Gostaria de saber sintetizar tudo que conversamos. Mas onde ele deu mais ênfases, como querendo me espantar, foram as descrições das lendas do Minhocão e dos Negrinhos do Amolar.

Me despedi um pouco meditativo, imaginando o passado como tinha sido, o choque que sentiram com a invasão branca, isso, na ordem imensa da existência, foi um dia destes e tudo aconteceu e está ocorrendo ainda.  

A aldeia dos índios fica na margem direita do rio, uns 60 Km depois da cidade. Me lembro bem, o índio que conversei, era muito comunicativo, comigo disse, contou, duas lendas da região. Confirmou, a existência dos Negrinhos do Amolar, ele dramatizou o conto, com uma convicção tamanha que não pude duvidar. Para concluir, ele olhou fundo nos meus olhos, e na escuridão das mangueiras, seus olhos brilharam e ele disse: Uma noite descia de piroga pelo Amolar, quando em uma grande pedra, lá estavam uns 5 negrinhos, todos sem roupas, molhados e os olhos verdes brilhavam na escuridão. Criei uma força que achei que não tivesse mais, e toquei o remo com vontade e logo estava subindo o São Lourenço.  

Depois disso, mantive um silêncio respeitoso, para ele se recompor.

Ele voltou a falar. O senhor sabe a história do Minhocão do Pantanal. São eles que cavam os barrancos, mudam o caminho dos rios, e fazem os barrancos e matos tremerem nas margens, de todas estas águas. Já tive uma rede, arrastada pela água daquele fundão, e mostrou dentro do mato, arvores de pequeno porte, tombadas e mortas. A rede vermelha sumiu mato a fora, depois de alguns dias, ela apareceu, destroçada na Baia de São Francisco. Uns 40Km a baixo.

Ele relatou também as Trilhas Peabiru, no Pantanal, ele estava a montante do Rio São Lourenço, mas conhecia muito a Serra do Amolar. O corixo de sua aldeia, tem ligação a uns 40 Km, com a imensa Baia de São Francisco.  Contudo, dizia ele, sabe doutor, na seca, quando as águas vão se embora, por terra nós andamos por todo esse pantanal. Nossas tribos eram unidas, daqui até lá para baixo, caçamos muito nas matas do rio Negro, ele deu outro nome.  Caçamos muito com os kandireus, para o lado da morraria.

FUI PESQUISAR SOBRE A LENDA DO MINHOCÃO.

Achei importante estudar sobre essa lenda, pois ela era aceita e contada por todo pantanal do Miranda, Aquidauana, Abobral, entre outros rios pantaneiros.

No Rio Taquari, pesquei com um senhor já de idade, de nome Tonho o pescador, que me contou detalhe do minhocão, que ele viu no fundo de sua casa na beirada do rio Taquari.

—” Doutor, foi um barulho igual um trovão bem grande, lá para os fundos de minha casa, na beirada do riozão, ao lado onde a Tina e minhas filhas lavavam a roupa. Derrepente a grande piúva tremeu os galhos, e começou a balançar, para o lado da água. O estrondo ficou mais forte e abafado. Derrepente parece que as árvores andaram para o rio, era aterrador. Peguei minha carabina 44, pois sabia que o bicho estava ali”.

Ele parou um pouco emocionado, ninguém poderias duvidar de sua narrativa, pois seus olhos arregalados e sua testa molhada, seu olhar buscou o infinito, nas distâncias da margem do rio, e continuou.

Sabe doutor, não sou um homem de ter medo, já matei pintada e esfaqueei sucuri, que pegou meu cachorro. Ando por todos esses matos com o 38 na cinta. Mas naquela hora, “o coisa” aluminou grosso como uma tora queimada, e veio rasgando a terra do barranco, derrubando o arvoredo para dentro do rio. O barulho foi de um estrondo, uma nuvem branca se levantou e tudo sumiu no acontecido. Depois veio um silencio total, somente as ondas do rio, acompanhando o minhocão que corria, se ouvia nas águas bravas do rio”.

Fiquei extasiado com a narrativa precisa do Tonhão, sim era um fato, mostrou-me o barranco, a tábua de lavar roupa foi embora, lá na água, já secas os negros galhos da grande piúva, atestavam sua existência. O que tinha acontecido, deveria haver uma explicação.

A lenda na Wikipédia: Diz a lenda que o minhocão é uma cobra enorme que pode sugar o sangue de uma pessoa. Em noites de lua cheia a cobra que fica entre mastros e caibros debaixo da água próxima de pontes ou casa de palafitas, através da sombra dos pescadores suga seu sangue da pessoa e essa cai morta dentro do rio.

 “…Disseram-me que em Corumbá, até havia uma pessoa que vira o Minhocão. Procurei-a. Era um velho italiano, um dos mais velhos moradores da cidade, antigo capitão de navio, reduzido à vida sedentária de administrador de fazendas. Não, disse-me ele, eu não vi o Minhocão, vi o seu rastro.

Meu filho, sim, o viu uma vez e correu dele léguas. Disse-me que, o minhocão era preto com escamas, e parecia um enorme bote de quilha para cima, e ia rasgando o pantanal a fora. O meu filho, estava numa canoa no rio Paraguai; encostou no barranco e correu com todas as forças para casa. Depois e fui ver o lugar, e encontrei o rastro do monstro na lama e no aguapé. Era uma valetona enorme, um sulco muito largo. Nenhuma embarcação grande, ou máquina, poderia ter feito aquilo. Ao lado da vala havia árvores tombadas e galhos retorcidos. A água minava por todos os lados. Isso eu vi, com esses olhos que a terra irá comer”.

Bem uma crença tão antiga e afirmada de Norte a Sul do Pantanal teria algum fundamento. Ou algum fato para que ela existisse.

Lendo um artigo, sobre as destruições causadas pelos terremos, em alguns lugares como São Francisco e na Turquia, meditei sobre o motivo de tantas destruições, e os cientistas publicaram um trabalho esclarecendo.

“A terra sob algumas cidades que apresentam lençóis freáticos, ou seja, água misturada com rochas, quando ocorre um TERREMOTO, o solo vibra intensamente, e as rochas entrando em contato com a água, produz um fenômeno de metamorfose. Isso é, as moléculas da água envolvem as moléculas da rocha, transformando essa em um barro mole, ou uma argila. As argilas são componentes fundamentais das lamas ou barros. Neste momento os solos então se transformam em hidróxidos coloidais. Não suportando o peso, e ocorre todo o afundamento da área”.

Pelas descrições que ouvi, de todos sobre os buracos de minhoca, esse é o fenômeno que ocorre nos rios do Pantanal, segundo minha opinião.

A descrição do índio: “O rio estava bem cheio, o solo rico de areia (siltes), encharcado (saturado de água), de repente começou uma ventania terrível, os ventos eram tão fortes que as árvores tremiam, raios e trovões por todos os lados. De repente, tudo tremeu. Era o minhocão passando. Logo na frente as árvores afundaram, e foram caindo, uma atrás das outras, em direção a Baia de São Francisco, que é para onde o minhocão ia”.

Outras descrições, sempre se referem a um rio cheio, vendavais, árvores tremendo, e depois elas afundando no chão. Em um caso, no caminho das árvores afundadas apareceu no lugar um corixo. Hoje tenho convicção, são águas no subsolo, saturando a terra, com alterações profundas meteorologias, o solo torna-se lama, e a vegetação se afunda, ou o barranco desmorona abruptamente com grande estrondo. Forma-se uma depressão, esporadicamente um novo corixo é formado.

Depois da conversa do índio, o Chico disse: Está muito tarde doutor, está escurecendo, vamos andar. Nós despedimos, e respeitosamente saímos. Os mistérios do pantanal, nos rondaram por muito tempo, pelo MAR DOS XARAIES.

Durante estes meus mais de 35 anos de observações esta cena seria o início de muitas lendas. Na Amazônia o boto que deflora as mulheres que lavam roupas nas margens do rio. No Pantanal o início dos fatos que levaram a lenda do minhocão e dos Negrinhos do Amolar.

Todos os moradores a margens dos rios, cortam a mata galeria, removem a terra dos barrancos, para terem acesso à água, de onde tiram seu sustendo, lavam a roupa, e todas as crianças e adultos tomam banho e vão brincar nadando. Na época, vi esta cena praticamente em todos os rios do pantanal.

Nestas atividades, os barrancos vão erodindo e a água se infiltrando, dia após dia, meses, anos, é inevitável tal fato. Então, quando um vendaval chega, juntamente com a cheia do rio, água de infiltra no subsolo, liquefazendo a terra que sustenta as árvores e o solo, e tudo se afunda, com um estrondo terrível. A extensão deste fenômeno espanta os ribeirinhos, e os levam para o sobrenatural. Logicamente alguma pessoa pode ser atingida e esmagada, se esvaído em sangue, se desfigurando, isso dá mais elemento a lenda, reforçando a crença.

Tanto falamos e estudamos o rio São Lourenço, que:

DEPOIS DE ALGUNS TEMPOS RESOLVEMOS FAZER UMA EXCURSÃO NA REGIÃO DA VILA SANTA IZABEL, NO BAIXO RIO SÃO LOURENÇO:

Um grande fazendeiro, Paulo Andrade, nos ensinou muito sobre a rica e selvagem, região da Vila Santa Izabel. Uma região muito grande e primitiva e pouco explorada, no Rio São Loureço. Logo conversei com 7 companheiros, que se entusiasmaram muito de irem lá fazermos uma excursão. A vila fica na margem direita e a grande fazenda do fazendeiro, na esquerda do Rio São Lourenço.

Eu e os amigos reunimos e combinamos: Dois companheiros iriam de caminhão com toda traia do acampamento. Sairiam 3 dias antes para chegarem em Rondonópolis, outros companheiros iriam em duas peruas, pois dois amigos iriam sair de Presidente Prudente, Gustavo e Gastão. A veraneio sairia de Ribeirão Preto, com Ademarsão. Eu iria 3 dias depois, com meu avião Corisco, junto com o amigo Nuti.

O combinado era então, eles irem na frente para acertar o acampamento, e não haver perda de tempo. Lógico que a turma da frente, gostavam de tudo isso e estavam de férias.

A viagem de avião foi muito tranquila, paramos em Três Lagoas para abastecer. No voo o companheiro Nuti foi meu copiloto. Aí aconteceu um pequeno intercurso, que eu não me esqueço. Depois de uns 10 minutos de voo, eu disse ao copiloto: Temos o Rio Sucuriu a nossa direita. Ele olhava o mapa com atenção e disse:

Negativo o rio está a nossa esquerda.

Eu fiquei muito apreensivo. Mais 5 minutos de voo, eu disse: Temos uma pequena cidade, a nossa esquerda, ele, era careca e coçou a cabeça, consultou atentamente o mapa e enfaticamente foi dizendo: Não, está a nossa direita.

Assustei e disse, estamos perdidos Nuti. Deixe-me ver o mapa. Quando peguei o mapa da mão dele, vi que meu copiloto, estava com o mapa de ponta cabeça. Aí foi alívio e risadas.

Logo chegamos a Rondonópolis, onde no aeródromo, havia uma, mensagem para nós.

Os caminhos dentro do pantanal são longos, as vezes com atoleiros, e cheios de bifurcações. Assim dei 3 dias para eles saírem na frente e não se preocuparem muito com o tempo. Combinamos de nos encontrarmos 3 dias depois na Vila Santa Izabel,

Abastecemos o avião. Ao lado havia um posto, onde fomos almoçar, e logo partimos também, no início a rota seguia o Rio Vermelho, depois que ele cruza com o São Lourenço, seguimos em frente. Em 20 minutos Cruzamos a Vila S Izabel e nos preparamos para o pouso, como mostra a fotografia.

H:\Pista Santa Izabel 1++.JPG

Pista a oeste da vila Santa Izabel onde combinamos de nos encontrar. Na reta final do improvisado aeródromo, sobrevoei rasante o Rio São Lourenço em direção ao longo eixo da pista. O poso foi um pouco tumultuado, pois o chão era bem irregular, e tinha alguns cupins nas laterais do traçado.

Eu havia combinado com os companheiros de levarem um grande pano vermelho, para fazerem uma bandeira, e no lugar da pista, para eu ver a cabeceira, eles colocariam a bandeira vermelha sinalizando.

A pista, na realidade é um pasto limpo, onde as pessoas pousam os pequenos aviões. Passei rasante, mas o pano vermelho não estava, mesmo assim resolvi e vim para o pouso.

Logo depois da cabeceira do barranco, já com 30º de flap toquei o irregular solo da “pista”, a frente já com pouca velocidade, tive que desviar de um cavalo na pista. Voltei para a cabeceira, onde havia a sede da fazenda, e uma pessoa com um pedaço de pano vermelho na mão. Desliguei e desci, me encaminhando para as pessoas. O homem, com o pano vermelho na mão se adiantei, me cumprimentou e disse:

O senhor é doutor Sérgio, seus companheiros não puderam chegar aqui com o caminhão, a estrada está inundada, então eles disseram que vão ficar na fazenda mais a cima, são 5 minutos de voo. Me entregaram a metade da bandeira vermelha, para o senhor saber das coisas. Eles estão com a outra metade.

Fiquei preocupado pois havia realmente passado na pista improvisada da fazenda anterior e não vi nada. Comentei isso com o administrador que havia me entregue a bandeira. Ele de pronto falou, doutor as estradas estão péssimas, eles devem estar chegando lá agora, fique tranquilo, não teria outro lugar para eles irem, nesses perdidos da Santa Izabel.

Muito hospitaleiros, nos ofereceram um café, contaram um pouco da fazenda, muito grande, criavam o gado todo solto, praticamente não tinha cercas, eram 3 pantaneiros, que ali estavam, e tomavam conta de uma área imensa do pantanal. Uma realidade diferente da nossa. Prestei muita atenção, achei importante a prosa, as realidades brasileiras são diversas e merecem sempre respeito. Ele fez questão de mostrar-me o rumo da outra fazenda, me despedi. Optei por decolar da cabeceira em direção ao rio, seria mais seguro. Somente consegui sair do solo, uns 50m antes do fim da pista, emoção demais.

Ganhei velocidade em um voo planado na superfície do São Lourenço, recolhi o trem de pouso, o Corisco criou vida e velocidade no ar. Fiz uma curva de grande inclinação para a esquerda, a bússola marcou 90º. Sai casquerando pela mata galeria, achei o caminho, depois de minutos vi o grande caminhão da caravana entre as árvores do cerrado, a pista da fazenda já era visível.

Encontrei no Google, o exato lugar da Colônia ou Vila Santa Izabel, e uma minúscula linha branca onde se localiza o aeródromo onde eu aterrissei. Esta fotografia tirada de um satélite a mais de milhares de quilômetros, é para mim um feito extraordinário da tecnologia. Nela podemos ver os meandros pronunciados do rio São Lourenço. Podemos ver o espaço da Colônia Santa Izabel.

Nesta imagem do Google, aparece como Colônia Santa Izabel, e assinalei o lugar exato de nosso extraordinário acampamento que os companheiros montaram. Um Lugar sombreado, encostado em um corixo, a noite toda ouvíamos os peixes pulando na água em busca de comida. Gritos na mata e sons que nem sabíamos de que animais eram.

Quando estávamos chegando na fazenda, já baixando o avião em busca do lugar para pousar, vimos na estrada entre as árvores o caminhão andando. Meu Deus! Era o caminhão de nossa caravana!

Bem à frente quase chegando na fazenda as duas peruas. Procurei a pista para pouso, nada!

Somente pasto de grama. Por alegria vi o amigo correndo com uma bandeira vermelha, que era o combinado para assinalar o lugar do pouso. Sim esperei um pouco, dei outra volta, e lá estava o glorioso amigo Diné, agitando a bandeira em uma vara, mostrando o início do pasto que servia de pista.

Confirmando, não tinha pista, era um pasto, por isso os companheiros levaram um grande pano vermelho para assinalar o lugar no pasto que daria para pousar. Assim foi com muita alegria que vi no fim de uma cerca o companheiro correndo com a bandeira. Não tive dúvida, mandei trem de pouso em baixo, 20 graus de flaps e lá fui confiante para o pouso

Por incrível que pareça, eu de avião e eles que saíram 3 dias antes, chegamos juntos na fazenda. Pois as estradas dentro do pantanal, estavam muito alagadas, houve lugares que o caminhão teve que puxar as peruas. Na fotografia, o avião, juto com a heroico veraneio que havia rasgado o pantanal. Os companheiros estavam muito cansados. Uma coincidência incrível. Quando eu estava chegando, para aterrissar vi na estrada ao lado da pista o caminhão, na estrada andando próximo da fazenda, realmente por incrível que pareça, chegamos juntos.

A pista não era mais que um longo pasto gramado, os empregados da fazenda, tiveram que espantar alguns cavalos, para eu puder pousar.

Nesta foto a festa da chegada, pois se encontrar no meio do pantanal imenso, é uma realização incrível, de planejamento e de vontade.

Nessa estada tenho muitas coisas interessantes para contar, sobre a região que acampamos.

Um fato peculiar e antológico, nos tempos das grandes cheias. Quando perguntamos ao irmão do dono da fazenda se poderíamos acampar ali, ele respondeu com ênfase:

—Não sei não! Quem manda aqui é a empregada do patrão, você tem que perguntar a ela, vai lá na sede.

A casa da sede ficava a uns 100m da pista, eu fui até lá. Estava ressabiado, pois achei que ele não queria deixar e empurrou a negativa para a dona Verônica. Cheguei, bati na porta. Depois de poucos minutos ela saiu na porta da cozinha ao lado da casa, e me chamou, para ir até lá.

Era uma mulher muito singular. Provavelmente mestiça, cor de cuia, como diziam naquele tempo. Ela muito encorpada, diria bonita mesmo, notei que ela havia se banhado, os cabelos negros ainda molhados e um vestido florido, moldava o corpo.

Quando me aproximei, ela abriu um grande sorriso de dentes brancos, com uma fisionomia amigável, e convidou-me para sentar em um banco de madeira perto de um forno de lenha, na porta da cozinha. Tenho que confessar que fiquei um pouco emocionado, quando ela me olhou de frente, com os olhos grandes e verdes, moldurados por uma pele morena, e me arguiu.

O senhor é o piloto? É de onde? Aqui no Pantanal precisamos saber das coisas.

Declinei um pouco de minha vida, era o dono do avião, era fazendeiro também, e estava ali com meus amigos e o chofer para pedir licença para acamparmos na margem do Rio São Lourenço, disse que era convidado de Paulo Andrade, que tinha fazenda do outro lado do rio, mas não tem estrada para irmos lá acampar.

Quando terminei, ela abriu um sorriso muito amigável e disse: O senhor é bem-vindo aqui, pode acampar sim, vou mandar seu Joaquim e outros para ajudá-lo. Falar nisso aceita um café. 

Aceitei o café logicamente, entrei na cozinha, tudo muito grande e limpo, o café foi acompanhado de uma fatia de queijo, feito por ela.

Eu agradeci muito, e quando ia saindo, ela falou: Eu tenho chuveiro de água quente aqui, a tarde se o senhor quiser banhar pode vir, e mostrou o banheiro, meio retirado da casa.

Quando saí na porteira da casa, notei que senhor Joaquim estava de olho em mim, o tempo todo e com o revolver 38 na cinta. Ele era o irmão do dono.

Esclarecendo, na cheia do Pantanal e na lida do gado, o dono vem de avião e fica mais de 90 dias lá na fazenda, até despachar a boiada. Nesse período ele mora com a Verônica. Quem mexer com ela toma bala do Joaquim, ele é o guarda da “dona” da fazenda.

Montamos um belo acampamento as margens do São Lourenço, saí também duas vezes com o avião para reconhecimento da região, que é muito importante.

O que achei de mais significativo para a ecologia da região, foi a chegada do Rio São Lourenço no rio Cuiabá, se dividindo em um imenso delta, com milhares de acres inundados, formando uma área de criação de peixes, extraordinária talvez a maior de todo o pantanal: REGIÃO DO PIRIGARA.

A alguns minutos de voo Rio São Lourenço a baixo, da Colônia Santa Izabel, ele se divide inicialmente em dois braços, iniciando a região chamada de Pirigara ou Piragara. A fauna e a flora desta região são riquíssimas.

Esta fotografia do Google é um exemplo, “espacial”, das dezenas de ramificações que ocorrem no Rio São Lourenço, na região do Piragara, por esse motivo, estas divisões dos rios muitos moradores os chamam de Rio Pirigara.

Esta é a região do Delta do Rio São Lourenço, são centenas de braços de águas rasas, que são fundamentais para os cardumes de todos tipos de peixes, desovarem e reproduzirem. Usando a natureza de suas águas ricas em planctos, e seus meandros tortuosos, que permitem que os recém-nascidos alevinos sobrevivam. Pois os grandes peixes predadores não conseguem nadar nestas regiões. Voando bem baixo, com um avião Cessna 172, e pilotado não por mim, mas por um experiente Pantaneiro, Sr. Paulo Sardinha, tive oportunidade de fotografar, inúmeros cardumes em dezenas de braços do Perigara. É indiscutivelmente um dos maiores criadores de peixes que conheço.

Ao chegar os braços do São Lourenço no Rio Cuiabá, em sua parte mais norte tem uma ilha chamada Ilha Camargo, incluindo um aeroporto, e grandes instalações, estas estruturas foram feitas pela Camargo Correia em seus áureos tempos.

Existem importantes deltas de Rios famosos que desembocam no mar, formando extraordinários deltas: Por exemplo o mais famoso e antigo, o Rio Tigre que recebe o Eufrates. O Tigre passa por BAGDA, e desagua no Golfo da Pérsia, desemboca em um delta, que era perto da capital. Com a erosão nas cadeias de montanhas, as terras de aluvião foram assoreando ao delta, hoje o delta do Rio Tigre fica a mais de 100 km da capital.

Delta do rio Mississipi nos USA, o delta do rio Danúbio e, o maior de todo mundo o Delta do Amazonas ainda em formação surpreenderá as futuras gerações. Contudo, o único que conheço que é interno com estas proporções é o delta do Rio São Lourenço em MT.

Nossa estada neste acampamento foi muito proveitosa para mim, pois conheci voando com um verdadeiro piloto pantaneiro, a beleza do criame de peixes na grande região do delta do rio São Lourenço. 

Fui almoçar na fazenda do Sr.  Paulo Andrade, onde pude ouvir muito sobre a vida dos pantaneiros. Ele explicou-me como os fazendeiros da região estavam conseguindo manter o Perigara livre da ação dos predadores da fauna na região.

Segundo ele, não tem estradas, não tem acesso, e os proprietários não deixam ninguém entrar com excursões para a pesca. Deve ficar bem claro, que nosso acampamento estava no mínimo a 100 km da região. Ele me aconselhou a abastecer o avião, para isso cedeu-me 100l de gasolina, para eu concluir todo conhecimento da região, pois ali, segundo ele, seria o coração, ainda preservado de todo pantanal.

Assim fiz, não tenho fotografias minhas, pois estava sozinho pilotando, e sem nenhum apoio de rádio, não existia GPS, toda atenção na navegação seria imprescindível, para não ficar perdido.

Depois da Ilha e pista da Camargo Correia, cheguei ao Rio Cuiabá, e fui descendo o rio, que segundo consta passa a se chamar São Lourenço, cheguei ao rio Piquiri, fiquei impressionado com a mata existente em toda a região. Gostaria de saber, ou melhor ter confiança para voar bem mais baixo, contudo, nas circunstâncias que eu estava seria muito arriscado.

Esta fotografia do satélite é muito importante pois podemos nos localizar direito, Porto Jofre, final da Transpantaneira, aeródromo, Rio Piquiri. Hoje com as fotografias dos satélites nossa visão da geografia torna-se completa. Deste ponto voltei ao acampamento na vila Santa Izabel.

RECORDAÇÃO DO RIO PARAGUAI.

Naveguei muito pelo grande rio Paraguai, sempre tive curiosidade como ele seria em Assumpção na capital. Quando aterrissei na capital deu para ver a grandiosidade do rio. Existe na sua margem, muitos clubes e outras construções de alto padrão. Contudo levaram-me para conhecer um clube dos milionários, é de um requinte inesquecível, soberbo mesmo. Incluindo que a pessoa que me levou, serviu-me um champanhe “Veuve Clicot” em comemoração. 

Lá um pouco mais que aqui, quem é rico, é rico mesmo. Quem é pobre, a situação é crítica.

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Este é o Pantanal, na região do Paraguai, sempre tive curiosidade, de como ele seria. Saí de Assunção por onde passa o rio, e sobrevoei o Pantanal até o Rio Apa, que faz a divisa do Brasil. A área inundada neste trecho é imensa. Voando a 3.500 pés, foi possível identificar, uma área de riqueza inquestionável quanto a biodiversidade. Não vi nenhuma chalana, ou povoação. Não é sem motivo, que quando ele (Rio Paraguai), está para desaguar na Bacia do Prata, se torna muito piscoso, sendo uma das atrações maiores, tanto do Rio Paraguai como o grande Rio Paraná. 

IDA AO PANTANAL.

AS VIAGENS E AVENTURAS:  Saímos de Rib. Preto, com muita vontade de andar, pois iríamos pousar à 472Km, em 3 Lagoas MS, no outro dia mais 900 km, até Corumbá. VIAJANDO E VENDO, TANTAS RIQUEZAS NESTE BRASIL:

Primeiro o Estado de São Paulo, pistas asfaltadas duplas, de ótimas qualidades. Toda a terra das propriedades rurais cultivadas, canaviais, invernadas, plantações, laranjais, seringueiras, entre outras. Todos rios correndo para o grande Rio Paraná. Represados e produzindo energia. Grandes e lindas cidades durante o percurso.

Passamos pela represa de Jupiá, que forma o complexo de Ilha Solteira e Três Irmãos, formando um verdadeiro mar interior no Estado de São Paulo.

Ao maravilho pôr do sol, cruzamos o Rio Paraná na Barragem de Jupiá. Saímos do estado de SP e começamos a rodar em MS. Esta represa forma um complexo de reservatórios de água, que muitos de nós chamamos de mar interior de água doce. E poucos conhecem a extensão dessas águas: Rio Paraná (Represa de Jupiá), Rio Tietê (Represa de 3 Irmãos), Rio Sucuriu (MS), Represa de Ilha Solteira, rio São José dos Dourados, com o canal de navegação de Pereira Barreto, unindo este complexo maravilhoso de águas.

Esta fotografia mostra a grandiosidade das barragens, são obras monumentais, gerando milhares de KV de energia.

Entre Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo, existe uma plantação monumental de eucaliptos, deve ter mais de 100 km de extensão. E, estão dispostas dos dois lados da estrada. Pouco depois de Ribas do Rio Pardo, os eucaliptais continuam por mais de 50 Km. Isto representa uma fortuna na casa de bilhões de reais. Nas estradas carretas imensas carregadas de madeira dos eucaliptos. Na pequena cidade de Água Clara, nasce uma imensa indústria de manufatura desta importantíssima madeira, segundo informações é a maior indústria de madeira de eucalipto da América do Sul.

Antes da pequena cidade, foi feito um macro posto de gasolina, com uma das maiores lojas de conveniência que já vi. Incluindo um restaurante dos mais modernos, nos moldes de um pronto e rápido atendimento. Para o viajante não perder tempo. É inegável o progresso.

Quando as invernadas apareciam, estavam cheias de bois. Contudo a surpresa veio ao ver mais de 3 confinamentos, todos com uma quantidade incalculável de bois. Incrível a estrutura existente para tratamento destas milhares de cabeça de animais. Não é sem motivo que o Brasil é o maior exportador de carne do mundo, não somente bovina, mas também de frango.

CAMPO GRANDE, é uma belíssima cidade, uma verdadeira capital de um estado da importância de Mato Grosso do Sul.

Paramos no shoping para tomarmos um lanche, e gostamos de ver o movimento, muitos jóvens com bastante entusiasmo, desfrutando as possibilidades do belo lugar.

Ao cair da tarde, estávamos de C. Grande para Anastácio-Aquidauana, isto é, saindo do planalto central para a planície pantaneira. Tínhamos que descer mais de 300m, esta fotografia do pôr do sol, na grande descida das encostas da Serra do Maracaju. Este horário é um pouco sacrificado a viagem, pois estamos para Oeste, com o sol bem à frente, como pode ser visto.

Chegamos em Aquidauana & Anastácio na boca da noite. A Serra do Maracaju estava linda como sempre, o sol se pondo atrás da morraria, lembrou-me de viagens passadas, do tempo do Corisco, que contornávamos o morro do “Panetone” para abastecimento do avião em Aquidauana. O tempo muda tudo, somente não deve mudar nunca nossa alegria e a ilusão de viver. É tocar pra-frente, 61 anos são tempos passados, ele deve nos servir de alicerce para a vida, mas nunca de edifício para nossa moradia.

Pernoitamos em Anastácio em um bom hotel logo na segunda entrada da cidade. No outro dia saímos tranquilos, pois dormimos um pouco até mais tarde.

A uns 20 Km de Anastácio, minha mulher deu um grito, olha lá o lobo guará, a um 1 km, ele estava soberbo e tranquilo atravessando o asfalto. Fomos chegando sem fazer muito ruído, e paramos no acostamento para fotografá-lo.

Era um animal típico de sua raça, como podemos notar. É o maior lobo que existe no Brasil, não é agressivo, tem hábitos noturnos, ou caçam na boca da noite. Este foi o primeiro que vimos, logo de manhã, o que para mim é muito raro.

Tentei ir me aproximando dele, ele não correu. Pelo contrário. Parou e com as orelhas em pé, encarou-me. Any tirou esta bela foto, que é uma ótima recordação de nosso encontro com um lobo, logo no início da planície pantaneira.

Ele foi se distanciando, a lentos passos, acredito até que ele devia ter algum problema, mais pelas atitudes, do que embasado em meus conhecimentos. Esperamos ele sumir no pasto.

Passamos pela cidade de Miranda sem pararmos, estávamos para entrar no pantanal baixo, onde poderíamos ter alguma surpresa agradável. Este e o Rio Miranda, fotografado depois de 20Km da cidade. Pela fotografia dá para imaginar a riqueza da mata nesta região do rio.

Em outra viagem pelo Rio Miranda, passei navegando por este rio, até o Hotel Flutuante, são mais ou menos 200Km de rio. Depois do hotel ele recebe o Rio Aquidauana, desvia para o Noroeste e 180 Km depois ele passa pelo Passo do Lontra, onde o atravessaremos pela ponte.

Pode-se imaginar as curvas e os meandros do rio, pois de estrada são 70 km, e pelo rio seria aproximadamente 400Km, até o Passo do Lontra.

Quando entramos no pantanal baixo tudo começou a mudar. A vegetação, os pássaros, os corixos e todo o ambiente.

Este gavião era bem grande, e estava no meio da estrada, comendo uma carcaça de capivara, quando a Any foi fotografar, ele voou, com a teleobjetiva ela ainda conseguiu esta bela foto. Como já disse, o pantaneiro chama estes gaviões de harpias!

Bem perto do Passo do Lontra, fotografei essa grande família de capivaras. A capivara é uma espécie de mamífero roedor. Está incluída no mesmo grupo de roedores ao qual se classificam as pacas, cutias. Ocorre por toda a América do Sul. Vive em habitats associados a rios, lagos e pântanos. Extremamente adaptável, pode ocorrer em ambientes altamente alterados pelo homem. É o maior roedor do mundo, pesando até 91 kg e medindo até 1,2 m de comprimento e 60 cm na altura. A pelagem é densa, de cor avermelhada a marrom escuro.

Logo à frente na rodovia para Corumbá, encontramos este aglomerado de: Garças, Tuiuiús, Cabeças Secas.  Acredito que nestas águas havia muitos peixes, pois todos estavam satisfeitos e em harmonia.

Quilômetros à frente iniciou uma imensa quantidade de pés de Ipês amarelos, eram árvores para todo o lado, em uma grande extensão da estrada, e as árvores floresciam também a longa distância pelo pantanal. Importante lembrar de ser o Ipê amarelo, a flor símbolo do Brasil.

Até onde a vista alcançava eram milhares de pês de ipês, pelo Pantanal a fora.

Logo chegamos a grande ponte que atravessa o Rio Paraguai, é uma obra monumental, alta para que o transporte fluvial, que por aí passa. Para que a companhia que operava as balsas na travessia, não ser prejudicada. Paga-se pedágio para passar por essa ponte.

Na estrada da entrada do Passo do Lontra, poço das piranhas, até a ponte do rio Paraguai vimos numerosos banhados, riquíssimos em aves e alguns animais.

Este era um bando de pássaros, de mais de quilômetros de comprimento: Tuiuiús, garças, colhereiros, cabeças secas e maguaris. Acredito que deveria haver muita comida, para tantas aves, na cheia os peixes entram nesses banhados, quando começa a seca, a água se vai e os cardumes ficam aprisionados, fáceis de serem apanhados.

Em um outro ponto da estrada pudemos tirar esta fotografia, que nos impressionou bastante. As aves estavam muito excitadas, pois não paravam muito nos lugares e o barulho dos cantos e grunhidos era muito alto.

Passamos pela monumental ponte do Rio Paraguai. Do alto pode-se ter uma inesquecível visão do grande rio. Deste ponto até Corumbá são 80 Km.

H:\Balsa rio Paraguai 1976 ++.JPG

Antigamente, ou melhor 1976, não havia ponte para Corumbá a travessia era de balsa, e no porto havia grande movimento de pessoas vendendo coisas, pescadores e todos veículos que esperavam a balsa. A travessia demorava uns 20 minutos, e era um momento de vermos novos aspectos do Pantanal e de sua gente.

Chegamos em Corumbá, muito animados, e fomos direto para o barco Shekinah, ancorado no Porto Limoeiro. O barco estava lindo. Pintado de novo e absolutamente limpo, cheirando bem, e pronto para navegar.
Fiz uma vistoria para o lado de fora, motores, barcos de pesca, etc…
Nota 10 para a tripulação Chico e Divino.
Eu e o mestre cuca, grande cozinheiro dos grandes barcos do Pantanal, que por sorte esta semana ele estava livre, juntamente com minha mulher Any, fomos ao suoer mercado fazer as compras para a viagem.

O Chico acionou os 2 motores, de 170 HP do Barco, e saímos, águas acima, com destino a Fazenda Sucuri e Paraguai Mirim, nossa primeira parada como de costume seria no Porto Saracura.

No porto, aos sons de miríades de vozes, aracuãs, araras barulhentas que aos pares buscavam pouso, papagaios passavam agitando freneticamente suas asas, e incontáveis ruídos de rãs, sapos, grilos; e o voo veloz dos morceguinhos, com seus movimentos em ziguezague, se alimentando com pernilongos que aos milhares sobrevoavam sobre todo ambiente. Mas todos esses eventos da natureza, tinham como moldura, esse incomparável pôr do sol.  Descrever as tintas de quem o pintou, é falar de Deus, criador de todo universo.

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Continuamos no outro dia nossa navegação, rio acima, isto é, umas 2:00h de viagem, pegamos um cúmulo nimbos de terrível energia. E um fato nos chamou muito a atenção, era a passagem de um antigo avião a hélice paraguaio, “casquerando” sobre o rio, em busca de pouso em Porto Soares, o tempo estava feio por lá. Faço ideia a preocupação que estava o comandante, pois a primitiva pista de seu destino, não possuía nenhum equipamento para aproximação, por exemplo um ILS.  Ele deu várias voltas, bem baixo sobre o Pantanal, depois se aventurou, e rumou para sudoeste em busca do aeródromo do destino. E sumiu na escuridão da chuvarada. Sei que conseguiu pousar, pois perguntei, quando cheguei de volta a Corumbá.

No Pantanal e região, não existem estradas, por esse motivo a locomoção é fluvial ou pelo ar com pequenos aviões. É muito comum vê-los a todo momento cruzando rotas, de dezenas de fazendas e localidades, esparramadas por todo esse imenso pantanal.

Antes da existência dos GPS navegar pelo pantanal, exigia muita atenção e planejamento. Em meus voos na região sempre me orientava pelos rios, e as poucas serras que por lá existem.

Continuamos nossa viagem pelo grande rio Paraguai, o tempo abriu, e um sol quente inundou o pantanal. Tudo estava verde e a natureza em festa. As gotas de água retidas nas folhas, decompunham o espectro da luz, que se refletiam como brilhantes vivos na mata galeria. Algumas gotas caiam das folhas, parecendo contas de cristais de um terço bizantino.

Subindo o Paraguai passamos por esta ilha, onde já havíamos pescado, bom lugar, por sinal já estava parado um bote de amigos pescadores, no lugar. Onde eu já havia feito uma bela pescaria.  E nessa foto tem uma canoa, no mesmo lugar, é um ponto conhecido, por ser como dizem uma “linha d`água”, o lugar onde os peixes transitam em busca de comida.

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O Pantanal continua lindo, ao fundo umas grandes piúvas margeando o rio. Estou pronto para ir à pesca. Segundo Confúcio, o tempo que passamos pescando, não conta na cronometria de nossa vida.
Essa pescaria, foi muito auspiciosa, deu muito peixe, e nos divertimos muito. Tenho 61 anos na melhor das hipóteses poderei ir se Deus quiser mais uns anos ao Pantanal e depois? É olhar essas fotos e rever os caminhos, os amigos mais novos mandarem novas fotos, e contarem novidades, assim é a existência, o início estudamos os caminhos, os percorremos e depois recordamos para que um dia nossos amigos encontrem alguns pequenos sinais de nossos rastos.

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Paramos em um poço logo acima da ilha, fui atraído por este soberbo João Grande, e encantado por esta trepadeira em flor. O Chico disse, neste ponto vamos pescar para pegarmos o jantar.

O Shekinah, foi subindo e paramos para pescar, deu sorte, lógico depois de umas piranhas, nos roubar as tuviras, pegamos alguns peixes, sendo estas duas caranhas, os troféus desta pescaria. É um peixe nobre a caranha, esportivamente é uma lutadora, e possui uma carne saborosa, quando neste tamanho.

Morro do Castelo e Baia do Castelo.

Subindo o Rio Paraguai ao longe podemos ver um pequeno morro, que até parece fora do ambiente da planície. Quando sabemos o nome, achamos realmente que ele lembra um castelo bem tosco. Quando chegamos perto, vimos um grande poço, na frente de uma caverna. Segundo o comandante Chico, quando o rio está baixo, pode-se ver que esta caverna é bem profunda e “assombrada”, segundo a narrativa do companheiro.

Antes do Morro, que propriamente se chama Morro do Castelo, existe um grande corixo, que é a entrada da Baia do Castelo, ela é bem grande, e vai até a divisa da Bolívia. Já construíram nesta baia um hotel, mas devido as distâncias e as condições, ele não foi para frente e hoje está fechado.

Muitas histórias existem sobre esta caverna. Uma delas é que o rio ao passar por sua entrada que é funda, cria uma grande roda moinho, formando um grande poço, em sua frente, como mostra a fotografia. Contam que um pescador, pegou um grande peixe neste poço, e ao lindar com o “bitelo”, deixou o remo cair, e aí depois de embarcar o jauzão, não teve como sair mais da água e lá a canoa ficou rodando, rodando, até ele falecer. Bem essa é uma outra história.

Disse o Chico, que se tiver paciência é possível pegar um jaú neste poço.

Assim fizemos, é uma experiência, colocar um anzol 12/0, linha 60, e ficar rodando com a canoa, a linha no fundo poço do Castelo. Nos pareceu um outro Pantanal, um distante lugar, onde o pensamento girava também, em infindos círculos de histórias sem fim. Depois que o grande peixe puxou firme a linha e a briga começou tudo voltou ao lugar, a vida voltou a ter sentido. Soltamos o peixe, pois queríamos um exemplar grande mesmo, para justificar a longa espera, e a grande perda de iscas para as piranhas.

Ficamos até tarde no Castelo, esperando o grande jaú. A tarde o panorama, com a mudança da luz, foi se modificando, o rodamoinho do poço ficou mais evidente, na base desta fotografia. Muitos peixes pulando por toda a vizinhança. Mas não queríamos, outro peixe, estávamos com uma carretilha mais pesada Abu Garcia, linha 100 e grande chumbada, mas não conseguimos pegar desejado. Quando a noite caiu, e os pernilongos atacaram, desistimos e fomos para abrigo do ar condicionado no barco.

Depois da Volta do Tucano, no outro dia, resolvemos parar pescar no Porto Dame. Tivemos muita sorte, pois encontramos um cardume de dourados. Não eram grandes, mas proporcionaram uma excelente pesca esportiva, de pega e solta.

Contudo o tempo se agitou, as árvores das margens se respaldaram aos ventos, as águas se agitavam em pequenas e desconexas ondas. Era um grande cúmulo nimbos, que vinha varrendo pantanal a fora. Era sinal inequívoco que tínhamos que nos retirar rápido, para o abrigo do grande barco.

Íamos subindo o rio para encontrar o barco Shekinah, pois o grande cúmulo nimbos, com raios cadenciados, que iluminava a célula do mau tempo, era alguma coisa ameaçadora. Na navegação não pode nunca desprezar alterações meteorológicas desta grandeza. Contudo o pirangueiro, cortou o motor, e disse energicamente. Olhe novamente outro cardume de dourados. Com a energia no ar eles ficam alvoroçados. Vamos rapidamente pegar pelo menos um grande para o jantar. Não esperei, isquei uma tuvira, e lancei, o rei dos rios logo pegou, e com saltos extraordinários, tentou se livrar do anzol.  Contudo, não havia tempo, e embarcamos o belo peixe. O companheiro, não teve sorte o peixe lhe roubou a isca e sumiu.

Realmente a célula do mau tempo veio, deu tempo de nos recolhermos no Shekinah, que estava muito bem ancorado no porto. Os ventos na planície pantaneira, quando estamos navegando, vindos de uma tempestade desta, precisamos ter respeito, como não existe obstáculos, prédio, casa, morros, as rajadas do vento varrem tudo, e criam altas ondas em um grande rio como o Paraguai.

O CB com muito vento se deslocou para Oeste, caminhando em direção a Bolívia. La pelos lados da serraria do Amolar, os raios iluminavam   as montanhas, como se elas os atraíssem. Os ventos, uivavam pelas encostas da morraria. Esta imagem da foto era do final do CB, quando ele estava passando, e deixando o sol poente penetrar por baixo dos altos estratos congestos.

O POR DO SOL QUE OCORREU DEPOIS DO CB É DIGNO DE SER VISTO.

O céu tomou uma coloração arroxeada, formando um halo em torno do astro rei. Os biguás na árvore esperavam para secarem da chuva intensa que caíra. A tonalidade era de sombras e escuridões, que aos poucos se alternavam.

Realmente a atmosfera rica em gotículas flutuantes de água, sobras do temporal, decompunham a luz para esta incrível tonalidade de fogo, e criavam um halo refletivo em torno do sol, produzindo imagens de beleza incrível na troposfera pantaneira.

Uma tarde de luzes, iluminou o rio Paraguai. O nosso barco com pouca aceleração iniciou a subida. Eu na proa do Shekinah, fiquei extasiado com o cenário. O sol brilhante provavelmente, já atrás do Andes, ainda irradiava energia nos estrados na atmosfera, tudo se iluminou. O imenso e longo trajeto do rio, como um espelho, refletia a luminosidade para o espaço, clareando nossa rota rio acima. Apenas a mata galeria, na escuridão, marcava seus contornos.

A incrível natureza. Subíamos o rio lentamente, admirando a pródiga tarde onde tudo se alterava, em imagens deslumbrantes.

O barco suavemente subia as vermelhas águas do Rio Paraguai, eu na proa admirava a natureza, se modificando. O barco fez uma curva fechada em direção ao poente. Não sei explicar, mas de repente, as nuvens abriram uma imensa janela se abriu no espaço, e o sol entrou na “casa” da Terra, apagando todas imagens que eu estava observando, apenas um rio de luz fulgurante iluminou as águas do grande rio. As águas, a mata galeria, a terra, tudo foi tomado pelo forte fluxo de luz.

Sim cada por do sol é único, não exitem dois iguais. Contudo este, não sei se foi o momento que ocorreu, depois de uma tormenta, depois de um dia de emoções, ficou gravado não somente na foto, o mais importante escondido na mente.

Aproveitamos os últimos claros da tarde, para tentarmos o peixe de couro, no estirão maravilhoso do rio a nossa frente. 

Tivemos sorte, a canoa rodava suavemente levada pela correntesa, sontamos duas tuviras na rodada, dando bastante linha nas carretinhas. Já desanimados, quando a linha puchou violentamente, fazendo a carretilha cantar. A fisgada segura, a luta seguiu, depois com muita calma tiramos este belo barbado da água. Segundo alguns entendidos, esta é a melhor carne de peixe de couro de nossos rios.

No outro dia saímos de manhã, com tempo para vermos a natureza. Nossa rota seria a Baia Vermelha.

Logo que saímos do barco encontramos uma praia repleta destas aves talha-mar,  por lá chamadas de taiamãs, são aves que fazem uma enorme migração. Vêm do norte frio, para se reproduzirem nas prais do pantanal.

Aí está um casal, eles haviam terminado de copularem e estavam ainda se preparando para voarem. Depois de 2 dias a fêmea depositaria seus ovos n meio da areia quente da praia.

O bando enfeitou este belo quadro da natureza dinâmica, quando o barco se aproximou. É uma cena digna de ser recordada, pela velocidade e precisão do bando das aves migratórias, em uma coordenação exepicional. Ficaram voando, em forma de uma verdadeira esquadrilha em nossa volta. Este procedimento das aves, tinha uma esplicação lógica: Estavm protegendo a praia, onde estam seus ovos, e logo estariam seus filhotes.

Elas escolhiam paias distantes de predadores, com largatos, aves de rapinas e mesmo urubus. Por incrível que pareça, haviam pessoas, que colhiam os pequenos ovos destas maravilhosas aves migratórias.

Estes pássaros são hábeis pescadoras. Tem a parte inferior do bico mais comprido que o superior, assim com a parte inferior vai riscando a água, até capiturar um peixinho. Acho incrível está técnica, porque exige, precisão de voo, e conhecimento da área de pesca! É realmente incrível acapacidade destas talha-mares. Primeiramente, pairam no ar, observando a água atentamente, quando vêm o peixe na posição, mergulham, riscando a água, pegam o peixe com precisão.

Saracura Três-potes

A tarde caia mansa pelas matas do corixo que estávamos, na mata galeria ao lado, as saracuras faziam duetos, não sei se de amor ou de disputa, a cada momento uma catava em um lugar, tudo até parecendo sincronizado. Em determinado momento uma veio beber água, e foi possível fotografá-la.

Também é conhecida por saracura-do-brejo, e três-potes. Em geral, é mais escutada do que vista. Vive no chão de áreas alagadas com vegetação densa, brejos de rios e lagoas. Seu canto da origem aos seus três nomes comuns mais frequentes. Seu canto é inconfundível, escutado no clarear do dia e no escurecer, pode, no entanto, ser ouvido no meio do dia ou à noite. O canto, muito grave e alto, é um dueto entre os membros de um par e, às vezes, em coro com vizinhos. Conforme a região do país, o sotaque local produz cada um dos nomes comuns.

Pássaros amigos, sem medo de nossa presença.

Na sombra da piúva, enquanto pescávamos, estes Galos de Campina, vieram assentar na borda do bote, eram mais de 8, mas este chegou a ficar sobre a caixa de pesca, coloquei uns farelos de pão, e qual não foi minha surpresa, quando ele ficou na minha frente saboreando tranquilo o farelo. No pantanal e certos lugares, existem um passarinho muito semelhante a este somente que é outro é o chamado de Cardeal.

O Cardeal é uma da ordem Passeriformes. Ave de extrema beleza, sua principal característica é o topete eriçado de um vermelho intenso, que invade também o peito em ambos os sexos. As partes superiores são acinzentadas, os olhos são marrom escuro, as pernas negras e a região ventral esbranquiçada. Possuem um canto alto e metálico. Na região do Rio Miranda e Baia Vermelha, predomina o galo da campina. Na na região de Cáceres, norte do Pantanal, ví um maior número de cardeais. Podem ser coincidências, pois não comhecimento para esclarecer.

A garça-branca-pequena é muito comum n Brasil na região sudeste e principalmente no pantanal e áreas com banhados e rios. E conhecida também por garça-boiadeira, pois acompanha o gado no pasto, pois no andar destes animais, os insetos voam e as aves com facilidade os pegam. Contudo sua alimentação principal são os peixes nas áreas citadas.

Elas para se defenderem se associam em bandos imensos, formando os chamados ninhais, ou árvores estrategicamente situadas onde milhares de aves toda a noite se reúnem para o pouso. Tive oportunidade de presenciar a chegada de centenas de garcinhas, nesta grande piúva para o pouso. Vinham por todos lados, em pequenos bandos, as vezes em grande altura, significando que vinham de longas distâncias, e em voos planados circundavam o pouso, aí aos pequenos gritos, sinalizavam que precisavam de um galho para a aterrisagem. Ao longe, pareciam pequenos pontos etéreos, que em linha reta se aproximavam, os pequenos pontos se transformavam em dezenas de pontos simétricos, em voos acrobáticos se dirigiam ao grande ipê, já totalmente desfolhados, pelas ácidas fezes de suas inúmeras hóspedes. Realmente eu já havia presenciado algo grandioso assim de um pouso de Itapicurus no Rio Abobral, este das garças-brancas impressionou-me sobre maneira pela dinâmica e harmonia, com que os pássaros, chegaram para o pernoite.

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Na fotografia do pouso as aves, estão parecendo espectros, pois a noite caia e eu estava contra a luminosidade, por este motivo, coloquei esta foto de uma garça-branca-pequena, para que elas não sejam confundidas com outros tantos tipos de graças existentes.

Raramente entre os numerosos gaviões existentes conseguimos fotografar esta ave. A fotografia foi tirada na região do Rio Abobral, ele é um Gavião Cinza, bem grande.

Logo que passamos por uma lagoa, encontramos este Itapicuru, pegando diligentemente uma presa no banhado. Alguns pantaneiros chamam esta ave simplesmente de frango d`água, generalizando todos pássaros deste tipo.

Nesta área alagada devia ter muita comida, pois os pássaros estavam em um ataque ininterrupto de suas presas. Este Jaçanã, estava concentrado, parecendo uma estatuazinha, enfeitando a natureza.

Este bando de marrecas, muito comum no Sul, estavam em bandos se alimentando na mesma área. Eram dezenas de aves, quando paramos a maior quantidade voou assustadas, pois lá pelo sul dos pampas elas são caçadas. Elas sempre seguem um líder, até na posição das cabeças.

Bem à frente em um banhado, vimos este bando de passos selvagens chafurdando no pântano. Alimentam-se de raízes, sementes e folhas de plantas aquáticas, apanhadas flutuando ou através de filtragem da lama do fundo. Nadam com a cabeça e pescoço afundados, enquanto buscam alimentação. Também apanham pequenos invertebrados nessas filtragens.

Seus hábitos: Seus voos são matinais ou vespertinos, entre os pontos de pouso e locais de alimentação. Dormem empoleirados nas piúvas e outras árvores altas, tanto isoladas em capões, como nas matas ribeirinhas. Para alcançar os galhos horizontais de dormida, necessitam de um acesso livre de vegetação. Possuem unhas afiadas nas patas, usadas para empoleirarem-se ou como arma, nas disputas territoriais e por fêmeas. Vivem em grupos pequenos, de até uma dúzia. Pousam sobre árvores desfolhadas para observar os arredores, descansar ou mesmo dormir

O JACARÉ DO PANTANAL. A história deste animal está intimamente ligada ao Pantanal, as histórias remontam à época dos coreiros.

Coreiros: Eram matadores de jacarés. Usavam uma carabina calibre 22, pequeno calibre, e somente caçavam a noite. Com uma potente lanterna, iluminavam os jacarés. A noite a reflexão da luz no olho do animal, mostravam como se fosse uma brasinha e uma pequena luz bem vermelha e brilhante. Os animais como eles falavam, ficavam “encandeados”, isto é, estáticos. O matador chegava bem perto, e davam o tiro exatamente no olho do animal, fulminando-o. Os coreiros eram profundos conhecedores do Pantanal e de todos seu corixos, de onde faziam a matança indiscriminadas de todos animais, para a retirada do couro. Em uma viagem a Cáceres, no Rio Jauru, eu e mister Blits, encontramos um monte de carne de jacarés mortos, onde os coreiros somente tiraram o couro da barriga, o resto estava amontoado. Acreditamos que haviam mais de 500 jacarés mortos. O couro era comprado no Paraguai e na Bolívia em dólares, o que tornava a atividade de um coureiro altamente lucrativa.

Quando foi proibida esta atividade no pantanal, tornou-se uma verdadeira guerra entre a polícia florestal os coreiros, houve numerosos entreveros, e mortes de ambos os lados. Alguns guardas morreram, mas inúmeros coureiros também. Contudo, somente quando os países ricos proibiram o uso do couro animal, foi que a matança parou. Hoje existem milhões de jacarés por todo o pantanal, são os grandes comedores de peixes, da atualidade. Existem cálculos de quantos peixes são necessários para manter todos os jacarés hoje existentes no Pantanal. Acredito que o homem, não teve interferir pois o equilíbrio será restabelecido, se Deus quiser, se o homem deixar quieto.   

Este feroz jacaré, nos enfrentou quando nos aproximamos dele, ou dela, não sabemos. Mas logo descobrimos o motivo.

Mais à frente em uma erosão no barranco, lá estavam uma ninhada de filhotes recém-nascidos do jacaré. Havia dezenas deles, muito bem mimetizados, entre os ganhos e raízes, e todos perfeitamente estáticos, para não serem notados pelos inúmeros predadores que por existem.

Somente quando esses filhotes ficam maiores, e conseguem se alimentar a mãe termina a vigília dos filhos. Os inimigos destes são numerosos, principalmente as aves e alguns animais.

Pegamos uma grande piranha, e a jogamos na praia, perto de um jacaré. Ele em um pulo, se lançou na água, fomos recolhendo a carretilha, ele não desistiu, veio faminto, e pegou, estourou o anzol, e foi comendo, em grandes bocadas, como tudo fosse palitos. Dava para ouvir ele triturando tudo. Incrível a voracidade destes animais.   

Voltou, para praia, e continuou com potentes mordidas, estraçalhou o peixe, e o engoliu com uma única bocada. Essa fotografia a tirei no porto Saracura, no Rio Paraguai. A foto foi tirada por meu irmão Geraldo.

Antes de embarcamos para pesca vimos mais jacarés por toda a região, nos vigiando, em silêncio e imóveis. Hoje existem milhares de jacarés por todo o Pantanal. Depois que conseguiram impedir os coreiros da matança desenfreada destes animais, seu aumento tem sido aritmético.

A grande maioria dos pirangueiros que conhecemos, naquela época, tinham sido coureiros.

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O jacaré-do-pantanal ou jacaré-do-paraguai (nome científico: Caiman yacare) é um jacaré que habita a parte central da América do Sul, incluindo o norte da Argentina, sul da Bolívia e Centro-Oeste do Brasil, especialmente no Pantanal e rios do Paraguai. Mede entre dois a três metros de comprimento] e seu padrão de coloração é bastante variado, sendo o dorso particularmente escuro, com faixas transversais amarelas, principalmente na região da cauda. Mesmo com a boca fechada deixa ver muitos dentes, pelo que é por vezes também chamado jacaré-piranha. A sua dieta é constituída por peixe, moluscos e crustáceos. As fezes desses jacarés servem de alimento para muitos peixes.

Ele põe seus ovos, que podem ser uma quantidade de 20 a 30 dentro de um ninho na mata nos meses de Janeiro a Março. Período de incubação: 70 a 80 dias. A temperatura corporal do jacaré-do-pantanal é de 25 a 30 graus.

O jacaré realmente é uma máquina de pegar a presa, esmaga-la e engolir em uma bocada. Às vezes deixa restos de sua matança, que as aves de rapina e carniceiras, aproveitam para seus banquetes.

Este grande gavião veio participar de um banquete de peixes mortos em um alagado.  

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Contudo nem sempre sua matança é sucesso, este por exemplo foi exterminado. Não sabemos por que? Este jacaré morto, descia o Rio Paraguai, à deriva, servindo de banquete para os carniceiros. É a vida. Quando tirei essa fotografia, o piloteiro, disse que provavelmente ele havia sido morto, mais de 40 Km acima na região do Porto Dame.

O cabeça-seca é uma ave da família das cegonhas (ciconiforme). É conhecido também como Passarão, Cabeça-de-pedra e Jaburu-moleque. Era uma ave muito abundante, mas seu número foi reduzido devido à caça. Quando ocorre as cheias, indiscutivelmente a vida se multiplica no Pantanal.

Esta é uma imagem da cabeça desta ave, pode-se constatar que os nomes que lhe dão são próprios. No chão é uma ave bem feia, contudo, quando um bando destas aves está em voo, são extremamente harmônicas e elegantes.

Não sei o porquê um cardume de pequenos peixes, cascudinhos, acaris, entre outros ficaram presos nesta poça, tornando um banquete para todos esses pássaros. Quando passei por este alagado, o que achei incrível, foi a rotatividade dos pássaros. Quando se satisfaziam, com um acari, ou dois, por exemplo, iam embora, outras aves chegavam, incluindo alguns urubus.

Contudo quando o João-Grande chegou ao banquete, não teve nada que o limitasse, comeu alguns peixes e depois ficou estático, por um momento. Incrível o respeito das aves, em relação ao João-grande, ele se banqueteou tranquilamente, e acredito que pegou vários acaris e um muçum.

Pegou mais peixe, sua companheira também, pois realmente ele é um pescador altamente especializado, contudo ele não perdoa nada nos pântanos, carangueiros, caramujos, cobras da água e enguias, etc. Já filmei uma ave desta, tentando tirar violentamente uma grande enguia, da bocarra de um pequeno jacaré. No fim a grande enguia ficou com o tuiuiú, e não sei explicar como ele conseguiu engolir. Aquela grande presa ainda viva para dentro do papo. Estes pássaros da foto, estão comendo, sem parar, estes pequenos peixes.

Depois que se alimentaram, decolaram com a grande elegância de quem é considerado o Rei do Pantanal, entre as aves, e também o símbolo da região.

Consegui tirar essa foto logo que ele decolou satisfeito. Esclarecendo, o jaburu é uma cegonha, quando voa mantem seu pescoço e cabeça no alinhamento. Tem um voo soberbo, contudo na fase de acasalamento, ele realmente mostra ser a ave soberana do Pantanal, não somente pelo seu tamanho. Ele e outros, machos e fêmeas, na fase do cio, esperam o calor e o aparecimento das fortes correntes de ar ascendentes. Decolam, bate as asas até acharem as correntes de ar, depois em grandes círculos, vão se elevando no espaço. No início são muitos, depois lá nas alturas ficam apenas dois, o macho e a fêmea. Continuam por horas voando em manobras acrobáticas, são pares dançando um balé de acasalamento. De repente, mergulham, produzindo até um sonoro ruído nos céus, aí se juntam e copulam, é alguma coisa espetacular e divina de ser vista.

O Tuiuiú  muito conhecido como jaburu, Tem vários nomes conforme a região, por exemplo: O tuiuguaçu, tuiú-quarteleiro, tuiupara, rei-dos-tuinins, tuim-de-papo-vermelho, (no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul). É considerada a ave-símbolo do Pantanal. Pode ser encontrada desde o México até o Uruguai, sendo que as maiores populações estão no Pantanal e no Chaco oriental, do Rio Paraguai.

A garça-real-europeia (no Brasil) é uma garça da Europa cuja aparência é a de uma ave com dorso cinza e faixa superciliar negra que se estende até as longas penas nucais. Também é conhecida pelos nomes de garça-real ou garça-cinzenta. Na realidade este exemplar foi um dos poucos que vi no Pantanal. Ela é muito rara na região.

Tive muita calma para fotografar esta garça-real, este exemplar eu fotografei na Rodovia Transpantaneira, no seu início quilômetro 20 mais ou menos. Sempre que eu vi esta garça ela estava sozinha. É solitária e arisca, vive sempre pelo chão, pegando seu alimento, que por sinal é muito variado.

A narceja é uma espécie de ave sul-americana. Tem a pequena e uma espécie maior chamada de narcejão ou batuíra.  Mede cerca de 30 cm de comprimento, em média, possuindo bico longo e reto, dorso escuro com faixas amareladas. Também é chamada pelos seguintes nomes populares: agachada, atim, batuíra, bico-de-ferro, bicudo, corta-vento, maçarico-d ‘água, narceja-comum, narceja-miúda, narcejinha. Seu nome de corta-vento, tem razão de ser, pois voam em grande velocidade. E durante seu voo nupcial, ela sobe bem alto, e mergulha fazendo um ruído característico, cortando o ar ruidosamente. Interessante que esse fenômeno ocorre tanto durante o dia como a noite de lua cheia. São bandos desta ave, que voam em grande velocidade, de dia e a noite, em determinado momento elas mergulham cortando o ar.

Nestes nossos passeios pelos rios do Pantanal, são tantas as recordações e imagens, que as vezes perdemos a lógica dos tempos, e não sabemos se vimos aquela imagem de barco, do alto de avião, ou de ATV pelas trilhas pantaneiras.

O Shekinah subindo o Rio Paraguai, em uma tarde muito iluminada, criando quadros memoráveis. São momentos inesquecíveis de uma pescaria. Segurando firme o timão do barco, escutando o ronco firme dos motores, e cortando as águas serenamente, e apreciando essa maravilhosa paisagem.

Pescaria.

No Porto Saracura, pegamos algumas caranhas para o jantar. Este é um dos peixes mais esportivos nas pescarias, pela sua grande força quando fisgadas. A isca certa é o segredo para se pegar a caranha. Até folha de urtiga enrolada já usei, no rio Miranda para pescar e pegar este peixe.

No outro dia, vimos um movimento de peixes, resolvemos fazer uma parada, era um pequeno cardume de dourados. Como eram fora de medita, pegamos apenas um dos maiores para comer. Incrível mesmo esse pantanal e os pantaneiros, o Chico navegando com o barco, viu ao longe esse movimento na água, disse ser um cardume de dourados, atacando um cardume de sardinhas, duvidei, paramos. Não deu outra ele tinha toda razão, era maravilhoso ver as sardinhas pulando e os predadores, se saciando. Depois que pegamos um exemplar, continuamos observando a luta pela sobrevivência, os pequenos peixes, se agrupando e correndo para as águas rasas e os predadores cercando o cardume e se saciando.   

Este é um grande pescador, o martim-pescador. Ele tinha o ninho no barranco bem perto onde estávamos ancorados pescando, ele construiu o ninho em um buraco no barranco. Nesta hora ele havia pego um pequeno peixe, e o estava batendo no galho, para tritura-lo, antes de servir a seus filhotes. É uma dedicação extraordinária.  Enquanto estávamos lá pescando, com certeza, ele pegou muito mais peixes, do que nós. Aproveitou o cardume de sardinhas e abasteceu a ninhada.

Durante nossa subida pelo Rio Paraguai, vimos uma cena chocante.

Um urubu veio planando e “aterrissou” em uma anta morta, já putrefata que descia o rio, pela correnteza.  Outros urubus, e gaviões, sobrevoavam a inchada carcaça, esperando um espaço para o pouso. Como o “campo de aterrissagem” era pequeno e móvel, tinha que haver um revezamento, uma ave vinha se saciava, saia, e uma outra já estava na reta final para pouso e o banquete. Eu e o Chico, não pudemos saber porque, como o maior mamífero selvagem do Brasil, havia sido morto.

As primeiras vezes, 1978, que começamos a alugar uma chalana para pesca no Pantanal ela se chamava, CABEXI, o comandante se chamava CATARIM. Era tudo muito primitivo. O motor era alemão, do tempo da segunda guerra mundial. O combustível era de óleo bruto, preto e viscoso, ficava em uma lata presa no teto da casa de máquinas. Antes de funcionar o motor e para que funcionasse, dois potentes maçaricos eram ligados nos dois grandes pistões até que o ferro ficasse em brasa, vermelho mesmo. Aí o maquinista, abria uma torneirinha, o preto óleo descia, e ao entrar na câmara de combustão ocorria a explosão e o motor pausadamente começava a funcionar. A abertura da torneirinha era o acelerador da chalana. O barco andava muito devagar, talvez uns 4 nós, contudo era extremamente econômico, com uma lata andava um tempão. A chaminé era muito grande, e soltava uma fumaça preta, que conforme andava, ia deixando um rastro escuro para traz.

De Corumbá aí nessa fazenda, com o Cabexi, demorávamos quase 3 dias de viagem, enquanto a chalana ia subindo, nós com as canoas íamos pescando rio acima.

Este curral é da Fazenda Sucuri, no período de uma seca brava no Pantanal. Estou com a camiseta da copa do mundo, mas não me lembro mais o ano, pois perdemos. Já cheguei pescar sentado sobre as tábuas deste curral, em com a água nos meus pés. O rio estava na seca brava, na enchente, a água sobe até as últimas tábuas do curral.

Estou contando este fato, pois o lugar mais distante de Corumbá que íamos, na época, era até a Fazenda Sucuri, e com as canoas pescávamos pela região, principalmente no grande corixo do Paraguai Mirim, que iniciava a uns 3Km acima da fazenda.

Merece considerações esse grande corixo, pois ele inicia 3 Km acima da Fazenda Sucuri, isso é a 105 Km de Corumbá, e desce praticamente paralelo ao Rio Paraguai, com meandros tortuosos e de grande beleza, e desagua no Rio Paraguai, a mais de 100Km, a baixo da cidade.

Pesquei muito nesse maravilhoso Corixo, dez quilômetros descendo o Paraguai Mirim, na sua margem esquerda, inicia a imensa Baia de São Francisco. Ela fica ao lado esquerdo do rio Paraguai. Segundo Chico, ela se formou em tempos recentes, antes no Rio Paraguai havia um porto movimentado. Porto São Francisco, que abasteciam um grande número de fazendas que existiam na região hoje virou uma baia, parece que sobrou apenas uma fazendo no contorno da região inundada.  Não resta dúvidas o Pantanal é vivo, e está em transformações, por isso a responsabilidade de cuidar de toda área é fundamentam para sua manutenção.

Recordando: Esta fotografia foi tirada há 35 anos atrás na Fazenda Sucuri. Este é o primeiro barco de aluguel de Corumbá. Era o heroico Cabexi I, o dono se chamava Orosimbo, e o comandante Catarim. Havíamos pego muito peixe, o rio Paraguai estava com pouca água, corria na caixa. A tarde de tons vermelho no horizonte, despejava por todos os lados luzes e sombras. Sentei a bombordo vendo o dia se esvair em luzes. Casais de araras passavam barulhentas, vindo da baia de São Francisco em direção a morraria do Amolar. Jamais esquecerei estes momentos, pois os amigos foram chegando, levantando ondas que se quebravam nos barrancos, com a alegria de terem feito uma ótima pescaria.

Mais tarde sai para pescar bem perto da fazenda, onde desemboca um pequeno riacho. Coloquei uma tuvira e joguei no meio do rio, para evitar as piranhas das margens. Poucos minutos depois, a corrida da linha, em uma puxada, digna de um bom peixe. Fisguei e com calma comecei a tentear o peixe. Aí a coisa ficou esquisita, era puxada bruscas, fortes e diferentes.

De repente a água em volta da linha começou a se agitar, era um cardume de piranhas, atacando meu pescado. O pirangueiro disse, vão cortar a linha.

Não cortaram, pois, o empate era de aço, fui recolhendo, e vejam na fotografia o que saiu, um grande pintado, 2/3 comido pelas piranhas. Tiramos do anzol, e jogamos o restante para o cardume das vorazes piranhas, aí sim a água ferveu, pelo banquete oferecido. Fomos expulsos do lugar, pois seria jugar a isca e pegar uma faminta piranha.

No agito da água, pode-se ver a festa que o cardume de piranhas, está fazendo, ao banquetear com o pitado que eu havia pego.

Bem aí está, o que restou do pitado. Lógico, depois que tirei do anzol, devolvi ao rio para os peixes terminarem o banquete.

Antes de pararmos a pescaria o velho pirangueiro quiz mostra-me uma coisa importante, uns 25 Km Paraguai-Mirim a baixo. Estávamos a uns 30 Km da baia de São Francisco. Paramos em uma densa mata galeria, na margem esquerda do corixo. Ele apoitou o barco. Descemos ele entrou pela mata, e disse:

Sabe doutor, há uns 50 anos atrás por aqui passava uma estrada que ia até o Porto São Francisco, saindo de Corumbá. Ninguém acredita, mas como o senhor é interessado nessas coisas, eu vou trazer o senhor para provar o que estou contando. Lá fomos caminhando com cuidado pela mata. Depois de 1,5 Km, ele falou ali está doutor.

A grande surpresa, lá estava enterrado no barro, e semicoberta de terra uma perua Rural Willys, provavelmente ano 1965, toda enferrujada pelo tempo. Fiquei surpreso, ele conduziu-me para a frente e pude constatar o sinal de uma estrada, que por ali passava em direção ao Porto e Fazenda São Francisco.

Aí ele se emocionou e disse: Essa doutor foi a última condução, que por essa estrada tentou passar. Depois veio uma grande enchente, e tudo inundou, a estrada nunca mais existiu, somente nós velhos ainda lembramos disso.

Sim companheiro, eu de avião em 1976, vindo de Aquidauana para Corumbá, cheguei a fotografar uma dessas enchentes imensas que tudo era inundado no pantanal baixo. Em silêncio, fomos embora, recordando as enchentes do passado, que realmente deram o nome de Pantanal.

Não tinha jeito de pescar no lugar, assim fomos jantar e depois, lá pelas 21:00hs, nos preparamos e fomos para a saída de um corixo, onde havia uma vazante, soltando iscas, com o barulho típico dos pintados e cacharas pegando peixes pequenos, na boca.

A lua saiu tímida, nos dando uma pequena claridade, que se infiltrava entre as árvores da mata galeria, em volta do corixo. Os peixes de couro que estavam pegando as iscas, faziam um ruído grave na água, como um vaqueiro, cercando o gado na saída de uma curralama.

Fui com um companheiro, aportamos e começamos a pescar. Procuramos não fazer muito barulho para não atrair as famigeradas piranhas. Peguei de maneira esportiva três espécies, sendo esta cachara da foto a maior.

A escuridão era total, e meu companheiro disse:

–Que inferno é este, você já pegou 3, e eu ainda não tive nenhuma puxada, estou “pé frio hoje”.

Resolvemos, acender a lanterna e verificar o porquê? Fui com o facho, acompanhando a linha dele, saia da ponta da vara, entrava na água, depois de alguns metros, saia da água e com a isca, estava dependurada em um galho bem horizontal à frente do companheiro.

Todos rimos muito, ele ficou louco da vida, naquela posição podia somente com muita sorte, pegar um macaco. Aí ele matou à vontade, pegando 2 pelos pintados.

Fomos dormir realizados, são peixes nobres, cuja pesca é um prazer indescritível.

No outro dia, quilômetros rio acima, depois da entrada do Paraguai Mirim, encontramos esta casa humilde de um pescador. Era simples, mas bem construída sobre palafitas, prevendo as grandes enchentes. Seu morador era profundo conhecedor do Pantanal. Nos contou muitas coisas de lendas do pantanal. Ele era coureiro, matava jacarés para tirar o couro da barriga, segundo seu relato tinha noites que ele e sua turma, matava mais de 100 animais. Era arriscado pois disputavam de dia com a polícia e à noite com outros coureiros, principalmente os bolivianos. Quando perguntei se tinha tido entrevero com os florestais, ele respondeu que não. Pois sempre estava com seu radinho de pilha ligado, no amanhecer, na rádio de Corumbá havia um radialista que por código avisava para onde os florestais iam. Falavam: Compadre da Fazenda do Mata Cachorro, se prepara que hoje vou comer um frango caipira aí, e vamos em quatro amigos.

Com o auxílio do radialista, raramente os florestais surpreendiam os coureiros. A matança terminou mesmo quando a indústria parou de usar couro e a pele dos animais. silvestres

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Tinha em seu “quintal” um casal de mutum, viviam soltos ao redor de sua casa, junto com algumas galinhas. A noite os mutuns subiam em grandes árvores para dormir. Mas as galinhas ele as recolhia, pois, os animais e sucuris vinham de longe em busca das penosas. Ele já havia visto algumas onças pintadas na região, incluindo, duas que passaram perto de sua casa. A única que ele tinha medo mesmo era a sorrateira cobra boca de sapo, se ela picar não tem escape, é uma morte hemorrágica e com muita dor. Por mais que tudo estava em desordem o capim estava podado, medo da cobra venenosa.

Ele nos deu uma aula sobre a importância da Baia de São Francisco, que ficava na outra margem do corixo do Paraguai-Mirim. Existiam muitas grandes fazendas, nas bordas desta imensa baia. Hoje ela está atapetada de camalotes, mas antes ela era limpa com águas a perder de vista, e o movimento de chalanas era muito grande. Barcos grandes, levando sal, víveres, ferramentas e pessoas. No próprio Rio Paraguai tinha um movimentado Porto São Francisco, que permitia um intercâmbio com a baia.

Este é o belíssimo casal de mutuns. Que belos pássaros, o pescador os tinha livres em seu quintal. A simplicidade de um pescador do pantanal, sem energia elétrica e sem os confortos da vida moderna. Sua televisão é a natureza, seu objetivo é pescar para comer, e os melhores peixes ele os prende, para a venda, com isso ganha um dinheirinho para o básico. Sal, pilhas, querosene e a cesta básica. Não mostrou interesse por quase nada, vive no isolamento com suas recordações e sua fértil imaginação, que são as trilhas de sua esperança do pouco que espera.

Sobre os mutuns: Existe dimorfismo sexual. As fêmeas têm uma crista de penas negras e enroladas, na base do bico amarela e a plumagem predominantemente negra, com a região abdominal e cloacal de cor branca, tal como na extremidade das penas caudais. Os machos apresentam uma crista de penas brancas e negras, plumagem negra na região dorsal marcada por estriações de cor clara e penas de cor castanha no abdómen e na região cloacal.

A conversa com o pantaneiro, nos fez esquecer do tempo e demoramos muito. Quando chegamos o companheiro reclamou bastante, contudo prometi contar a ele as novidades e algumas lendas do Pantanal. A que mais me impressionou foi sobre os Negrinhos do Amolar, bem, mas essa será uma outra história.

Saindo Rio Paraguai acima, passamos por mais essa casa de pescadores, que eram também conhecidos do Chico, somente vimos mulheres e crianças. O lugar era maravilhoso no meio da mata, disse o pirangueiro que uns quilômetros para dentro desta mata, chega-se a grande Baia de São Francisco. Como se percebe esta casa está a margem esquerda do Rio Paraguai. Segundo o Chico, ali há anos passados era o Porto São Francisco.

H:\Piuvas em flor ++.JPG

Pouco acima no rio encontramos essas 4 piúvas, uma maravilha, as flores que caem no rio formam um tapete cor de rosa que vai descendo, levados pelas águas. As flores que caem na terra, serve de alimento para os animais, cervos, capivaras, pacas e cotias.

Quando subíamos o rio, um bando enorme de Marrecas pousou em um banhado logo a nossa frente. Pela altura que vinham, e estavam em perfeita formação em V, acredito que vinham migrando, do Sul da América para o Pantanal, pareciam um único conjunto. Descreveram uma longa curva, perdendo altura e velocidade, bem baixo, esticaram as patas, como os aviões abaixam os flaps, perdendo velocidade, e pousaram no banhado. Queria fotografar o bando, mas quando mais perto, todas, piando alto, e com grande estardalhaço, decolaram, rasantes pelo banhado. São muito caçadas no Rio Grande do Sul, acredito ser o motivo de tanto espanto do bando. Ficou apenas esse casal, que tornou passível essa fotografia.

Em determinadas épocas do ano, segundo o pescador nativo, elas aparecem em bandos enormes, e sempre preferem banhados escondidos, sem acesso às pessoas, passam dias quietas, depois em alvoroço levantam voos, piando muito alto, em seguida voltam para o pouso. Isso ocorre durante uns 3 ou 4 dias, até que em determinado momento todas levantam voo, e em uma algazarra louca, de voo acrobáticos, partem para longe em direção ao sul, sempre com uma guiando na frente.

Eu disse: Sabe seu Tutu, nesses dias elas estão fazendo uma troca de penas, e nesses dias elas são vulneráveis, perdem a capacidade de voar, por esse motivo, buscam banhados escondidos.

Certo doutor, um dia passei nesse banhado e achei uma grande quantidade de penas das marrecas, achei esquisito, pensei que era briga entre elas, para o acasalamento.

SURPRESA NO RIO PARAGUAI.

Não eram somente as duas marrecas que vinham do Sul para o Norte do Pantanal. Esta família Paraguaia estava subindo o Rio Paraguai a meses, em busca de um bom lugar para se estabelecer. Ao nos aproximarmos deles, se assustaram, achando que podíamos fazer-lhes algum mal. Somente ficamos sabendo que era uma família de paraguaios, subindo o rio a semanas ou meses, não entendi. Queriam achar um lugar para se estabelecerem, e achar trabalho.

Incrível, mas segundo pude entender a meses eles saíram de Porto Murtinho, estavam com destino, a um conhecido na região do Amolar, na colônia dos Novos Dourados.

Paramos um pouco para pescar, subimos com o barco no camalote.

Os piloteiros, ou pirangueiros, como são chamados, os pescadores que nos acompanham, são muito importantes nesses momentos, por nos orientarem, quais os lugares de pesca, as iscas, e tudo mais. Esta piava, que peguei, segundo o Chico, é raríssima de ser encontrada no Pantanal. Na bacia do Rio Pardo e Mogi Guaçu elas eram muito comuns. Elas, como as tabaranas, são peixes que vivem bem apenas em águas despoluídas, quando a poluição chega elas desaparecem. Assim pegar esse peixe nesta região é um bom sinal.

Quando jovem, nos rios da bacia do Rio Pardo, meu pai e tio, faziam cevas com milho e mandioca, e o máximo, era com uma fara flexível e linha Diana nº20, pegar essas piavas de 3 pintas. Pois elas são muito briguentas, e dava gosto a brica que se seguia.

Realmente ao passar por um corixo, vi esta cena e a achei, muito significativa e expressiva. Todas as aves ali estáticas, secando as penas depois do mergulho. Elas não mexiam parecias estátuas fixas em galhos secos.

O biguá é uma das aves mais abundantes do pantanal. Já presenciei bandos enormes de biguás, no rio Abobral, mergulhando juntos, para cercarem e se alimentarem de um grande cardume de lambaris. Eles habitam uma imensa região que vai do México até América do Sul, existem também na Ásia.

Com uma plumagem escura e 75cm de comprimento, o biguá não possui uma glândula uropigial, responsável pela secreção de uma substância impermeabilizadora das penas. Assim, as penas retêm água, tornando-as mais pesadas. Essa característica faz com que o biguá se torne um mergulhador mais rápido do que os demais pássaros, já que por ajudá-lo a livrar-se do ar durante o mergulho e liberar a água ao vir à tona, faz que o pássaro não gaste energia desnecessariamente batendo as patas, podendo alcançar uma velocidade de 3.8 m/s. isso faz do biguá um predador de alta eficácia na captura de peixes, quase um torpedo emplumado.

Em questão de minutos, o biguá consegue realizar sucessivos mergulhos, que lhe rende dezenas de peixes, trabalhando em conjunto com outros biguás para encurralar o cardume contra a margem, como já vi no Rio Abobral. Diferente do que se pode pensar, os biguás não espantam os peixes durante sua ação de pesca.

Pelo contrário, na China eles são parceiros dos pescadores no sistema chamado de ukai, em que cada pescador leva dez biguás amarrados pelas patas e no pescoço um anel que os impede de engolir o peixe. Depois da captura, eles recolhem a ave, com o pescado na boca do pássaro.

Basicamente piscívoros, uma vez que seu suco gástrico desagrega as espinhas de pequenos peixes, o biguá também se alimenta de moluscos, crustáceos e outros animais aquáticos. As fezes do biguá, por serem ácidas, afetam o meio ambiente por danificarem as raízes e folhas das árvores, e até mesmo o solo. Praticamente todas árvores em que eles se juntam em colônias, inicialmente perdem suas folhas e depois morrem, como bem mostra a fotografia. Depois dos mergulhos, eles mantêm as asas abertas para secarem ao sol.

Depois que o Biguá mergulha, suas penas sem óleo, cheias de água, torna seu voo, bem difícil, ele tem que fazer um esforço bem grande, até o próximo galho onde vai se secar. Sua decolagem lembra-me um Avião Hércules, cheio de soldados, decolando de uma pista de terra.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f0/Phalacrocorax_brasilianus-04.jpg

Aí está o famoso pescador alado, secando suas penas. (Esta foto foi tirada do Google).

Passamos lentamente, ao sabor da corrente do rio, por esse bando de biguás. Ficamos bem quietos. Nesta praia parece que havia uma conferência para as aves. A frente havia um líder que com seu gutural canto, parecia orientar todo o bando, sem se mexerem prestavam atenção ao mestre. De repente todos decolaram, rio acima, batendo as asas freneticamente, e lá distante mergulharam, como uma esquadrilha no ataque.

Deu para depois percebermos, que um grande cardume de sardinhas, pequenos peixes brancos, subiam o rio. No momento anterior, o líder do grupo dos biguás, esperava a hora certa para o ataque, por este motivo todas aves estavam estáticas voltadas para o líder, esperando a hora certa para o ataque.

Sumiram nas águas, quando saíram, todos estavam se banqueteado com brilhantes sardinhas brancas nos potentes e certeiros bicos. Demoramos um pouco para nos aproximar, não voaram, estavam saciados e pesados, com os bicos para cima, festejavam sua festa. Acredito, que estavam na praia prestando atenção, há sempre um biguá que voava pelo rio, era o “olheiro”, quando localizou o cardume, deu a ordem e todos juntos, cercaram e comeram os peixinhos até se saciarem.

No Pantanal sempre tem um fato importante a ser visto, se possível documentado. Como é o caso desta pescaria em equipe. É maravilhosa a vida neste nosso Pantanal. Há 30 anos que frequento a região, e sei muito bem que ainda tenho que ver, interpretar e aprender sobre este paraíso ecológico brasileiro.

Chegamos com o Shekinah até o corixo Paraguai-mirim, as 8:15 da noite, havíamos viajado 125,8Km, em 12 horas na média de 10km/h, durante esse tempo, dormimos, comemos e proseamos. Não se sente a viajem, é uma aventura. Estas 12 horas consideradas, é com a chalana andando mesmo, GPS, automaticamente não registra todas as paradas, pescarias, fotografias, não são computadas neste tempo de 12 horas. Na realidade demoramos dias.

UMA DAS REGIÕES MAIS RICAS DO PANTANAL QUE CONHECI.

Já havia estado na fazenda Sucuri, há anos passados com o barco Cabexi, gostei demais das diversidades, dos biomas de toda a região.

— Primeiro: navegar com a canoa pelas riquezas do Corixo Paraguai Mirim, ele se contorce pela grande mata galeria, onde uma riqueza de fauna e flora é incrível. Um fato que nunca me esqueci, e o pirangueiro antigo, Tiú, já falecido, tentou explicar.

Existe no meio da mata galeria, na margem esquerda do corixo, bem lá para o meio, a carcaça já destruída de uma Perua Rural Willys, enterrada no meio da mata. Ele levou-me para ver, isso em 1987, se não me engano. Ele disse, que ali, há tempos passados, havia uma estrada que vinha de Corumbá para as fazendas existente na região, hoje da Baia de São Francisco.

Desci o corixo, com minha filha Carolina, que ficou impressionada com os bugios, depois com o número de Aracuãs, que existiam ao longo da mata.

No ano de 1995, estive aí também com meu finado primo José Cássio, fanático pescador, em uma baia, encontramos um cardume de piavuçus, ele com uma vara de bambu, ficou alucinado, pegando uns bitelos, como ele disse, para todos nós, sempre que contava o fato. Quando estávamos parados em um poço, ouvimos nitidamente o esturro de uma pintadona, ficamos quietos esperando, os esturros se repediam quase que cadenciado, mas não vimos o animal.

— Segundo lugar: Saímos por um corixo estreito e tortuoso, o piloteiro se esmerou, deu grande velocidade nas curvas fechadas, fazendo os camalotes pularem nas ondas. Eu estava de salva vidas, pensei “deixa o pau quebrar”, dois quilômetros à frente, ele já havia maneirado a correria, paramos em uma palafita, de um pescador de isca, para nós abastecermos.

Aí ele disse, se senhor viu doutor. Eu falei, viu o que Chico. O enxame de abelhas, quando entramos no corixo, as ferozes abelhas alvoroçaram, se eu não dobrasse o cabo, elas nos teriam atacado, e todas aquelas curvas, praticamente ainda não estamos longe do enxame. A correria tinha explicação. As abelhas africanas, as vezes e preferencialmente, fazem colmeias às margens de rios e riachos. Seu ataque, não tem outro recurso a não ser fugir.

Pouco depois saímos no rio Paraguai, descemos uns 10Km e chegamos na ilha Laranjeira. No braço direito da ilha tinha uma corredeira, o Chico falou, quer arriscar um dourado aqui tem oportunidade.

Incrível o fenômeno, a ilha fechava o rio, saiam dois braços, pegamos o da direita, ele foi se estreitando, com isso formou-se uma corredeira, onde o Chico, parou para eu tentar um dourado. Não deu outra, logo ferrei um pelo dourado, que deu 3 grandes saltos espetaculares, e soltou o anzol da boca e se libertou.

Chico, com um palito no canto da boca, deu um sorriso disfarçado, e disse: é isso, não ferrou direito perde mesmo. Vamos tentar outro.

Por incrível que pareça, haviam dourados na corredeira, mas não peguei mais nenhum, as piranhas estavam comento minhas iscas. Depois de um tempo, convidei o companheiro para partirmos, para Baia Vermelha.

Saímos do rio e pegamos o corixo para a baia, logo alguns quilômetros à frente uma grossa corda atravessava o rio, havia pessoas ao lado de um rancho de sapé. Assustei, o Chico falou, fique tranquilo e parou no barranco.

A homem veio com um sorriso falso, e disse tem que pagar, para entrar na baia, é propriedade particular, são 20,00 cruzeiros cada barco. Pagamos sem discutir, e entramos.

Antes da baia propriamente dita, existem um corixos, que prometem boas pescarias. Tentamos e fomos felizes, pegamos vários pintados e cacharas, mas sempre na pesca esportiva.

H:\Por do Sol Baia Vermelha.JPG

Chegamos na Baia Vermelha com este maravilhoso pôr do sol. O astro rei estava se escondendo na morraria do Amolar, e seus raios, refletindo nas nuvens de altos estratos, se decompunham em tonalidades para o ouro, para vermelho! Indescritível esta coloração da imagem. Pensando e refletindo. Como descrever este quadro?

A luz do poente, se escondendo atrás da vertente ocidental dos Andes, e os raios do espectro vermelho iluminando os altos cirros no limite da estratosfera, difundindo sua tênue luz pela troposfera afora, cobrindo tudo com o suave veludo da noite se aproximando? Ou diríamos: O céu se iluminou como uma chama, misturando luzes e sombras. Tudo é colorido tudo é negro.

As árvores ribeirinhas com suas silhuetas delimitam as margens da baia, como sombras que se movem no crepúsculo. As águas da baia, refletem as cores do poente, como em um caleidoscópio, nada é estático, as cores se alteram as sombras se movem, tudo é movimento, mas o panorama nos parece estático, tudo é luz, mas nosso olhar as vezes somente vê as sombras. Bem, creio, que algo místico ocorre em nossas mentes nestas horas.

Por ali ficamos até a escuridão chegar. Durante a noite, tivemos momentos raros. Não havia vento. Depois que as nuvens foram levadas, deixando o céu completamente limpo. Lá pelas 21:00hs a água da baia ficou como um espelho. O monumental espelho refletia as miríades de estrelas do firmamento, o barco com todas as luzes apagadas, e a cidade mais próxima Corumbá a 100Km, mantinha o pantanal em uma escuridão total. As estrelas refletidas na água e a abóbada celeste sobre nós, dava a ideia que éramos viajantes interplanetários a navegar pelo cosmo. Esta não foi a primeira vez que tive essa sensação, de ser um viajante sideral e de estar na “praia do universo”.

Na segunda vez que tive esta visão no Pantanal, foi na grande baia do Mandioré. Lembrei-me muito de Carls Sigan (1980 na TV), o grande astrônomo, que dizia que se isto ocorresse, teríamos a noção clara que a Terra é uma minúscula espaçonave singrando o oceano intergaláxico em direção ao infinito, e a superfície da terra seria a praia deste universo. Jamais me esquecerei destes quadros e destas sensações. Quando a lua chegou ao zênite, tentei tirar uma fotografia, mas somente eu consigo ver o que imagino.

Para concretizar e dar mais força ao nosso sentimento de profundidade, vimos cruzar no espaço dois satélites artificiais, muito grandes, um em rota equatorial e outro em rota polar. É uma sensação indescritível, na imensidão infinita dos céus, vermos um objeto feito pelo homem, cruzando espaços. Esta fotografia tirei sentado no barco, com minha modesta teleobjetiva.

Meteoros cruzaram o céu, a imaginação, mesmo não querendo, nos levou bem mais próximo ao criador. Deus, ali estava presente dentro de nossos corações, pois tão infinitamente pequenos somos, como poderíamos contemplar tanta grandeza se não existisse a bondade de nosso criador?

Por que não estávamos rastejando pelo brejo em busca da comida como as serpentes? Por que não estávamos atacados por milhões de insetos como os bugios nos galhos das árvores, ou devorados pelas piranhas no fundo do rio? Somos diferentes, temos alma, sentimentos, o Criador nos beneficiou.

Quando pagaremos a conta pela nossa agressão ao ambiente? Não saberemos. As luzes do barco se acenderam, acordei de meu sonho, o cozinheiro chamou para a janta …e bem, comecei a repensar em pescarias.
Será que estes dois momentos nos colocam mais próximo de todos meus sentimentos. Não somos mais pescadores simplesmente, foi uma evolução, somente pegamos para comer, e contemplamos a natureza como uma oportunidade, talvez única, para a nossa geração, de vermos quadros ainda intocados pela depredação do homem.

Durante a noite antes de dormir não deixei de pensar na árvore de biguás. E como é complexa a natureza, somente Deus poderia criar uma cadeia de acontecimentos tão complexa e extraordinária. Perto do barco, logo de manhã havia esta árvore, morta pelos excrementos dos biguás, mas o bando estático em seus galhos, formavam um quadro de expectativas.

É histórico, os Tucunarés, peixes estranhos ao pantanal, tomam conta da Baia de São Francisco.

Amanheceu um dia maravilhoso, saímos para a pesca. No Paraguai-mirim, não pegamos nada.
Fomos até a imensa baia São Francisco, conferir a história, onde a água estava limpa e apenas uma suave brisa acariciava a planície pantaneira.
Joguei a isca artificial, depois de ter tentado pescar Caranha, o Chico, o piloteiro, viu o movimento e solicitou-me uma isca artificial, não deu outra, logo ele pegou um grande tucunaré. Pegamos vários, foi uma esportiva e emocionante pescaria.
Ao todo pegamos 8 tucunarés dos grandes. É uma pescaria esportiva, muito boa, a melhor que temos praticado ultimamente. Não sei o que os tucunarés farão na ecologia do pantanal pois eles são predadores, é ver o que vai dar!

Antes iniciarmos a pesca do tucunaré na imensa Baia São Francisco, o comandante Chico, com sua grande habilidade, saiu do rio Paraguai e por um estreito canal foi para o Corixo do Paraguai – Mirim onde aportamos tranquilos.

Esse lugar onde aportamos o barco, era maravilhoso cheio de vida, as árvores, as águas, os bichos, tudo em fim. Pois foi aí perto que tomamos um carreirão fugindo das abelhas assassinas. E aí, eu vi, escondido dentro do barco, com os ares condicionados ligados, a maior nuvem de pernilongo, já vista no pantanal, formavam nuvens escuras, sobrevoando as águas. Nem imaginar sair fora, seria ataque fulminante. Cheguei fotografar.

Estávamos adentrando o Corixo Paraguai – Mirim, quando uma descomunal barcaça, tracionada por um rebocador, cruzou o Rio Paraguai. Com sua lentidão e imponência, transportava a carga de 300 caminhões, distribuindo riquezas por todo este Brasil, e comida para o mundo.

Quando entramos no mais longo corixo do Pantanal, vimos um grupo de ariranhas, que as vezes eu me confundo com lontras. Elas são muito bravas e territoriais.

Eram em número de 4, não se intimidaram e cercaram nosso bote, davam gritos agudos e altos, como estivessem avisando os filhotes de nossa presença.

Observação importante, o corixo chamado de Paraguai Mirim, inicia a montante do Porto ou Fazenda Sucuri, percorre aproximadamente 230 Km. Vinte quilômetros depois de Corumbá, o corixo desagua no Rio Paraguai. Ele é muito rico, em peixes, flora e animais.

PESCANDO TUCUNARÉS NA BAIA DE SÃO FRANCISCO.

Esta é uma imagem muito importante do Google, feita pelo satélite, onde demos um grande zoom. Onde está o “R” do rio Paraguai é a fazenda Sucuri. Acima tem a saída do corixo Paraguai-Mirim, depois o Porto São Francisco. Esta imagem mostra o início da imensa Baia de São Francisco. Onde fomos pescar tucunaré. É uma área com água e matas inundadas nas cheias.

Não existia tucunarés no Pantanal. Contam que um fazendeiro na região do Rio Piquiri, em uma represa, iniciou uma criação. Depois de determinado tempo houve um rompimento de sua represa, e os peixes, exímios predadores, se alastraram pela região. Após alguns anos começaram a ser encontrados em várias baias, incluindo na de São Francisco. Os ecologistas acham que poderá ser um desiquilíbrio na ecologia pantaneira, contudo ainda não existe um estudo mostrando isso.

A caminho do centro da baia de São Francisco. Para pescar tucunarés.

Este é o tucunaré bem grande que pegamos no Pantanal, existem outras espécies, como o tucunaré-açu, o tucunaré paquinha, entre outros.

Eram corixos para se chegar à baia do São Francisco, o pirangueiro tem que ser feroz, acelerar o motor de popa no último, e enfiar a cara no meio dos camalotes. Essa trilha, foi rasgada pelo motor dos barcos. Para navegar nesta imensa baia, é indispensável conhecê-la muito bem, mesmo, pois, essa “trilha” aberta nos aguapés se fechará em pouco tempo. Não adianta o GPS, pois os meandros da região alagada são imensos. Tenho um amigo, que acabou a gasolina, perdido nesta imensidão, teve que passar a noite no barco. Somente foi resgatado o outro dia por um conhecedor da baia.

Não resta a menor dúvida, que décadas antes, esta baia deveria ser uma maravilha incontestável, contudo as alterações foram muito grandes, os camalotes a invadiram, até os tucunarés apareceram. É incrível esses fatos.

Neste ponto da “trilha”, que seria considerado um corixo, em meio aos milhares de camalotes, ficamos preocupados, pois ela terminava logo à frente, fomos tocando, para ver se dava para rasgar a parte preenchida pelos camalotes. Minha esposa Any, é aventureira, e na proa estimulou rompermos as barreiras.

Realmente, não foi surpresa que logo à frente encontramos esta barreira. O Chico, profundo conhecedor da baia, investiu no matagal de algodoeiros, mas não deu tivemos que voltar, no rastro e procurar outro logar.

Andamos não sei dizer quantos quilômetros pelos ‘corixos’, pelo GPS, pude observar que as vezes íamos para um rumo depois retornávamos sentido contrário. Achamos uma outra passagem e começou a dar certo, ao longe se descortinou uma grande abertura na baia, provavelmente um lugar para a pesca.

Estávamos chegando, por lá tudo é muito grande e lindo. Os panoramas ininterruptos se sucedem a nossa frente a cada quilômetro, e são muitos quilômetros, que se andam como se o espaço a cada momento se abrisse mais longe. Deste ponto começamos a ver uma pequena parte da baia. Ao longe o início da grande Serraria do Amolar, meu Deus, nestes momentos de desbravamentos sentimos a grandeza real de nossa existência, ao nos identificarmos com as infinitas criações da natureza. A baia encoberta pelos aguapés, somente víamos uma pequena parte da água exposta. O que será de vida, que existe sob esta camada vegetal, de centenas de hectares?

Não sabemos nada, apenas percebemos claramente, que as águas, lá distante, entram turvas, cheias de partículas, opaca, e ao passar pela grande maça vegetal, saem limpas, como de uma nascente na morraria. A baia, nos parece, realmente mais um dos imensos e eficazes filtros das águas intermináveis do grande Mar dos Xaraies.

A alegria da Any, minha companheira de sempre, ao chegarmos nos “abertos” da imensa baia, já vimos alguns movimentos dos tucunarés, na caça. São realmente peixes esportivos e caçadores, exemplares, por isso, havíamos andado e navegado tanto para estar nestes lugares.

Baia de São Francisco. Quando chegamos a alguns pontos pode-se ver as verdadeiras dimensões da área inundada, e o que se vê, segundo os moradores é apenas uma pequenina parte do que realmente é a Baia de São Francisco.

A pesca. Com iscas artificiais, após adentrarmos a baia, encontramos o cardume. É uma pesca esportiva, com um equipamento leve, linha 30. É muito emocionante lidarmos com este bravo predador, o Tucunaré. Havia uma suave brisa apenas, o que permitia longos arremessos com as iscas artificiais, era muito emocionante ver o peixe, bravo, lutador, abocanhar a isca, e partir para a luta, as vezes davam saltos espetaculares, para jogarem a garatéia fora, e as vezes conseguiam. Outras vezes não, apenas os exemplares eram embarcados para o jantar.

PESCA: Os tucunarés são peixes que atraem pescadores por causa da briga que ele faz com o pescador. Ele tem como habitat natural a bacia amazônica, porém ele foi introduzido nas represas do sudeste. Isso trouxe alguns problemas, como o desaparecimento de algumas espécies que passaram a ser capturadas pelos tucunarés. Hoje, a sua pesca torna-se cada vez esportiva. Os tucunarés são peixes que atacam tanto iscas vivas como artificiais em movimento, pois elas lhes chamam a atenção.

Os tucunarés são sedentários e vivem em lagos, lagoas, rios e estuários, preferindo zonas de águas lentas ou paradas. Na época de reprodução formam casais que partilham a responsabilidade de proteger o ninho, ovos e filhotes. São peixes diurnos que se alimentam de qualquer coisa pequena que se movimenta e outros peixes e até pequenos crustáceos. Ao contrário da maioria dos peixes os tucunarés perseguem a presa até conseguir o sucesso.

O tucunaré é um peixe popular em pesca desportiva.

Indiscutivelmente a alegria do pescador esportivo pode ser constatada na fisionomia das pessoas que gostam deste esponte. Nestes distantes lugares, onde os jacarés passeiam silenciosos pelas águas, as vezes uma sucuri agita os camalotes, abrindo espaços em sua passagem, tudo é emoção.

Grandes tucunarés propiciando fartura, por serem intrusos, não existe limites a sua pesca no Pantanal. Por serem esportivos, a diversão é garantida, cada arremeço, uma nova expectativa, e uma nova emoção.

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Esta é a fotografia, de um pequeno trecho, da imensa baia do Porto São Francisco. Pois no total ela deve ter mais de 100Km/quadrados. A primeira fotografia, representa uma grande “ilha” de aguapés, que no pantanal são chamados de camalotes, pois quando se desgarram, dessem o Rio Paraguai, como imensas ilhas flutuantes. Os tucunarés, encontraram nesta imensa área, um ótimo ambiente de reprodução.

Ele é um peixe territorialista, não anda muito, nem participa do fenômeno da piracema, tem um pequeno raio de influência. Vive normalmente bem em águas mais paradas, gostam de ficar nas galhadas, coivaras, ou nos camalotes, onde se escondem, em tocaia para pegar suas presas. Às vezes na pescaria, há necessidade de desalojá-los desses “esconderijos” para se lançar as iscas artificiais. São os macetes de uma pescaria esportiva.

No meio da baia uma grande surpresa, a minha companheira Any, pegou um pintadinho. Uma prova, na área pega-se mais tucunarés, pois é o tipo de pesca que estamos fazendo, mas com uma tuvira e chumbada, pode-se pegar outros peixes.

Imagens inesquecíveis da Baia de São Francisco.

Quando entramos na baia passamos por esta família de mudança. Era realmente uma mudança, todos os móveis, mulheres dormindo, crianças e até o cachorro. Eram 8:00hs da manhã, mais ou menos.

Como vimos, mesmo com motor de popa, foi uma dificuldade, andar pelos camalotes, e as vezes atravessá-los. Paramos para pescar, as 11::00hs, mais ou menos. Foi quando o barco com a família nos alcançou, eles, mostrando sinais de dificuldade, com esforço nos varejões, passaram por nós. O menino já desperto, e todos acordados, incentivavam os homens a prosseguirem a longa travessia, da imensa baia, em direção a uma grande fazenda, que existe ao norte, nos limites da baia.

Fomos uns 7 km para a frente em busca de novos pontos de pesca. As 13:00hs eles cruzaram conosco novamente. Cortando moitas de camalotes. Já estavam bem adiantados para chegarem ao destino segundo o Chico, que deve ficar a uns 20km à frente na fazenda, onde deveriam ir morar.

Realmente é um pouco indescritível o cenário da baia. Ou melhor dizendo, talvez me faltam palavras para descrever toda importância da ecologia, e a biologia desta região. Primeiro, é um mar imenso de águas doce, toda cobertura vegetal, não tem nenhuma relação com o solo, são plantas flutuantes. A nutrição mineral das plantas, elas tiram das águas, que entram turvas e as vezes barrentas, e saem limpas no escoadouro, que é o Paraguai-mirim.

São cardumes de peixes, que acobertados pela vegetação, se reproduzem e crescem para depois saírem para o grande rio. Impressionante mesmo, pois nada é estático na baia, os camalotes, conforme os ventos, se movem, como nuvens flutuando nas águas. O caminho que se abre, o vento, as correntes podem fechá-lo em um momento.

E mais importante é esta cena. Como descrever esses pantaneiros da gema mesmo, que saíram da região do Castelo e no varejão buscam novo lugar do imenso pantanal. São homens determinados, são mulheres destemidas e crianças fortalecidas, pelo exemplo dos pais. A lona é estendida, para a proteção da noite. Podemos afirmar, sem dúvidas estes pantaneiros são uns fortes.

Conheciam muito bem a baia pois iam cortando caminho, com esforço e muita determinação. Chegaram a essa mata ao fundo, que seria um dos limites, a oeste da grande baia. Eram 15:00hs, estavam a uns 5 km da fazenda. Passaram todo o dia, saindo de onde, manejando esses grandes varejões, impulsionando esta canoa toda lotada. Transportavam tudo que tinham, em busca, nos confins desta imensa baia, de dias melhores. Não os vimos mais, enquanto pescávamos, aos poucos e lentamente foram desaparecendo no horizonte das águas.

A baia tem sofrido ao longo dos anos um assoreamento, com isso, o nível de suas águas tem subindo, e as florestas, que em suas margens existem, estão sofrendo, com o tempo serão um exemplo de Florestas Mortas.

Surpresas da Baia de São Francisco:

Esta marreca passava tranquila pela parte mais limpa da baia. Quantos inimigos ela teria que vencer para criar seus filhotes. Era uma demonstração da mãe natureza, sobrevivendo às dificuldades da criação. Indiscutivelmente, sua postura era de orgulho e impondo respeito aos prováveis inimigos.

Algumas destas marrecas são chamadas, de paturis por sinal sempre foram perseguidas pelos caçadores. Fazem anualmente grandes migrações procurando os banhados mais ao norte da América do Sul, para se reproduzirem. São especialistas em seus voos. Muitas noites, inicialmente ouvimos seus piados, se comunicando com o bando, e quando é lua cheia, já tive oportunidade de ver um bando delas passando pelo Pantanal, em rápidos e ordenados voos, uma verdadeira esquadrilha, em formação.

Cabeça Seca, conhecido também como Passarão, Cabeça-de-pedra (Mato Grosso), Jaburu-moleque, Trepa-moleque (Mato Grosso), João-grande (Rio Grande do Sul). Era uma das aves aquáticas mais comuns da Amazônia, mas teve seu número reduzido devido à caça. No pantanal encontramos muitas, como vimos.

Havia uma árvore onde vimos este dois socós-boi, se camuflando desta maneira para não serem vistos. Ficaram nesta posição estática durante todo tempo que por lá paramos no poço.

Saindo da baia e chegando no Paraguai-Mirim, para aportar no Shekinah, vimos esta casa flutuante. No início achamos que estava abandonada, mas depois observando bem, vimos ao lado uma mulher com uma criança. O lugar é um quadro, de beleza e poesia. Seria um paraíso? Não saberia dizer, pois à tarde, já pesquei neste poço, é um enxame de pernilongos, inimaginável, a ponto de termos que desistir de ficar ali. As distâncias, a solidão, o pescador têm apenas uma piroga, como será que ele se desloca, quando necessário? A capacidade de adaptação do homem é inimaginável, este é um exemplo.

Esta moradia não estava longe de nosso barco. Eu tinha visto duas crianças brincando na tábua, que seria a soleira da porta. Quando escureceu, chamei o Chico, para irmos até lá para vermos como a família estava.

Tudo escuro, a não ser uma pequena luminosidade tremeluzindo pelo plástico que servia de porta. O silêncio somente era interrompido, pelo ininterrupto zunido dos milhões de pernilongos, e pelo estridente sonar dos morceguinhos insetívoros, que em rápidos ziguezagues, faziam uma farta alimentação. Também não suportamos o ataque dos mosquitos, e partimos pensativos nas pessoas que lá moravam.

Segundo o Chico, eles logo que escurece, ficam dentro dos mosquiteiros, até os atacantes pararem.

Este é nossa casa no Pantanal, tantos lugares visitados, 20 anos de viagens por todo Pantanal sul. O comandante Chico tem sido nosso mestre em todo este glorioso tempo de pescarias e aventuras.

O Shekinah estar nesse lugar é fruto da habilidade do comandante Chico, pois para chegar aí no Corixo Paraguai-Mirim, ele conduziu o barco por um longo e estreito corixo, através do pantanal.

Este é o Rio Paraguai, 5 km abaixo da Fazenda Sucuri, um lugar ótimo para se pescar de rodada. O trecho tem mais de 4 km de extensão. Tivemos sorte, encontramos um cardume de barbados, pegamos muitos, mas somente embarcamos 1 para o jantar. Por sinal, segundo os entendidos gastrônomos, é a melhor carne deste tipo de peixe que existe. Benditas águas do Paraguai.

Este é uma região maravilhosa do Paraguai-Mirim, tivemos sorte com as caranhas, elas na minha opinião são os peixes que mais têm força durante a briga. A linha canta, a carretilha corre chiando, elas sempre buscam o fundo do poço, é emocionante. Depois de muita luta elas se entregam, nadando de lado, mas não se deve iludir, pois ao ver o “inimigo” arrancam novamente, com uma força incrível, e se a linha não estiver esticada, adeus …

Pegamos também um peixe muito brigador, a piraputanga, ela é deliciosa e tem a carne vermelha, parece que se colocou urucum nela, ela tem bastante espinho. Contudo, fui com um amigo em Cuiabá, onde eles servem a pirapitinga assada inteira e absolutamente sem nenhum espinho. Não sei como seria a técnica usada para tirar as espinhas deste peixe. Mas vale a pena, pois sua carne é extremamente saborosa.

Esta árvore muito vistosa chama-se novato. Ela chama a atenção, entre as a vegetações nos capões de mata, pela sua exuberância, e beleza. Tem este nome, porque quem não a conhece, chega em seus galhos e procura quebrar um cacho para levar as flores, e aí que está o perigo, seus galhos são ocos, e dentro, em uma perfeita simbiose, vivem as terríveis formigas de fogo. É quebrar um galho e sair urrando de dor, pelas terríveis ferroadas das formigas.

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Um lindo cacho da flor da árvore Novato, visto bem ao alcance da mão. É tocar, e sair com a mão cheia de picadas das formigas de fogo, que doem muito mesmo, daí o motivo do nome da árvore.

Estas duas fotos são da mesma árvore, é um Cambará. Ela é muito importante, pois desde muito tempo, ela é usada para fazer canoas, com processos artesanais. São as famosas pirogas pantaneiras.

Pequeno histórico desta árvore. Após grandes cheias na década de 1970, fazendeiros e a população do Pantanal Matogrossense perceberam o surgimento de uma nova árvore, ainda não vista por ali. O cambará é uma espécie originária da Amazônia, mas que se adaptou muito bem ao Pantanal, podendo trazer desequilíbrio em algumas regiões. Os biólogos explicam que a espécie forma comunidades monodominantes na área, isso é, no local ocupado por ela, outras espécies não conseguem se desenvolver. É fato em alguns lugares encontramos capões desta árvore. O cambará é uma espécie lenhosa, que pode produzir grandes árvores, chegando a 28 metros de altura. Suas folhas são verdes escuras e têm um brilho característico por causa da cera que as recobre. “Por conta dessas folhas, a espécie é facilmente distinguida entre as árvores do Pantanal e do Cerrado. Ela apresenta uma grande produção de folhas no final do período de inundação do Pantanal”.

No Pantanal estas plantas são chamadas de CAMALOTES, quando milhares delas se juntam formando verdadeiras ilhas flutuante. Em outras regiões é chamado de AGUAPÉ, um nome comum a várias plantas aquáticas de rios e baias do Pantanal e outras áreas da América do Sul. Suas folhas e talos, dão lindas flores. O conjunto destas plantas, se unem a milhares e formam grandes ilhas flutuantes, que descem pelos rios do Pantanal.

Voltando do Paraguai Mirim para Corumbá.

O Shekinah, está ancorado rio a baixo do Castelo. Estamos nos divertindo um pouco, mas após a chuvarada não estava fácil, apenas peguei uns mandis, que jantamos deliciosamente com skol, enquanto descíamos o rio Paraguai, me diverti bastante nesse final de tarde.

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Os cúmulos nimbos, imensos se uniram, bem ao longe no horizonte. Depois, derramou toda sua fúria, sobre a planície pantaneira, em forma de um temporal de grande magnitude. Estes momentos, mesmo quando não tem muito peixe são inesquecíveis, pois após a chuvarada, vem a calmaria.

Últimos momentos da pescaria, parece que até o dia se encontra com a noite, em uma mistura de luzes e sombras.
Chegamos em Corumbá para abastecer o Shekinah, tudo correu muito bem, o tempo estava fechando novamente, é bom pois o Pantanal está precisando de muita chuva.
Andamos ao todo com o Barco 300Km.
Para subir gastamos 14horas.
Para descer gastamos 9:45 horas.
A velocidade média de subida é de 10,5Km/h
Descida 16,0 Km/h.
A corrente do Rio seria então de 5,5 Km/h em média.
Gastamos 580 litros de diesel para a viagem no barco, mais 60 litros no motor de eletricidade.
Gastamos 100l de gasolina para os motores de popa e ar condicionado.

VIAGEM AO RIO PIQUIRI 1

VIAGEM AO PANTANAL, REGIÃO DO RIO PIQUIRI, MT.
Saída no dia 25-09-2003.
CAPÍTULO I.

Nesta viagem, por termos nos lembrado muito do saudoso primo José Cássio Marques Carvalho, vamos dedicar este relato do passeio a ele:
Preclaro primo e amigo José Cássio: Na imensidão destas águas azuis, deste verde exuberante onde a onça pintada ainda sobrevive, elevamos nosso pensamento a você, pois o imaginamos aqui conosco, uma presença espiritual tão concreta quanto o seria a física, pois confiamos que um dia, em algum tempo, na eterna sabedoria e magnificência de Deus, estaremos juntos recordando esses acontecimentos.

Esta fotografia foi obtida por um satélite da EMBRAPA. Região de Corumbá, a capital do Pantanal. Ela mostra apenas a microrregião de Corumbá. O traçado azul é o Rio Paraguai; na base da foto, onde há uma bifurcação do rio, a mancha quadriculada é a cidade de Corumbá. A mancha azul é o Porto Soares na Bolívia. Escala: 1:25000. Depois da ilha, que aparece na fotografia, mais ou menos 20 Km acima, fica o Porto Saracura, onde tivemos que parar o barco Shekinah para pouso, em virtude de mau tempo terrível, que se formou a partir da meia noite.
Esta foto do satélite simboliza a beleza que é o nosso Pantanal, visto do espaço. É a maior planície alagada do mundo.

Resumo da viagem:
Nosso programa seria saímos de Ribeirão Preto na quinta-feira por volta de 19:00h, eu e o Machadinho, para irmos dormir em Três Lagoas. No outro dia, sexta-feira, nos encontraríamos com o Augusto em Água Clara, cidade onde ele tem uma de suas fazendas.
Sairíamos de lá com as duas caminhonetes, para nos encontrar com o Patrick, filho do Machadinho, em Anastácio, depois seguiríamos para Corumbá, onde pegaríamos o Barco Shekinah, para fazermos a maior pescaria de todos os tempos.

Estudando as fotos do satélite, para a viagem a ser feita, fui seguindo o Rio Paraguai para o norte e localizei a barra do Rio São Lourenço. Subiríamos este rio até o Rio Piquiri, onde iríamos pescar tucunarés.

Amigos e companheiros, fiquei gelado diante da imensa distância a ser percorrida. Contudo inegavelmente todos ficamos maravilhados diante da complexa rede hidrográfica da região. Enfim, seria uma aventura mesmo. Na mesma hora liguei para o Comandante Chico, em Corumbá, para sentir se ele estava preparado. Ele iria levar um pirangueiro, o Padilha, que era profundo conhecedor da região. Senti firmeza. Ele havia enchido os dois tanques da chalana de óleo diesel são 1.500 litros, mais um tambor com 200litros. A tripulação estaria nos esperando para sairmos de Corumbá às 16:00 do dia seguinte.

Às 19h e 20m, Machadinho e eu saímos de Ribeirão Preto com a Silverado. Tínhamos 490km pela frente até chegarmos em Três Lagoas. A viagem foi uma maravilha! Dá gosto transitar pelas estradas do Estado de São Paulo. A mesma sensação tivemos quando pegamos a pista dupla da via Marechal Rondon, onde faríamos de Cafelândia até 3 Lagoas MT.

Coloquei 130km/h no automático e seguimos, numa ótima prosa, até nosso destino.
Praticamente não vimos o tempo passar, embora tivéssemos percorrido 475km em 4h e 13m, conforme o GPS. Dormimos no hotel Vila Romana. No outro dia, iríamos nos encontrar com o Augusto, às 9:00h, em Água Clara, as 6:00h, já estávamos de pé. Adrenalina solta no sangue, pé na estrada.

O importante é que, o Augusto, chegou animado e assim, “batemos” para Campo Grande, MS.
O Machadinho foi com a Ranger do Gustão, assim, ele e eu pudemos ir proseando sobre vários e empolgantes assuntos.
De Água Clara, para frente, ficou mais difícil de trafegar pela estrada, tantos eram os buracos existentes. De todos os tamanhos, largura e profundidade, espalhavam-se por todos os lugares, até mesmo no acostamento – quando havia. Nessas horas dá saudade dos pedágios e das boas estradas paulistas…
Com todo cuidado e atenção, andando dentro dos limites máximos de segurança, conseguimos chegar em Campo Grande às 11h20m.
Abastecemos, e partimos para Aquidauana & Anastácio, aonde chegamos às 13:00h, em cima da pontualidade, conforme o combinado com o Patrick. Ele havia ligado quando estávamos em C. Grande, e eu disse para ele e o pai irem com a Ranger do Gustão. Assim, foi chegar e sair, pois ele já estava preparado.

Na primeira fotografia, Machadinho em posição de partida do Hotel em Três Lagoas. Na segunda fotografia, Patrick, Machadinho e Augusto, em Anastácio na porta do hotel onde nos encontramos com o Patrick, o mais novo companheiro do grupo.

Os 75km de asfalto da estrada de Anastácio a Miranda estavam bons, felizmente.
De Miranda para frente existem trechos que dão medo, pois os caminhões, ao se desviarem dos buracos, vêm por cima dos demais veículos, mas conseguimos andar sem grandes problemas.
Chegamos em Corumbá, ou, mais precisamente em Ladário às 16:00hs, com mais de 1 hora de atraso do nosso plano original.
O GPS acusou 1235 Km de Ribeirão Preto a Corumbá, com um tempo real de viagem muito bom: 12h36m, descontando as paradas.
Corumbá – Waypoints, Porto do Hotel Gold Fish em Ladário:
Latitude Sul 19º 00`0146“ e longitude W 57º 55`7373“.

SAÍDA DE CORUMBÁ: Somente saímos do porto às 17:30, pois o Patrick foi comprar umas coisas que faltavam e eu fui ver outras; assim, houve mais um pouco de atraso. Antes de sairmos, o Chico chegou para mim e disse: — Doutor, pelo que andei conversando, o óleo diesel que temos não vai dar para a viagem, acho que devemos levar mais 300litros! – Não tem dúvida, Chico, pare no atracadouro do posto e vamos levar. Assim, de atraso em atraso, saímos de Corumbá somente na “boca da noite”. E que noite se anunciava. Os cúmulos nimbos, rondavam por todo o Pantanal. A previsão meteorológica não era das mais animadoras. Teríamos temporais em nossa rota. Todo cuidado seria pouco.

Enquanto eu e Patrick fomos à cidade, o Gustão e Machado ficaram no bar do Hotel Gold Fish, “quebrando o bico” de umas cervejas. Ficaram bem alegres, isto antes de iniciarmos a viagem. Deu trabalho retirar os dois do “boteco” e embarcá-los para a grande viagem. Machadinho, ainda com o copo e a latinha na mão, Gustão até esqueceu a camisa para trás… Eta! Que companheirada boa! Para eles não tem tempo feio. Gustão gritou: –Não vem não, pica-pau, aqui é aroeira.

Nesta foto estou na parte superior do Shekinah, estamos saindo para a grande aventura. Um grande CB (Cumulo Nimbos) estava se formando ao norte de Corumbá. Pelo aspecto da água do Rio Paraguai, pode-se perceber as rajadas de ventos de mais de 20 nós, que naquele momento varriam a região.
Os possantes motores do barco, dois MWM de 190HP, turbinados, levaram com muita tranquilidade a embarcação pelo rio, embora as ondas às vezes varressem o tombadilho, mas nada que comprometesse a segurança ou a navegabilidade da embarcação.
Saímos, como já disse, às 17:30h do atracadouro. Pretendíamos navegar a noite toda, pois tínhamos 38 horas de viagem pela frente e uma distância de 380km, o que, para um barco de 16 toneladas não é pouco, e sim, muito!

Sob olhar do Chico, pilotei o Shekinah algumas horas, para sentir o barco, os comandos, meu olhar era de preocupação, pela grande aventura que iríamos realizar. O comandante achou válido nossos testes, do motor e comandos antes de sairmos do porto.

Antes que a noite caísse, convoquei o cozinheiro Roberto para fazer a janta. Estávamos com fome, pois não havíamos parado para almoçar. Importante esclarecer que, durante as viagens noturnas, no barco não deve haver nenhuma luz acesa, a não ser as luzes de navegação, pois se a cabine estiver iluminada à visão do piloto fica prejudicada. Assim, queríamos jantar antes da escuridão e depois subirmos na cobertura do barco para apreciarmos o Pantanal.
Obs: as luzes de navegação básicas são 3: Luz de popa – Branca; luz a estibordo – verde; luz a bombordo – vermelha.
O cozinheiro perguntou-me o que nós queríamos comer. Logo, o Gustão deu uma de machão: – Eu já previa isto, e trouxe um belo frango pronto, oferecido pela Alice e confeccionado pela Ana, incluindo uma sobremesa de doce de abóbora. Assim, o cozinheiro somente esquentou o frango e refogou um arroz para acompanhar.
Comemos rapidamente e subimos para vermos o tempo, e que tempo! Como veremos no mapa, na saída de Corumbá o Rio Paraguai faz numerosas curvas, por isso ora enfrentávamos o vento de proa, que segurava muito a embarcação, ora enfrentávamos o vento de través, que também dificultava um pouco a navegação.
Às 20:00h começou a chover. Recolhemo-nos e quem havia tomado uns uísques e cervejas, foi para a cama.

Eu como gosto da navegação, queria instalar o GPS, o que não foi possível naquele dia porque o Chico não havia arranjado a tomada. Assim, como veremos, o início da viagem ficou sem marcações geográficas. Fiquei ao lado do comandante Chico. A escuridão caiu pesada, como um manto negro sobre a embarcação. Somente o conhecimento profundo, das curvas do rio permite a navegação nestas condições.

Pelo rádio soubemos que dois barcos se aproximavam” águas abaixo”. Avisamos que o Shekinah estava “águas acima”. Depois de 20 minutos cruzamos com o primeiro: luz vermelha cruzando com luz vermelha, bombordo & bombordo. É fantástico ver ao longe, na noite chuvosa, naquela imensidão de águas, dois pontos luminosos solitários, um verde e outro vermelho: é embarcação vindo. Enquanto toneladas se deslocam, a chuva abafa o som dos potentes motores da embarcação permitindo perceber somente suas luzes se aproximando: são como olhos de monstros, riscando a escuridão da noite. Aos poucos, apenas a luz vermelha fica visível; é bombordo voltado para bombordo.

Como estávamos em rotas diferentes não há perigo de abalroamento. Há momentos que o comandante Chico fica em dúvida e aciona os quatro potentes faróis. Na tentativa de visualizar melhor as margens do grande rio, liga também o facho com controle remoto. Felizmente as condições da noite melhoraram após a passagem do CB e, às 21:00hs, uma tímida lua crescente aparece entre as nuvens.

O Chico se acalma e aumenta um pouco a rotação dos motores. A mata ciliar dá o balizamento da rota. Como todos os comandantes ele, conhece o rio de cor, sabe o nome de todas as curvas, a localização de todos os baixios, além do eficiente balizamento das margens do rio feito pela marinha.

O balizamento da marinha, é muito eficiente, indica basicamente, se o barco deve permanecer no meio do rio, ou indica uma mudança para a margem oposta.
Nestas horas não tem papo com o Chico, o máximo que ele faz é dar um ligeiro sorriso, quando tudo está bem. Caso contrário, ele nem pisca. Depois do Estirão da Faia, nós, com mais de 5 horas de viagem, estávamos a duas curvas do Porto Saracura, nesse momento o céu escureceu de vez. Não se via mais nada. Procurar ancoradouro.

Realmente na escuridão da planície, podemos ver um fenômeno incrível, o imenso cúmulo nimbos, com sua imensa energia acumulada, a distribuía em numerosos raios fulgurantes, como uma teias ciclópicas de luzes na escura noite pantaneira. Ficamos extasiados, e com receio, pois os estampidos dos trovões, parece que fazia tudo se agitar em vibrações cadenciadas, em nossa volta.

Os raios faziam as águas do Paraguai iluminarem, as distâncias se encurtavam, as vezes eu e o comandante nos assustávamos, pois, as sombras das árvores pareciam vivas e caminhando a nosso encontro, era um perigo.

Por medida de segurança resolvemos aportar. O Chico acendeu os faróis do Shekinah e partiu em busca de uma árvore em um barranco velho conhecido do comandante.
Na escuridão da noite os faróis apenas iluminavam uma cortina brilhante dos bilhões de gotas d’água que, a cântaros, caíam das nuvens. O Chico manteve o curso, pois sabia que a árvore estaria lá. Depois de alguns minutos, vimos à árvore, uma grande piúva. Mas, antes eu havia me assustado um pouco, pois vira o brilho de duas luzinhas, que mais pareciam brasas, no rumo de nossa rota. “Aguentei em copas”, felizmente, pois quando chegamos mais perto, era o brilho dos olhos de um grande jacaré, que com a barriga estufada de tanto comer curimbatás, descansava estático no barranco da piúva. Ele parecia estático, como um tronco na margem do rio, brilhando pela chuva que caía, mas quando o barco roçou os aguapés, ele, como se tivesse recebido um choque, arrancou com uma rapidez indescritível e mergulhou no rio, com um urro de revolta por termos perturbado seu sucesso e seu sono.

Logo, o Padilha e o Roberto, um a estibordo, outro a bombordo, puxaram as amarras e imobilizaram o Shekinah.
A esta altura, só nos restava dormir. Era 01:00h, havíamos navegado apenas 5:30h e andado pouco mais de 48km. Estávamos num lugar chamado Zé Boca e foi ali que aconteceu nossa aportagem forçada.

O Pantanal de Mato Grosso: Fui para a cama, mas com tanta adrenalina no sangue, estava muito difícil conciliar o bendito sono, assim comecei a pensar o que era o Pantanal e onde estávamos naquele momento.

O Pantanal corresponde a uma extensa superfície de acumulação, de topografia plana, tendo suas cotas altimétricas oscilando entre 80 a 200m. Constitui-se de uma ampla depressão em forma poligonal, com seu maior eixo no sentido norte sul, para o interior da qual direciona uma complexa rede hidrográfica, sujeita a inundações periódicas, sendo o Rio Paraguai o principal eixo da drenagem fluvial de toda a região.
Naquele momento, estávamos sob uma chuva torrencial, na região do porto Saracura, ancorados às margens do Rio Paraguai.
Embora o Pantanal seja conhecido pelo alagamento de extensas porções territoriais, este fato não decorre de grande precipitação pluviométrica na região, mas sim pela grande quantidade de rios que drenam para o interior do mesmo. Aliado a isso está o baixo gradiente do declive topográfico do pantanal, que em torno de 0,3 a 0,5m/km. Ou seja, o Rio Paraguai, por exemplo, no percurso de 1km pode ter um desnível de apenas 3 centímetros. Isto é um fato importantíssimo para que a depressão do Pantanal possa receber, no período das cheias, grande quantidade de sedimentos (siltes), vindos do planalto que o circunda.

O Pantanal de Mato Grosso não é homogêneo, ele é formado por vários tipos de terrenos, de vegetação e constituições morfológicas. No momento, por exemplo, estávamos subindo uma região chamada de Pantanal do Paiaguás, origem dos índios que habitam está maravilhosa região.
Para nós e os pantaneiros, existem 3 tipos de Pantanais: Pantanal alto (nunca sofre inundações); Pantanal Baixo (todo o ano sofre inundações, formando baias, corixos e fertilizando o solo); e Pantanal das Cordilheiras ou Morrarias. Em quando meditava em tudo isto, o sono veio e somente acordei…

Sábado, dia 27-09-2003.

Acordei às cinco horas da manhã, e subi na cobertura para ver o dia nascer. Despertei de toda a nostalgia da aurora, com o barulho dos motores que foram ligados. O tempo estava muito bom para navegar. Eu muito animado, pois o dia estava bonito, chamei o Chico, para despedida do porto Saracura. Assim continuamos nossa longa viagem. Saímos às 6:00h do Saracura com destino ao Rio Piquiri, tendo pelo menos mais 30 horas de viagem pela frente.

Logo subindo o rio passamos por esta híbrida embarcação. Dois andares era um barco de passageiros, com numerosas redes armadas, e a grande maioria ocupada por passageiros dormindo. Não é para se admirar, pois como vimos, as viagens demoram dias. Também na parte dianteira, havia uma grande barcaça curral, para levar o gado criado no Pantanal.

Saracura, Waypoints latitude Sul 18º 72`8321“ e longitude W 57º55`7373
Depois de um estirão e 3 grandes voltas do rio chegamos ao Porto Califórnia, ou melhor dizendo: Fazenda Califórnia. Há uns 25 anos, na boca do corixo que existia à montante desta fazenda, eu e o primo José Cássio, tivemos sorte de encontrarmos um cardume de dourados. Foi uma maravilhosa manhã de pescaria! Pegamos muitos grandes douradões. Jamais poderia imaginar que, no ano de 2003, o corixo não existiria mais, a barranca foi assoreada pelas terras vindas das erosões dos planaltos e os amarelões já não conseguiriam se reunir para andar em cardumes…
Fazenda Califórnia, Waypoints latitude Sul 18º 62`0045“ e longitude W 57º51`6888“

Desde 1975, quando tirei meu Brevê de piloto privado, e comprei um avião Corisco, o EMBRAER 711C, nos USA chamado de Cherokee, tenho voado sobre o Pantanal, mas sempre a baixa altitude, nada se comparando a visão das fotografias de um satélite. É incrível esta vista: O Rio Paraguai com seus numerosos meandros, inúmeras baias, e o mais incrível a ser considerado, que todas essas águas se comunicam, ou por pequenos corixos, ou sob a vegetação, como um lençol d´água sob a vegetação. O segredo das águas pantaneiras, é justamente esse, ao correr entre a vegetação, ela se purifica e dá nutrientes para que esta se mantenha exuberante.

Não é sem motivo que os índios pantaneiros o chamavam de MAR DE XARAIÉS.

MORRO E REGIÃO DO CASTELO

Pelas fotografias pode-se ver como estava o tempo no Castelo: o céu coberto por altos estratos congestos prometendo mais chuvas. Após 30 minutos da Fazenda Califórnia chegamos no Morro do Castelo. É uma das regiões mais lindas do Pantanal. Entrando à jusante da morraria, pelas águas grandes da baia por oeste, penetra-se em uma baía muito grande, onde existia um hotel que, por falta de peixe na região e hóspedes, atualmente está fechado.

As águas vão longe, chegam à divisa da Bolívia, por sinal como o país não tem mar, a marinha boliviana tem um Base Naval nessa região, chamada de Puerto Quijarro, cheguei fotografar um barco da marinha boliviana nessas águas.

Segundo os moradores da região, neste local havia a tribo dos índios Paiaguás. Este povo indígena lutou durante a guerra do Paraguai, juntamente com os Guaicurus, ao lado dos brasileiros. Posteriormente, devido às “atividades” do homem branco, esta tribo foi completamente extinta.
Segundo o Chico, existem pela região do Castelo vestígios destas tribos indígenas.
No pé do morro existe um poço cuja água não sai, fica rodando. Os pescadores, naquele tempo, ficavam rodando no poção, com uma grossa linha de mão, pegando grandes jaús.
Havia um pescador que, por não nadar muito bem, tinha muito respeito pela água. Pescava com cautela, segundo o pirangueiro TIU.
Um belo dia ferrou um grande jaú e, rodando no poço, foi trazendo o bichão para dentro da piroga. Como não conseguisse, ele tentou matar o peixe com o remo, quebrando-o com toda a força na “cabeçona” do “bitelo”. Com o remo quebrado, e ele não tinha como impulsionar a canoa. Assim, mesmo com o grande peixe embarcado, ele não tinha como sair do rodamoinho do poção. Dois dias depois, foi encontrado, pelo filho, já morto dentro da piroga, rodando e rodando no poço. Eles (pescador e peixe) já estavam fedendo, viu doutor! ”.

Este é o poção do Morro do Castelo, cuja água da superfície, não sai, fica rodando e rodando. Tornou-se para todos um lugar mal-assombrado. Disse o cozinheiro: “Nunca pesquei nem vi neguem pescar neste lugar”. “Yo no creo en brujarias, pero que hay, hay!”.

Pela imagem extraordinária do Google Earth, foi possível para eu ver a grandiosidade das duas baias que existem antes da Ilha do Castelo. É uma imensidão de águas azuis, que com um corixo existente ao norte ela se comunica com a imensa Baia do Castelo, que vai até a Bolívia.

Como já comentei observem o mar de águas que é o Pantanal, elas se interligam. Pela largura do rio Paraguai na fotografia, é possível calcular o tamanho desta Baia do Castelo. Somente as fotografias do satélite, do Google Earth, é possível analisar a grandeza das águas pantaneiras.

Independente o tempo estar revolto, continuamos navegando, passamos pelo poção que roda direto, notei que ninguém da tripulação, se quer olhou para o lugar.

Logo em seguida ao Morro do Castelo vem o Campo Daime, hoje um lugar de muitas construções, mas a tripulação não tinha certeza se era uma fazenda particular ou alguma pousada. Parece que ali existe até um aeródromo. Na foto eu e Augusto.

Hoje com tantos progressos e correrias, fico imaginando a paz de espírito que tínhamos para fazer essas longas viagens pelo Pantanal e em alguns lugares do Brasil.

Campo Daime, Waypoints latitude Sul 18º 57`4968“ e longitude W57º 48`3312“

Depois de Campo Daime o rio Paraguai faz uma grande curva, quase voltando para trás: é a chamada Volta do Tucano, que após um grande estirão chega no lugar chamado Laranjeira. Depois da grande curva da Laranjeira, ruma-se diretamente para a boca da Baía Vermelha. Tenho maravilhosas fotografias da Baía Vermelha, não sei se haverá espaço nesta aventura para incluí-las.

O Porto Dame, era um marco na navegação para todos, assim comemoramos com uma foto, bem, aí está a nossa tripulação: Roberto (mestre cuca, orientado pelo Patrick); Chico (Comandante do Shekinah); Padilha (Pirangueiro de grande capacidade). Na segunda fotografia está o Comandante Chico com seu auxiliar Sérgio Lima.
A propósito, deste 1973, quando iniciei meu curso de piloto privado e depois o curso de mestre da marinha, sou um apaixonado pela navegação, não importando a condução que esteja usando. A navegação planejada é sempre importante, em terra, no ar ou na água. Antigamente, para navegar, usávamos os rádios faróis e a bússola. Era uma arte e uma ciência, principalmente nas rotas para lugares sem o rádio farol, como norte do
Brasil, Mato Grosso e Goiás. Hoje, com o equipamento GPS (Geo Position Sistem), que é orientado pelos satélites da Garmin (USA), a navegação, tornou-se uma ciência, com precisão de erro de apenas 15 a 25 metros.

Porto Laranjeira: Waypoints latitude Sul 18º 55`2706“ e longitude W57º 44`1797“ Em toda esta região, existem, como veremos nas fotografias do satélite da EMBRAPA, inúmeras baías, corixos e meandros intermináveis, que se interligam. É água perto de água, enfim um mundo de água! Não podemos calcular qual será o valor de toda essa massa de água para o futuro. Por exemplo, as grandes baías a oeste do Morro do Castelo vão até a Bolívia, onde eles têm um porto (Porto Boliviano), incluindo a presença da marinha Boliviana, como já mencionei.

Baia Vermelha: Waypoints latitude Sul 18º 48`7757“ e longitude W57º 44`6566“. Na realidade, marcamos o ponto de entrada da Baía, pois, a região é muito grande.
Ao fundo da baia começam as morrarias, que se prolongam até a Serra do Amolar.
Pela fotografia do satélite pode-se ver que essas baías, as da região do Castelo e Vermelha se interligam, formando um complexo de redes hidrográficas que se prolongam até a Serra do Amolar. Depois da Serra, as baías tornam-se mais complexas ainda, incluindo também a Baía da Gaiva, a Baía Uberaba, que são as maiores do Pantanal. Somente com um GPS, ou com auxílio de profundos conhecedores da região, é possível navegar por essas baías e corixos.

Estas fotografias representam uma pequena e modesta amostra da Baía Vermelha. Bem ao longe, no horizonte, com boa vontade, dá para ver uma cadeia de morraria, que, caminhando para o norte, forma a Serra do Amolar, por onde passaremos, dentro de 5h de viagem. Além da morraria do horizonte, na fotografia da esquerda, está nossa divisa do Brasil com a Bolívia.

Essa fotografia é do ano de 2002, mostrando o Shekinah ancorado na entrada da Baía Vermelha. Ao lado, um dos ilustres habitantes da região, o Galo de Campina. Depois da entrada da Baía Vermelha, o Rio Paraguai descreve um longo caminho até uma fazenda chamada Sucuri, em cujo trajeto o barco deve ter gasto mais de 1:30h.

Anos atrás (1977) quando pescávamos com o Barco Cabexi, a Fazenda Sucuri era o lugar mais distante que ele alcançava. Era uma viagem maravilhosa, tudo muito selvagem e primitivo. Havia muito peixe em todos os lugares.

Logo depois da Fazenda Sucuri inicia-se o maior corixo de todo o Pantanal, o Paraguai-Mirim. Ele inicia nesse ponto e termina 40 Km a baixo da cidade de Corumbá.

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Tenho falado tanto do GPS que acho oportuno mostrar uma fotografia do equipamento, que estávamos usando na época. Na tela ele está mostrando, esquematicamente, o Rio Paraguai. O 15,5 mostrado revela a quanto estamos andando, isto é, à vertiginosa velocidade de 15,5Km/h. Mostra também que estamos a 44,3 km do destino e devemos gastar, mais ou menos, 3h23m para a chegada. O pontinho preto no meio do rio simboliza o Shekinah. O destino assinalado, no caso, era o Porto dos Novos Dourados, que em linha reta estaria àquela distância, mas como iremos dar voltas e voltas, devemos demorar bem mais. A setinha preta mostra a direção onde está o destino pedido (no Go To do equipamento). Fazenda Sucuri, Waypoints latitude Sul 18º 39`4606e longitude W57º 38`9665“.

Entrada do grande corixo Paraguai-Mirim, Waypoints latitude Sul 18º 38`5577e longitude W57º 37`005“. Incrível! A entrada do Paraguai-Mirim está a 1 minuto de grau da Fazenda Sucuri, de qualquer ponto que dela se parta! Só para esclarecer, 1 minuto de grau corresponde a uma milha náutica, ou seja, 1820m.

Quanto ao Paraguai-mirim…. Bem, essa é uma outra história; melhor continuar a viajem senão nunca chegaremos ao destino.
Passamos por todos esses pontos exatamente às 12:00hs, o que significa estávamos navegando há, aproximadamente, 7 horas e percorrido 137km.
Tínhamos ainda muito rio pela frente, até chegar ao próximo porto.

REGIÃO DO BONFIM.

Ao longe já avistávamos as Serras do Bonfim, que mais parece um mar de morros brotando da água. A fotografia do satélite é da região considerada; o traçado azul é o Rio Paraguai, a grande artéria a drenar, baias e corixos.

Mato Grande é um corixo maravilhoso, com matas ciliares exuberantes, e muito bom para pesca.
O Corixo do Mata Cachorro é muito bonito e imenso. Suas águas vêm, praticamente, drenadas de dezenas de quilômetros da região das baias da margem do Rio Paraguai.

Contudo o corixo mais cheio de vida que penetramos foi o chamado Bonfim. Logo que penetramos nele fomos recebidos por um bando de macacos bugios, que estavam em uma estrondosa disputa por fêmeas, com urros ensurdecedores.

São animais de porte relativamente grande e de dieta predominantemente folívora. Vivem em grupos de em média 10 indivíduos em um sistema poligênico de acasalamento. Possuem vocalizações características, que podem ser ouvidas a quilômetros de distância.

No bando o macho é de cor escura, preto, e deve acasalar todas as fêmeas do bando. Quando aparece outro macho, os uivos de grande alcance ocorrem. Pode-se ouvir disputas guturais, a mais de 5 Km de distância.

http://imgc.allpostersimages.com/images/P-473-488-90/64/6462/5WVH100Z/posters/thomas-marent-guatemalan-or-black-howler-monkey-alouatta-pigra-belize.jpg http://www.ra-bugio.org.br/especies/45.jpg

Este é o bugio macho, também chamado de macaco guariba ou barbado. Esta é uma fêmea com um filhote nas costas, elas mais claras e menores que os machos. Se alimentam de folhas e de frutos. Estas fotografias são do Google.

Penetramos mais de 15 km para dentro do corixo, até achamos uma clareira na mata ciliar, apoitamos e o silêncio da grande mata a nosso redor se fez ouvir, o pipilar de passarinhos, os mais variados, cardeais, soldados, avinhados, pássaro-pretos, entre dezenas de outros. A mata era realmente viva, ouvimos um caminhar de folhas secas de um bando maravilhoso de mutuns, andavam soberbos, mas desconfiados, o macho alfa andava e parava um pouco perscrutando atentamente tudo. Iniciamos a pescaria, até com um pouco de vergonha, por estamos ali, naquele paraíso, talvez quebrando um pouco da homeostase ecológica do ambiente.

Pegamos alguns pintadinhos que tivemos que soltar, eram fora de medida. Havia muitos peixes no rio, mas todos pequenos, ou melhor fora dos padrões de medida. Acredito que nesse corixo, é que os peixes, ao saírem dos criames, param nessas águas para crescerem e irem para o Rio Paraguai.

O Chico pegou um dourado, e quando ele pulou tive oportunidade de fotografar, no pulo ele se soltou do anzol, realmente foi um salto para a liberdade.

Neste Corixo pescamos um pouco, pegamos dois pintadinhos, dois dourados. Um dos corixos mais peculiares que tive oportunidade de navegar, havia lugares que as grandes árvores sem encontravam, formando túneis sombrios, e nesses lugares, desligávamos o motor do barco, para ouvirmos a orquestra da mata virgem. A grande maioria dos cantos eram desconhecidos, mesmo para o companheiro, velho pantaneiro. As árvores, parece que se comunicavam, soltando folhas que dançavam no espaço, ou com ruídos, quebravam seus galhos secos, que caiam no chão ruidosamente, levantando folhas. Os inúmeros pássaros, faziam também a comunicação entre elas, pegando frutas e beijando flores.

Descendo pela mata, ao chegarmos em uma clareira, havia essa única árvore morta, por que será que no meio de tantas vidas ela morreu, eu e Chico, concluímos que somente poderia ser um raio que a matou. Este soberbo gavião caracará parece que estava de guardião no corixo, com um olhar de rapina, observou em nossa passagem.

Depois de tanta beleza e harmonia voltamos para o Sheikinah. E para a navegação no Rio Paraguai.

Aí estamos, na região chamada Coqueiro, ao lado o porto.
Porto Coqueiro, Waypoints latitude Sul 18º 31`01“32`e longitude W57º 72´95“. Pelo

A navegação da entrada do Paraguai-mirim, até este porto foi muito tranquila, creia pelo GPS que navegamos uns 15 Km. A viagem foi tranquila o rio estava manso.

Nestas fotografias estamos chegando na região do Chané. O ambiente estava mudando paulatinamente. A correnteza estava mais forte. No céu apareceram bandos de gaivotas, chamadas Taiamãs. Estávamos muito felizes com a viagem, somente festa, nesta tarde nem fomos pescar, ficamos navegando e proseando. O mais importante, vendo o Pantanal passado ao nosso imenso campo de visão, apenas balizado pelas morrarias, em distantes horizontes, por onde passaríamos.
Porto Chané, Waypoints latitude S18º 14`59“ e longitude W 57º 37`94“.

Segundo pudemos saber este porto foi muito importante para toda esta região, era movimentado no tempo da pesca e caça não controlada, o movimento era grande. Mas o nome talvez está relacionado com importantes nações indígenas que viviam na região os Kadiweu, a tribo da região eram os Chané-Guaná.

Fiquei imaginando a séculos, ou melhor a milhares de anos atrás, os índios navegando pacificamente por essas águas, limpas e com abundância de peixes.

Décadas para trás grandes movimentos, dos pescadores profissionais, enchendo seus barcos de todos os peixes que encontravam, arrastando as redes, e colhendo tudo que a rede pegava. E depois os peixes foram diminuindo, o lucro reduzindo, eles se transformaram em coureiros, a matança dos jacarés fui catastrófica, durante o tempo que durou.

Deixemos essas conjecturas para o passado. O Pantanal é vivo, se o homem deixar, ele se regenera. Voltemos a viagem.

Nesta hora, todos já estavam com a fome vencida e muito viajada. O Patrick e o cozinheiro haviam preparado um almoço muito especial: Medalhão de filé mignon, que comemos com muito gosto. Comendo, bebericando e jogando conversa fora, tudo dentro da moldura extraordinária que é o Pantanal, não precisa nada melhor; é só deixar a máquina andar. Depois do fausto almoço todos foram dormir, menos eu, que era auxiliar e copiloto do Chico.

A grandeza do Rio Paraguai antes do Amolar impressiona muito, é maravilhoso. Algumas moitas de camalotes desciam o rio, deslocadas para a margem direita, a água estava agitada, mas não havia vento, somente um grande barco à nossa frente poderia produzir tais alterações. O Chico chamou no rádio, e realmente águas a cima ia uma chalana bem grande de turistas. Nós estávamos mais rápidos um pouco, e comunicamos que iríamos ultrapassá-los, por bombordo, conforme a normas marítimas.

H:\Subindo Paraguai ++.JPG

Logo em uma curva, rio acima, nos encontramos com o grande barco. O pôr do sol, a silhueta da mata galeria, o reflexo do sol dourava as águas do rio, tudo era lento, e os movimentos calculados, a ultrapassagem seria “respeitosa”, pois o cenário era majestoso. Iríamos para a mesma região para aportar, os comandantes se entenderam quanto a isso. O barco, levava, mais de 50 pescadores, por esse motivo, achamos melhor, nos distanciarmos mais, para não nos aglomerarmos, na pesca do dia seguinte.

A primeira fotografia é dos Novos Dourados e a segunda é da Serra do Amolar. O sol se escondia atrás dos morros, mas toda sua luminosidade era bloqueada, por esse imenso cúmulo congesto, pareceu que a luz obstruída, se fortaleceu, tornou-se fulgurante, tornando as bordas da nuvem, com seis milhões de cristais de gelo, lentes de energia, dirigindo os fachos para as montanhas, que de ouro iluminava as águas.

Novos Dourados: Waypoints: Sul 18º08`8587e W 57º 47`4160. Amolar, Sul 18º 04`0570e longitude W57º 8`7893“.

Depois que passamos a serra e os Novos Dourados, já mais ao final da tarde, fomos para a cobertura arranjar a tralha e vermos a paisagem, que nesta região é maravilhosa. Esta região do Amolar, onde está a Fazenda dos Novos Dourados, já foi há tempos passados uma aldeia de quilombolas, de escravos que haviam fugido da região de Poconé e Cuiabá.

Recordando: quilombolas é uma designação comum aos escravos refugiados em quilombos, ou descendentes de escravos negros cujos antepassados no período da escravidão fugiram, para formar pequenos vilarejos chamados de quilombos.

Conta a história, que o quilombo do Amolar, foi invadido pelos caçadores de escravos, e como houve grande resistência, todos foram mortos, pelos bacamartes dos invasores. Somente sobraram algumas mulheres com seus filhos, que adentraram pela mata. Com o passar dos tempos não se teve mais notícias destas fugitivas. Sobre as crianças sobreviventes, surgiu a lenda dos Negrinhos do Amolar.

Contam os velhos navegantes do rio, que em noites de lua cheia, estes negrinhos, ficam sobre as pedras da corredeira do Rio Paraguai na serraria do Amolar, estão sempre nus, e têm os olhos verdes, como as luzes de um vagalume. Tentam atrair os barcos para as pedras, se o comandante não for atento. Destruir a embarção seria o objetivo. Já encontrei alguns pantaneiros, que confirmaram essa história.

REGIÃO DA SERRA DO AMOLAR.

É uma região muito importante, a serra limita o Brasil com a Bolívia. O Rio Paraguai passa pelos Novos Dourados, ao lado da Serra. Logo subindo o Rio, há o encontro, ou desembocadura do Rio São Lourenço. Existem na região as maiores baias do Pantanal, incluído, que hoje ao Norte do Amolar, é uma região de reserva, não se pode pescar.

Fotografia do satélite do Google, da complexa região da Serra do Amolar. Nesta grande região em épocas passadas viviam os índios Guatós, que tinham uma cultura muito semelhantes aos índios da região andina, os Incas. Os pesquisadores já encontraram numerosos indícios, de antigas civilizações que habitavam estas regiões. Existe um ótimo livro que conta a história de uma missionária, que vivia com os índios nesta região: A Herdeira.

Esta é uma fotografia do Google em muito maior aumento, mostrando o início da morraria do Amolar.

Esclarecendo:

  1. É o Rio Paraguai, neste ponto ele é unido pala Serra do Amolar. Toda região ao norte deste ponto é um imensa Reserva Ecológica de Mato Grosso. Nela estão as duas maiores baías do Pantanal: Baia Gaiva e a Baia Uberaba.
  2. Inicia a imensa Reserva Ecológica de Mato Grosso.
  3. É a foz do Rio São Lourenço no rio Paraguai. Em alguns compêndios esse rio é chamado de Rio Cuiabá.

A Baia do Amolar, é uma depressão no início da serra. Entrando nesta baia, passamos por uma mata galeria extraordinária. Lá eu ouvi, os mais estridentes gritos de arapongas, que já presenciei. Tem lugares que as árvores se fecham nas copas e passamos por um verdadeiro túnel de galhos. Ouvimos muitos piados de jaós, entre dezenas de outros cantos, o que propiciava uma emoção extraordinária durante a passagem por esses lugares.

Nesta fotografia podemos dizer histórica, pois estamos chegando em um lugar importante, cheio de histórias. Séculos passados os índios, indícios que havia relacionamentos com os Incas, o maior império dos Andes. Depois os índios guatós. Eles acreditavam que o “mundo havia iniciado, na Serra do Amolar”.

Estamos exatamente a 208 Km de Corumbá. E discutindo sobre a pescaria, do dia seguinte. Machadinho e Augusto estão emocionados vendo a chegado do Shekinah na “corredeira do Amolar”. Realmente impressiona muito, após 2 dias de planícies imensas, ver surgir à nossa frente uma morraria destas proporções.

Patrik ao lado de uma cama tatu da tripulação, com calma organiza o equipamento para a pescaria do dia seguinte.

A tarde estava diferente, ao longo do percurso havia momentos que o tempo ficava nebuloso, momentos seguintes, como o anterior, o sol aparecia entre as nuvens, criando inesquecíveis paisagens. Na segunda fotografia estamos chegando à boca da Serra do Amolar. O Rio Paraguai se estreita, espremido entre as pedras. É um lugar muito diferente na grande região do Pantanal.

Muitos acreditam que a mão divina atuou na formação da majestosa e incomparável Serra do Amolar, morraria em arenito que se estende por 80 Km, na planície pantaneira. Faz fronteira com a Bolívia.

Eu e Machadinho na passagem pela serraria do Amolar. Eram 17:00h, estávamos viajando deste às 6:00h, portanto com 11horas de viagem. Ainda tínhamos 2 horas para sairmos do Mato Grosso do Sul e entramos no Rio São Lourenço, que é a divisa entre os dois estados. Sub a influência das lendas, ou alicerçado pela nossa pródiga imaginação, eu e o companheiro parece que sentimos uma força interior diferente, ao passar por este lugar: Eram os Negrinhos do Amolar, o Minhocão do Pantanal, era o Pajé tomando conta da passagem, e os Discos Voadores vistos por muitos!

Estamos apreciando a passagem pelo porto dos Novos Dourados.
Existe uma nova versão para a história sobre este lugar. Algumas dizem respeito à sua fundação pelos negros escravos, que fugiram das minas de ouro, mas acabaram sendo mortos pelos índios Guatós, que habitavam toda a região. Segundo a lenda, as almas dos velhos negros zumbis ainda moram por ali e em certos momentos, em noites de temporais e relâmpagos, eles podem ser vistos sobre as pedras do Amolar, nus, com seus olhos verdes e seus dentes brancos brilhando, mostrando um sorriso mortal de escárnio. Essas são outras histórias!

A tarde chegava triste, depois que passamos os Novos Dourados, e chegamos na foz do Rio São Lourenço. Chico, como veremos, havia aportado o Shekinah muito bem, e ia descansar pois estava no comando a horas. Eu não sei o motivo, mas eu estava inquieto, e chamei o piloteiro Padilha, para preparar uma canoa com o motor para andarmos pela região.

Chico, velho marinheiro, achava a região, como ele dizia, mau assombrada, ainda mais àquela hora. Um pouco relutante, vendo a fisionomia do piloteiro, mesmo assim resolvi partir. As sombras moldavam as margens dos rios. Comecei atravessar as águas escuras do rio, pedi ao Padilha para parar e deligar o motor, como sempre o silêncio era quebrado pelo triste canto do Jaó, e o coaxar distante dos sapos nos alagados.

O barco lentamente foi descendo o rio, em direção ao Rio Paraguai, imaginei o índio guató na mesma situação. Pareceu-me que da escuridão que se aproximava o Morro do Pajé criou vida, na distante cordilheira, tirei a primeira fotografia.

O barco lentamente foi descendo águas a baixo, as vozes da natureza se alteravam, certo momento pensei ouvir vozes, e o arfar do vento nas árvores, era um ruído branco que preenchia os espaços. Olhei para a serra e me surpreendi, tirei a segunda fotografia, me arrepiei, o Pajé estaria dormindo? Deitado no Amolar. Creio que os índios Guatós tudo isso viam e imaginavam, era vivo mesmo.

Fomos deixando a canoa ir descendo, bem perto da morraria, as nuvens se abriram, um raio de sol, fugitivo, iluminou o Pajé.

A mudança que vi, fotografei, e até hoje, sinto muito respeito por aquele momento. Claro sempre fui muito influenciado pelas lembranças e histórias do distante passado. Contudo, naquele momento, pensando nos índios que por lá navegaram e viveram, vendo as sombras da morraria andar, ao caminhar do sol, não seriam imagens para apenas uma tarde, mas histórias que por ali ocorreram no passar de vidas, assim imaginar a vida nas pedras, e respeitá-las como sobrenaturais, não seria impossível, para os povos que ali viveram.

Esta é uma visão que eu tive, mais próxima da grandiosidade desta montanha, e o porquê que os índios o consideravam um deus, fotografia tirada por mim as margens do Rio Paraguai, com lente de aproximação. Me pergunto sempre, se essa montanha é de arenito metamórfico, quais forças da natureza esculpiram sua forma. Hoje penso, os povos que aí viviam, tinham que imaginar alguma coisa sobrenatural, algo além da imaginação.

Se deixarmos a mente, flanar na boca da noite, por estes imensos espaços, vendo as luzes moverem as sombras, por esses imensos espaços, e ainda caminhando pelas trilhas, ou remando arduamente suas pirogas, seriam um campo fértil, para os sonhos e para as imaginações, de coisas extraordinárias na existência da mãe natureza, com a qual viviam e respeitavam.

Depois deste passeio fantástico, por toda a região já no escuro da noite, fomos lentamente retornando ao Shekinah, ele com todas as luzes acesas, refletido nas águas, seu tamanho parecia imenso, e no negro da noite, ele representava estar livre, suspenso no espaço, uma visão inesquecível.

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Esta é uma outra vista do Amolar. Há mais de 15 anos, passamos por esta região, como heroico barco Cabexi, tendo como capitão o impoluto comandante Catarim ao timão da chalana. Era meia noite. A lua cheia, criava um cenário de raríssima beleza.
Somente a fumaça negra da grande chaminé do velho motor a óleo cru do barco manchava o clarão da lua.
Ficamos no tombadilho em silêncio, esperando ver os Negrinhos do Amolar: não os vimos, mas guardamos para sempre a emoção daqueles momentos inesquecíveis. O comandante muito sério e compenetrado, os tripulantes recolhidos em suas camas tatu, não queriam ver nada. O medo do desconhecido campeava no espírito de todos. O surdo ronco do antigo motor do barco, era o som que se refletia nas rochas, marcando as dimensões do espaço.

Em outra ocasião, o Machadinho e um amigo viram, nesta morraria do Amolar, um OVNI (disco voador). Confirmamos que realmente pelos históricos, esta região é muito mítica?

Esta fotografia do Google, mostra de forma perfeita a entrada do Rio São Lourenço no Rio Paraguai. As águas que descem pelo Rio Paraguai são extraordinariamente abundantes, pois acima da Baia do Caracará, existe a Baia do Mandioré e a maior de todas a Baia Uberaba.

Em outra ocasião estive navegando ao norte da serra, achei uma baia, pequena, mas coberta de vitória-régia, de tamanhos imensos, um cenário digno da Amazônia.

Ao pé do Morro do Amolar, como já disse, tem uma baía coberta de vitórias-régias, típicas da Amazônia. Quando vimos isso pela primeira vez, há vinte anos, foi muito emocionante. Era a Amazônia no Pantanal? O tamanho da flor é proporcional ao tamanho da planta, isto é, muito grande mesmo. Levamos a flor para o Cabexi, para eu fotografar.

Depois que passamos o Amolar o Chico chegou para mim e disse: — Vamos ter que ancorar já no São Lourenço, pois temos que comprar iscas (caranguejos).

Pode ancorar o barco. Ele deu um de seus raros sorrisos, e partiu em busca de um belíssimo lugar para ancorar, isso a 2 km da divisa do Mato Grosso do Sul com o Mato Grosso, ou seja, no Rio São Lourenço. Em alguns Atlas, ele é chamado de rio Cuiabá, para mim, é São Lourenço mesmo. Rio Cuiabá é até o Porto Jofre, como veremos no outro capítulo da viagem.

Este foi o último trecho de nossa viagem no sábado, até o Pouso do Shekinah onde pernoitamos. Esta fotografia do satélite mostra um trecho de aproximadamente 80Km do Rio Paraguai. É um dos lugares mais lindos do Pantanal do Mato Grosso do Sul. Nos últimos 25 anos, pescamos em muitos desses lugares por inúmeras vezes, nessa área parece haver muito mais água do que terra. Os Guatós tinham razão é um Mar, o Mar de Xaraies.

APORTANDO PARA O PERNOITE.

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A tarde caía maravilhosa, em uma curva do grande rio, o sol se escondia atrás da piúva parecia nos convidar para um ancoradouro de sonho. À medida que o Shekinah foi se aproximando, os quadros de cores, luzes e sombras se alternavam, era um caleidoscópio vivo da natureza pantaneira. Para quem sabe ver, a natureza é, indiscutivelmente, a criadora de todas as artes. Ancoramos tranquilos. O jantar, como sempre, foi extraordinário e a prosa boa até dar hora de irmos para cama. Nesses lugares a presença de Deus é evidente, Ele está em todos os recantos, do espaço e do tempo.


Antes do jantar, em comemoração à nossa longa viagem até esse importante porto, meus amigos tiraram essa fotografia, do descanso e da tranquilidade de todos.

Ancoramos como já disse, para passar a noite, em um maravilhoso pé de Ipê. O sol lentamente foi desaparecendo atrás das montanhas da Serra; o Pajé impoluto parece ter apreciado o sol poente, pois lançou sua sombra pelo espaço infinito, dando vida a toda serraria do Amolar.

Aos poucos o ar foi se tornando carregado de energia e um vento sem direção certa começou a rodopiar na região. As amarras do Shekinah se estiravam ora para estibordo, ora para bombordo. Uma ciranda de folhas girava pelo espaço ao redor da embarcação. A água do Rio Paraguai começou a formar pequenas e sincronizadas ondas, que se assemelhavam a carneirinhos brancos deslizando ordenadamente pela superfície escura da água do anoitecer.

Pouco depois as ondas se uniram formando imensas vagas que corriam cadenciadas pela extensão do majestoso rio.

Vindo de sudeste, um enorme CB (cúmulo nimbos ) contorcia-se e ameaçava toda a região.
Seu caminhar era de uns 30Km/h, mas os ventos, no sentido horário de sua posição, deviam atingir mais de 70km/h. Pela sua trajetória deveria passar um pouco ao sul de nosso ancoradouro, dirigindo seu centro diretamente para o Morro do Pajé.
Em alguns momentos, o CB se iluminava todo em virtude dos relâmpagos internos, revelando nitidamente sua ciclópica forma de bigorna, que ocupava mais de dois terços do espaço visível do conturbado horizonte.
A feliz fotografia mostra o exato momento em que um raio explodiu direto na serraria do Amolar.

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O barulho do trovão, audível após alguns segundos à sua explosão, indicava sua queda a uns 15Km. É incrível a potência e a energia acumulada dentro de uma nuvem tipo CB! Perde somente em energia potencial acumulada para um furacão, que seria a soma de milhares de cúmulos nimbos. Felizmente a chuva não caiu onde estávamos. O CB derramou suas diluvianas águas lá pelos lados da Bolívia.
Apesar desse monumental evento meteorológico, a noite chegou muito calma.
Jantamos e ficamos conversando, antes de irmos para uma festa, que o Chico foi convidado, e que seria na casa de um pegador de iscas da região. Os companheiros preferiram irem dormir.

Uma família, em sua condução, a piroga, de uso diário, para a pesca, para a compra, e nesse caso para irem a uma festa, em comemoração ao dia de um santo, da devoção deles. Fomos convidados, era a uns 10km, rio São Lourenço a cima, em um assentamento de pescadores.

A noite estava maravilhosa. A lua cheia iluminava toda a Serra do Amolar, evidenciando sua silhueta irregular no horizonte. Eu, o comandante Chico e o pirangueiro Padilha, resolvemos irmos à festa dos pantaneiros. Rapidamente chegamos, se eu estivesse sozinho, não encontraria o lugar, pois mesmo com o plenilúnio a escuridão da mata galeria, escondia a moradia dos festeiros de forma total. Quando passamos por baixo do grande pé de ingá, foi possível eu ver numerosas pirogas estacionadas, dos convidados que haviam chegado.

O lugar da festa era muito pouco iluminado, uma fogueira ao lado, emitia uma modesta luz para o ambiente, algumas lamparinas e lampiões de querosene, completavam a iluminação. Fiquei bastante deslocado, pois todos pararam de cantar e dançar com a nossa chegada. A escuridão que senti, foi devido ao contraste, de nossas lanternas potentes e o ambiente. Quando as desligamos, minha vista foi se adaptando, e achei o lugar normal, pela disponibilidade que havia de iluminação.

O dono da festa era o senhor Serafim, um verdadeiro pantaneiro, cuja hospitalidade é inquestionável. Nos ofereceu quentão, bolinho, entre outras coisas típicas destas festividades. Sentamos, um pouco sem graça, pois todos estavam nos olhando. Ficou evidente, que eles jamais pensaram que iríamos aceitar o convite. Aos poucos tudo foi se acomodando. Seu Serafim mostrou-me uma “viola” que ele havia feito, assim como outras, que os músicos estavam usando.

Logo começaram a se largar e a cantoria começou. A alegria tomou conta de todos, o ritmo da música era cadenciado, e a cantoria retratava aventuras pantaneiras. Logo me senti bem à vontade, pois ali estava o verdadeiro espírito do pantaneiro. Pés descalços, levantavam uma fina poeira do chão de terra, com seu cheiro misturado à fumaça da fogueira. Os homens de uma simplicidade autêntica, rodavam ao redor das mulheres, que batiam palmas cadenciadas, com suas mãos calejadas pelo trabalho diuturno. Sorrisos, de dentes ausentes, mostravam a alegria de estarem ali. Depois de uma hora, mais ou menos, seu Serafim tomou a palavras, em prosa e versos, agradecendo ao santo suas vidas, e pedindo mais fartura de peixes e caça. Rezaram e se penitenciaram, em sucessivos Pai Nossos.

As palavras simples que ele proferiu, tocaram bem fundo, em todos ali presente, nada se ouvia, além de suas palavras, eu também me emocionei muito, pela profundidade da filosofia de vida, que ele declinou, ali no ermo deste rincão, perdido no sertão deste Brasil.

Havíamos levado uma caixa de Coca-Cola de 2 litros gelada, que foi muito apreciada por todos, incrível esse contraste.

Aproveitamos bastante deste convívio, agradecemos muito, e partimos. Tenho certeza, que parti levando alguma coisa muito importante, que está escondida, bem fundo em minha alma, de tempos imemoráveis de eras passadas. Quando éramos simples, e nos emocionávamos com a natureza, e tentávamos entender, a lua, as estrelas, e o vento que agitava as folhas, imaginando se no próximo dia teríamos peixe ou caça para nos alimentarmos.

MEDITANDO NA MORRARIA DO AMOLAR.

Eu, aproveitando a costumeira ausência de sono e a providencial trégua dos mosquitos, resolvi subir na cobertura do barco para meditar. Meditar é submeter-se a um exame interior. É pensar, e analisar bem, tudo em nossa mente, relacionando cada dado com o espaço e o tempo que está nos envolvendo ou nos tenha envolvido em algum momento em particular.
A região da Morraria e das grandes baías do Amolar são ambientes próprios para isso, principalmente depois da tempestade ter levado para longe toda energia acumulada na atmosfera. As densas nuvens, varridas do céu, deram lugar a um firmamento derramado de estrelas. Parecia um milagre! Concentrei-me na grandiosidade desse firmamento, enquanto uma ligeira brisa trazia harmoniosos sons da noite pantaneira. Comecei a integrar-me à natureza ao meu redor.

Havia momentos em que me parecia ouvir a água do rio São Lourenço correndo pelo seu leito, roçando os barrancos e contornando as pedras. Em outros, tinha a sensação de ouvir o cálido vento agitando a vegetação da serraria do Amolar, como um suave arfar da mãe natureza. Ou seria a respiração do Pajé, como acreditavam os índios? E como duvidar, se naquele momento eu tinha a mesma mítica impressão?

À medida que a noite avançava, bem lá no oriente, a lua, com sua acariciante claridade, começou a dominar o firmamento. O tapete de estrelas foi sendo substituído pelo domínio prateado da lua. Tornam-se lógicas, então, as ardentes adorações dos povos primitivos a lua. Isolados em noites, cujo limite é o infinito, a ânsia do saber, impulsionando suas mentes e paixões, como não imaginar ser uma deusa do universo, aquele corpo celeste refulgindo no espaço sideral, ainda mais que o grande deus sol havia se retirado?

Todos os povos sabem a influência de nosso satélite sobre a Terra: nas marés; na seiva das plantas, nos homens, no ciclo das mulheres. Em tudo enfim! Olhando fixamente para a lua, percebi a grandiosidade do espaço à minha volta, tudo parecia criar vida.
A água corrente do rio tornou-se uma esteira prateada, em contraste com as sombras e a escuridão da noite.
A lua, ao passar por uma nuvem de alto cúmulo, parecia deslizar pelo firmamento. É pura ilusão de ótica, pois a lua estava é estática em sua órbita ao redor da Terra, e o que realmente se movia eram as nuvens, em direção Este – Oeste, como se fossem ainda resquícios do grande cumulo nimbos, que havia, horas antes, varrido o Pantanal.
Era 1:00h. O ambiente geral da Serra do Amolar era tão extraordinário que a imaginação começou a ocupar todo espaço. Aproveitei a calma e fui dormir.

No segundo capítulo, partiremos da Barra do São Lourenço até o Rio Piquiri passando pelo Porto Jofre.

VIAGEM AO RIO PIQUIRI 2

VIAGEM AO PANTANAL, REGIÃO DO RIO PIQUIRI.
Saída no dia 25-09-2003.
CAPÍTULO II.

Nesta segunda fase da viagem eu e o comandante resolvemos fazer uma verificação em todos equipamentos. Todo painel de controle revisado. Em ordem. Estava tudo pronto, podemos seguir viagem.

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A suave brisa, o sol nascendo bem a Este de nossa rota, desenhando a cada momento um novo quadro de rara beleza, a água serena do rio, refletia a imagem do céu em dobro até o limite do horizonte das águas.

Manhã tranquila, altos estratos, como uma cortina esconde o sol de nossa vista, criando imagens, que se alteram initerruptamente, luzes e sons orquestram a alvorada, é lindo e inesquecível. Não resta dúvidas, o pôr do sol e o nascer, no Pantanal é a marca registrada das belezas desta imensa planície. Contudo, o nascer do astro rei, sempre nos completa, como uma sensação de felicidade indescritível. No dia a dia corremos contra o tempo, aqui, o tempo é o bálsamo para nosso caminhar.

Os motores roncaram era hora de seguir viagem. Nossa esperança era confirmar a informação, que no Rio Piquiri, havia cardumes de tucunarés e que a região era ainda muito selvagem.

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O nascer do dia no Amolar foi como sempre peculiar: uma manhã clara e cheia de esperança para prosseguirmos nossa aventura. Esta imagem é a Oeste de nossa rota, vamos deixando para traz a Serraria do Amolar. As nuvens cúmulos que cobriam a região, abre uma janela, a luz branca do sol, invade o espaço e se decompõe em vários tons, criando sombras na serra e na mata galeria.

Não saberia descrever a minha sensação, de deixar a morraria para trás, senti vontade de abanar a mão dando um até logo, mas para quem seria, se tudo era um imenso espaço de recordações e histórias.

Nós cruzamos logo de manhã com este menino e sua tosca canoa, vinha de longe, seguro, com remadas precisas, conduzindo sua embarcação em linha reta, o que exige experiência e técnica. Esta é a origem dos canoeiros do Pantanal. Imaginei, naquelas distâncias, de onde teria vindo o jovem canoeiro e para onde estaria indo. Ele estava sério em sua navegação, passamos, levando conosco a dúvida de seu destino.

Havia possibilidade de vermos onça na região na região do Piquiri, para onde estávamos indo.

A fotografia que se segue é de uma onça fêmea.

A onça, o maior e o mais lindo de nossos animais é um símbolo da riqueza da fauna pantaneira. Tirei esta fotografia no Corixo dos Tucunarés, Rio Piquiri, onde havia um belíssimo casal de onças pintadas, o verdadeiro canguçu do Pantanal. A visão deste casal de felinos simbolizou a segunda parte de nossa pescaria e grande viagem. Estas imagens representam, de forma resumida, toda esta grande área do Pantanal que, por ainda serem regiões de difícil acesso, são as mais preservadas que conheço. A história deste dia que fotografei esta onça a contarei mais à frente de nossa viagem.

O barco se afasta lentamente, eu na popa, observo as imagens que ficam para trás, o morro vai diminuindo no horizonte, as nuvens se fecham, e a penumbra cinza toma conta de todo ambiente. Vou para a proa, e observo as águas distantes de nosso destino.

COMPRA DE ISCAS. Paramos rio acima em umas casas de moradores para comprarmos iscas. No porto havia muita gente: homens, mulheres e principalmente crianças. Não posso fazer a menor ideia como vivem as pessoas dessas comunidades ribeirinhas: sem conforto, pouca alimentação e milhões de mosquitos que invadem suas desprotegidas casas todas as tardes. A única energia é obtida através do querosene e da lenha.
Acredito o que os mantêm em contato com o mundo, seja o velho e bom radinho à pilha. Por sinal, até nos pediram duas pilhas para trocar no equipamento, pois as delas estavam fracas.

Na primeira foto vemos a casa dos vendedores de iscas. Este porto era muito movimentado, porém com a criação do Parque Ecológico do Pantanal, algumas regiões foram transformadas em reservas destinadas ao criadouro de peixes, onde a pesca é, obviamente, proibida.

Na primeira foto, as crianças observam e as mães também, todos a espera de que alguma coisa possa quebrar sua rotina, trazer uma mudança. Eu desço e vou conversar com a mulher, ela me surpreende, é uma pantaneira e ali é seu lugar, apenas quer receber as iscas que compramos, nada mais. Ela se lembrou dos tempos que era possível pescar na região, os grandes barcos com os pescadores chegavam, e eles tinham que pegar iscas dia e noite, para todo aquele povo. “A gente ganhava dinheiro, naquele tempo moço”.

Por hábito sempre levo umas cestas básicas, no barco, para ceder aos pegadores de iscas, pois mesmo o básico as vezes eles têm falta, nessas distâncias pantaneiras. Eles são orgulhosos, assim pedi ao cozinheiro, que discretamente levasse uma para a casa da senhora, que por sinal ela era conhecida dele, assim foi com alegria que ele entrou no porão do barco e levou a encomenda para a casa do isqueiro.

Na segunda imagem Machadinho e Patrik, observam o pescador retirando as iscas do viveiro, são caranguejos, que se agarram para não sair. Eles foram retirados das raízes dos aguapés.

A região do Parque Ecológico é muito vasta: inicia-se pouco acima deste antigo porto, exatamente onde o Rio São Lourenço deságua no Rio Paraguai. Compreende ainda duas das maiores baías que existem no Pantanal, a Baía Gaiva e a Baía Uberaba.
Até o ano de 2001 o destino dos grandes barcos de Corumbá era para esta região; agora eles ancoram nas regiões de Coqueiro, Chané ou Baía Vermelha.

Havia caranguejos à vontade para vender, e como o Machado e Patrick são grandes pescadores de caranhas, piavuçus e outros, foram ver os caranguejos no “tanque”, para selecionarem os melhores.
Pelas fotos pode se ver a extensão do barranco do rio e perceber o quanto ele está vazio. Esperamos que as chuvas venham abundantes, pois são as cheias do Pantanal que propiciam a revitalização da fauna e flora.

Nestes lugares onde vendem iscas, sempre fiquei impressionado, com a atitude honesta, altruísta das pessoas, assim como a conduta das crianças. Contam as iscas com rigor, o preço é sempre justo, não nos exploram. As crianças, muitas em toda a volta, não nos pedem nada. Contudo, nosso pirangueiro, velho conhecido, já sabe. Prepara um “matulina”, doces, refrigerantes e o mais importante 1 caixa de dipirona, que por lá é uma preciosidade. Ele entrega isto, discretamente para o vendedor das iscas. A cesta básica já tinha sido entregue.

Shekinah com os dois motores a meia aceleração sai do porto da isca, mansamente por respeito aos moradores. O comandante sai calmo por respeito. Sair acelerando, jugando ondas para trás, agitando o isqueiro, mostra muito a vontade de partir, deixar tudo para trás, como se não estivéssemos satisfeitos em estarmos com as pessoas naquelas distâncias.

Os vendedores de isca, sentem um desprezo, pelos turistas dos grandes barcos, chegam no porto com suas lanchas, potentes motores de popa. Compraram as iscas, reclamando do preço, as vezes acompanhando a contagem, pedindo umas a mais. Depois arrancam com seus motores, inundando o porto e sacudindo o isqueiro.

A atitude do Chico, foi correta, pois isso é muito importante, pois poderá acontecer, segundo a tripulação do barco, passar semanas, sem que os moradores não recebam mais nenhuma pessoa para venda ou relacionamento.

Na primeira foto vemos o Machadinho, com sua elegância característica, acendendo seu perfumado cachimbo, qual um autêntico lorde inglês, como diz o Gustão.
A segunda fotografia é o porto dos isqueiros ficando para trás. O Chico não sabe como estão vivendo, já que a pesca foi proibida e a venda de iscas esteja muito fraca. Acreditamos que eles estejam levando uma vida sacrificada, sendo obrigados, algumas vezes, a transgredirem as leis para garantir a sobrevivência.

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Depois de uma curva do rio alcançamos um barco que subia o rio, achei esta imagem muito significativa. O comandante era conhecido do Chico, trocaram informações pelo rádio, ele seguia mais ao norte saindo da área onde a pesca era proibida. A imagem era dinâmica, mas em câmera lenta, tínhamos que passá-lo por bombordo e nós a estibordo, tudo foi acontecendo lentamente. Na solidão daqueles espaços infindos, passar por um barco com pescadores, como nós, é emocionante. Os pescadores do barco que passamos, segundo o comandante falou ao Chico, ainda estavam dormindo, somente a tripulação estava no tombadilho.

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Estamos, neste ponto, a uns 10Km dentro do Rio São Lourenço, “águas acima”, como diz o Chicão. Muitas águas pela frente, imagens significativas se sucediam, no lento navegar de nossa chalana.
Nesta imensidão incrível de águas, um pescador solitário cruza o grande São Lourenço.
Nosso barco passou por ele, que permaneceu impassível como uma estátua, indiferente a tudo que acontecia. Estava, aparentemente, com uma linhada de mão, pescando em lugar proibido, talvez para assegurar sua sobrevivência, o que ninguém poderia recriminar, penso eu.
De qualquer forma, singrava as águas do grande rio em sua minúscula piroga com a certeza de que aquele lugar pertencia a ele e não a nós.

Este é o famoso Hotel da Mesbla. São duas fotos juntas. Quando as Lojas da Mesbla “eram o que eram”, construíram este maravilhoso hotel às margens do Rio São Lourenço. Era um grande empreendimento, pelo lugar onde ele foi construído e pelo o luxo com que os hóspedes eram atendidos. Embora não seja visível na foto era uma construção bem grande. Atrás do morro, na segunda fotografia, tem um aeródromo que servia para a chegada das pessoas ao hotel. Em 1980

Aterrissei nesta pista, com o Embraer 711C, Corisco. Tudo era feito com uma mordomia extraordinária!

Mesbla S.A foi uma cadeia de lojas de departamentos brasileira que iniciou suas atividades em 1912, como filial de uma firma francesa, e teve sua falência decretada em 1999. Em 1980, as lojas da Mesbla, tinham 25.000 funcionários. Como prêmio os mais diferenciados, gozavam de férias nesse hotel do Pantanal, isso nos áureos tempos.

Continuando a viagem: Quando saímos da compra das iscas eram 6:00h (Boca do São Lourenço); ao passarmos pelo Hotel da Mesbla eram 8:15h. Logo após o hotel avistamos um grande cardume de curimbatás subindo o rio, enquanto os dourados, pintados e jacarés festejavam, regalando-se com o farto banquete.

Estes são aspectos do Rio São Lourenço. Nesta região ele tem características próprias, suas águas são turbulentas, pelo sonar pudemos constatar que seu leito era de pedras, com profundidade média de 8 metros, havia poções onde a profundidade seria de 15 metros, segundo o Chico, era onde os jaus moram. O Shekinah não se abalou com a turbulência das águas. Nós ficamos imaginando os peixes de couro, que com certeza estariam, nas entranhas daquelas pedras.

Ele tem um pouco menos que a metade da largura do Rio Paraguai, mas com características próprias: corre mais dentro da “caixa” e seus meandros são mais pronunciados. Suas águas são profundas, 8 a 10m, e sua correnteza é um pouco menor que a do rio Paraguai, cerca de 1 a 2 km/h. É uma região muito selvagem, praticamente não se encontra ninguém navegando em suas águas. A água estava limpa, muito boa para pescar.

Logo acima desta curva do rio São Lourenço, o tempo começou a mudar, uma nuvem “estrato cúmulos congestos”, começou a deixar cair uma chuvinha refrescante. Não sei se devido à chuva, mas logo avistamos, um cardume de dourados a margem esquerda do rio. Vestimos nossa roupa de chuva, pegamos a canoa, e partimos.

Logo peguei um douradinho, sempre é uma briga boa. Contudo ele não dava medida e foi solto. Realmente o dourado é o peixe mais nobre de nossos rios. Mesmo os pequenos, brigam muito, dão saltos espetaculares, fazendo a linha cantar, é muito emocionante. Nos divertimos muito, os peixes estavam já no final da piracema. Era uma exibição incrível, nesses movimentos, nestes pulos fora d`água, eles estavam na realidade, estimulando seus hormônios sexuais, segundo um grande estudioso, destas piracemas, Professor Godoy, eles as vezes nadam mais de 200 km, para atingirem a maturidade dos óvulos das fêmeas e o esperma nos machos. Por este motivo, que os ciclos das águas, é sempre importantíssimo em todas as bacias hidrográficas. Com a mudança das chuvas, houve também, alterações nas épocas da piracema.

Este é o maior problema das barragens, nas hidroelétricas, nem todas têm escadas para os peixes passarem na piracema, com isso, o ciclo reprodutivo, destes peixes não ocorre. Como consequência, há gradativamente uma diminuição ou mesmo extinção de alguma espécie, mais sensível; como é o caso das tabaranas e das piracanjubas.

Essa fotografia, foi depois da chuva, nós estávamos entusiasmados com os dourados, que pulavam pelas águas da margem do rio, pegando iscas brancas, deu sorte, eu e Augusto juntos pegamos peixes.

Parece história de pescador, mas eu e o Augusto, ao mesmo tempo, ferramos dois bons dourados, deu trabalho tirá-los, sem que embaraçassem nossas linhas, mas foi uma grande alegria este “duble”..

A Piracema: Há muitos anos sou interessado em entender este fenômeno, das migrações dos peixes. A reunião de centenas, ou milhares de peixes, que sobem em cardumes nossos rios. No rio Miranda, já observei, quilômetros de curimbatás, e também lambaris subindo o rio. Cardumes de dourados como este que estávamos vendo e pegando alguns no Rio São Lourenço.

Por que? Segundo os estudiosos, em primeiro lugar para estimularem a glândula endócrina pituitária a produzir fatores de estimuladores dos hormônios para as glândulas sexuais. Com a atividade da migração, iniciam a produção e indução das ovulações e das espermatogêneses. Em segundo lugar, como em todo reino animal, há a escolha do parceiro para a reprodução. E finalmente, encontrarem um lugar próprio para deposição dos óvulos e sua fecundação. A migração dos salmões nos países frios, a cena dos ursos se fartando de comê-los é uma cena muito vista, nas reportagens.

No caso específico, destes cardumes do São Lourenço, nesta posição do rio, o lugar de reprodução, comprovadamente, é o delta do Rio São Lourenço, os numerosos criames da região do Pirigara, dezenas, centenas, de braços do rio, com águas filtradas pela vegetação, águas quentes pela grande insolação e repletas de zooplactom, para alimentar os milhares de alevinos que nascerão.

Esses fatores são importantes. A existência do adaptado capim mimoso, que sobrevive à inundação, permitindo que a fêmea, entre pelos seus intrincados ramos, limpe seu espaço, e deposite seus óvulos para serem fecundados pelos machos. Os alevinos que nascem, se escondem entre os capinzais, mantendo sua sobrevivência, frente aos milhares de predadores existentes nos rios. Por este motivo, as cheias do pantanal, ou em qualquer outra bacia hidrográfica é tão importante para a reprodução da ictifauna dos rios.

Por este motivo a época do “defenso”, quando não se pode pescar é tão importante, as datas variam um pouco para cada região, em nossas regiões é no período das chuvas, isto é, de novembro até março do ano seguinte.

Subindo mais um pouco o rio, encontramos uma família de ariranhas, em luta pelo seu território e bravas com nossa presença.

Depois de analisarmos o comportamento dos animais chegamos à conclusão que eram ariranhas mesmo, geralmente caçam em grupos, e seus hábitos de caça são mais noturnos. A ariranha é um animal grande, caça em grupos familiares, e são agressivas. Estas duas por exemplo estavam dispostas a atacarem a canoa que estávamos, rodearam por todos os lados, e dando gritos agudos e estridentes, para expulsar os invasores.

Este é o Posto Fiscal do CARCARÁ. É um lugar muito importante no Rio São Lourenço. É aí, a região chamada Reserva do Carcará que a Polícia Florestal tem sua sede, que por sinal, é muito bem cuidada e dotada de ótimas embarcações. Temos esperança que essa instituição possa realmente salvar está maravilhosa área do Pantanal.
Ao passarmos neste ponto, exatamente 1 hora após o hotel da Mesbla, já tínhamos navegado mais de 12Km. A subida do rio foi bem lenta, já que o comandante queria poupar combustível, ao mesmo tempo que enfrentávamos um vento de nordeste, que em muitos momentos nos atingia de proa, retardando nossa marcha. De Corumbá até o ponto onde estávamos, já haviam sido percorridos uns 230Km.

É incrível o efeito do vento em uma chalana de dois andares, sente-se no timão as rajadas, levando o barco para os lados, ou retardando sua velocidade.

Com o avançar da navegação, pudemos notar, que tudo estava mudando: a vegetação, as barrancas do rio, a cor e aspecto da água, as aves. É incrível a variedade das microrregiões existentes no Pantanal.

Esclarecendo: A criação do Parque Nacional do Caracará, atendeu a reivindicações da sociedade e comunidade científica, para criação de uma unidade de conservação que protegesse amostras significativas do bioma Pantanal. O Parque incorporou a antiga Reserva Biológica do Caracará, onde na década de 80 foi base de operações no combate à ação dos caçadores de jacarés, e praticamente dobrou seu território com a compra de uma antiga fazenda de gado, inundada em consequência das transformações da região, por ações antrópicas diversas. A região era também ocupada por índios Guatós.

Viagem longa, tempo de repousar. Na primeira fotografia, o Patrick e o Chico, com o Padilha no timão. Na segunda, o Patrick veio tirar a fotografia. Continuamos subindo o Rio São Lourenço. Teoricamente, eu estou no estado de Mato Grosso e o Chico no Estado do Mato Grosso do Sul. Estamos navegando exatamente em cima da divisa destes dois estados.

Quantas voltas tem o rio, quantas ilhas, quantos corixos, quantas bocas. Impossível contar! Procurar animais em suas margens é um belo passatempo. Debaixo de uma vetusta mangueira, em um porto abandonado, o Chico mostrou-me uma enorme sucuri de tocaia na grama. Estava com a cabeça erguida, e língua bífida, esperando uma presa. Incrível, tiramos o motor do barco, para vermos melhor este grande ofício. Incrível!

“Essa fotografia foi retirada do Google

A sucuri é a segunda maior serpente do mundo, podendo chegar aos 9 metros de comprimento (fêmea), perdendo em tamanho apenas para a Píton, que vive na Ásia. Já o macho da sucuri atinge no máximo 4,5 metros. As fêmeas podem atingir até 8m. Têm hábitos crepusculares e noturnos. Infelizmente não consegui fotografar a sucuri que o Chico viu. As sucuris alimentam-se de capivaras, peixes, aves, felinos, veados, bezerros e até jacarés também fazem parte de seu cardápio. Para capturar sua presa, a sucuri costuma ficar à espreita nas margens de rios, lagos ou pântanos. Quando uma vítima se aproxima da margem, normalmente para beber água, a sucuri ataca, geralmente na região do pescoço. Em seguida, envolve o corpo da vítima e a aperta, matando-a por constrição. A presa pode ainda morrer afogada, puxada para o fundo do rio, lago ou pântano.

Vivípara, a sucuri gesta seus filhotes por aproximadamente 240 dias, sendo que, geralmente, têm de 20 a 30 filhotes por cria, que nascem no começo da estação das chuvas. Como as pequenas serpentes são vítimas de diversos predadores, poucas sobrevivem e chegam à idade adulta. Seus predadores são onças-pintadas, jacarés maiores do que ela e as piranhas (somente quando a sucuri apresenta ferimentos). Contudo, o maior predador das sucuris são os homens, seja por medo da serpente, seja por interesse comercial. A pele da sucuri é muito valorizada, inclusive no exterior.
Chico, em grande parte do tempo, ia de binóculo procurando bichos nas margens. O homem queria mesmo era ver uma onça pintada. Eu devo ter pilotado umas 6 horas. Durante todo esse tempo o Chicão procurava, via e me mostrava muitas aves e alguns animais, como um bando de ariranhas que assediavam um cardume de curimbatás. Mas a onça que ele queria ver ainda não foi neste dia.

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A ariranha, também conhecida por lontra-gigante, é um mamífero típico do pantanal. É grande caçadora de peixes, como eu pode observar, elas atacando o bando de curimbatás. O bando era de uns 8 animais. Segundo o piloteiro, este macho, estava mostrando quem era o chefe do bando.

PRINCIPAIS AVES DO PANTANAL.

TUIUIÚ, ave símbolo do Pantanal: Em tupi-guarani Jaburu significa pescoço inchado. Em um corixo alagado na margem esquerda do rio vimos algumas aves desta, se alimentando de sardinhas. Indiscutivelmente é a maior ave voadora do pantanal, podendo chegar até 3 metros de envergadura. Seus alimentos são: peixes, moluscos, cobras da água, e até pequenos insetos.

ARACUÃ DO PANTANAL

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Vimos centenas de aracuãs soltando seus onomatopaicos gritos: “quero casar, pra matá”, típicos do período de acasalamento. Quando estão pulando nas árvores fazem uma farra barulhenta e movimentada. Os aracuãs são aves grandes, de rabo longo, muito semelhantes ao jacu e à jacutinga.

Este aracuã estava no alto de uma piúva soltando seus agudos e inconfundíveis gritos, que eram respondidos por todas outras aves da mata, os cantos soam como um desafio, para ver quem é o macho alfa do bando. São sons típicos das matas pantaneiras, por este motivo é que são chamados de aracuã do pantanal.

Depois de um certo tempo gritando, e se arrepiando, ele em um voo ruidoso saiu do gralho, e planou sobre esta vegetação, e saiu correndo, em busca de alguma coisa, seria um rival ou uma fêmea a ser conquistada. Em termos de sons, onde essas aves estão em altos brados cantando, é indubitável que existe muita vida na mata, é simplesmente maravilho, ouvi-las orquestrando as matas. Nos dá uma sensação de intimidade com a natureza, é tudo que queremos, quando por lá andamos!

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Fomos procurar jenipapo em umas árvores para pescar caranhas, que é uma ótima isca, e nesta tivemos o prazer de vermos, nos observando este aracuã do pantanal.

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O MAGUARI.

Um dos pássaros mais numerosos por estes lados são os maguaris, que é uma pernalta imponente de tons acinzentados. Enquanto os barcos vão passando eles voam rente à água exibindo toda sua elegância.
O Maguari é uma ave comum também nas costas marítimas do Brasil. Dorso cinzento-escuro; cabeça, crista, estria no meio da garganta, meio do peito e da barriga, e remijes pretos; o restante do abdome é branco. Estas pernaltas hoje são vistas até em cidades, que são cortadas por riachos, como Ribeirão Preto, por exemplo.

BIGUÁ e BIGUATINGA.

Os pássaros mais abundantes em todo o Pantanal são os Biguás. O biguá carece da glândula uropigial, que libera substâncias que deixam as penas impermeáveis à água. A ausência da glândula proporciona uma vantagem ao biguá em relação aos outros pássaros, pois, na hora da caça, suas penas se molham, se tornam mais pesadas e retém menos ar, fazendo com que ele mergulhe mais rapidamente .

Quando subíamos o rio vemos vários bandos de biguás.

Contudo, para secar as asas, costuma manter as asas estendidas ao sol. Tem uma outra espécie de biguá, biguatinga, com outras características de plumagens, contudo todos seus hábitos e comportamento são iguais a toda a família.

Este biguatinga esta no meio destas flores do novato, era um mimetismo muito perfeito, o galho sobre o rio, ele escontido, estava na espera de um peixe, para o almoço. A natureza é bela, e pode ser fatal para algumas espécies.

INHAUMA.

A inhauma pela sua marcante presença em todo o Pantanal, acredito, que esta ave disputa com o tuiuiu, o lugar de ave símbolo do pantanal. Ela pelo seu grito estridente, sua agrecividade, seu unicórnio na cabeça, a maneira altiva que protege seu ninho, que é no chão. Quando tem filhotes, ela enfreta qualquer um que tente chegar perto de suas crias.

Já o tuiuiu tem um tamanho que nos impressiona, um aspecto de soberano mesmo, seu voo planado encanta o Pantanal. Seu mostruoso ninho, geralmente no alto de uma grande piuva, não deixa dúvida de sua importância na natureza, tornando-se um síbolo para todos nós.

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A inhaúma, era muito abundante no rio Tietê, no estado de São Paulo, assim o primeiro nome do Rio Tietê, foi RIO INHAUMAS. Essa ave é também a ave símbolo do estado de Goiás, e faz parte da bandeira oficial da cidade de Guarulhos.

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É conhecida também por outros nomes como: Inhaúma, unicorne, licorne, anhima, ema-preta, entre outros tantos. Seu nome vem da língua Tupi que significa: Pássaro preto gritador. A particularidade deste famoso pássaro é um espículo córneo com uns 12 cm que ele tem na cabeça, e enormes esporões que ele tem nas asas, para defesa. É uma ave grande, de cor preta, tendo o ventre branco.

JAÇANÃ

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Jaçanã é uma ave que habita a toda a América do Sul. Ela é muito encontrada em todo Pantanal, assim como em outros rios e represas. Tais aves medem cerca de 23 centímetros de comprimento, possuindo plumagem negra com manto castanho, bico amarelo com escudo frontal vermelho, rêmiges verde-amarela das, encontro com um afiado esporão vermelho. São ainda pernaltas, com dedos longos e abertos, adaptados à locomoção sobre plantas aquáticas. São conhecidas por muitos outros nomes, mas cafezinho é o mais comum. São territorialistas e defendem seu pedaço, sobre as plantas aquáticas, agressivamente se têm filhotes, mudam de técnica conforme a situação. Mimetizam seus filhotes em um lugar, e vão fazer um grande reboliço em outro desviando a atenção do agressor. Já presenciei, várias vezes esse comportamento destas aves.

COLHEREIRO

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O colhereiro, não é uma ave muito comum no Pantanal, são encontrados em determinados lugares de águas rasas. A coloração geral da plumagem é rosada, sendo que as asas e parte inferior das costas são fortemente rosadas com algumas penas avermelhadas. Pescoço, peito e parte superiores das costas são rosadas, mas com uma tonalidade mais clara, quase branca. As pernas são vermelhas com os dedos ligeiramente mais escuras. Os dedos são semipalmados. O bico cinza possui a forma de uma espátula, medindo cerca de 20 centímetros. Sua extremidade é extremidade é plana e arredondada. Os adultos têm cabeça cinzenta e nua.
Os juvenis apresentam a plumagem da cabeça branca e o resto do corpo com penas na cor rosa mais claro que no indivíduo adulto.

Alimentação, peneira a água, sacudindo e mergulhando o bico à procura de alimento, dentre eles peixes, pequenos anfíbios, insetos, camarões, moluscos e crustáceos. A presença de algumas substâncias nestes itens alimentares, chamadas carotenoides, dão uma coloração rosada ao colhereiro, que se torna mais intensa na época reprodutiva.

QUERO – QUERO

Este o inteligente quero – quero.

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O quero-quero é uma ave territorial muito vigilante, e dá o alarme ao primeiro sinal de algum intruso em seus domínios, seja dia ou seja noite. Apesar de ser um bom voador, sendo visto a fazer acrobacias no céu, passa a maior parte do tempo em terra. São em geral monogâmicos e pouco exigentes na elaboração dos ninhos, que constroem em uma pequena depressão no solo, e que consiste de um frouxo e raso amontoado de palha e gravetos em formato mais ou menos circular. Põem de três a quatro ovos esverdeados de casca pintada de negro que pesam em torno de 26 g, que, se a camuflagem de suas penas e outras táticas que empregam não despistam os predadores. Os pais defendem vigorosamente seus filhotes, emitindo gritos e voando rasante em direção ao intruso, sempre em sua direção como se fossem atacá-los, embora se retirem pouco antes do contato se efetivar. Atacam também o homem, se este se aproxima.

Pouco depois de nascerem os pintos já acompanham os pais em suas andanças e se alimentam por conta própria, como eles, de insetos e outros pequenos invertebrados, sendo muitas vezes vigiados por um terceiro adulto ou pelo grupo. Com sessenta dias de vida já podem voar e já mostram uma plumagem semelhante aos adultos, embora com estrias. Aves de rapina, mamíferos e répteis são os maiores inimigos dos filhotes, mas o homem muitas vezes destrói inadvertidamente os ninhos que se encontram em áreas de lavoura.

O quero-quero é comum em muitos países; é a ave-símbolo do Uruguai e do estado brasileiro do Rio Grande do Sul.

CORUJINHA. Euskara

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Esta corujinha morava em um buraco no barranco ao lado de onde estávamos. Achei muito interessante que ela ficava nos observando o tempo inteiro. Lá ela é chamada também de caburé. O pantaneiro não gosta muito desta ave, como possuem hábitos notívagos e voo silencioso, quando menos se percebe elas os estão observando. Assim elas não são bem vistas pelos pantaneiros, ainda mais que podem girar a cabeça e pescoço 270 graus, eles acreditam as vezes que elas têm até olhar pelas costas. É mau agouro seu canto noturno, eles associam com a morte.

TAPICURU-DE-CARA-PELADA.

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O tapicuru-de-cara-pelada é uma ave, que por vezes andam solitárias, contudo, em certas ocasiões se reúnem em bandos imensos. No Rio Abobral em uma ocasião vi um bando imenso chegando para o pouso. Vinham de todas as partes do Pantanal, e iam pousando nas árvores, o bando todo ocupava uma extensão de 1 km na mata galeria. Não havia mais galhos para suas aterrissagens, aí a gritaria tornava-se infernal, pela disputa de um lugar.

Também conhecido por maçarico-de-cara-pelada, maçarico-preto, maçarico-do-banhado (sul) e frango-d ‘água (Pantanal). Características: Mede cerca de 54cm e possui um longo e característico bico.

CARÃO

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Existe uma variedade dessa espécie chamada no Pantanal de CARÃO. O carão mede até 70 cm de comprimento, portanto é um pouco maior que o Itapicuru. Possuindo o corpo pardo-escuro com garganta branca, bico com mandíbula amarela, cabeça e pescoço estriados de branco e pernas negras. Espécie sem dimorfismo sexual. Ele tem um comportamento, diferente e peculiar, na época do acasalamento, ele empoleira em uma árvore sem folhas, ou de preferência em um tronco, então iniciam um piado grave, longo e até estranho, chamando a fêmea. Depois que ele inicia, não para mais, prosseguindo noite a dentro. Quando noite seu triste e monótono, canto incomoda a todos, principalmente os pantaneiros.

MUTUM

O CERVO DO PANTANAL

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Fotografia do Google, “cervos-do-pantanal”.

Cervo-do-pantanal, também chamado suaçuapara, ou simplesmente cervo, é um mamífero ruminante da família dos cervídeos. Ocorria em grande parte das várzeas e margens de rios do centro da América do Sul. Atualmente, a espécie só é comum no Pantanal. Já observei muitas vezes este cervo, em muitos lugares, mas nunca consegui uma fotografia boa, para exemplificar suas características.

É o maior cervídeo sul-americano, podendo pesar até 125 kg e ter até 127 cm de altura. Os machos são um pouco maiores que as fêmeas e possuem chifres ramificados. Os cascos são longos e podem se abrir até cerca de 10 cm, graças à presença de uma membrana interdigital, o que é uma adaptação ao deslocamento em ambientes inundados. Apesar de ser um ruminante, seu sistema digestório é menos especializado na digestão de celulose. É preferencialmente solitário e diurno, e seus predadores são a onça-pintada e a onça-parda. Sua dieta constitui-se principalmente de plantas aquáticas.

O IBAMA considera a espécie como “vulnerável” e sua área de distribuição geográfica foi radicalmente reduzida atualmente. As principais ameaças são a alteração do habitat por conta da construção de usinas hidrelétricas, as doenças advindas de animais domésticos, como a febre aftosa e a caça, principalmente como troféu. Existem inúmeras unidades de conservação em que ocorre a espécie, e ela foi reintroduzida com sucesso na Estação Ecológica Jataí, em São Paulo.

O chifre dos machos mede em média 60 cm, e em certas épocas eles são trocados. A troca do cifre geralmente ocorre no inverno e tem relação direta com o ciclo de inundações das várzeas em que habita o cervo-do-pantanal. A troca ocorre mais frequentemente no macho alfa, dominante no bando. A pelagem é castanho-avermelhada, lanosa e brilhosa, tornando-se mais avermelhada durante o verão; possui pelos brancos em volta dos olhos, peitoral, pescoço, interior das pernas e nas orelhas.

JACARÉS. Jacaré-do-pantanal ou jacaré-do-paraguai, chamado por alguns de caimam. Hoje são muito nomerosos em todo o Pantanal. Existem também em muitos outros rios do Brasil, e outros paises da América do Sul. Mede entre dois a três metros de comprimento e seu padrão de coloração é bastante variado, sendo o dorso particularmente escuro, com faixas transversais amarelas, principalmente na região da cauda. Mesmo com a boca fechada deixa ver muitos dentes, pelo que é por vezes também chamado jacaré-piranha. A sua dieta é constituída por peixes, moluscos e crustáceos. As fezes desse jacaré servem de alimento para muitos peixes. Ele põe seus ovos, que podem ser uma quantidade de 20 a 30 dentro de um ninho na mata nos meses de Janeiro a Março. Período de incubação: 70 a 80 dias. A temperatura corporal do jacaré-do-pantanal é de 25 a 30 graus

Iscamos um peixe de couro e com acúleos pontudos por todo o corpo, o armal, e jogamos para o lado de um jacaré na praia, ele veio ferozmente em busca da presa, e a abocanhou com grande ferocidade, levando a presa para a praia.

Na praia, surpreendentemente, ele mastigou o duro pescado com a maior facilidade, como a aqueles espinhos na representassem para seu sistema mastigatório. Depois rapidamente engoliu tudo com uma única bocada.

No Rio São Lourenço, assim como no Miranda, na região do Morro do Azeite, existem numerosas praias cheias de jacarés. Mas no lugar que mais vi jacarés juntos, foi em uma baia na estrada transpantaneira, eram milhares, uns juntinhos dos outros. O motivo de tantos jacarés, e outros pássaros nessas baias vazantes, é a presença de uma fartura imensa deste pequeno peixe, por lá chamado de acari.

Este é um acari, que nós chamamos genericamente de cascudinho.

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Foto Google: Acari.

Este é o Cascudo, também conhecidos como acari, acari-bodó, boi-de-guará e uacari. São peixes exclusivamente de água doce, que habitam os rios e lagos em todo Brasil, mas muito abundantes no Pantanal, principalmente nas baias. O nome dessa família de peixes vem da palavra “Lorica“ que se refere a um tipo antigo de armadura em referência ao tipo de escamas desses peixes que formam uma carapaça flexível

Tiãozinho, antigo coureiro, de décadas passadas no pantanal, contou-me, muitas histórias de sua atuação como coureiro. Usando uma carabina de 22mm, saiam à noite, com um facho (lanterna potente), iluminando as praias, os barrancos. À noite, quando a luz incide no olho do jacaré, ele reflete a luz, no tom vermelho, que parece uma viva brasa bem acesa, marcando seu ponto vulnerável. Era só mirar, atirar, com um barulho característico, semelhante a um pneu que fura, ele murcha no lugar. Depois que matam uns 20, param em uma praia e tiram o coro, note bem, somente da barriga, o resto, incluindo toda carne, é lançado às piranhas.

Eram mortos milhares todas as noites, o coro era vendido, no Paraguai e Bolívia `por um bom preço, em dólares. Com esta atividade, o número de jacarés foi reduzindo drasticamente e o das piranhas aumentando significativamente.

A polícia florestal fazia o possível, mas nada conseguia, contra os chamados coreiros. Chegaram a trocar tiros. Policiais e coreiros foram mortos, mas nada mudou. A matança dos jacarés continuava. Somente quando os países do primeiro mundo, proibiram, com rígidas leis a entrada de qualquer tipo destes produtos, foi que os coreiros desapareceram, e se transformaram em pirangueiros, com profundo conhecimento de todo o Pantanal. Mesmos em rios estreitos, como o Vermelho, na escuridão total, eles trafegam com os motores de 25HP, a toda velocidade, pelo conhecimento que têm do trajeto exato e do lugar onde estão passando. Parece que têm um GPS na cabeça, para realizarem aquele navegar a cegas.

RIO SÃO LOURENÇO, VOLTANDO A VIAGEM:

Durante a subida pelo rio São Lourenço, já percorridos 180km de rios, o Chico não havia conseguido ver nenhuma onça.
Por volta de 13:00h a fome atacou a todos, aguçada pelo tentador aroma da queima do alho. Os acepipes, então, entraram em cena: queijinhos, salaminhos e torradinhas, regadas a um bom uísque e cervejas, acalmaram o apetite e alegraram o ambiente.
Como é bom recordar esses felizes momentos de nossas vidas, em que deixamos o tempo passar e entregamos à alegria quase infantil da aventura. A expectativa da Maior Pescaria de Todos os Tempos, nos motivava o tempo todo…

Nas fotos que se seguem, na primeira, a água pela direita some no horizonte distante; se não fossem os camalotes descendo o rio, pareceria estarmos parados na grande planície pantaneira.
Segunda fotografia: na popa do barco a visão era completamente outra! Os 380HP dos motores pareciam triturar a água do rio, fazendo ondas que agitavam as margens e invadiam as matas. Parecia que estávamos a grande velocidade, rasgando o Pantanal.

Doce ilusão.

Estas duas imagens: A primeira estamos na frente do barco, isto é, na proa. Vemos o rio pela frente, estamos subindo o rio, o céu coberto de baixos estratos congestos, onde o “céu” encontra as águas, parece-me estar chovendo, o tempo mudando. Os aguapés que aparecem significa mudanças do tempo à frente.

A segunda imagem, estamos atrás do barco, na popa, os grandes motores, agitam as águas, empurando as 14 toneladas do barco à frente. As fotografias não foram tiradas ao mesmo momento, a segunda depois da chuva que pegamos no trageto, tudo fica mudado, a luz do sol clareando as árvores da margens direita, dá cores ao verde das folhas e ao alaranjado das flores. A margem, esquerda, o sombreado das ávores, escurecem as águas do rio.

Esta é a região do Rio São Lourenço, chamada de BILICA. Não fazemos a mínima ideia do porquê desse nome. Mas a partir deste ponto, a mata galeria foi ficando muito mais densa, e o Chico não largava o binóculo na ânsia de ver uma onça. Vendo a mata passar pelas bordas do barco, cada árvore com uma característica, cada abertura na mata uma esperança de ver alguma coisa da natureza, assim os quadros foram sucedendo continuamente no constante e calmo deslocar pelas águas do São Lourenço, tudo era novidade, tudo expectativa, e isso era na realidade o melhor da aventura.

O céu foi sendo coberto por nuvens de altos estratos. O curso da água representava uma artéria fluvial interminável. Nos poucos lugares de longas retas, que existiam, parecia que o Shekinah não saía do lugar, quando se estava na proa. Na popa tudo mudava, pois, os potentes motores, empurravam as águas, deixando para trás um rastro de turbulência, e agitação. As grandes ondas que o barco fazia, agitavam os camalotes das margens, ou se quebravam na mata galeria, agitando tudo com sua passagem. Quando existia uma piroga de pescadores no trajeto, tínhamos que tirar a aceleração, para não os afundar. Em duas ocasiões já tivemos dois intercursos desagradáveis destes.

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Esta é uma fotografia muito importante: em primeiro lugar porque registra um momento da viagem. Em segundo lugar porque mostra o cozinheiro Roberto aprendendo a fazer um frango à moda do Patrick, que, aliás, ficou bom. O “menino”, além de grande companheiro, é profundo conhecedor da arte da culinária.
Bem, nesse dia nosso almoço foi realmente especial, como disse o Machadinho.

O grande rio se mostrou bem aberto em nossa proa, ali fiquei imaginando a história, que as águas levaram. Dos índios bororos que ali navegaram com suas pirogas, pescaram e caçaram, lutaram contra outras tribos. Depois defenderam, suas terras dos invasores brancos. O Rio São Lourenço apresenta, como já havia dito, características próprias e peculiares. Nesses longos trajetos, imaginei os Bandeirantes Paulistas, que no século XVII subiram estas águas, com seus grandes batelões, movidos a força humana, empurrando o varejão, ou melhora zinga (vara comprida, usada na propulsão de embarcações). Que audácia tinham estes homens! Ou seria a mais refinada cobiça pelo ouro que havia em todo este território?

O comandante Chico, largou o binóculo e foi para a proa me dar uma notícia. Falou com a calma que era sua característica: Doutor o óleo diesel, não vai dar para voltamos, temos que comprar um pouco no Porto Jofre. Não me preocupei muito e continuei pensando, no trajeto descrito por um explorador nesses rios.

Um dos “bandeirantes” que passaram por estes rios em direção a Poconé e Cuiabá, conta em detalhes das dificuldades de impulsionarem os batelões, rio acima, dias intermináveis. As grandes varas eram apoiadas no peito dos “escravos” e eles caminhavam por uma prancha na borda do batelão após apoiarem ela no fundo do rio, estavam no proa do barco, e caminhavam até a popa. Onde paravam, e voltavam para a proa, para reiniciar seu estafante caminhada. A velocidade do batelão, era a velocidade dos passos dos zingueiros na borda dos batelões.

Além dessas dificuldades, havia os índios Guatós, que logicamente não viam os invasores, com seus bacamartes de fogo, invadindo seus domínios, depois de mais de milhares de anos de existência em paz. É apenas mais uma das inúmeras tragédias, que ocorreram e ainda ocorrem, em todo o mundo, da história da humanidade. Guerras, estupros, carnificinas, fome, e desesperança, é triste.

Toda esta planície era habitada pelos temíveis índios Guatós.
Conta à história que, no século XVII, na região de Cuiabá, era comum achar-se pepitas de ouro nas vielas do povoado e nos caminhos, após as grandes chuvaradas.
Eu não duvido muito, pois no ano de 2000 estive fazendo uma grande trilha, de Poconé até o Porto Jofre, e em Poconé eles ainda fazem grandes escavações procurando e achando ouro. Em termos de ocupação do espaço para a instalação do homem, o Pantanal começou a ser povoado no início de 1800. Oficialmente, esta região foi chamada de Paiaguás a partir de 1825. Este nome devido a uma grande tribo de índios, os Paiaguases que habitam as terras do Norte no Pantanal. Certamente o nome do rio Paraguai, seja um topônimo do nome desta tribo, também conhecidos como os índios canoeiros.

Esta região, chamada de Paiaguás, de forma documentada pelo Império, foi em 1825.

Li o relato de um fazendeiro, de sobrenome Junqueira, que saiu de São Paulo em comitiva pelos rios: Tietê, Sucuriu, Coxim, Taquari, Paraguai, e rio Cuiabá. Foi uma aventura de 2 anos até se instalar nesta região, não mais em busca de ouro, mas com o objetivo de criar o gado e se estabelecer com a família, seria o início.

Tirei essa fotografia da proa do barco, pois tive a visão exata da imagem, onde a cor das águas era igual a cor dos céus. Será que o rio se espelhava nas nuvens estratos, ou seria apenas uma ilusão de ótica.

Esta região tem muitos portos. Este é Bananal. São lugares onde os barcos cargueiros deixam as encomendas dos fazendeiros da região. Todos os produtos que se pode imaginar são trazidos pelos barcos de negociantes. Todos dependem do rio como se fosse uma artéria oxigenando todo um tecido.
Pelo traçado do GPS, que está no fim deste relato, pode-se ver todas as numerosas curvas do rio São Lourenço até o Rio Piquiri, com o nome dos principais portos pelos quais passamos.

Este é um barco típico de transporte da região. Nesse ponto, ele já está descendo, o São Lourenço com destino a Corumbá. Deve estar levando uma grande lista de pedidos, desde carretéis de linhas até peças de tratores. Segundo contam, vários donos destes barcos chegaram a ficar muito ricos. São grandes negociantes, trocam frangos e peixes por outras mercadorias, fazendo o chamado escambo para todas as pessoas das fazendas da região.
Levam também passageiros para vários destinos, tanto rio a cima como rio a baixo. O barco está bem afundado na água, consequentemente deve estar muito pesado, cheio de peixes e sabe-se lá o que mais…

Buscando Comida. Nossa previsão de praticamente todos os itens desta grande viagem, foram errados. Nesta hora, pensamos em soluções.

Depois de uma reunião, o companheiro Machadinho, se ofereceu para ir até o hotel do Porto Jofre, comprar os víveres que nos estavam faltando, ou que poderia nos faltar. O pirangueiro, acertou a canoa, que por lá chamam, muito propriamente, de voadeira, e partiu para o porto, em busca de víveres, para nossa dispensa.

O mais peculiar deste acontecimento, é que foi erro de todos mesmo, pois todos da equipe são muito exagerados com tudo. Muita cerveja, muita bebida, muito queijo entre outras iguarias. Mas, pouco arroz, pouco feijão, pouca farinha, pouco óleo, os materiais mais básicos, foram justamente o que estavam faltando.

Ninguém assumiu a culpa, pois nas reuniões tudo foi amplamente discutido, e na hora da saída de Corumbá, ainda solicitamos ao cozinheiro, que checasse a compra, se tudo estava de acordo com o tempo da viajem.

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Machadinho partindo em busca de víveres, pois, como disse, em determinado momento percebemos que a viagem estava ficando mais longa do que havíamos imaginado e fazendo um “balanço” junto com o cozinheiro, concluímos que a comida estocada não seria suficiente. O Gustão se apavorou. Adiantando-se, o Chico sugeriu: –Estamos a uns 30 Km do Porto Jofre, onde tem um belo hotel. Confirmei, pois já havia me hospedado lá. Certa ocasião, que percorri, juntamente com o Marcelo, Zé Fernando e o Maluf, toda a Transpantaneira de Poconé até o Porto Jofre. Fui de quadriciclo e os demais, com suas potentes motos.

Realmente o Jofre é um belo Porto e tem um bom hotel, tem até pista para pequenas aeronaves, piscina, sauna e um bom restaurante.
O amigo Machado, gentil como sempre, prontificou-se ir comprar mais víveres. Na primeira fotografia o Padilha está abastecendo o Motor Suzuki, para, adiantando a viagem, ir até o hotel fazer a compra. O tempo estava frio e chuvoso, o que não intimidou os companheiros. Por sinal, foram muito felizes na empreitada.

Depois que o companheiro partiu, logo a frente havia uma ilha, cujo o lado direto tinha uma corredeira, que ao atingir uma grande árvore caída, formava um poço, onde a possibilidade de haver um pintado era grande. Resolvi, tentar uma pescaria naquele ponto.

Ancoramos o Shekinah, e eu e Chico fomos lá tentar um pintado para a janta. O lugar era incrível, pois na árvore caída havia um grande socó-boi, que parecia um guarda tomando conta do poço. Ele se fez de dormindo. Jogamos a linha, e ali ficamos. O companheiro com muita habilidade no remo, dominava o barco, rodando pelo remanso.

Depois de uns trinta minutos, minha linha estirou forte, eu pude dar uma bela fisgada e pegamos uma bela cachara, de medida, para o jantar.

A noite com a calma das mansas águas do rio, sempre é motivo de nos encontrarmos na cobertura do Shekinah, e ao som das vozes da noite, orquestrada principalmente pelo canto ininterrupto de um pássaro o carão, ficarmos proseando, sobre o dia que passou, e os planos para o dia seguinte, que chegaríamos ao destino, Rio Piquiri,

Chico saiu logo cedo e chegamos no porto da Pousada do Porto Jofre.

Nas imediações do Porto passamos por um lugar muito bonito e acolhedor, não tenho certeza se chama Alegre, mas é muito bonito e muito bem cuidado. Segundo o Chico é o porto de uma Pousada.

Passamos por muitas fazendas, Pousada e Portos: Negrinho, Sepultura, Autuam até chegar ao Porto Jofre.
Viagem longa sempre tem imprevisto: Estávamos a 2 horas do Porto Jofre, quando o tempo “fechou” feio realmente. O Machado e Padilha já haviam voltado com os víveres.

Segundo o Chico não seria indicado navegar naquelas condições, ainda mais que não chegaríamos mesmo ao Piquiri antes do anoitecer.

Assim, resolvemos aportar o Shekinah.
Enquanto a chuva não vinha, o Augusto e Machado resolveram ir pescar um pouco. Eu e Patrick resistimos por alguns minutos, mas logo em seguida fomos também. Entramos em um braço de corixo, mais abrigado do vento, e ainda deu para fazer uma pescaria razoável, pois o Patrick e o Augusto pegaram algumas cacharas.

Uma pescaria de improviso, com um CB rondando toda a região não é brincadeira! Mas pescaria é assim mesmo: quando menos se espera, lança-se a uma aventura, e em meio ao vento e à chuva surgem os peixes. Como sempre diz o viajado Gustão: —Gente, o que pega peixe é anzol na água “…
E não é que ele tem razão? Eu nunca vi um anzol fora d`água pegar um peixe!

Estávamos para chegar no famoso Porto Jofre, por esse motivo, na hora de jantar, uma saborosa cachara a urucum, falei para os companheiros, que há dois anos, fui com 3 amigos de Poconé até o Porto Jofre, os amigos de moto e eu com um quadriciclo ATV, da Kawasaki, próprio para essas aventuras. Assim contei a história, que aqui, faço um resumo, isso na realidade, como tenho dito: É uma outra aventura.

HISTÓRIA: MINHA PRIMEIRA VIAGEM AO PORTO JOFRE, POR TERRA, PELA TRANSPANTANEIRA. (Recordando):

Porto Jofre, às margens do rio São Lourenço, é um lugar muito importante, para nós. Para todos, ele representa, o centro geográfico, mesmo que fictício, do misterioso Pantanal de Mato Grosso. Fica a 145 KM ao Sul da cidade de Poconé. Fizemos este trajeto da Transpantaneira com: 3 Motos e eu fui com um ATV (quadriciclo 4X4 da Kawasaki). Por sinal uma aventura inesquecível, principalmente para a travessia de 125 precárias pontes de madeira existentes no trajeto, e com péssima manutenção.

Histórico: Quando Juscelino Kubitschek foi presidente do Brasil (de 1956 a 1961), inaugurou a TRANSPANTANEIRA, grande rodovia que ligaria Cuiabá a Corumbá, Proporcionando a integração do Pantanal. Nessa áurea fase de expansão nacional, Brasília em 21 de abril de 1959 foi inaugurada e estradas como a Belém – Brasília e a Transpantaneira foram abertas. Desta última o que restou foram trechos ao norte (Poconé ao Porto Jofre) e ao sul (de Porto Manga até 30Km além do Esquinão). Tudo o mais perdeu-se no tempo ou foi destruído pelas cheias.

Conta à história que, na região da Nhecolândia, os fazendeiros ali instalados precisaram dinamitar, às pressas, grande parte do aterro da estrada a fim de dar vazão às enchentes, pois as pontes construídas não eram suficientemente adequadas para a passagem das águas. Com esta e outras intercorrências, mais de 350Km da estrada ao sul do Porto Jofre desapareceram.

O trecho que vai de Poconé a Porto Jofre resistiu, mas em condições tão precárias que acabou se transformando em desafio para os trilheiros do Brasil. Depois de ler uma reportagem sobre uns “jeepeiros” que por lá passaram, decidi realizar a mesma façanha. Assim, em 2001, convidei alguns amigos e partimos: eu com um ATV (All Terrain Vehicle), um quadriciclo traçado, próprio para essas aventuras e eles com suas motos.

Na primeira foto estamos chegando em uma pousada, no início da Transpantaneira. Havíamos viajado 1380Km de Ribeirão Preto até esse ponto, levando as motos e quadriciclo (ATV), em duas Silverados. Foi uma árdua viagem, pois as estradas de MT são lastimáveis. Na segunda fotografia estão os 4 trilheiros: Eu, Marcelo, José Fernando e Maluf. Antes de sairmos para a viagem nos preparamos muito, pois sabíamos que às dificuldades seriam grandes, somente não contávamos com a quantidade de chuva que pegaríamos pelo caminho. Desta pousada até o Porto Jofre tínhamos 165Km de estrada semidestruída e 125 pontes quase intransponíveis.

INÍCIO DA TRANSPANTANEIRA: A primeira fotografia é o posto do IBAMA, onde se recebe algumas orientações sobre a situação da estrada, pois são 145Km com 125 pontes, algumas sem a menor condição de tráfego. Na segunda foto vê-se uma ponte considerada razoável, uma vez que as outras dispõem de apenas uma tábua para a passagem. Isto me prejudicou muito, pois o ATV não tem bitola normal, tive que providenciar tábuas extras em muitas ocasiões. Atravessar essas pontes sabendo que, sob elas, jacarés e piranhas aguardavam um inusitado “lanche”. O que estimulava ao máximo nossa adrenalina, ainda mais debaixo dos aguaceiros que enfrentamos.

Gastamos quase um dia inteiro para percorrer toda a estrada. Pousamos no Porto Jofre e retornamos no outro dia, após uma noite preocupado, por lembrar das pontes que teria que passar na volta.
Para os jovens de moto, era “pau na máquina e chute nos cachorros”. Bem, essa viagem será uma outra história a ser contada.

A estrada construída era bem elevada, mais de 3 metros acima do nível da planície pantaneira, o que permite uma ampla visão do pantanal. Inicialmente a uns 10 km, do posto do florestal, encontramos uma baia, onde havia tantos jacarés que um ficava ao lado do outro. A semelhança seria um estacionamento de jacarés no pantanal. Não seria necessário dizer que a baia estava repleta de peixes (acaris), a cada momento um jacaré saia da formação, mergulhava, saindo em seguida com um peixe na boca.

Uns 40 km a frente, depois de passar por umas 10 pontes, em um aberto de capim mimoso, bem perto da estrada, um casal de cervos, pastava. O macho nos olhou, soberbo com sua galhada, e saio trotando em câmara lenta por uns 50 metros, depois parou e nos olhou novamente, somente então a fêmea saiu trotando até ele. Vimos bem ao longe mais dois casais de cervos.

Passamos por incontáveis banhados, com todos os pássaros da rica ecologia de todo o pantanal. Realmente foi uma aventura inesquecível, a travessia da transpantaneira

Mas gostaria de dizer que compensa todo o sacrifício, o ambiente é extraordinário, e a vida animal quase indescritível. Nos primeiros quilômetros, baias com incontáveis jacarés. Depois em uns descampados vimos 2 casais de cervos-do-pantanal, muito perto, e eles não se espantaram com nossa presença. Araras aos bandos com suas gritarias, enfeitam os céus. Mais de 3 bandos de bugios, encontramos ao longo da viagem. E o mais emocionante, encontramos uns cientistas do IBAMA, monitorando uma onça marcada com rádio frequência.

A onça segundo o sinal do rádio, estava em um pequeno capão de mato a uns 50m da estrada. Os pesquisadores estavam encostados em uma caminhonete, à espera do movimento que o felino iria fazer. Já estavam ali a mais de 2 horas, com a antena do rádio, e uma máquina fotográfica com teleobjetiva, para verem para onde ela iria. Paramos em silêncio, e depois de um tempo, creio que 1:30h, os pesquisadores se agitaram, e realmente uma belíssima onça pintada saiu do mato, e aos pulos foi penetrando pela macega do pantanal a fora. É indescritível, a beleza e a imponência de um animal deste. Rapidinho ele se perdeu no mato, com tempo suficiente para os pesquisadores tirarem inúmeras fotografia e identificarem o animal. Eles haviam, segundo relataram, colocado o colar com o rádio em 10 onças.

Tentei saber mais sobre a pesquisa, somente disseram que as onças andam em um raio 150 Km caçando, e foram embora, talvez atrás de outra onça!

Depois desta belíssima parada, uns 25 km a frente pegamos um temporal incrível, a ponto de esperarmos um pouco, com medo de passar por pontes com tábuas escorregadiças.

Depois da chuvarada a estrada virou um lamaçal, aí as motos penaram, e o quadriciclo andou tranquilo, jogando água e barro para todos os lados, ele é para isso mesmo.

Somente chegamos à noitinha no Porto Jofre, todos cheio de lama, com fome e cansados. Bem essa é uma vida outra viagem de aventura, A Transpantaneira.

Esta é uma vista aérea do Porto Jofre que mostra a pista de pouso, uma grande baía atrás do hotel e as construções. Neste dia havia duas aeronaves pequenas Embraer 710C, o Corisco, no aeródromo. Realmente a aventura valeu a pena, tenho a filmagem de todo o trajeto. Esta fotografia é do Google.

CHEGADA AO PORTO JOFRE COM O SHEKINAH.

Finalmente avistamos o famoso Porto Jofre. Após uma longa curva do rio, lá estava ele, perdido à distância, no meio das nuvens sombrias, que em baixos estratos cobriam o horizonte. Tudo ficou mais leve, estávamos a poucas horas do Rio Piquiri. Francamente, eu gosto de navegar, mas desta vez os informantes, Chico e Padilha, erraram em todas as previsões e isso foi uma grande lição para mim. Nas próximas excursões, como sempre, cuidarei da logística da viagem. Na realidade, o tempo, para os pirangueiros e para nós, têm dimensões muito diferentes: Para eles quanto mais demorar, um passeio ou uma pescaria, é melhor.

Nesta foto, a seguir, estamos eu e Augusto. Ao fundo a rampa do Hotel do Porto Jofre Pantanal Norte. Neste momento eram, exatamente, 11:40h. Tínhamos navegado 350km, com 35h de viagem, a uma média de 10km\h. Ainda estávamos a 35km do rio Piquiri. Era o tempo de almoçar, arranjar a tralha e sair para pescar.

Eu e Gustão saboreando o prazer da chegada ao Porto Jofre. Contei para eles que já havia trilhado toda a região do Jofre com o quadriciclo e que já havia descido aquela rampa para lavar o quadriciclo (ATV), que chegou ali praticamente como uma pelota de barro. Mas os companheiros não acreditaram muito na nossa epopeia por terra até esse fim de mundo. Pretendo, se houver oportunidade, mostrar a fita de VT desta viagem a todos eles.

HISTÓRIA. A região era uma antiga fazenda do avô do atual dono, Sr. Jamil. Ele conta que antigamente os exploradores vinham e tomavam posse. Primeiro viviam da criação extensiva do gado. Depois vieram a venda de couro, dos animais, incluindo onças. Apareceram os coureiros, ficaram fora da lei. Foram impedidos. Voltaram ao lucro significativo, da criação do boi pantaneiro.

E o lugar tornou-se um porto de grande movimento, não havia estradas, tudo eram pelo rio, todo o comercio era no porto, incluindo o gado que saia de todas fazendas da região.

Quando a Transpantaneira foi construída houve uma mudança radical em toda a região, a estrada saia de Poconé passava pelo Jofre e seguia para Corumbá. Do Jofre para o sul as enchentes destruíram a estrada. Assim no Mato Grosso, a estrada Transpantaneira termina no Porto Jofre.

Com a transpantaneira vieram os pescadores, predadores. Até que a lei os impedisse. Finalmente o pescador esportista e o turista para conhecer o Pantanal, seus animais e suas aves.

A evolução do Hotel foi grande até um aeródromo foi construído. Hoje o número de turistas e igual aos pescadores esportistas.

A alguns quilômetros acima do Porto na margem direita do rio, há uma pequena e típica vila de pescadores com os quais conversei muito quando ali estive. Suas histórias são bastante peculiares, mas a insatisfação com o desaparecimento dos peixes é comum a todos eles. Importante conceituar, alguns aspectos do passado. Houve progresso, primeiro com a pesca indiscriminada, sem nenhum parâmetro de equilíbrio biológico. Segundo os coureiros, os caçadores de peles, levou ao problema que hoje eles enfrentam. Somente o equilíbrio ecológico de hoje, poderá voltar dar vida à região.

É muito importante esta construção abandonada, à margem esquerda rio São Lourenço: aí era o Porto Jofre também, ou seja, aí era o término da Transpantaneira, vinda do sul do Pantanal. As balsas pegavam as cargas nesse ponto, atravessavam o rio e se dirigiam às fazendas da região ou descarregavam em outros caminhões com destino a Poconé e Cuiabá. Com o desaparecimento da estrada, não havia motivo para que o Porto na margem esquerda do rio existisse, assim, foi abandonado.

História da Transpantaneira.

Iniciada em 5 de setembro de 1972, as obras na estrada começaram no extremo norte do Pantanal, em Poconé, e seguiram por quatro anos de aventura até as margens do rio Cuiabá, outros o chamam de Rio São Lourenço, na Vila São José, hoje Porto Jofre.

Em tempos de “milagre econômico” no começo dos anos 70, ela nasceu celebrada com ufanismo comparável à duas outras megalômanas obras de seu tempo: a ponte Rio-Niterói e a Transamazônica (hoje em situação mais lastimável). Seria peça importante sobre um certo “caminho do paraíso”, o sonho necessário do progresso em uma das regiões mais belas e isoladas do Brasil. A nova rodovia teria ao todo 397 quilômetros, unindo Poconé a Corumbá. Formar-se-ia assim uma via de ligação de norte a sul do Pantanal, unindo por sua vez o Mato Grosso ao Sudeste do Brasil.

Só que o sonhado “caminho do paraíso”, revelou-se mais cheio de obstáculos que o previsto. O que restou foi uma estrada com média de dez metros de largura e uma característica só dela: ao longo de seus 145 quilômetros, são 125 pontes de madeira, isto é, a estrada com maior número de pontes do Brasil.

Ao longo do tempo, percebeu-se que acabaram criando, sem querer, uma “eco rodovia”, onde os aterros revelaram uma surpreendente capacidade de reter as águas das cheias. Assim, mesmo na época das secas mais terríveis, a água acumulada nas laterais da Transpantaneira, transforma-se num prodigioso refúgio de jacarés, capivaras, tuiuiús, sucuris e muitos outros animais, num efeito idêntico às muitas lagoas da região sul do Pantanal, perto de Corumbá.

Segundo o Sr. Jamil, a transpantaneira limitou muito a criação do gato em toda região, pois houve uma mudança significativa no bioma da região. Segundo Sr. Jamil, onde o pai criava 10.000 bois, depois da estrada apenas dava para criar 1.000 bois.

Hoje, conta-se nos dedos os veículos que passam diariamente na estrada. Os raros transeuntes variam conforme a hora. Antes do sol nascer, são os ciclistas-pescadores de Poconé, basicamente garimpeiros que antes do trabalho jogam suas linhas nos primeiros riachos em busca do almoço do dia. Nas primeiras horas do dia são os pescadores melhor equipados que passam em suas caminhonetes 4X4.

FINALMENTE CHEGAMOS AO RIO PIQUIRI.

Os rios da bacia do Piquiri, são muito importantes para toda região banhada por eles. Nascem no Planalto Central, na região do município de Alto Garças, depois o Piquiri recebe seu primeiro afluente importante o Rio Correntes. Mais a oeste recebe o Rio Itiquira é cheio de meandros, desenhando um curso sinuoso, com grande quantidade de mata galeria, desagua o rio Piquiri, que no final de seu curso desagua no Rio São Lourenço.

Na década de 1950, em minha cidade natal, um grupo de importantes pescadores e caçadores, (médicos, dentistas, fazendeiros, entre outros), organizaram uma caravana para irem pescar e caçar no distante, famoso, inexplorado e selvagem Rio Itiquira.

Ficaram 30 dias por lá. Quando voltaram, no Clube Casa Branca, suas extraordinárias narrativas duraram meses para serem contadas. Primeiro a descrição da viagem: Um caminhão com a traia e 3 caminhonetes Chevrolet.

Contaram os percalços das estradas barrentas, os atoleiros, os arreiões. A grande preocupação com a gasolina, e muito mais peripécias. Somente os lugares da estrada, onde eles não sabiam se seria para a direita ou esquerda, bifurcações, que as vezes pegaram erradas. Entre cafés alguns, whisky outros as aventuras foram contadas.

Dr. Walter Avancini, esteve na tribo dos Bororos, e deu assistência a alguns índios, incluindo fornecendo antibióticos e aspirinas.

Depois os bichos que eram abundantes, a caça. Todos levaram espingardas e carambinas. E finalmente as grandes pescarias. Os grandes pintados, cacharas, dourados, que arrebentavam linhas de aço, e estouravam azuis fundo de agulha, número 12. Jamais esquecerei suas histórias.

Por todas estas recordações, poderia alguém imaginar a emoção que senti, quando, depois de navegar 3 dias e duas noites, chegar por água na boca do Rio Piquiri, que trazia também as distantes águas do Rio Itiquira? A mata galeria era a mesma, e importante dizer para se chegar nessa região somente por água.

O homem, eu particularmente sempre vivi sonhando, a mente em esperança, creio ser o motor da alma. Estar ali na foz do Rio Piquiri, onde tanto sonhei por décadas, era muito importante, sinto meus velhos mentores de Casa Branca, não estarem por aqui mais, pois gostaria de contar a eles minha aventura também.

Bem na direção da proa do Shekinah, finalmente, dá para ver a famosa Barra ou desembocadura do Rio Piquiri, MUITA EMOÇÃO. É realmente emocionante chegarmos ao destino, depois de 3 dias de viagem.
O Rio São Lourenço vem do norte do estado de Mato Grosso, passa dentro da capital, onde tem o nome de Rio Cuiabá, é um marco importante para a cidade, pois lá divide duas na as grandes cidades: Cuiabá e Vargem Grande.

Contudo, segundo alguns compêndios de geografia, mais ao sul o rio Cuiabá recebe na região do Perigara, o delta maravilhoso do Rio São Lourenço, e pela riqueza, das águas e dos peixes deste rio, o Cuiabá perde o nome, e o rio que se forma passa a se chamar, Rio São Lourenço. Como já sobrevoei a região por duas vezes, aceito realmente esse fato.

A divisa dos dois Estados, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, continua sendo o rio Piquiri, depois o Rio São Lourenço. A fotografia a seguir do satélite (EMBRAPA) dá para ver, com clareza essas importantes divisas.

Esta é uma fotografia do Google Earth, da região do Porto Jofre, onde vemos o traçado da divisa do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, parte do rio Piquiri e depois do rio São Lourenço. Somente a fotografia do satélite, nos permite observar a riqueza de matas virgens existentes, não é sem motivo que a maior concentração de onças pintadas do Brasil está nessa região.

Existem numerosos turistas que vêm para a região apenas para observarem esse maravilho felino, a onça pintada.

Finalmente começamos a pescar.

Eu e o Gustão embarcados. Partimos para a pescaria dos famosos tucunarés do Piquiri. A emoção, no início de uma pescaria, é muito grande, e neste lugar era ainda muito maior, pois se tratava de uma área muito selvagem, longe de tudo e de todos. Na segunda fotografia vemos o heroico Shekinah. Depois de deslocar suas 15ton de Corumbá até aquele ponto, eu tinha um pouco de receio que pudesse ocorrer algum dano mecânico, mas felizmente tudo correu muito bem.
A saída para esta pescaria foi cheia de expectativa. Primeiramente, porque há muitos anos ouvíamos falar nos tucunarés que haviam invadido o lado selvagem do baixo Piquiri.
Segundo, porque nosso piloteiro, o Chico, não conhecia o local para onde iríamos, a não ser por informações. Como na primeira fase da grande viagem as informações do Chico eram todas equivocadas, em relação a esta segunda etapa da pescaria, as perspectivas eram um pouco sombrias.
Pergunto-me se não seriam estas dúvidas, incertezas e buscas, a essência de uma aventura verdadeira.

Para mim nessa viagem foi, eu e o comandante, sempre buscando informação e esclarecimentos sobre toda a rota da navegação.

A canoa, com motor Suzuki de 30HP, arrancou, levamos mais 20 litros de gasolina de reserva, pois as distâncias por lá não são pequenas. Como já havia dito, a morfologia hidrográfica do Piquiri é própria, trata-se de um rio bem singular. Observar suas diferenças prendeu-me a atenção nos 33Km que navegamos até o corixo dos Tucunarés.

As águas do Rio Piquiri são mansas, seus meandros bem fechados em curvas que se sucedem e se misturam. As árvores das margens são de grande porte, deixando o chão coberto de folhas, expostos a nossa visão. Com isso, a canoa parada e em silêncio, ouve-se os pássaros caminharem pelas folhas: Mutuns, jaós, saracuras. Quando não os galhos se agitam, com bandos de macacos bugios. Poucas são as praias, pouco vimos jacarés.

Que personalidade incrível tem o rio Piquiri, para mim, ele é diferente em quase tudo. O barco parado, parece que podemos ouvir suas bem profundas e limpas águas, roçarem o fundo de arenito, produzindo vibrações agudas e profundas. Pareceu-me que o fluxo leito se comunica com a superfície das águas. A de baixo se arrasta a de cima flui mansamente.

Mesmo quando estive na Floresta Amazônica, na região de nossa gleba no rio Iriri, não senti nem de perto a quantidade de vida que existe nas florestas do Piquiri. Rodando os tucunarés, em silêncio podemos ouvir a “orquestra” das aves e animais da mata, é simplesmente indescritível.

Em nenhum lugar que tinha estado no Pantanal, senti a vida da floresta tão presente.

Aí lembrei-me de um corte do solo da região. Isso explicaria as diferenças que senti, no rio e na região.

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A fotografia desse barranco conta por si só, parte da história geológica do Pantanal. Ela é a fotografia viva das camadas depositadas na planície pantaneira.
Ela foi tirada a 15km águas acima do Rio Piquiri. Nos 400Km de rio que navegamos este foi o primeiro e único corte de barranco que achei em todo percurso. O que dizer de cada uma destas camadas sedimentares, que começaram a se depositar em tempos imemoráveis da história da planície pantaneira? São histórias de períodos de chuvas e enchentes extraordinárias, de secas terríveis que quase transformaram a região em um deserto. São bilhões de partículas de siltes, que após longas caminhadas dos planaltos circunvizinhos, ali vieram se depositar, envolvendo crustáceos, cinzas de queimada, siltes ricos em hematita, e depois por cima, grande camada de terra de aluvião

Entre os depósitos pode-se ver, em detalhe, pequenos crustáceos fósseis, que correspondem aos tipos de zôo-plâncton existentes em cada período geológico recente da formação do Pantanal. O período deste barranco conta uma história de 10.000 a 30.000 anos. Segundo a Petrobrás, que já pesquisou petróleo no Pantanal, a camada sedimentar metamórfica, que é à base do solo do Pantanal, está em algumas regiões afloradas, como a Serra do Maracaju, Bodoquena, Serra de São Jerônimo, Serra do Amolar, entre outras.

O Pantanal baixo está a mais ou menos 200m de altitude, em consequência dos movimentos tectônicos e à erosão muito atuante em toda a área.
Existe uma tese que, a origem do Pantanal, está associada a mais de 200 milhões de anos, quando estava ocorrendo a migração dos continentes. Quando a Placa Atlântica, colidiu com a Placa do Pacífico, esse lentíssimo processo ainda está ocorrendo, em escala milenar. O levantamento dos Andes, a maior cordilheira do mundo, é a mais espetacular consequência do encontro destas placas tectônicas. E o Pantanal seria uma sub-indução destes acontecimentos geológicos complexos.

— Continuarei pesquisando e aceitando ensinamentos. O Rio Piquiri nasce quase na divisa de Mato Grosso com Goiás, lá pelas bandas do Alto Araguaia, na região das escarpadas furnas do Planalto Central, a noroeste da Furna do Mutum, onde nasce o Rio Taquari.
De muito, muito distante vieram esses sedimentos para depositarem no Pantanal, e cada camada tem sua peculiaridade. Seus fósseis minúsculos contam a história dos tempos, e por essa e outras análises acredita-se que a planície do pantanal tenha se formado nas últimas fases do período quaternário. Bem, amigos, como sempre, essa é uma outra história…

No primeiro dia, fomos subindo o Piquiri em busca do corixo dos Tucunarés por indicação do Padilha. Não tínhamos certeza de onde exatamente ficava, assim, achar o lugar dos tucunarés foi uma aventura a mais. É a pura aventura na intimidade da remota região.

Como estávamos navegando por caminhos desconhecidos, o GPS é sempre um companheiro indispensável, pois se ficarmos perdidos em algum corixo, ou alguma baía, basta acionar o “Track Back” que se volta no rastro, para o lugar de onde saímos. É uma segurança indispensável nas aventuras atuais, pois queremos sempre ir mais longe e em lugares desconhecidos, mas, sem ficarmos perdidos nesta imensidão de águas e corixos. No trajeto até o corixo dos Tucunarés vimos inúmeras capivaras, algumas ariranhas e muitos pássaros, sendo alguns já extintos em nossas regiões, como o jacu, a jacutinga e o mutum.
O GPS está na escala onde cada 1cm na tela equivale a 500m, o traçado em curva são as curvas do Rio e o pequeno triângulo simboliza o nosso barco. A linha pontilhada é a divisa dos Estados do Mato Grosso com o Mato Grosso do Sul. O 34,7km/h é a velocidade da canoa.

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A mata galeria do Piquiri é muito densa e bem preservada, mas a imponência desta piúva eu não poderia deixar de fotografar, pois ela sobressaia soberba entre as outras. É realmente uma árvore majestática. Não sei como os homens ainda não a cortaram. Depois pensando bem não tenho absoluta certeza que esta árvore seria uma piúva.

Nossa viagem rio acima continuava cheia de visões maravilhosas, com uma surpresa em cada curva, uma visão a ser fixada na mente. Ou na memória do GPS, para um dia podermos voltar…

Nesta fotografia vemos um grande representante dos jacarés do Pantanal, sempre famintos, em busca de peixes. A uns 20km da barra do São Lourenço existe esta pousada, ela é bem grande, com muitas dependências, mas estava com um aspecto de abandonada. Paramos na praia da pousada, pois à sombra das grandes mangueiras o experiente Chico, ouviu o piado de um bando de mutuns. Sorrateiramente, fomos caminhando para ver a tão famosa ave.

O mutum vive nas matas ciliares de todo Pantanal. Esse bando, em número de umas 8 aves. As aves escuras são as fêmeas, coloridas são os machos. Por serem muito procurados pela caça, se tornaram muito ariscos, não é fácil ver um grupo deste, de maneira tão clara como vimos. Contudo não consegui fotografá-los. Tenho umas filmagens deles, nas matas ciliares do Rio Abobral.

Eles andam pelo chão da mata se alimentando, são onívoros, já os filmei, se deliciando com as flores que caíram de um grande pé de piúva, no Rio Paraguai, na região da fazenda Califórnia.

Depois desta pousada, a uns 3 km, o Piquiri se divide em dois, criando uma longa ilha. Deve-se pegar o lado direito, pois o esquerdo se ramifica em inúmeros braços, tornando muito difícil navegar.

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As famosas TAIAMÃS ou Cortas-mares: São andorinhões que migram das altas latitudes setentrionais, como norte do Canadá e Groelândia, fazendo cruzeiros de mais de 17.000km para virem se reproduzir nas praias do Pantanal. Têm a parte do bico inferior maior que a superior, voam rente à água com a parte inferior do bico riscando a superfície. Quando um incauto peixinho sobe à tona elas somente têm o trabalho de fecharem o bico e a comida está no papo! São aves maravilhosas voam a uma velocidade incrível e não é necessário dizer que são exímias navegadoras. É triste dizer, mas tem pantaneiros ignorantes que, desprezando o esforço destas heroicas aves, vão às praias onde elas têm seus ninhos para fazer a colheita de seus ovos. É realmente um crime, um desrespeito à natureza.

Não somente vi essas aves no rio Piquiri, como também elas frequentam muito a região a região do Rio Abobral em suas grandes praias.

Impressionante o medo que nosso pirangueiro ficou de duas Iguanas. Elas estavam nadando juntas. Atravessando o rio, de longe parecia muito esquisito. No início pensamos ser uma cobra, mais perto pensei ser um grande lagarto tiú. Quando subiu no barranco nos surpreendemos com o tamanho destes animais. Contudo somente consegui fotografar a menor, verde, a outra era bem maior e preta, subiu o barranco com uma velocidade impressionante, e sumiu no mato.

Existem vários tipos de iguanas no pantanal, quando elas nadam fazem um movimento estranho, que a tornam muito maiores e esquisitas. Os pantaneiros não gostam deste animal, alguns a chamam de diabo do pantanal. Elas podem mudar de cor conforme a situação. Já observei iguana muito grande, no rio Paraguai-mirim, de cor escura em uma árvore, onde seu mimetismo a tornava difícil de ser identificada. Por esse motivo são chamadas também camaleão.

No trajeto paramos numerosas vezes para apreciarmos as belezas do Pantanal nesta região.
Com isso fomos nos atrasando um pouco e encontramos novamente o Machado & Patrick em uma bela praia. Não soube interpretar o que o Patrick estava fazendo na água neste momento empurrando o barco.
Logo mais adiante de onde os amigos estavam parados, em uma praia, estavam várias capivaras. O Chico desligou o motor e foi lentamente andando com o barco e estas duas capivaras, sem o menor medo, foram nos acompanhando, até pularam dentro d`água.

CORIXO DOS TUCUNARES E DAS ONÇAS

Quando entramos neste corixo, depois de tanta expectativa, meu entusiasmo era tamanho, que as águas dele pareciam estar mais altas que as margens, o motor desligado, nós levados pelas mansas águas, parecíamos flutuar, levados pelos sons da mata virgem.

Indescritíveis são as belezas e a riqueza da fauna e da flora neste corixo. Lugar ainda selvagem, onde o homem não agrediu. A água transparente refletia, de forma quase artística, a mata de árvores majestosas, que balizavam as mansas águas, que, à pequena velocidade de 1 a 2km/h deslizavam suavemente pelo leito, acariciando as sombras e delimitando as margens sombrias dentro da mata.

A emoção foi tão grande ao chegar nesse lugar, que desligamos o motor de popa logo no início do corixo. O silêncio era quebrado, apenas pelas ondas levantadas pelo barco que ainda teimava em agitar aquelas águas serenas.
Depois de uns 15 minutos de completo silêncio, a mata criou vida: era uma miríade de sons que nossos ouvidos, ainda machucados pelo ronco de mais de horas dos 30HP do Suzuki, não conseguiam distinguir a origem.

Foi possível ouvir vários Jaós, com seu canto inconfundível, que de forma onomatopeica repetia “eu sou jaóóóó!”. Segundo os entendidos seu pio somente tem 4 notas musicais, portanto, um caçador, com um pio artificial, facilmente consegue imitá-los e atraí-los em uma caçada. Como sua carne é de excelente qualidade, não é de se espantar que em toda a Mata Atlântica de nosso Estado eles tenham sido completamente extintos.

Nosso ouvido foi se acostumando aos sons sutis da mata. E, a cada momento novas vozes da natureza eram identificadas, principalmente pelo Chico, que sempre viveu no Pantanal.
Nos assustou, pouco à frente de nossa embarcação, vimos uma onda retilínea que atravessava o corixo, ao nos aproximarmos, o Chico mostrou concentrado a víbora mais venenosa e temida de todo o Pantanal, a cobra, dita Boca de Sapo. Era grande, mais de 2 metros, ia impávida, em direção a mata, na busca dos jaós, ou mutuns, que caminhavam, piando, se mostrando, pela mata galeria. Era uma refeição garantida. Ali estava a lei da sobrevivência.

A atração entre os animais ali na mata estava evidente. Era o momento dos cruzamentos e da procriação. Primeiro os aracuãs, com seus voos curtos, e ruidosos, agitavam os galhos das grandes árvores, machos brigando por fêmeas. Alguns derrotados, atravessavam o corixo, gritando a derrota.

E o bando de mutuns, mais de doze, corriam em círculos, agitando folhas secas do chão, e soltando pios desafiadores. Os vistosos machos, voavam sobre as escuras fêmeas, e eram impedidos por outros pretendentes, formando um torvelinho de asas no lusco fusco das árvores.

O mais incrível dos sons, começamos ouvir nas distantes profundezas das matas, era o esturro grave ininterrupto, da onça pintada, era o canguçu raivoso, talvez se mostrado a uma fêmea.

A PESCA DOS TUCUNARÉS. A ONÇA PINTADA FÊMEA NO CIO. OS 3 MACHOS, ESTURRANDO, E SE ENFRENTANDO PARA A CONQUISTA DA FÊMEA.

Logo depois de ouvirmos todos esses sons. no corixo do Rio Piquiri, paramos em um barranco para “nos compormos”, o Chico saiu andando pelo barro já começando a endurecer, e nos chamou. Olhem aqui um rastro fresco da pintadona. Não temos nenhuma prática nestes rastreamentos, mas ele sim. Ele nos mostrou, onde ela saiu do mato, bebeu água e voltou pela mata. Ainda entrava água no rastro no limite da água. Não vamos brincar não, ela, a grande onça pintada, está ainda por aqui.

Logo em seguida, o Chico ficou sério e quieto, dizendo: -Vocês ouviram um esturro de onça outra vez?

– Não ouvimos com clareza! Silêncio na mata, até que um casal de araras barulhentas passou sobre nós. Em seguida a mata fechada, tornou silenciosa, como se o esturro da onça, tivesse apagado todos os sons.

Eu e companheiro, nos acomodamos melhor no banco, e ficamos na escuta. O barco deslizava ao sabor da lenta corrente do corixo. Bem ao longe, distante mesmo, ouvimos finalmente um esturro de um canguçu. É de arrepiar! No silêncio da mata, aquele som, como uma sombra na escuridão, ocupou todos os espaços. Os pássaros silenciam, galhos que instalavam, nos fazia sobressaltar em busca da figura majestosa da pintada.

Os tucunarés, as vezes passavam riscando as limpas águas do corixo. Contudo, as varas ficaram nos descansos. Nossa atenção eram as árvores da floresta que aos poucos iam ficando maiores e mais fechadas. Depois de alguns quilômetros de curvas sinuosas, não mais escutamos os esturros.

Voltamos a pescar. Iscas artificiais, eu, com uma araçatubinha, peguei o primeiro tucunaré. Em seguida o Gustão “ferrou” outro e o Chico também. Havíamos encontrado um cardume de famintos e agressivos tucunarés. Realmente é muito emocionante e saudável este tipo de pescaria. Em um lugar como aquele, podemos atingir o máximo do prazer com a pesca esportiva.

A água limpa permite ver o peixe parado à espera de sua presa; então, arremessa-se a isca artificial bem à sua frente, recolhendo-a em seguida com pequenos puxões, dando ao tucunaré a impressão de estar diante de uma presa fácil de ser comida. Seduzido, o peixe investe impetuosamente sobre ela, mas ao perceber que está preso, descarrega toda sua agressividade, desenvolvendo uma força muito além da possibilidade de um
peixe de seu porte. A luta que se segue é fascinante, pois exige força, destreza e bons recursos (linha apropriada, carretilha, etc) para impedir que o peixe arrebente a linha ou a enrosque em alguma galhada, fugindo do nosso alcance.

Convém dizer que devolvemos ao rio os peixes médios e pequenos, ficamos somente com os grandes, destinados à nossa alimentação do dia, pois nosso objetivo é a pesca esportiva, que não agride nem desrespeita a natureza.

A canoa ia lentamente, ao sabor da correnteza, descendo pelo grande corixo, e a cada momento a mata tornava-se mais fechada, e as árvores maiores e exuberantes. Depois de alguns quilômetros, uma clareira bem significativa se abriu a nossa frente. Um lugar de sonho. Grandes árvores copadas, molduravam os limites da limpa água da pequena baia, que ali se formava.

Eram 13 horas, ótimo momento e lugar para um almoço. Encostamos à sombra de uma grande piúva, desembrulhamos a merenda e começamos a comer felizes da vida.

Eu e o Gustão logo começamos a comer. O Chico não. Ficou, como se diz, com as “orelhas em pé”. Levantou-se e caminhou calmamente pela areia branca da praia.
Olhou bem para o chão, mediu passos e voltou rapidinho, sorrateiro. –Vamos, vamos, que tem um canguçu por aqui e está bem perto! O rastro dele está bem fresquinho ali na areia, ainda está minando água dentro deles. Na segunda fotografia vemos o Chicão que voltara rapidinho, dando a notícia para sairmos do barranco sombreado. Seguro morreu de velho.
Rapidamente levou o barco para bem longe do barranco e amarramos a canoa nos últimos galhos da grande figueira que nos fazia sombra.

O Chico insistia emocionado e cauteloso: –Escuta, dizia ele, emocionado, a onça, está aqui por perto. Ficamos em silêncio. Passados alguns minutos, ouvimos, nitidamente, alto e claro, o esturro arrepiante do canguçu, nos pareceu bem perto de onde estávamos.

Não falamos nada, apenas empurramos o barco para o meio da baia, e com muita cautela continuamos a prestar atenção na mata, a margem esquerda do corixo. Qual não fui nosso espanto, quando no lado oposto um novo esturro ouvimos. Eram duas onças, e certamente uma fêmea por perto e no cio.

Deixamos o barco, lentamente descendo a corrente, com toda atenção às matas. É a onça mesmo. Vocês não ouviram? Francamente, nem eu nem o Gustão tínhamos ouvido perfeitamente devido a infinidade de sons da floresta.
Eram mais ou menos 13:30h, já havíamos percorrido uns 4 km de corixo, quando o Chico se arrepiou e nos pediu silêncio novamente. –Vocês não estão ouvindo nada? Perguntou sussurrando. –Não, respondi. –Prestem atenção, tem onça esturrando e miando aí dentro do mato.
Com o ouvido mais apurado, e em completo silêncio, deixamos a canoa deslizar lentamente à 1km/h pelo corixo para dentro da mata.
Ouvi um barulho à minha direita e virei-me rapidamente: era um bando de mutuns caminhando por entre as folhas. Acredito que o mutum seja, entre todas as aves galiformes cracídeas do Brasil, a maior e a mais bela. A fêmea é escura. Os machos, salienta-se pelas suas cores maravilhosas: asas pretas como as dos machos, mas o corpo é de um carijó dourado que as tornam de uma imponência sem explicações.

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Casal de Mutuns no meio da mata.

Fiz sinal para o Chico, mas ele se negou: não, não eram as aves que haviam aguçado seus sentidos.
Passado um pouco de tempo, depois que os mutuns sumiram entre as árvores, eu ouvi, o que o Chico já havia ouvido.
Lá das profundezas da mata, um som cavernoso, gutural, que parecia contornar as sombras e caminhar com elas até vibrar em nossos tímpanos. Era o verdadeiro esturro de uma onça pintada na mata do Piquiri! Eu e Gustão nos arrepiamos, somente o leve barulho do remo com que o Chico mantinha o barco no meio do corixo diferenciava-se dos sons dos pássaros, do assovio longo e fino do bando de mutuns, dos barulhentos papagaios que passaram, e de numerosos outros sons.
Timidamente, e agora com respeito, recomeçamos a pesca. Parecia que, da mata, havia olhos a nos observar…E realmente havia! O Chico estendeu o braço, e com a voz emocionada, disse: –Olhe lá a “bitela”, e seu braço esticou para frente e a estibordo do barco.

Em uma pequena praia, a uns 70m de nós, estava uma pacata onça lambendo a pata, com uma serenidade tão contagiante, que não chegamos a sentir nenhum medo. Eu, sem tirar os olhos dela, comecei a procurar a máquina fotográfica em minha mochila. Que dificuldade para a achar! Peguei a máquina e liguei, receando que aquele belíssimo animal se assustasse e sumisse na mata, impedindo-me de fotografá-lo. Com certeza era a fêmea no cio, atraindo os machos.
Nesse tempo todo, a canoa continuou descendo pelo corixo; quando realmente levei a câmara em posição, estávamos a menos de 50m da enorme onça. Ela não se abalou nem um pouco com nossa presença, manteve sua atitude de rainha do Pantanal.

O Chico, com sua calma característica, foi pilotando serenamente o barco para o lado da praia onde estava o majestoso felino.

Eu estava apenas olhando na tela de cristal da máquina digital Mavica. Uma máquina fotográfica, tão modesta e tirando tantas fotografias, na verdade ruins, de momentos tão importantes de nossa aventura.

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Esta fotografia foi a mais próxima que tiramos dela. Era um animal maravilhoso, que depois descobrimos ser uma fêmea e estava calma daquela maneira por estar no cio, além de estar muito bem guardada por, no mínimo, 3 grandes canguçus. O Chico segurou a canoa no remo um bom tempo, enquanto nós observávamos o animal.

Depois de um tempo a onça levantou e deu um pequeno rosnado. Chico, lentamente, foi conduzindo o barco para longe. Ela não andou muito, na primeira sombra deitou-se novamente, e imponente, ficou observando nossa partida.

O Barco rodou mais uns 30 metros, aí o arrepio real. Ficamos estáticos e congelados. Nas nossas costas, mimetizando-se com os galhos, um grande macho, caminhando para nós, éramos o inimigo. A máquina creio disparou sozinha. O Chico com toda a cautela legou o motor, e saímos voando de lá.

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Segundo o Chico ele já estava com os dentes à mostra, e se não fosse o toco à sua frente, poderia ter nos atacados. Os músculos do piloteiro pareciam um motor de popa silencioso, enquanto afastava cuidadosamente a canoa do macharrão.

Ainda tive a audácia de tirar mais uma foto, pois quando a canoa foi manobrada para se afastar, acabei ficando numa posição ainda mais próxima ao canguçu que, em câmara lenta e com os dentes à mostra, aproximou-se mais da água. Cheguei a sentir o característico cheiro do felino no ar.

Depois de nos distanciarmos bem tirei a última foto do lugar onde vivemos essa grande emoção

Bem ao fundo da fotografia está o lugar onde havíamos visto a onça. Será que ela ainda estaria por lá? Paramos, enquanto o Chico rodava a canoa lentamente, bem no meio do corixo. Francamente, estávamos muito emocionados. Eu, particularmente, achava que ela não estaria mais por lá, porém…Era bem mais prudente continuar tomando distância, do perigo.

Depois de uns 15 minutos descendo o corixo, pedi ao Chico que parasse em uma bela praia, para nos hidratarmos. Nem bem o barco embicou na areia, parando instantaneamente. O Chico, então, com seu sorriso amarelo e balançando a cabeça disse:

–Passamos por uma que “não foi mole”. Para mim aquele macharrão ia voar sobre nós.
Praticamente até aquele momento, eu e Augusto não havíamos de forma concreta tido a real consciência do perigo pelo qual tínhamos passado.

Olhe, prosseguiu o Chico, já sei de muitos que foram mortos por macharrões em idênticas situações. Eu mesmo, lá para os lados do Paraguai-Mirim, já tomei o carreirão de um bicho destes, e somente me salvei porque o motor de 40HP estava ligado e eu saí voando, nem coragem de olhar para trás eu tive. Para mim parecia que a qualquer momento o bitelo ia abocanhar meu pescoço. Não é mole, não! Acho que em meus 25 anos de Pantanal nunca passei um apuro daqueles.

Aí, sim, que eu e Gustão ficamos arrepiados mesmo. Todavia, resolvemos que no outro dia voltaríamos lá, só que sempre no meio do corixo. A pescaria havia sido excelente, e em bem raras vezes senti tanta emoção assim em um mesmo dia, em minha já longa vida de aventuras. Na descida pelo Rio Piquiri, continuamos a ver muitas aves e animais. Incontestavelmente, é uma região muito rica.

Estávamos descendo o Piquiri quando encontramos o Machado & Patrick em uma pousada que existe a uns 15 km antes da barra do Piquiri com o São Lourenço. Um lugar muito agradável, em cujas árvores havia numerosas e maravilhosas araras azuis. O Machado havia conseguido, com o gerente da pousada, 100l de óleo Diesel, o que foi muito propício pois todo combustível que pudéssemos arranjar seria muito importante para nosso retorno a Corumbá.
Contamos aos companheiros a história das onças que havíamos visto, mas em virtude do cenário que estávamos vendo no momento, da emoção de araras voando pelos numerosos pés de cocos bacuris, nossa aventura não deu nenhum IBOPE, como podemos dizer, “passou batida”.

Bem, isto tudo em uma aventura é normal, por isso que procuro gravar as coisas e meditar um pouco sobre tudo que acontece. Mais tarde com mais calma, pode-se avaliar os acontecimentos e perpetuá-los em nossa mente.

Quem mais gostou realmente do dia, da pesca de tucunarés e do esbarro com os macharrões foi o Chico. Realmente mesmo para um pantaneiro, os acontecimentos do dia foram muito emocionantes.
Pegaríamos quantos tucunarés quiséssemos, mas, acho que o que retiramos da água neste dia foi um exagero. A fisionomia do Chico mostra a felicidade que ele estava, pois quem o conhece sabe que para ele abrir um sorriso deste não é nada fácil. Precisa muitos tucunarés e uma onça pintada.

Eles ficaram horas, cantando e tirando os filés dos tucunarés. Para os habitantes do lugar, quanto mais tucunarés forem pegos é melhor, pois ele é um intruso vindo da Amazônia.

Estamos comemorando o dia que havia sido de fortes emoções. Em todos os sentidos. Todos estavam felizes e ainda mais esperançosos para o dia seguinte. Pescaria tem essa grande vantagem, sempre esperamos que o próximo dia seja mais ou tão emocionante quanto aquele que está passando.

No outro dia, as 8:20 da manhã, eu e Gustão acordamos tranquilos, como sempre.

O dia estava cinematográfico. O céu estava coberto por uma camada descontínua de altos estratos, e nos espaços entre as nuvens, o azul anil da atmosfera atestava a limpidez do ar do Pantanal. O sol nascente decompunha seus raios luminosos em um espectro de cores, formando quadros de rara beleza, em harmonia com as matas, com as águas, com os pássaros.

Assim, lá fomos nós novamente para o corixo dos tucunarés.
Fui muito mais tranquilo, toda a rota até o ponto de pesca e das onças, que eu marcara “Waiponts” no GPS.

Quantos pássaros vimos pelo trajeto neste segundo dia! A riqueza da fauna na região é inquestionável: Numerosos aracuãns, que por não serem perseguidos atualmente, tornam-se mais dóceis, permitindo até que nos aproximemos deles para observa-los melhor.

Anhumas, em meu modesto ponto de vista são realmente as rainhas do pantanal, pelo seu porte altivo, pelo seu olhar atrevido e agressivo, principalmente quando nos aproximamos de seu ninho. Por sinal, nidificam no chão, em cima dos camalotes. Já presenciei casais de anhumas voando sobre companheiros que chegaram muito perto de seus ninhos. São extremamente barulhentas e espalhafatosas.

Jacutingas são aves gordas, da família das galináceas; com seu voo lento atravessam o rio de uma margem a outra, como se estivessem brincando, e nesse voo fazem uma algazarra característica, para chamar a atenção.

Colhereiros, em pequenos bandos, com sua cor vermelha mais pareciam enfeites colocados nas praias de areia branca, ao longo de nosso caminho. São muito discretos: quando a canoa se aproxima, eles levantam voo ordenadamente, um após o outro, em uma disciplina quase militar.

João Grande, ou Jaburus, ou Tuiuiús: São realmente consideradas as aves símbolo do Pantanal de Mato Grosso. Também, com seus 2m de envergadura, não é para menos! Caminhavam lentamente durante nossa passagem, deixando bem claro que nós os estávamos perturbando em sua busca por alimentos.

Vendo tantas belezas, os 60 minutos de viagem, passaram despercebidamente, enquanto cruzávamos os 33Km. Até o corixo. Na boca do Corixo dos Tucunarés e das onças, desligamos o motor de popa, que faz um barulho, e entramos silenciosamente pelo corixo, ao sabor da lentíssima correnteza e do remo do Chicão.
Aos poucos, os barulhos da mata começaram a tomar conta dos nossos ouvidos.

Os primeiros sons identificáveis foram os dos jaós, que às dezenas, piavam pela mata.
Japuíras, construindo seus ninhos como tecelões, bem à beira da água, atestavam sua instintiva inteligência, pois se algum animal vier comer seus filhotes, como macacos, tucanos e outros, o galho do ninho enverga, entrando na água e impossibilitando o saqueador de cumprir seu intento.

Achamos o cardume de tucunarés a uns 3km abaixo da entrada do corixo, foi uma festa. Nossa técnica de pesca colocada à prova, nossas emoções indescritíveis e ainda restava chegar no domínio das onças pintadas…. Estávamos ainda a uns 2km do lugar onde havíamos visto as onças. Paramos a pesca e deixamos o barco ir rodando lentamente sem nenhum barulho. Não saberia descrever quantos ruídos, sons, cantos, a mata emite no silêncio da travessia.
Identifiquei novamente os assovios agudos e típicos do bando de mutuns 1 km antes da praia das onças.
Fomos chegando…Vi a praia, mas nada das pintadas! Um pouco mais adiante, o Chico estendeu o braço para a sombra de uma grande árvore ao lado da praia. Que espetáculo inesquecível: no sombreado da floresta, estava um magnífico casal de felinos! Duas pintadas maravilhosas, com certeza o macho dominante e a fêmea dominada. Que maravilha indescritível é a natureza! Eram duas espécies de canguçus realmente extraordinários, quer pelo porte, quer pela elegância, quer pela displicência com que olharam para nós. Ficou claro que não queriam ser incomodados em sua intimidade, pois se levantaram e desapareceram entre as árvores, como duas sombras na escuridão da mata. Ficamos pasmos pela leveza e elegância com que se moveram, desaparecendo, com seu extraordinário mimetismo, bem “debaixo de nossos narizes”.

Volta do corixo com os tucunarés pegos. A tempo: acho que ninguém acreditou que vimos as onças juntas e se “acariciando”. Segundo consta elas se acasalam muitas vezes, durante o período do cio.

Não é para nos gabarmos, mas no segundo dia demos realmente uma demonstração da pesca esportiva ao tucunaré: arremessos precisos na boca dos bichões; linhas finas e varas delicadas em árdua luta com os esportivos peixes, pulos espetaculares dos maravilhosos exemplares pescados, dos quais a grande maioria foi solta. Assim mesmo, dá para ver, nas fotos seguintes, a grande quantidade de peixes que ainda trouxemos para o barco. Realmente foi mais um dia em nossas vidas que não esqueceremos jamais.

A tarde chegou um pouco sombria, o céu coberto por altos estrados.

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O dia havia começado lindo e terminou diferente. À tarde as lanchas, Marajó 19, do hotel do Porto Jofre, estavam retornando. A água do rio, escurecida pelas sombras das árvores à sua margem esquerda, desenhavam dinâmicos quadros de rara beleza quando as possantes máquinas passavam e levantavam espumantes ondas no entardecer pantaneiro.

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Depois de pouco tempo, a margem direita do rio foi iluminada, pelos raios do sol que se refletiam na estratosfera. Parecia que o dia ia nascer novamente. O raiar do dia e o pôr do sol no pantanal são muito semelhantes: somente variam as cores, pois o primeiro tende para o vermelho e amarelo forte, e o segundo é um caleidoscópio de matrizes que dependem muito das condições da atmosfera. Nessa visão tudo se tingiu de cores, mas é um flash de tempo, é ver e fotografar, pois passados alguns minutos tudo muda…. É uma dinâmica ininterrupta de sons, cores, odores e luzes.

O Pantanal é simplesmente lindo, é quase um estado de espírito.

A VIAGEM. Pelas medidas aferidas no GPS, havíamos navegado 380km dos Rios Paraguai, São Lourenço e Piquiri com o Shekinah. Depois de aportados no Piquiri, navegamos para pescar com a canoa mais uns 175km. Assim, havíamos andado pelos rios aproximadamente 555km.
E teríamos, certamente, os 380Km de volta a Corumbá.
Estava preocupado com a volta por vários motivos:
O combustível: não tínhamos óleo diesel suficiente, para voltarmos dentro das normas de segurança da marinha.
As condições meteorológicas: o tempo estava instável em vários pontos de nossa rota.
O barco: o Shekinah nunca havia feito uma viagem tão longa sem manutenções preventivas.
Somente eu e Chico tínhamos estas preocupações em nossa mente. Mas, confiantes como sempre, na quinta-feira, às 06:45h da manhã, levantamos âncoras do Rio Piquiri com destino a Corumbá.
A altitude do lugar que estávamos era de 117m pelo GPS.

A VOLTA.

A noite foi de recordações da viagem, do momento mais empolgantes que tivemos. Para a dupla Machadinho e seu filho, foram os pintados e cacharas que pegaram, e toda paisagem que viram pela grande viagem que fizemos.

Para minha dupla, eu e Augusto, indiscutivelmente o momento de maior emoção foram as onças no corixo do rio Piquiri. Nunca imaginei ser testemunha de um fato como aquele, é realmente inesquecível.

O Machado abriu um litro de whisky, mas o Chico não bebe, então andamos tomando uma dose, antes de comermos filé de Tucunaré a parmegiana, que por sinal estava uma delícia. Depois do jantar, enquanto a cozinha era arranjada e o Chico fazia uma revisão na chalana, nós subimos no deque, para vermos as estrelas. A visão estava prejudicada, pelos altos estratos, que navegavam para oeste, permitindo apenas algumas janelas para vermos o céu.

Acordei no outro dia, com o som dos dois motores, funcionando, o comandante tinha dado a partida para o retorno. Saí para me despedir das águas do rio, os dois motores empurravam a chalana rio a baixo. A força dos potentes motores, agitavam e empurravam as águas, fazendo as canoas a reboque dançarem nas ondas.

Fiquei um bom tempo vendo a turbulência causada pelas hélices. Imaginando a volta, pois retornar de uma grande viagem e aventuras, pelos meandros do Pantanal sempre nos dá uma certa nostalgia, às vezes, sentimos que aqueles momentos não voltarão mais. Na proa do barco, olhei o horizonte distante, e relembrei as palavras de Guimarães Rosa, no Livro Grande Sertões e Veredas: “Não nos importa a saída ou a chegada, o importante é o trajeto”.

Com estes pensamentos animei bastante com a viagem da volta, tínhamos tantas paisagens pela imensidão do Pantanal. Tantas aves, animais e plantas, para compor essas majestosas paisagens, que o trajeto seria uma agradável trajetória, pelas águas dessa imensa bacia hidrográfica pantaneira.

Descemos os rios fazendo uma média de 16km/h, que representava 6km/h a mais do que quando subimos. A diferença é a velocidade da corrente da água, que ao final da viagem tem grande importância para o gasto de combustível e o tempo.

Fomos descendo o rio, com mais velocidade, mas tudo no trecho que estávamos o Chico estranhou não encontrar nenhum pescador. Ele conhecia um que era seu amigo, em uma longa curva do rio São Lourenço, onde agora estávamos, ele viu mais distante da margem, debaixo de uma imensa mangueira um casebre, que era a moradia do pescador.

Notei uma grande preocupação do comandante, e falei pare o barco Chico. Vamos ver seu amigo.

Ao longe vimos uma choupana retirada menos de uma centena de metros da margem. É aqui que mora o Jóca. O famoso pescador e pirangueiro. Ele é uma pessoa alegre, e divertida, onde ele está pescando, pode parar, que o peixe estará lá. Mas o quadro da choupana não era de alegria, mas abandono. Vamos lá Chico, ver o que está acontecendo, pois nem a canoa dele está aqui como você está dizendo.

Descemos, fomos caminhando, o barulho das folhas secas era sonoro a nossos passos. Nada nos observava, o ambiente era estático e sombrio, triste sujo e sem vida. Apenas folhas mortas que se agitavam ao vento.

Mais perto da choupana, silhuetas apareceram na mísera porta e na única janela da habitação. O Chico estranhou, mas foi andando. Eu segui atrás, um pouco ressabiado. As silhuetas se movimentaram, as da janela pareciam ser duas ou três crianças. Mais próximo, uma senhora, não muito velha, mas muito “acabada” e cabisbaixa, saiu na soleira da porta. Era a mãe do Jóca.

Chico foi dizendo alto, cadê Jóca, dona?

Ela não respondeu. Fomos nos aproximando, e já bem perto pude avaliar a figura de amargura e sofrimento da senhora. Ela respondeu você não soube, não?

O quê, dona Maria?

Faz uns 15 dias, o Jóca se arrumou todo, pôs sua melhor roupa e foi em um terço, que ia ser rezado lá nos Carandá. Soluçando, repetia: não voltou mais…
Depois de 2 dias acharam a canoa, mas nada do meu filho. Somente uma semana depois encontraram o corpo. Agora, estou aqui sozinha, mais as crianças para criar, é muito triste…
“A desolação era tanta, que sentimos o chão fugir sob nossos pés.
Nada poderíamos fazer. Cabisbaixos e reverentes, demonstramos nossos sentimentos, demos alguma ajuda de víveres e a última cesta básica, e saímos, cabisbaixos. Que sentimento de dor e desolação, abateu profundamente em nossas almas.

O Chico entregou as coisas, e conversou com ela, ele me disse que ela já estava esperando um irmão do Joca, leva-la mais as crianças para Corumbá.

Poucos quilômetros após nosso triste encontro, no alegramos que essa maravilhosa grande árvore, usada pelos os índios e pantaneiros para fazem suas canoas, as pirogas. Mesmo com esta maravilhosa imagem, a sofrida mãe do Joca, não saia de minha mente. Que solidão, que tristeza, nas imensas maravilhas do Pantanal, uma mãe desolada, torna-se um ponto de amargura e tristeza.

Horas e horas depois, bem perto do Rio Paraguai, encontramos este barco de pescadores profissionais. Havia no barco famílias inteiras, inclusive com muitas crianças. O Chico disse que eram pescadores saindo da reserva do Carcará. Estavam clandestinos, pois era uma área onde eles não podiam pescar.

Lá ao longe, quando ainda não tínhamos feito a curva, eles correram para o barco – casa, pensando que fôssemos a polícia florestal. Realmente o grande problema do Brasil é esta constrangedora diferença entre as várias camadas da sociedade. Pode-se imaginar a vida destes homens, mulheres e crianças em uma paupérrima embarcação como esta? Os guardas toleram uma certa pesca predatória para a miserável sobrevivência deles. Contudo, e o futuro, destas crianças? Como será a velhice destes pescadores e a existência destas pessoas. Isto eu vi há muitos anos, quando os governos se preocupavam com a ecologia, não saberia dizer como estão as coisas hoje.

O Chico queria passar pela Serra do Amolar ainda com a luz do dia, pois durante a noite as sombras da serra atrapalham e confundem muito a navegação, oferendo riscos desnecessário.

Enquanto o Shekinah cortava as águas do São Lourenço, em busca do Rio Paraguai, para cruzarmos com luz a Serra do Amolar. Eu fiquei na proa, vendo o rio passar e minhas lembranças, passando também.

É incrível a desolação das pessoas ribeirinhas que moram nesse estirão interminável de rio. Ou moram em barcos improvisados em casas, sempre em busca do sustento e da sobrevivência. Deus queira que minha visão esteja distorcida, que para eles a vida é assim mesmo, vivam harmonicamente com o passar das águas, e o correr da vida.

Andamos praticamente 100km, sem nada vermos para um apoio a elas. Imaginando a aventura que estávamos vivendo, é maravilhoso, a natureza, os pássaros, os animais e os peixes. Contudo, temos que nos abstrair para aproveitar, caso contrário, uma tristeza muito grande nos invade a alma.

CHEGANDO NA FOZ DO SÃO LOURENÇO COM O PARAGUAI.

Chegamos às 17:45h, foram 11 horas de viagem para percorrer 160km, sem computar neste tempo, as paradas técnicas.
Foi com bastante emoção que vimos ao longe a Serra do Amolar. Tínhamos passado pelo Carcará, onde a paisagem estava muito linda. Logo passamos pelo Hotel da Mesbla e então pude notar como é grande mesmo a construção deste hotel. Que tempos áureos foram os anos entre 1970 a 1983, que permitia, a uma firma como a Mesbla, construir neste longínquo paraíso uma obra monumental como esta. Vivemos períodos ótimos e na ocasião nem demos conta do quanto éramos felizes, não sabíamos.

Acho que a vida é assim mesmo, somente damos valor, àquilo que não temos ou ao que ainda almejamos, pois o que temos torna-se um passado de antigas conquistas, e nossa decadente filosofia não tem nos ensinado a valorizar e preservar com amor e entusiasmo, nossas aquisições. Digo isso em todos os sentidos de nossas vidas!

Isto tudo é bem evidente em nossas viagens. Por exemplo, eu e Patrick ficamos superfelizes por estarmos vendo a Serraria do Amolar. Chegando ao Amolar, estávamos em busca de outros portos, outros horizontes. Se a Serraria do Amolar é tão linda, por que fomos até tão distantes em busca do Piquiri? Bem, a busca, a aventura, estão em nossos corações, queremos ir cada dia mais longe, queremos cada dia conhecer novos lugares, queremos sempre viver novas histórias, pois as conquistas passadas são o passado e tendemos a deixá-los sempre para trás… E, buscar novos horizontes! Quando chegamos ao Rio Paraguai parece que uma grande etapa da viagem havia sido concluída. Senti uma emoção bem grande ao adentrar o imponente rio. Em sua margem direita estava a marcante morraria da Serra do Amolar, isto é, a estibordo do Shekinah.

Em meio a uma planície alagada, que é uma das maiores do mundo, a aproximação de uma serra parece mudar tudo na ecologia do ambiente.
O sol encimando o alto da cordilheira prenunciava seu ocaso por trás dos paredões abruptos da serra. O pôr do sol por trás das montanhas era o temor do Chico, pois seria muito importante atravessar os 15km do Amolar antes que a luz do sol lançasse suas sombras no leito do rio. Quando isto acontece, as sombras se confundem com a escuridão da superfície das águas do rio, criando contrastes que quase impossibilitam a navegação no lusco-fusco da noite, nesse trecho perigoso do rio.

Nós, no momento, não participávamos dos temores do comandante, pois o panorama era tão maravilhoso, que queríamos vivenciar ao máximo estes inesquecíveis momentos. Era tempo de sonhar, recordar, relembrando as viagens passadas e os companheiros que aqui já não estão mais. Temos mesmo que acreditar em uma outra vida espiritual além desta, pois caso contrário, um grande vazio abre-se em nosso coração, pois nossa existência, é muito efêmera, frente à grandeza dos tempos.

Passei o timão para o Chico e convidei os companheiros para subirmos na cobertura, a fim de desfrutarmos da paisagem durante a passagem pelo Amolar. A visão era maravilhosa, os raios de sol se decompunham nos altos estratos, criando quadros de rara beleza que se alternavam continuamente. Essa era nossa visão para oeste, pelos lados da serraria e do pôr do sol.

Nestas fotografias vemos o sol chegando na crista da Serra do Amolar. Na segunda fotografia, o exato momento em que o sol se escondeu atrás da morraria. Visões inesquecíveis de uma grande aventura.

Eu e o comandante também tiramos uma foto de recordação, da grande viagem.

Eu e comandante Chico no último pôr do sol da grande aventura. A Serra do Amolar já está a mais de 10km. Tínhamos passado o estreito do Amolar, estávamos fora de perigo. A luz do sol poente vai se decompondo nos altos estratos da atmosfera.
A água do rio, como um espelho, duplicava as imagens, como se pode confirmar pela fotografia: tudo o que se vê em cima é refletido em baixo. Esse fenômeno que, durante o lusco-fusco, dificulta sobremaneira a navegação, pois pensando ser o rio pode-se entrar “de cara” em uma barranqueira, o que causaria um desastre de proporções inimagináveis.

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Este é o quadro que fica em minha mente do final desta grande viagem. A luz do sol poente, provavelmente a minutos atrás do Andes, iluminava os altos estrados, essa celeste reflexão, clareava as imensas baias da região, que refletiam e decompunham as luzes novamente para o espaço, criando esta áurea de belezas indescritíveis.

A bombordo, isto é, para os lados da margem esquerda do rio, era a planície pantaneira que se confundia, à distância, com a linha do horizonte. Outro espetacular cenário, a luz refletida nas inúmeras baías e corixos criando uma luminosidade incrível na atmosfera. Na realidade, a luz do poente, está refletido as águas da imensa Baia de São Francisco, com mais 30Km de extensão.
E, destas águas, riquíssimas em alimentos, centenas, milhares de aves saciadas, levantavam voo em busca de seus pousos seguros, na Serra do Amolar.
Era realmente emocionante ver as batuíras ou irerês, em voos de formação: a líder à frente e todo o bando formando uma flecha, acompanhando o sentido exato do deslocamento pelo púrpuro céu das encostas da serra.

Os casais de araras vermelhas também se dirigiram, aos gritos, para a serraria. É incrível, mas as araras estão sempre aos pares.
O que mais nos chamou a atenção foi um bando de colhereiros, que com sua plumagem vermelha e seu voo ondulado e sincronizado, cruzou o rio em um voo baixo, quase roçando a água. Eram tão combinados que, à medida que se distanciavam, pareciam ser uma só ave, imensa, a cruzar o espaço. Misteriosamente, desapareceram em uma curva do rio.

Pródiga natureza que se expõe de forma tão exuberante, para em seguida se ocultar nas sombras, com novos capítulos e novas visões. Tantas aves, tantos voos, que depois se diluem no espaço. Não é sem razão que os Egípcios acreditavam que Íbis, sua ave sagrada, fosse capaz de ir de um mundo a outro, pois ao pôr do sol elas simplesmente sumiam das margens do Rio Nilo, e ninguém sabia para onde elas iam, assim foi aquele momento.

Felizmente quando o sol atingiu a crista da morraria já estávamos nos Novos Dourados, portanto praticamente fora da morraria do Amolar.
O Chicão, mais uma vez, tinha razão, pois quando o sol ficou atrás das montanhas as sombras que se projetaram na superfície do rio, confundiram todo o espaço que nos cercava. Nessa hora perde-se os parâmetros, e às vezes, a mata-galeria parece subir no espaço, enquanto, na escuridão, o rio desenhe curvas que simplesmente não existem. Somente um comandante que conhece o rio de cor é capaz de navegar durante o lusco fusco, pois sabe exatamente para onde o rio está correndo.

Iríamos navegar a noite toda, para chegarmos a Corumbá no outro dia pela manhã. Aproveitamos a claridade restante do poente para jantarmos. O Roberto serviu um soberbo filé de pintado com alcaparras, arroz à grega e salada, o jantar da despedida foi à altura da comitiva, muito bom.
O Gustão e Machado fartaram-se com uísque e com o bom vinho do Machadinho.
Depois do jantar subimos novamente na cobertura para vermos as estrelas. Vênus, esplendorosa, despontava no céu como um farol entre as estrelas. Curiangos e morcegos insetívoros, em ziguezague, capturavam os milhões de insetos que voavam sobre a água. O Shekinah ia sereno, cortando o mar de águas do grande Rio Paraguai.

Todos foram ficando com sono e procuravam se recolher. Eu havia visto relâmpagos e raios cortando o espaço a bombordo de nosso barco. Calculei que estariam a uns 20km de distância do CB (cúmulos nimbos) de grande tamanho. Seu topo deveria estar a mais de 15.000m de altura, e os relâmpagos desciam como cascatas de fogo de seu cume de gelo. Como sempre, é um grande espetáculo e uma grande preocupação, pois nossa rota e seu deslocamento, de Este para Oeste, tinham grande chance de se cruzarem.
Desci e alertei o Chico. Pelos meus cálculos, estávamos à 1:30h do cruzamento com a tempestade.
Pedi ao Chico que chamasse, pelo rádio algum companheiro que estivesse Águas a Baixo, na região do Coqueiro, para saber das condições meteorológicas. Silêncio total, respostas eram estáticas no rádio! Significava que as coisas não estavam boas, ao Sul de nossa rota.
Nos 30 a 40km que nosso fraco rádio alcançava não havia nenhum barco navegando na escuta. Tornamos a chamar algumas vezes, inutilmente. O jeito era tocar para frente e manter os olhos no tempo.
O Shekinah estava soberbo, navegando a mais de 18Km/h sem uma falha, sem uma tremida, muito bom, bom mesmo.

Coloquei um banco na proa do barco e fiquei fazendo companhia para o Chico.
Infelizmente, o CB, estava cada vez mais perto, e em nossa rota de navegação cruzá-lo seria inevitável! Aos 30 minutos do novo dia, encontramos o monstro. O vento soprava violentamente, com mais de 40 nós. A navegação não estava fácil, mas quando a chuva e o vento chegaram juntas não tivemos outra opção a não ser ancorar perto de uma grande árvore a bombordo, procurando abrigo, pois o vendaval que se anunciava não seria brincadeira. É muito arriscado cruzar um CB com uma embarcação ou uma aeronave. Nos grandes navios e jatos eles dispõem de radares meteorológicos, justamente com o objetivo de rastrearem os cúmulos nimbos, no mar ou no espaço, para evita-los.

Depois de bem amarrado o barco, toda a tripulação foi, rapidinho, dormir. Eu deitei também. Fiquei ouvindo a tempestade urrar lá fora. Sabendo que não corremos perigo nenhum, é emocionante estar no meio de um temporal deste quilate. Depois de 1 h ele foi passando, e após 15 minutos de trégua, subi na cobertura para analisar o tempo. O CB ia rugindo para oeste, e no céu, as estrelas já apareciam. A atmosfera, perfeitamente limpa pela chuvarada, parecia trazer o firmamento ao alcance de nossas mãos na escuridão da noite. Como são incríveis as abruptas mudanças da natureza.
Chamei o Chico. Companheiros, o mau tempo já se foi, soltem as amarras e liguem as máquinas.
Temos ainda 160Km de rio para chegarmos a Corumbá.
Eles foram rápidos! Em menos de 10 minutos estávamos navegando calmamente e agora auxiliados pela luminosidade do espaço sideral, lindo, muito lindo! Um ambiente inesquecível, das silhuetas da mata galeria balizando o deslocamento da embarcação.

Fiquei ali mais uma hora com eles. Às 3:00h fui deitar, na tentativa de dormir um pouco.
Felizmente, dormi até às 6:30h.
Conforme o previsto, o Shekinah navegou a noite toda, e com o Chico e auxiliar revezando-se chegamos no posto de abastecimento do porto às 7:30. Tirando as paradas, gastamos aproximadamente vinte e quatro horas para a volta, ou seja, quatorze horas a menos do que havíamos gasto na subida até o Piquiri. Esta diferença, em primeiro lugar deve-se à correnteza dos rios, e em segundo, ao peso da embarcação, pois na subida tínhamos quase 2.500kg a mais de carga.

No outro dia logo de manhã, chegamos a Corumbá, antes de irmos para o porto, passamos no posto para abastecimento da embarcação, é norma todo sócio ao terminar de usar o barco tem deixa-lo com os dois tanques cheios de combustível.

O Shekinah está aí no abastecimento, como são mais de 1.500l de óleo, a demora é grande. É uma imensa alegria partir para a viagem, e uma realização chegar de volta.

Chegado no Porto do Hotel Gold Fish, nosso destino

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Aí está o heroico Shekinah, que havia completado uma viagem de 60 horas e 20 minutos. Eu, somando os deslocamentos na canoa, percorremos, pelo GPS, 987km de rios. Estou ao lado do Roberto, nosso prezado cozinheiro, que se portou muito bem durante toda a viagem.

Saímos com as caminhonetes às 12:15h; tínhamos pela frente 1240km até Ribeirão Preto.

ESQUEMA DO GPS, DA SEGUNDA PARTE DE NOSSA GRANDE AVENTURA

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Estes são os esquemas da viagem traçados pelo GPS nos mínimos detalhes das curvas dos rios navegados.

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Foto recordação da grande viagem realizada, uma recordação para sempre, de belezas, companheirismo e aventuras.

CIDADE DE BONITO, MT.

Em uma viagem para Corumbá, onde iríamos pegar o barco Shekinah, resolvemos passar mais uma vez pela maravilhosa cidade de Bonito, nestas recordações, resolvi colocar algumas imagens e anotações desta viagem.

Bonito é um município brasileiro da região Centro-Oeste, situado no estado de Mato Grosso do Sul. Pólo do ecoturismo em nível mundial, suas principais atrações são as paisagens naturais, os mergulhos em rios de águas transparentes, cachoeiras, grutas, cavernas e dolinas. Juntamente com as cidades de: Jardim, Guia Lopes da Laguna e Bodoquena, são os principais municípios que integram o complexo turístico do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, que pelas suas belezas naturais, apresentam enorme potencial turístico.

Esta é a estrada que liga Bonito a Miranda passando por Bodoquena, que fica no alto da Serra do mesmo nome. Na placa estão as distâncias e as cidades por onde a estrada passa. A Serra da Bodoquena é um dos maiores depósitos de calcário do mundo. Ele tem inúmeras finalidades, entre elas para corrigir o pH do solo. O calcário usado é o dolomítico.

CALCÁRIO PARA USO AGRÍCOLA

O calcário para fins agrícola é utilizado para corrigir a acidez do solo. Ao mesmo tempo em que faz essa correção, o calcário também fornece cálcio e magnésio indispensáveis para a nutrição das plantas. A aplicação do calcário aumenta a disponibilidade de elementos nutrientes para as plantas e permite a maximização dos efeitos dos fertilizantes, e consequentemente o aumento substancial da capacidade produtiva da terra. Calcário é uma rocha sedimentar que contém minerais com quantidades acima de 30% de carbonato de cálcio.

Formação do Calcário. Os calcários, na maioria das vezes, são formados pelo acúmulo de organismos inferiores (por exemplo, cianobactérias) ou precipitação de carbonato de cálcio na forma de bicarbonato, principalmente em meio marinho. Também podem ser encontrados em rios, lagos e no subsolo (cavernas). No caso do calcário quimiogénico, a formação é em meio marinho.

É devido a existência destas rochas, que os rios da região de Bonito, têm as águas absolutamente limpas e transparentes. No fundo das cavernas existentes e nos rios que nascem nesta serra.

A cidade de Bonito, não fica no Pantanal, mas na famosa Serra a Bodoquena, onde nascem muitos rios, de límpidas águas, transparentes mesmo, que correm para o Rio Paraguai. Alguns como o Rio Nabileque, nascem na vertente oeste da Serra, e vão desembocar no Rio Paraguai ao norte de Porto Murtinho, outros nascem no lado Este, como o Rio Miranda, Salobra, entre outros e vão desembocar na região de Morrinho, ao sul de Corumbá.

O CAFÉ DA MANHÃ EM BONITO

Antes do café da manhã, abri a janela do quarto, e fui contemplado por esta visão de um tucano, muito lindo, e manso.

Na cidade de Bonito MS, observamos que até a mesa do café era muito bonita e artísticamente arranjada. Um ambiente acolhedor, que sempre nos dá vontade de voltar.

Esta é a entrada da Gruta do Lago Azul. Uma gruta maravilhosa, onde além da beleza das aguas azuis, a 80m de profundidade, foi encontrado em seu interior fósseis de milhares de anos.

Guta do Lago Azul ao meio dia, seria umas das melhores horas para iniciar a visitação e conhecer o cartão-postal do município. A Gruta do Lago Azul, é conhecida mundialmente e já foi cenário de filmes e novelas. A cavidade com as características atuais tem cerca de 60 milhões de anos. Está tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1978. Dentro, há um lago com água cristalina, que devido à refração da luz, se torna azul. A extensão das águas na montanha ainda não conhecida. O máximo já alcançado por um mergulhador foi 87 metros e dentro já foram descobertos dois fósseis de animais pré-históricos, um de uma preguiça-gigante e outro de um tigre-dente-de-sabre.

Para se atingir a superfície do lago, tem uma trilha nas encostas da caverna, e após uma descida de 100 m, depara-se com um lago de águas intensamente azuladas, cuja profundidade estima-se ser de 90 m. Com suas formações geológicas – não só o teto como o piso da gruta são repletos de espeleotemas de várias formas e tamanhos – desperta a atenção dos turistas e pesquisadores do mundo inteiro. Ninguém sabe ao certo de onde vêm suas águas, acredita-se na existência de um rio subterrâneo, que alimenta o lago.

Estou abordando a cidade de Bonito, e região da Bodoquena, pois dessas enormes quantidades de águas existentes nessas montanhas, ricas em minerais, que drenam para a planície, é que dão vida ao Pantanal.

Flutuação. Em minhas passagens por Bonito, as flutuações nas águas cristalinas de Bonito proporcionam experiência inesquecível de flutuação com snorkel nos rios. Os mais procurados são o rio Sucuri (na Fazenda São Geraldo), rio Bonito (no passeio da Nascente Azul) e o rio Olho d’Água (no Recanto Ecológico Rio da Prata), onde você pode observar uma rica fauna e flora, sob águas de tons esverdeados e azulados.

Em uma flutuação, que eu e três amigos fazíamos, no Rio Sucuri, o guia nos mostrou, um quadro, incomum, nos deu medo, mas ele nos acalmou: Eram duas grandes sucuris, na margem do rio, se enroscando e se acasalando. Mesmo o guia, nunca tinha visto este espetáculo da natureza. Contudo, continuamos flutuando, e não tivemos a audácia de parar e fotografar.

Mergulhando e nadando com os peixes. Tudo em silêncio, parecia até um mundo irreal, piraputangas em cardumes imensos. Os dourados, pela sua cor e tamanho, realmente representam, o rei dos peixes.

Emocionante esse dourado passou na frente da câmara de fotografia bem simples, da Kodak, é descartável, e pode ser comprada na cidade mesmo. Ao todo ela tirava 20 fotografias, pelas condições, acho que são belas recordações.

No mergulho ao longo do rio tudo parece um grande aquário. Neste momento, passava sobre nós, um imenso cardume de piavuçu. Mais à frente do dourado, um grande cardume de piavas de 3 pintas.

Bem, não é mergulhar, neste lugar, e sim flutuar ao sabor da correnteza. Um prazer inesquecível, com cenários maravilhosos. No momento que fui fotografado passou em minha frente uma colorida piraputanga.

A água é absolutamente limpa, pode-se ver uma grande área, e tudo se move em câmara lenta, até nossa flutuação nos parece quase estática.

Mergulhamos com cilindro no Rio Formoso. Mergulhamos a noite. Bem, como sempre digo, isso é uma outra história.

Resumindo: A região de Bonito MS, sempre que por lá passei, retorna meus pensamentos a épocas passadas, milhares de anos atrás. As imensas bacias hidrográficas, que o Brasil possui: Amazônica (a maior do mundo), a Bacia do Prata, São Francisco, as mais importantes. Como seriam? A grande Mata Atlântica, em alguns pontos debruçada para o mar? Sinto em alguns lugares de Bonito, como se estivesse vendo toda essa natureza a milhares de anos atrás. Um retrospecto concreto da ecologia de tempos imemoráveis.

VIAGEM AO HOTEL FLUTUANTE, NO RIO MIRANDA X RIO AQUIDAUANA.

De uma reunião nasce a ideia de uma grande aventura: Fui consultor científico durante muitos anos de uma importante firma industrial de equipamentos odontológicos. Todas as quartas-feiras, exatamente as 9:00hs eu me encontrava com o diretor presidente, para relatar das pesquisas em andamento.

Um dia no intervalo do café, exatamente as 10:30hs, eu tomei a liberdade de contar a ele que havia voltado do Pantanal, da região do Rio Miranda, no Passo do Lontra.

Ele, um detalhista, e de muita perspicácia, logo disse que também tinha estado no Rio Paraguai, com um amigo, pescando também. Nesse momento, nossas identidades de pescadores se manifestaram, e o assunto, caminhou, pelos detalhes das pescarias.

Aí ele disse: Que coincidência, ontem estive em meu alfaiate, ele falou-me muito do Pantanal. Contou-me que o irmão dele, tem um Hotel em Miranda, na beirada do rio. E agora, ele fez um Hotel no meio do Pantanal, a 250 km da cidade de Miranda pelo rio, pois não tem estrada que vai até lá, chega-se no lugar somente pelo rio. É um lugar muito selvagem, e maravilhoso.

O hotel chama-se Flutuante, pois é construído sobre tambores de flutuação, o Ibama, não permite desmatamento na mata galeria para a construção de nada. Com muita razão. Sabe, o Hotel Flutuante, fica exatamente no lugar onde o Rio Aquidauana desemboca no Rio Miranda. Por sinal, meu cunhado com uns companheiros, estão indo para lá a semana que vem.

Saí da sala do dono da fábrica, e fui direto para a sala de um diretor que era meu chefe direto, o José Milton. Na hora do almoço eu e Zé Milton, conversamos, sobre uma pescaria no Hotel Flutuante, ele topou a parada, eu fiquei de organizar tudo para irmos no próximo mês.

A VIAGEM.

Saí de Ribeirão Preto, com destino a Barra Bonita, para pegar o companheiro José Milton, que lá estava a trabalho.

O trabalho era uma grande convenção da DABI ATLANTE, com mais 70 representantes e vendedores. Como meu amigo era o gerente de ventas, a convenção o esgotou muito. Eu cheguei lá na hora do almoço, e participei ativamente da reunião. Não via a hora de terminar tudo, para partirmos para o Pantanal.

Somente 18:30h a convenção foi encerrada. Eu estava com uma caminhonete D-20, puxando minha grande canoa. Manobrei para sairmos, o José veio, estava morto de cansado, com os olhos vermelhos e me disse: Estou morto Doc, não posso de ajudar em nada na viagem

Dei uma pequena almofada que carrego para ele, e disse: Encosta aí Zé, e descansa eu vou tocando, estou bem.

Depois de 35 Km, quando saímos do trevo de Jaú, o grave, e ritmado, ronco de meu amigo, inundou a cabine. Sabia que ele era bom de sono. Mas, me surpreendi, era mesmo muita canseira acumulada.

Acelerei fundo, nas subidas, tinha que puxar uma quarta marcha, a canoa que eu puxava fazia a diferença. As retas e as curvas se sucediam, a noite estava escura, melhor assim. As 20:30h mais ou menos contornei a cidade de Marília, foi um acelera e brega, devido aos cruzamentos e sinais luminosos. Quando saia de um sinal, o motor da D-20 urrava na arrancada, mas Zé continuava dormindo.

A estrada ficou mais leve, pode andar muito mais, depois da Serra de Marília, passando por João Bressane, a estrada é uma reta só até Martinópolis. Me concentrei totalmente na estrada. Presidente Prudente, estrada livre 22:00h, com dizem pisei fundo na devintona.

Quando foi exatamente 23:55h, estacionei na porta do Hotel Itaverá. José Milton acordou, e candidamente perguntou-me: Onde estamos Doc?

Estamos em Presidente Epitácio, no Porto XV de Novembro, no hotel onde vamos jantar e pousar.

Ele disse, que maravilha, nós andamos muito?

Esses episódios de nossas viagens a gente não esquece, pois são marcantes em nossa vida.

No outro dia, acordamos muito entusiasmados com nossa aventura no Pantanal. Tomamos um café reforçado e partimos.

Por ser uma região importantíssima para mim, acredito que devo fazer algumas considerações sobre o lugar.

Ano 1963 – Eu estava em Dracena, na fazenda do Antônio Roberto Villela, meu colega de escola, as margens do Rio do Peixe, afluente do Rio Paraná, cuja foz fica a montante de onde estávamos. Um dia, ele nos convidou para irmos ao Porto Quinze de Novembro, para vermos a construção da maior ponte do Brasil, ligando São Paulo a Mato Grosso. Não me esqueço dos 80Km até a construção. A condução era uma perua Kombi novinha, a estrada de terra e barro. O Roberto ia voando pela estrada, nos atoleiros, acho que a perua passava de barriga no puro embalo da velocidade. Estava sentado atrás, onde fica o motor, ainda tenho na mente o ronco ininterrupto dele, eu achava que ele iria a qualquer momento estourar.

Depois de 2:30h chegamos, no porto, onde a grande ponte estava sendo construída. A cidade, Presidente Epitácio. A obra era realmente monumental, imensas figas de cimento estendidos, balançavam na ponta de imensos guindastes, que flutuavam no espaço, como se fosse palitos, levantados por monstros espaciais. Passamos dois dias vendo a obra, a perfeição da engenharia era extraordinária.

Nos anos e décadas seguintes naveguei por todas essas águas, pescando e conhecendo hotéis. Depois de construída a Usina Hidroelétrica de Sérgio Motta, voltei a navegar nas imensas águas da represa, ela é mais um mar de águas doces.

GRANDES LAGOS DO ESTADO DE SÃO PAULO, MINAS GERAIS E MATO GROSSO DO SUL

Com todos esses pensamentos e recordações, passamos pela enorme ponte de 2.550m de extensão, seu nome é em honra ao engenheiro que idealizou e construiu, Hélio Serejo.

Chegamos bem de manhã para atravessarmos a ponte, contudo na cabeceira da ponte, havia um posto dos famosos guardas rodoviários. Como eu estava rebocando uma grande canoa, fui parado, quiseram ver toda documentação, até a luz de breque, da carreta verificaram.

Eram pescadores também, o papo foi longo, quando contei nosso plano de pescaria no rio Miranda. Atravessamos a ponte lentamente, olhando as águas limpas e azuis da represa, que logo na margem direita recebia as turvas águas do Rio Verde que vinha do interior de Mato Grosso.

A longa estrada se descortinou a nossa frente, pisei fundo na D-20, ela respondeu à altura, não se intimidou com a carreta que puxávamos, o ponteiro colou no 120\130 e lá fomos cantando de alegria pela estrada. Logo cruzamos a cidade de Bataguaçu, não paramos, pelo contrário apertamos a marcha.

Hoje posso ter esquecido, mas os 150Km de Bataguaçu ao trevão, em Nova Alvorada do Sul, eu nem vi passar, me lembro do asfalto passando, 44 Km antes o asfalto estava bem ruim, me preocupei com a canoa e os motores de popa, que pulavam nos buracos do asfalto. Tive que maneirar muito a marcha. Paramos em um posto no trevão, para almoçarmos, um belo churrasco mato-grossense.

O movimento de caminhões boiadeiros e de ônibus no posto era muito grande. Cidades novas, colonião engordando o boi, era riqueza. Todos boiadeiros, iam levando os bois para o grande frigorífico em Presidente Epitácio.

Barriga cheia, tanque completado, saímos pelo trevo rumo ao norte do estado, capital do estado Campo Grande, mais 116 Km de chão. Neste trecho o trânsito era intenso, pois seguindo para a o norte a rodovia, contorna Campo Grande, e segue para Coxim e Cuiabá.

Antes de Campo Grande, eu e meu companheiro, ficamos impressionado com o tamanho de um posto de gasolina. Era imenso. E, o número de caminhões estacionados era enorme. Zé Milton, quis aproveitar para tomar um café, no restaurante, ficamos sabendo que somente o dono do posto, tinha 300 caminhões tanques para levar óleo diesel e gasolinas para várias cidades de Mato Grosso. Ali não porque, mas imaginei o Brasil sobre rodas.

Logo chegamos a rotatória, seguindo em frente era para a capital, Campo Grande. Saindo pela direita, isso é para Este, seria para Três Lagoas, Ribas do Rio Pardo e Cuiabá. Contornamos e na terceira saída, pegamos para, Aquidauana, Miranda, Corumbá.

Meu companheiro é muito viajado, quando passamos pelos índios Terenas, logo após Campo Grande, ele quiz parar pra ver o artesanato dos terenas, analisou algumas peças, e comprou duas que ele achou mais representativas. Partimos, ele falou-me que não sabia da existência destes índios ainda naquele ligar. Como sempre fui interessado no assunto, tivemos motivos para conversarmos, os botocudos, os krencalores, os guatós, todos tiveram papel importantes na história, principalmente na Guerra do Paraguai

Logo depois começamos a descida do planalto para a planície pantaneira. A famosa Serra do Maracaju, apareceu lá no horizonte, como se brotasse da vegetação. O panorama era bonito, a descida ajudava na velocidade, logo chegamos em Anastácio – Aquidauana. Logo na rotatória havia índios também vendendo peças artesanais.

Paramos, J. Milton, quiz ver, olhou tudo, e perguntou para mim. Fala Serjão, e esses índios. Um pouo constrangido foi dizendo o pouco que havia aprendido com o mestre Guerreiro, maior conhecedor de história que conheci. Bem, pelo que sei, a região foi muito importante pela tribo da nação Guaicuru, na Guerra do Paraguai eram considerados os índios cavaleiros, e ajudaram muito o exército nas batalhas. O nome Aquidauana, em guarani, significa rio estreito.

Saímos com destino a Miranda, onde paramos para comer em um restaurante caseiro ao lado do posto de abastecimento. Aproveitei para abastecer a caminhonete, e os tanques e reservatórios de gasolina, dos motores de popa, para a grande viagem fluvial do dia seguinte.

Nove quilômetros depois da cidade entramos a esquerda para o Hotel Beira Rio, de onde partiríamos no dia seguinte, para uma navegação, rio a baixo, de 250km no Rio Miranda, para chegarmos ao Hotel Flutuante.

Rio Miranda é um dos mais belos rios de Mato Grosso do Sul. É formado no encontro do rio Roncador com o córrego Fundo, nos limites dos municípios de Jardim e Ponta Porã, a uma altitude de 320 metros acima do nível do mar. Percorre uma distância estimada de 990 km, desembocando no rio Paraguai, no município de Corumbá, a 83 metros de altitude. No seu curso superior cruza uma região de biomas típicos do Cerrado e depois como já me referi entra no Pantanal. Seus principais afluentes: Salobra, Aquidauana, Negro e Vermelho.

Da estrada, Br 262, até o Hotel eram uns 15 Km, de Pantanal, entusiasmados, ficamos parando pelo caminho, vendo bando de araras e papagaios voando. Em uma baia havia jaburus e garças brancas, enfeitando as margens. Capivaras em bandos, saciadas, dormiam às margens da água, onde acaris mexiam nas águas, fugindo dos jacarés.

Chegamos bem à tarde, o sol iluminava de vermelho o rio Miranda. Fomos recebido pelos filhos do dono do Hotel, que era irmão de um alfaiate importante de Ribeirão Preto.

De hóspede somente tinha eu e meu amigo. Os outros estavam a 270Km de distância na secção flutuante do hotel, para onde nós iríamos amanhã e eles viriam.

No outro dia, acordamos bem cedo, ficamos conhecendo o pirangueiro Tutu, que iria nos levar para o flutuante. Eu e ele, demos uma conferida a tudo que deveríamos levar na viagem, e os materiais de pesca que usaríamos. Ele era de poucas palavras, gostou muito do barco, e perguntou o motivo de dois motores, expliquei que era por segurança, ele achou a ideia muito boa, mas a direção para conduzir o barco, ele achou besteira, pois ele gostava de pegar no controle e no acelerador, esse negócio de alavanquinhas, para acelerar era bobagem. Para um profissional do gabarito dele, que pilota todo o dia as alavancas seriam desnecessárias mesmo.

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Aí estou ao lado do barco que preparei para a aventura. Uma canoa Super Alumar, de 8m, borda alta, com dois motores de popa, um 25HP e outro de 15HP. O barco com direção e todos os comandos instalados. Preparado para esta aventura no Hotel Flutuante, no meio do Pantanal.

Estes são os motores que eu havia preparado para a grande vigem até o Hotel Flutuante.

Nosso pirangueiro se Tutu, e era profundo conhecedor da rota que iríamos fazer. Falei a ele que viemos de Ribeirão Preto, por indicação do irmão do dono do Hotel, perguntei onde ele estava?

Tutu, fez uma cara significativa e expressiva.

Repararam que ontem os senhores foram recebidos, pelo filho e pela filha do dono?

Sim.

Bem, há 2 semanas, o dono do Flutuante, estava lá no hotel, fazendo uns acertos das coisas. A noitinha, um dos pirangueiros, bebeu um pouco demais, e desacatou o patrão. Este que não era de levar desaforo, revidou aos berros. O pirangueiro, parece que pegou uma faca e avançou. O patrão não tive dúvida, tirou o 38 da cinta e matou o valentão. Depois disso, ele sumiu, por esse pantanal de meu Deus, e até hoje não voltou.

Quando a polícia esquecer, do fato ele voltará, aqui no Pantanal homem não leva desaforo para casa não seu doutor.

Tudo ficou em silêncio, fomos descarregando a caminhonete, e transferindo a traia para o barco, que já estava aportado, e com os dois motores instalados e abastecidos. O espírito da aventura voltou. Montamos e começamos a viagem, no início com um único motor o 25HP.

Esta é a ponte ferroviária, dos trilhos da estrada de Ferro Noroeste do Brasil, ela está cruzando o Rio Miranda, 50 km depois da cidade de Miranda, quando pelos meandros do rio.

Estas pontes, como tantas outras, não feitas no Brasil, algumas na Inglaterra ou na França, vinham desmontadas, os engenheiros brasileiros, as montavam, com toda capacidade e técnica, ancoradas nos barrancos, imagine, que todas que conheço, são centenárias e estão perfeitas.

Aí pode constatar dois fatos interessantes:

Primeiro: De automóvel, desta ponte, até a cidade de Miranda gasta-se a 100/km/h, 15 a 20 minutos, pela Br262.

Segundo: De trem, gasta-se mais ou menos 1:30h.

Terceiro: De barco, a todo motor, gastamos mais de 2:15h, pode-se ver como ficam as visões nossas, dos lugares onde passamos, dependendo, do meio de transporte, da velocidade e principalmente do trajeto.

Por isso dou muito valor a frase antológica de Guimarães Rosa que não me canso de repetir: Não importa a saída, nem a chegada, o importante é o trajeto”. Isso ele conclui, ao sair a cavado de Cordisburgo até Paracatu, acompanhando uma boiada.

Nesta fotografia, pode-se ver as duas pontes, a reta do asfalto, o trilho e as curvas pronunciadas do rio. Aparece também a barra do Rio Salobra, é um rio de águas transparentes, ele nasce na Serra da Bodoquena.

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Garças brancas, como anjos que em bandos enfeitam os horizontes. Parecem a alma imortal dos seres que por lá vivem ou já partiram. No caminhar do barco um bando branco nos acompanhou, os quadros que se sucederam eram tão lindos, que me perdi, extasiado pelos reflexos de asas brancas caminhando pelas águas. O bando era muito grande, voaram em todos sentidos de nossa rota.

Tenho navegado por números rios por este maravilhoso país, e posso dizer, com toda a certeza, cada um tem sua personalidade própria. O silencioso ruído de suas águas escorrendo pelo solo, tropeçando em raízes, rebojando nas pedras, se arrastando como um ser vivo nas areias do fundo, os caracteriza como uma identidade própria. O Miranda muda muito, quando está descendo a região da Serra do Maracaju é uma característica. Depois muda completamente, já naveguei por lá. Quando entra no Pantanal ele é outra presença bem distinta, águas mansas, águas macias porem profundas, turvas, porém ricas.

A tonalidade de suas águas, dependendo da época do ano. Seus meandros, desenhando a topografia de seu trajeto, as vezes longas retas, outras fechadas curvas. A mata galeria de suas margens é o retrato da natureza do solo onde corre. Os sedimentos de suas margens, contam longas histórias de centenas de anos, de grandes enchentes e terríveis secas.

Há vida em seu leito e margens, que está em harmonia com suas características, os peixes, as aves, os animais, enfim os rios são como uma artéria oxigenada levando vida em todo seu percurso. Como as artérias e veias de todo ser vivo, assim imagino a Terra como um imenso e extraordinário ser, repleto de células da vida, de vidas em metamorfoses, de continentes que se movem e de espécies que evoluem e se transformam. Nosso planeta Terra, é VIVO.

O Rio Miranda é um dos rios com mais características particulares em cada trecho de seu curso. Na área de onde nasce, ou melhor se forma, nos contrafortes da Serra Maracaju, tem correntezas, e típicas vegetações. Em suas curvas existem praias com pedriscos característicos. Depois da cidade de Miranda, após receber o Rio Salobra pela margem esquerda, rio este de águas muito limpas, pois nasce na Serra da Bodoquena, o Rio Miranda se amansa e lentamente entra pelo Pantanal, onde percorrerá mais ou menos 500km, até desaguar no Rio Paraguai, perto de Morrinhos, e da ponte da estrada Campo Grande X Corumbá.

À medida que percorríamos o rio a água ia ficando mais limpa, ela se filtra nos aguapés, a transformação é muito grande, o Pantanal se beneficia das águas, e as águas se purificam no Pantanal. É um equilíbrio ecológico extraordinário.

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Aqui o Tutu está no comando, meu amigo na frente da direção, mas quem está no piloto é o piloteiro Tutu. O motor de 25HP ia cortando águas, e as curvas se sucedendo. O motor de 15 HP, era o estepe, caso houvesse uma pane, naqueles ermos pantaneiros.

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Águas azuis agitadas pelo barco, ondas que se quebram nas margens, matas que balançam a nossa passagem, peixes que se assuntam e pulam em acrobáticos saltos. O vento cálido a refrescar nossa aventura.

Pedi ao pirangueiro Tutu, que passasse o comando a meu companheiro José Milton, sentado no comando, ele se emocionou, baixou o acelerador no fim, e continuou rasgando as águas azuis do maravilhoso rio. O barco ia enterrado na água com seus quase 800kg de peso. Somente de gasolina, estávamos levando 200 litros, 3 pessoas, e mais toda a traia de pesca. Afundado, com motor no máximo, a onda que levantava era muito grande, tínhamos que tirar a aceleração ao passarmos por outros pescadores, por respeito e para evitarmos acidentes.

O rio não estava muito cheio, corria dentro da “caixa”, com isso os barrancos das margens ficavam expostos nos permitindo, ver muitos bichos. Bandos de capivaras e jacarés.

O que nos fez parar e observar mesmo foi uma grande sucuri, que com calma, e muito senhora de si, descia do barranco e mergulhava nas cálidas águas do rio. Em toda a região, dizia o Tutu, sempre se observa muitas sucuris. De todos os tamanhos, as vezes vemos onças também.

Incrível essa grande cobra, o pirangueiro a viu bem de longe e nos mostrou, tiramos a aceleração do motor, e lentamente fomos nos aproximando, ela ficou estática, com sua língua bífida sentindo o que estava se aproximando, seria uma refeição para ela? Segundo os biólogos elas enxergam pouco. Ela se movimentou quando a proa do barco bateu no barranco. Pelo nosso cheiro, talvez a gasolina e óleo, eram péssimos para ela. Então de forma reptícia, e silenciosamente, deslizou para o rio, era incrível o tamanho desta belíssima espécie de réptil. Uma emoção indescritível, ver uma sucuri desse porte, meu companheiro, ficou estático de medo e disse:

Pelo amor de Deus, vamos embora vai que ela resolve me almoçar, e se afastou no banco, meio arrepiado. Perguntou em seguida ao Tutu, ela é capaz de comer um homem?

Existem muitos fatos verídicos, de grandes sucuris já engoliram um homem, perto de Corumbá mesmo. Já vi até fotografias disto.

Ligamos o motor e partimos, preocupados em nunca cair na água no pantanal, pois a maior parte do tempo essas grandes sucuris vivem dentro da água.

Estávamos com 5 horas de viagem, eram 14:00hs, vi que o Tutu queria parar em uma determinada praia, ou barranco como se fala por lá. Depois que pedi que parasse o barco, ele ainda tocou mais 20 minutos, para chegarmos especificamente neste lugar.

Tutu, tirou o chapéu, foi até o barranco, e ao nosso lado mostrando o lugar disse:

— Aqui que foi o desastre, da turma de Ribeirão Preto, e mostrou o meio do rio, com o dedo indicador todo cortado, pelas centenas de linhadas de pesca, que já havia lançado na vida.

Que desastre foi este Tutu, explique para nós?

Eu e Zé Milton, já havíamos tido notícias deste acidente, lá na firma que trabalhávamos, mas ficamos quietos, como se nada soubéssemos, para ouvir ao vivo e no lugar do fato.

— Bem, eram oito pescadores, gente importante, fizeram questão de pagarem a chalana do hotel, para trazê-los até o Flutuante. O barco era grande, com cabine de cobertura e lateral de vidro, para os passageiros verem a viajem. O motor era um 60HP, dos bons mesmo. Com 8 passageiros, mais a traia, rasgava essas águas levantado uma onda de mais de metro. Eram gente boa, vinham tomando uma cervejinha, fotografando, muito alegres pela pescaria que iam fazer.

— Quando estavam lá naquela curva, uns 100 metros daqui, viram uma onça neste lugar que estamos. Ficaram loucos para verem e fotografarem o canguçu, e todos abriram a porta e correram para proa do barco. Com isso, todo o peso na frente, a chalana começou a imbicar na água, e começou a entrar água. Demoram um pouco para recuarem, queriam ver a pintada.

— Aí veio o erro fatal, o pirangueiro, tirou o motor cortando a aceleração, aí sim a chalana, mergulhou no rio abruptamente. Não deu tempo de nada. Os que estavam para fora saíram nadando para este barranco, dois ficaram dentro da cabine, o pirangueiro quebrou o vidro para eles saírem. Foi um desastre, toda a traia para o fundo do rio. Quando deram por si, estavam assustados, molhados, e perdidos no meio do pantanal. A noite caiu rapidamente. Começaram a apavorar.

— O pirangueiro os acalmou: dizendo se tranquilizem, quando no Flutuante ver que nós não chegamos eles virão atrás de nós.

De fato, eles teriam que chegar as 18:00hs, eram 19:30 e nada. Com muito custo, conseguiram falar na sede, Hotel Beira Rio, que confirmou a hora da saída. Aí veio a ordem, vão atrás que aconteceu alguma coisa. Pegaram gasolina, cordas e faróis, que lá chamam de facho, e partiram. Iam de vagar, pois tinham que ver as margens, depois de 1:30h encontraram os pescadores. Foi um alívio para todos. No outro dia conseguiram recuperar uma porção de tralhas e malas. Mas foi um intercurso bem traumático para todos.

H:\Hotel flutuante todo.JPG

Estas são as dependências do Hotel Flutuante nosso destino, como já disse ele fica na união do Rio Miranda com o Aquidauana. Somente pode se chegar ao hotel, navegando da cidade de Miranda pelo rio, uma distância de 250Km.

Como podemos ver a construção do flutuante foi bem arrojada, por ter sido feita bem no coração do Pantanal. Uma região completamente selvagem. Um sonho para quem gosta da natureza e da boa pesca.

No círculo azul pequeno é a exata posição do Hotel, nas águas do Rio Miranda.

Nossa chegada ao Hotel Flutuante foi em um momento especial, eram mais ou menos 16:30h, os funcionários do hotel disseram que haviam visto uns dourados pulando, no poço que o rio formava, na frente do Flutuante, no encontro com o rio Aquidauana.

Desci da canoa, cumprimentei os 3 funcionários que nos receberam, eles começaram a descarregar nossa traia.

Um deles, ofereceu-me um tuvira, para eu iscar na vara de carretilha que estava em minha mão. Sem nenhuma esperança, iscamos, e com todo cuidado arremessei, o mais distante que consegui. Foi uma experiência inesquecível e particularmente emocionante, quando a isca caiu na água, uma onda perfeita de um dourado, correu para a presa. Vi perfeitamente a cena, o grande peixe avançado certeiro para sua presa preferida. A linha 40, foi se esticando e traçando um risco, esperei ela se esticar bem, e fisguei com toda vontade. Logo em seguida, um grande douradão amarelo, deu um pulo espetacular lá na ponta da linha, a carretilha cantou, confirmando o arranque do rei dos rios. A luta foi cinematográfica, ele ainda deu mais 2 ou 3 pulos, para se soltar no anzol, contudo, não conseguiu…

O gerente fez a apresentação do modesto, mas muito funcional Hotel Flutuante, na saída do restaurante ele disse com a maior tranquilidade:

Olhem o tamanho da sucuri que apareceu hoje cedo por aqui! Eu fiquei ressabiado, mas o companheiro J Milton, fez questão de pisar nela, para ver a dureza, e disse ela é dura como um pau. É um feixe de músculos, se enrolar em alguém, adeus!

A prova, que o lugar era selvagem mesmo, não podia ter sido mais eloquente que essa sucuri encontrada, bem na saída do refeitório do hotel.

H:\Sucuri Porta Flutuante.JPG H:\Sucuri Flutuante 2.JPG

H:\Por do Sol FLUTUANTE ++.JPG

Pôr do sol no rio Miranda, na frente do Hotel Flutuante, nesta cena que peguei o grande dourado. Assim, com esta introdução, a expectativa de boas pescas nas regiões dos rios Aquidauana e Toro Morto era muito Grande.

H:\Ninhal Touro Morto 2 ++.JPG

Subindo o Rio Aquidauana, 30 minutos a partir do hotel Flutuante, desagua o Rio Touro Morto. É na realidade um corixo maravilhoso, suas águas são completamente transparentes, pode-se ver grandes peixes passando, tais como: pintados, caranhas, piavuçus, entre outros tantos. A 20 minutos subindo esse rio, encontramos um “ninhal”, muito grande. Esta fotografia é uma árvore de piúva, onde havia centenas de aves: Garças, Cabeças secas e Itapicurus.

O que é um NINHAL: Existem na época da reprodução das aves, numerosos ninhais no pantanal a fora. As aves, se reúnem em centenas ou milhares, e fazem seus ninhos juntas, para se protegerem dos predadores. São os gaviões, águias, macacos, entre outros. Quando um predador chega se aproximando do ninhal, há um “toque de alarme”, e todas as aves, independente da espécie, sobrevoam o predador, tentando evitar sua aproximação dos filhotes que são indefesos. No chão dos ninhais, iguanas, jacarés, lobinhos, também ficam na espreita, pois numerosos filhotes caem de seus ninhos, e são facilmente devorados pelos predadores. Não citei as cobras, pois em todos ninhais que visitei, nunca vi um ofídio em ação. Acredito, contudo, que durante a noite, as cobras também representam um predador a ser “atacado” para proteção da colônia.

Havia todo tipo de aves neste alagado perto do ninhal. As margens eram pés de algodoeiros, e estavam todos pisoteados e amaçados. Creio que antes das aves poderem iniciarem seu banquete, jacarés, outros animais estiveram por lá.

Rio acima do Hotel Flutuante, desemboca o Rio Touro Morto no Aquidauana. Este rio é de águas absolutamente limpas, é possível ver os grandes peixes nadando em sua correnteza. É um dos lugares imperdíveis de ir quando se está no hotel.

Em um belo poço no Rio Touro Morto, eu e meu companheiro vivemos uma experiência peculiar. As límpidas águas do rio vinham diretamente em linha reta e faziam uma curva de 90 graus em um barranco, cheio de palmeiras de tucum. Ali aportamos, no rebojo das águas, depois de uns 20 minutos de silêncio, vimos a presença, de numerosos grandes peixes, parados no fundo do poção. Eram cacharas, pintados e jaus. Às vezes lépidos cardumes de piracanjubas, com suas barbatanas pintadas de vermelho, cruzavam as claras águas do poço como uma esquadrilha de aviões, voando sobre os grandes peixes de couro, parados no fundo do poção.

O mais incrível é que jogamos as iscas, tuviras, sardinhas, minhoca-uçu, mas nada.

Passávamos com as iscas na boca dos peixes e nada, estavam dormindo ou com a barriga tão cheia, que não queriam nada. Já o pirangueiro, achava que não era hora mesmo, quando eles não querem não adianta, que não se pega nada.

Por esse motivo, que “caçar” peixes com o arpão nos rios, é criminoso e completamente antiesportivo.

E:\POR DO SOL Flutu 34  ++.JPG

A fotografia mostra a importância das nuvens altos estratos, que refletem em sua base os raios solares, para a Terra, se decompondo na água do Rio Miranda. Imaginar que essa luz solar demorou 8 minutos para atingir a Terra, é saber que tudo é passageiro na vida, pois na realidade o sol não está mais lá.

Sempre na hora do pôr-do-sol meu companheiro, queria voltar para o flutuante, pois ele era muito sensível aos milhões de pernilongos e mutucas que preferencialmente o atacavam, deixando marcas de reações inflamatórias, que coçavam e doíam. E não adiantava usar repelentes. Este é o pôr do sol. Do lado esquerdo da fotografia chega o rio Miranda, do lado direito o rio Aquidauana, formando este belo poço, seguindo em frente o soberbo Miranda.

Assim toda tarde vínhamos para o hotel, ele entrava no quarto, fugindo dos pernilongos. Eu, graças a Deus ficava vendo a noite chegar e pescando mais um pouco. Curtia muito os sons da noite que chegava, primeiro os pássaros ruidosamente em bandos indo para o pouso. Depois os peixes pequenos, da classe dos cascudinhos (acari), que a todo momento subiam à tona da água para se alimentar dos milhões de todos tipos de insetos, que saem à noite e acabam caindo na água. E finalmente o canto das corujas em busca de alimentos, assim como os milhares de morcegos insetívoros, que em voos precisos em ziguezague, também capturavam seu alimento, nos amplos espaços dos rios.

H:\Sucuri trocando pele ++.JPG

No outro dia subindo o Rio Miranda a 1 hora de motor, vimos esta cena inusitada, uma grande sucuri trocando de “casca” (pele?), chegamos exatamente na hora que ela estava saindo com a roupagem nova. Não pudemos vê-la inteira, contudo, pelo tamanho da pele, podemos imaginar quando grande deveria ser o animal. Continuamos nossa navegação pois, vai que estava faminta! Nunca devemos abusar nas aventuras, pois os animais estão no ambiente deles e nós somos os intrusos.

Nossa estada no hotel Flutuante foi maravilhosa, em termos de peixes, deu para nos divertirmos muito, contudo, como aconteceu no rio Touro Morto, toda a região estava assim, muitos peixes nos rios, mas eles “não estavam com fome”, víamos os peixes, mas poucos avançavam nas iscas. Estavam saciados ou espantados, não sei!

Os ninhais da região eram imensos, com uma quantidade de aves extraordinária, nos maravilhamos muito com as aves, e notamos um número significativo de jacarés, que ficavam debaixo dos ninhais, para se alimentar dos inúmeros filhotes que caiam dos ninhos. Caiam na prática de iniciar o voo, ou eram derrubados pelos filhotes mais fortes, na hora da comida. Um filhote de garça caiu, percebendo o jacaré, saiu desajeitadamente correndo para subir novamente na árvore. Não deu tempo, no meio do tronco, foi pega pela bocarra faminta do grande jacaré.

Bem ficamos 1 semana no Flutuante, uma estada maravilhosa, de companheirismo, tratamento e aventuras.

No dia de irmos embora, o tempo virou, pegamos uma chuvarada do flutuante até o hotel na cidade de Miranda, essas mudanças no pantanal são acompanhadas de uma baixa na temperatura, mesmo com capas impermeáveis, passamos um frio bem grande na viagem de volta. As vezes o pescador sofre.

CONHECENTO O PASSO DO LONTRA.

Eu e Zé Milton, estávamos testando um equipamento no consultório, isso no ano de 1976, quando o telefone tocou. Era um americano dono de uma agência de viagem, chamado de Mr. Bliz, nos convidando para assistirmos uma palestra, do Sr. ASA, sobre uma pousada de pesca que ele havia construído, no PASSO DO LONTRA, MS. Foi uma explanação, tão motivante, que logo fomos conhecer a famosa Pousa do Lontra, do Sr. ASA.

IMPORTANTE: Tenho que desculpar-me perante as pessoas que poderão ler estas descrições, pois fui durante tantos anos nesta região, as vezes 3 vezes por ano, durante tantos anos, que as vezes me confundo com as datas ou mesmo com os acontecimentos.

ESSA ERA A ESTRADA NA SECA ANTES DE SER ASFALTADA.

A estrada neste tempo da cidade de Miranda para Corumbá, a percorremos até o Rio Miranda, quando fomos para o hotel do Passo do Lontra.

Este era o aspecto da estrada entre Miranda e Corumbá, nos idos dos anos 79. Era uma estrada de terra, no período da seca, transitável, contornando as centenas de buracos existentes. Era pitoresca e demorada de transitar. A mata em suas margens, quase fechava a estrada. Poucos caminhões passavam por ela, naquele tempo, toda carga para Corumbá ia de trem. Quando chovia, tudo mudava de figura. A lama e os atoleiros eram comuns. Nos lugares que não havia pontes, tinha-se que transpor vários corixos, era sempre uma aventura.

Este é o aspecto do Rio Miranda na primeira ponte, logo após a cidade que lhe dá o nome. Quando fomos para o Hotel Flutuante de barco, passamos sob essa ponte, o hotel fica a 140Km, descendo o rio, depois desta ponte. Logo após a ponte, era a mata galeria do Miranda, hoje tudo, como veremos está mudado.

Depois da ponte do Rio Miranda andamos 70 Km na rodovia, BR-262, por sinal uma rodovia que inicia em Três Lagoas vai até Corumbá. Nesse ponto entramos para o Passo do Lontra.

ESTRADA DA ENTRADA PASSO DO LONTRA.

Esta fotografia é atual, no tempo de nossa viagem, a estrada para Corumbá, era de terra, e passava pelo Passo do Lontra, até o porto Manga.

Este é o início da estrada hoje conhecida como: Estrada Parque Pantanal, ela segue até Corumbá, passando o rio Paraguai no Porto Manga, de balsa.

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Poucos quilômetros antes da entrada da Estrada Parque, na pista de asfalto, tem uma senhora, Dona Maria do Jacaré, hoje falecida, que serve refeições aos caminhoneiros, e no corixo, ao lado de seu “estabelecimento” existem dezenas de jacarés, que a obedecem. Ela chega na beirada da água e chama, lentamente todos vem em direção a ela. Este por exemplo, chegou ao pé da pantaneira. Ele representa o verdadeiro jacaré pantaneiro macho.

Dona Maria do jacaré, tem influência em mais de centenas de jacarés, do corixo próximo ao seu “restaurante”.

A partir do posto do guarda florestal, conta-se hoje, até com as placas informativas das distâncias da ESTRADA PARQUE PANTANAL SUL. Faremos todo o trajeto de terra até Corumbá, pretendo mostrar alguns aspectos do lindo trajeto da estrada.

Há 8km, havia uma certa poesia nestas pontes de madeira, e a certeza, de vemos muitos animais e peixes por todo o rio.

Pontes do passado, 1980 a 2000, eram simples pontes de madeira, o que já seria um progresso, pois anteriormente somente de balsa poderíamos atravessar o rio Miranda, era uma espera e uma aventura.

Que pitoresco, ao pôr do sol dois cavaleiros atravessando a ponte, ainda ouço o barulho dos cascos dos animais, martelando a madeira das tábuas.

Hoje como está a entrada da ponte sobre o rio Miranda no Passo do Lontra, muito bem-feita, alta, esperando um futuro, pela importância da estrada que por aí passa, destino Porto Manga, Nhecolândia.

Do alto da ponte do Miranda temos uma bela visão do rio, e impressionou-me muito o número de chalanas que estavam aportadas.

Pouco acima da ponte está o majestoso Rancho Araçatuba, um dos donos é o primo Gustão, já fizemos incontáveis pescarias, nesse lugar. Dá muita saudade. Mais que as pescarias, o companheirismo de todos os donos era indescritível, homens bem de vida, mas portadores de uma educação excepcional, pescar neste ambiente era o sonho de todos pescadores.

Este é o Hotel do Passo do Lontra, idealizado e construído pelo senhor ASA. É muito bem feito em uma grande área, que nas cheias ficam totalmente alagadas. Desta maneira as construções são feitas sobre altas palafitas. Existem caminhos, sobre as palafitas, tornando possível fazer longos caminhos, vendo muitos animais e aves. Vale a pena.

Após a ponte inicia-se a linda Estrada Parque do Pantanal, todas as mais de 40 pontes sobre os corixos que ela passa, estão muito bem refeitas e altas para evitar enchentes.

Esta fotografia do Google, é da região do Passo do Lontra. É uma estrada reta de terra, que sai do asfalto, 9Km depois passa pela ponte do Rio Miranda, depois segue reta até se encontrar com a Transpantaneira. A direita da ponte vemos, postos de gasolina, hotéis e ranchos.

Esta uma fotografia do Google muito mais detalhada da famosa região do Passo do Lontra.

Este é o Rancho Araçatuba já mencionado, visto do alto da ponte nova.

C:\Users\Seven\Pictures\Gustão 7 Set 2004\DSC00163.JPG

Aí está o grande Gustão, à frente de seu “ranchinho”, pronto para ir pescar, com seu traje típico, de grande faturador. A fotografia diz tudo do esplendor que é a construção.

C:\Users\Seven\Pictures\Gustão 13-03-2004\MS 6 Rancho Gustão 28_23.jpg

Esta é uma fotografia do Google Earth imaginar a foto tirada a 30km de distância. Mostrando: 1. O tortuoso rio Miranda. 2. A localização do Passo do Lontra, onde a estrada cruza o rio. 3. Na margem esquerda a localização do Rancho. 4. Em baixo risco preto o asfalto que vai para Corumbá. A estrada de terra vai até a transpantaneira, depois passa pelo Porto Manga, e saí em Corumbá.

Este o grande pirangueiro Tiãozinho, pescamos junto por longos anos na região do Miranda e Abobral, sediados no Passo do Lontra e Fazenda Santa Clara. Ele havia casado e estava morando nesta primitiva casa, feita por ele, na margem esquerda do Miranda, e uns 5 km acima da ponte.

Como queria pescar um pouco, e mostrar a região a um amigo, fui atrás dele, pois além de grande pirangueiro, é profundo conhecedor da região. Nasceu e cresceu por estas bandas, como ele diz.

Saímos em direção ao Rio Vermelho, pois pretendíamos fazer uma excursão pelo rio.

Vinte quilômetros, a montante da ponte do Rio Miranda desemboca neste lugar maravilhoso, o Rio Vermelho. É um encontro de águas limpas do Vermelho, e pardas do Miranda. Um lugar onde se pega muitos peixes.

Esta é uma fotografia importante do Google, pois mostra a casinha na foz do rio como um ponto no meio das águas pantaneiras.

Quando por ai passei, tive oportunidade de ver um casal de cervos do pantanal, na baia logo a baixo da foz do Rio Vermelho.

Não sei o motivo deste rio se chamar Rio Vermelho, pois suas águas são claras, suas margens cobertas de matas, ele na realidade, creio ser um corixo, pois tentei segui-lo até o fim e terminei em um imenso alagado pantanoso, onde existe um grande ninhal, e me perdi pelo meio dos aguapés, sem achar a saída do que seria um rio.

As mudanças na natureza são lentas, contudo, com a atitude as vezes, intempestiva dos homens, ela se altera profundamente. Este rio é um exemplo da natureza preservada, subido uns 40 quilômetros por suas águas, posso narrar com exatidão, as coisas importantes que eu vi.

Primeiro suas matas são de árvores altas e exuberantes, um desfile de matas galerias, onde os ipês não piúvas imensas, uma com um ninho de tuiuiú muito grande, onde uma grande ave, com suas imensas asas abertas, alimentava os dois famintos filhotes.

Em um corixo de mansas águas encontramos um bando imenso de biguás, que de tempos em tempos, uma ave mergulhava com precisão, e logo à frente saia com um acari no bico, matando a fome, pois com técnica, triturava o peixe e o deglutia em um único movimento.

Os biguás – tingas também estavam presentes em muito menor número, não sei o motivo, mas todos estavam em uma árvore desfolhada, parecendo enfeites esbranquiçados, nos galhos da piúva. Parei e fiquei observando, não deu para saber se estavam saciados, ou incomodados com os colegas pretos, em muito maior número, nas árvores do corixo.

Fomos subindo rio acima, ele corria em pronunciadas curvas, bem dentro da caixa. A frente encontramos uma parede de flores amarelas, enfeitando a margem esquerda do rio.

Finalmente chegamos ao Ninhal do Rio Vermelho, uma miscigenação de aves de todos os tipos, garças brancas em predomínio, apartadas em algumas árvores.

Os maguaris estavam barulhentos, todos os filhotes com as bocas escancaradas esperando a comida, mas os pais impassíveis ao lado, perguntei ao piloteiro qual sei o motivo. Ele riu, e disse: As aves paradas são machos, esperando as fêmeas que foram buscar a comida. De fato, depois de um tempo uma fêmea voltou e tratou do faminto filhote, aí o macho decolou e foi almoçar.

Mais distantes um pouco estavam os colhereiros, eles pareciam mais tranquilos, pois parte de sua alimentação é processada no estômago da própria ave, e depois eles regurgitam para os filhotes.

Ficamos horas, navegando pelo ninhal, o número de jacarés que estavam na espera de aves caídas do ninho era muito grande. O cheiro de gás sulfídrico invadia todo o ambiente, e o marulho dos famintos filhotes, tornam o ambiente inesquecível para mim.

Esta é uma bela fotografia do Google, mostrando a espetacular nascente do rio Vermelho, um lugar de encontro das águas, um ambiente de ótimo para criame de peixes. Como o número de pequenos peixes é grande, nessas águas limpas e mais rasas, as aves tem farta comida para criar os milhares de filhotes de todo o grande ninhal.

A vida nessas áreas se multiplica, é importante manter a Reserva Ecológica do Rio Negro, onde o Pantanal renova seu bioma. Uma região tão rica como essa, somente tinha visto na foz do Rio São Lourenço, chamada região do Pirigara.

Esta é uma imagem extraordinária do Google, mostrando a formação, a origem do Rio Vermelho, são nascentes formando corixos, são pequenos corixos, se unindo formando o rio.

Neste ponto inicia o Rio Vermelho, foi até onde conseguimos ir navegando, se ele se forma aí realmente, por definição acertada, é um Rio e não um corixo, como alguns pensam.

Uns 20 minutos de canoa rio Vermelho acima, encontramos este monumental ninho de tuiuiú, incluindo um filhotão, por sinal muito bem alimentado. Segundo consta há mais de 4 anos que estas grandes aves criam seus filhotes neste ninho. Contudo, é importante considerar, que o ninho está sempre em reforma e limpeza.

Lindo, e inesquecível pôr do sol na boca do Rio Vermelho com o Rio Miranda. Estávamos muito felizes pela viagem feita ao longo do Rio Vermelho. E, na sua foz, vermos uma imagem desta foi um prêmio. Na viagem que tirei esta fotografia, estávamos no período da seca, as águas dos rios muito baixas, podemos ver a altura do barranco.

Um grande cardume de dourados, aí parados esperando as iscas brancas que saiam do afluente. Assim tivemos que pegar iscas brancas, chamadas sardinhas, para fazer a pesca, e levar um peixe nobre para o jantar.

Na foz do Rio Vermelho com o Miranda peguei esse belo dourado. Era jogar a isca na beira do barranco da fotografia, e o dourado puxava com gosto mesmo. A emoção do pescador é a briga para tirar um espécime deste gabarito da água.

Depois deste peixe fomos para o rancho, pois o dia havia sido muito frutífero.

H:\Cabeça seca ++.JPG

Uma revoada de cabeças secas, é uma ave que lembra muito o jaburu, contudo são bem menores.

SUBINDO O RIO MIRANTE ATÉ O MORRO DO AZEITE.

O piloteiro Tião, disse que estava saindo uns jaus de ótimo tamanho lá nos poços do Morro do Azeite. Eu já havia estado lá algumas vezes, e antes do morro, havia uma curva fechada do rio, que formava um ótimo posso para peixes de couro.

Como era relativamente longe, meu grande amigo Milton, achou melhor levamos já uma marmita, para não precisarmos voltar ao hotel.

Subimos o rio muito entusiasmados pois o dia estava perfeito, se não houvesse peixes, sabíamos que as surpresas do pantanal sempre compensam a viagem. O piloteiro estava bastante animado, pois um companheiro dele, contou que no corixo a jusante do Vermelho, havia um casal de cervos-do-pantanal, pastando no pequeno descampado, a uns 100m do rio.

Carregamos o bote, e com calma partimos, esse corixo ficaria a uns 18 Km de onde estávamos. Antes de sairmos, perguntei ao Tiãozinho, se ele achava que os cervos ainda estariam lá. Ele deu seu sorriso cativante, e típico, pois não tinha os incisivos anteriores superiores, não respondeu nada, ligou o 25HP Johnson e partimos.

Não havia vento, as águas do Miranda pareciam um espelho, praticamente não tinha pescadores a montante do rio, todos haviam descido, em busca do cardume de dourados que havia passado pelo hotel.

Depois de algumas curvas, tendo quase sempre o sol à nossa proa, fomos chegando no lugar. O piloteiro tirou o motor para chegarmos em silêncio, o barco enterrou a quilha da areia, eu logo desci, e procurei subir no barranco para ver o corixo, em melhor condição.

Afastei umas vegetações da margem, e pude ver o verde pasto, indicado. Fiquei emocionado, a uns 50m de distância, lá estavam os belíssimos animais. O macho com sua soberba galhada, levantou a cabeça e parece que nos olhou desafiadoramente. Ao seu lado, pouco mais atrás a fêmea, confiando na proteção do machão, nem se quer parou de pastar. Infelizmente minhas fotografias ficaram ruins, por isso colocarei uma do Google, em respeito a esses fantásticos cervídeos pantaneiros.

Essa imagem do Google lembra perfeitamente a imagem do cervo-do-pantanal, que vimos lá no corixo do rio Miranda.

Depois dessa parada, seguimos rio acima, passamos pelo rio Vermelho, em 10 Km à frente passamos pelo famoso, Morro do Azeite.

De longa data tenho um respeito muito grande por esse lugar no Pantanal. Em um raio de 70Km, o único acidente geográfico que existe é esse.

Pescamos em um grande poço antes do morro, onde pegamos alguns peixes de couro, mas todos pequenos e foram soltos.

Na mata pouco antes, havia um grande bando de bugios, fazendo um barulho incrível, eram dois machos pretos, disputando as fêmeas, que empoleiradas nos galhos observavam a briga. Tinha algumas com os filhotes nas costas.

Subimos o rio até na região da Reserva do Rio Negro, onde paramos pra almoçar.

Almoçando na “casa da onça”, na maior tranquilidade, sem nada saber. Depois de ouvir uns ruídos, chamamos o pirangueiro que estava seguro sentado no bote.

Sentamos no barranco para comer. O profissional pescador, não quis ficar no barranco. Quando íamos abrir a matula, para pegar a comida, eu ouvi nitidamente um esturro da onça, me arrepiei. Chamei o Tiãozinho, ela levantou lépido, e nos mostrou o rastro da pintadona, e disse ela está aí atrás doutor.

Ele veio em com os olhos arregalados, nos mostrou os rastros frescos das onças. O almoço!! Pulamos rapidinho, com tudo para dentro da canoa, e saímos pelo rio à deriva.

Fomos descendo o rio prestando a atenção no barranco, ao sabor da correnteza e ouvindo os esturros dentro da mata. Na canoa ninguém se mexia. Os olhos grudados nos barrancos, que estavam em uma distância segura.

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Uns 100m para baixo, a surpresa, as onças escondidas na mata nos observam, na espera de duas presas gordas. Felizmente o objetivo dos felinos, não eram os pescadores acampados pouco acima, mas uma capivara com seus filhotes, poucos metros rio a baixo. Na fotografia a onça que ficou nos olhando, parece um gatinho, pois estávamos a uma boa distância dos felinos. Prestando atenção, pode-se notar que atrás da fera da frente havia uma outra atrás, que se virou exatamente na hora. Rosnando, bravas, adentraram um pouco na mata.

H:\capivara & filhotes.JPG

As onças estava

Logo mais a baixo então, a presa fácil para um casal de onça, uma capivara com suas jovens crias. Ao longe ouvimos seus gritos de alerta, saiam esbaforidas da água. Os filhotes completamente estáticos e desorientados. É a natureza, um destes filhotes seriam um farto banquete para os felinos. Não tínhamos uma boa teleobjetiva para ficarmos bem longe e esperar o desfecho deste encontro.

Este episódio, eu não conseguiria descrever de forma correta a emoção que sentimos, no momento destes acontecimentos. Nos pareceu um fato incrível, depois que passou. Eu e meu amigo, paramos para analisar.

A capivara mãe com vários filhotes, um atrativo irresistível para os felinos, nós no caminho das feras, o pirangueiro experiente, achou que as onças esturraram justamente para nos espantar do caminho. Estávamos atrapalhando a caçada deles, uns intrusos, no meio do reino das pintadas.

Pouco mais a baixo, descendo ao sabor da lenta correnteza do rio, pudemos ouvir dentro da mata os gritos agudos da mãe capivara, e o esturro raivoso da caçadora implacável. Escutamos logo em seguida, o agudo grito da mãe capivara, e ao longe pudemos ver seu corpo “voando” para a água, acompanhada de algum filhote. Acreditamos, que pelo menos um tenha servido de presa para os felinos.

Segundo informações, as capivaras menores, são as caças prediletas para as onças pantaneiras.

Continuamos descendo o Rio Miranda, e passamos novamente perto do Morro do Azeite. O morro marca também ótimos poços, em suas curvas do rio, onde a pesca é farta. Deste ponto descendo o Rio Miranda, estamos aproximadamente 1:30 h de motor 25 HP, até o Passo do Lontra.

H:\Por do Sol Miranda  ++.JPG

Descendo o rio Miranda, com tantas emoções vividas, a 18 anos passados. Recordando, na época, os pássaros, as duas onças na caça de uma capivara. Voltamos na região, tentarmos novamente ver os felinos, mas nada vimos. Contudo, este pôr do sol maravilhoso recompensou nosso retorno.

Prosseguimos até a ponte para terminarmos o dia, vendo o pôr do sol.

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A inesquecível ponte de madeira no Rio Miranda, Passo do Lontra. Importante elo de ligação entre dois ambientes pantaneiros.

SAINDO DO PASSO DO LONTRA PARA CORUMBÁ.

Pela Estrada Parque Pantanal.

Antes de pegarmos a estrada que é de terra, e seria uma aventura muito importante, resolvemos voltarmos ao peculiar “restaurante” da Maria do Jacaré; para matarmos uma curiosidade, e vermos se ela era capaz de chamar os jacarés no corixo ao lado de seu estabelecimento, que fica no acostamento da estrada de asfalto, Miranda X Corumbá.

Ao entrarmos para uma bebida, notamos um bando de canarinhos da terra, se refestelando com as migalhas da comida. Os caminhões e grandes ônibus, passavam estrondosamente ao lado das mesas, contudo, nem eles nem as pessoas se espantavam.

Aí está minha mulher e companheira ao lado dos jacarés de Dona Maria do Jacaré. Incrível o relacionamento dela com os jacarés. Ela os chama e eles vem chegando, prontos para almoço.

. Any foi se aproximando e os jacarés vindo, aí ela pensou bem e se afastou. Seguro morreu de velho. Realmente este relacionamento, da Dona Maria do Jacaré, já passou até na televisão, na TV Globo: EPTV Terra da Gente.

Realmente a Maria do Jacaré é digna de tirarmos uma fotografia de recordação. Todos animais são muito comportados e obediente a ela. Infelizmente, a Maria do Jacaré, faleceu seus jacarés ficaram desamparados, passei por lá, agora está tudo abandonado.

Logo mais à frente, do outro lado da ponte vimos este anu, pegando os carrapatos desta capivarinha, ela andou mais um pouco e se deitou para a ave fazer a limpeza, saciando sua fome. É a verdadeira simbiose, um se alimenta, a outra fica sem os importunantes carrapatos.

A Muçurana não é um animal peçonhento. Conhecida como cobra-do-bem, cobra-preta, ou cobra comedora de cobra, a Muçurana se alimenta basicamente de outras cobras, peçonhentas e não peçonhentas, sendo sua preferida as Jararacas, mas na falta delas ou de outras cobras, a serpente come também pequenos mamíferos. A Muçurana ataca suas vítimas prendendo-as pela boca com seus fortes dentes, que medem entre 10 e 15 cm, cravando-os no terço anterior do corpo da vítima, enrola-se rapidamente nela, e mata-a por constrição, depois ingere sua presa, começando pela cabeça. Apesar ingerir cobras peçonhentas, essa serpente é imune ao veneno de outras cobras. A única cobra que pode matá-la é a Cobra Coral Verdadeira.

A muçurana é uma serpente é muito ágil e extremamente forte, sendo capaz de travar lutas de mais de uma hora de duração, com suas presas, e geralmente sai ganhando.

Esta devia ter comido alguma cobra, pois estava muito gorda, volumosa, e lenta, demorou bastante tempo para ela sair da estrada. Esta fotografia foi tirada logo depois da ponte do Miranda. Dizem que hoje ela é uma cobra muito rara, pois seu alimento preferido, está cada dia mais escarço.

Infelizmente não colocamos nenhum referencial para ver o tamanho deste ofídio, mas quando, calculei que teria mais ou menos 1metro, na foto ela parece pequena, pois estava extremamente grossa.

Logo adiante na estrada encontramos pouco distante este gavião caracará, em uma espreita fora do comum nesta ave. Geralmente estão agitados, e poucas vezes no chão. Ficamos observando.

Em um verdadeiro bote, instantâneo, ele capturou um pequeno rato, que estava mexendo em umas palhas no mato. Em seguida, deu uma corridinha e decolou, em direção a uma grande árvore, onde notamos a existência de um possível ninho. Assim acreditamos, que ele levou a presa para seus filhotes.

Como já disse a Estrada Parque Pantanal corta uma dezena de corixos, e nessa viajem encontramos todas as pontes novas, é uma viagem onde pode-se ver numerosas aves. Este colhereiro solitário, estava estático, como se estivesse perdido do bando, pois é incomum, observar uma ave desta sozinha assim em um corixo.

No corixo da frente encontramos o motivo da solidão, ele havia se desgarrado do bando, ou por disputa de uma fêmea, ou por qualquer outro motivo, que não posso imaginar. Incrível mas este corixo estava vivo, em nenhum momento as aves ficaram paradas.

Alguns quilômetros à frente, vimos esta brilhante ave se alimentando, ficamos em dúvida se seria uma curicaca, isso pelo som que emitia, ou seria um Itapicuru, pelo negro reluzente de suas penas.

Existem muitas raças de gaviões no Pantanal. Por exemplo a primeira fotografia é de um Caramugeiro, eu já o vi pegar caramujos na superfície de pântanos com a maior precisão, depois com seu bico curvo, retirar a presa de dentro da “casca” com a maior facilidade. No rio Miranda, assisti ao final da tarde bandos imensos deste tipo de gavião, se reunirem na mata galeria do rio. A segunda fotografia é de chamado pelos pantaneiros de Harpia, talvez pela sua semelhança com uma águia.

RIO ABOBRAL.

No contexto pantaneiro esse rio é muito pouco falado e conhecido. Na realidade, talvez por ele ser um corixo e não um rio verdadeiro.

O Pantanal é um bioma único, contudo possui características naturais diferentes, abrigando distintas espécies de animais e plantas.

O pantanal do Abobral, é a menor região, limitando-se ao vale do Abobral e parcialmente do Rio Negro. Por ser uma região mais baixa com apenas 90 metros de altitude, é uma das primeiras a se alagar durante as cheias, as sedes das fazendas aparecem as vezes como ilhas no meio da planície. Apesar de pequena, a microrregião de Abobral tem muitas características únicas. Repleta de corixos, lagoas, capões e cordilheiras.

A vegetação predominante são savanas e campos, cobertos d capim-mimoso, muito usado como pasto natural pelos fazendeiros, estes são intercalados com pequenos capões (matas).

Passei muitas férias com a família e amigos na Fazenda Santa Clara, ao lado do rio Abobral, levei meu barco, Pira II, e naveguei por toda a região maravilhosa do Abobral, principalmente quando ele desagua no rio Paraguai, formando imensas baias, repletas de bandos de biguás, garças, gaviões caramugeiros e itapicurus. Mas isso será uma outra grande história.

Depois da ponte do Rio Abobral existe um bar muito rústico, mas era o único em toda a estrada, na frente do bar havia 4 pés de Sete Copas, ela dá uma castanha que é muito procurada pelas araras, quando por lá passamos havia dezenas de araras vermelhas, se alimentando com as frutas da árvore. Um espetáculo inesquecível.

Nas matas do Rio Abobral, muitos animais e pássaros. No ano de 1993 ao navegar no Abobral, tive oportunidade de filmar uma bela onça pintada, na espreita de uma capivarinha. Estávamos já próximos do Rio Paraguai, quando descendo o rio em silêncio vimos esta cena. Talvez tenhamos atrapalhado a pintada, pois a capivara deu um agudo grito e pulou na água, sumindo do felino.

Nas margens do rio Abobral tive oportunidade de fotografar este casal de mutuns. O macho é carijó com a região da barriga amarelada, e a fêmea é preta com uma mancha branca, cabeça e pescoço preto. São aves majestosas e de andar imponente. Haviam muitos casais dessas aves andando pela mata galeria, a montante desta ponte que passamos.

Pelo tamanho deste iguana, visto logo após o rio Abobral nos surpreendeu muito, acredito que tinha mais de 1.80m, semelhante a um pequeno jacaré. Ele é inofensivo, contudo, o pantaneiro tem uma grande aversão a este animal, não sei por que.

Depois do Esquinão, a Curva do Leque, e passar por umas 15 pontes de corixos, que se comunicam com o rio Negrinho, chegamos ao Porto Manga. A surpresa foi muito grande, pois a última vez que lá estive, almocei muito bem no restaurante da fotografia. Agora quando passei, 7/09/2016, tudo muito quieto e abandonado, é triste. É um lugar simbólico do Pantanal, por lá passou o marechal Rondon, o famoso presidente dos USA, Franklin Delano Roosevelt, que estava com destino da Amazônia.

Uma única balsa para travessia do Rio Paraguai. Também geograficamente é um lugar importante pois: Logo a montante do porto desemboca o Rio Negro, o Taquari e o Paraguai Mirim; e a jusante os rios Abobral e Miranda.

Esta é uma visão geral do Porto Manga, é importante salientar é a casinha do telégrafo ainda perfeita, feita para pelo Marechal Rondon, para passagem da linha telegráfica, que saia do Rio de Janeiro capital do Brasil, até Manaus, unindo pela primeira vez o país, de Norte ao Sul. Este é um lugar importante do Mato Grosso, por aí passavam todos rumo a Corumbá e Bolívia.

A montante desse porto, desaguam os rios: Negrinho, Taquari e Paraguai-mirim.

A jusante: Abobral e Taquari. Na margem direita está a região de Morrinhos

Saindo do Porto Manga para Corumbá, sobe-se a Serra do Urucum, são 70Km, de grandes aclives e declives, é uma estrada muito bonita, este final da Estrada Parque Pantanal.

PESCARIA NO RIO MIRANDA COM O HULK.

Hulk é um ónibus de uns amigos de Santa Rita do Passa Quatro, feito e adaptado para irem pescar. Eles iriam pescar e acampar em uma fazenda a montante da cidade da cidade de Miranda Ms, uns 30 Km, na propriedade de um amigo deles. Eu tinha avião, e um dos donos do ônibus não podia ficar nos 4 dias de viagem, de ida e volta, pela estrada. Assim resolveram convidar-me, e eu levaria este sócio importante comigo, saindo de Ribeirão Preto 2 dias depois do ônibus.

Meu companheiro para a viagem era um comendador. Fiquei preocupado com a pose de meu companheiro, pois ele era dono de uma grande e renomada fábrica de bebidas, sobressaindo uma famosa marca de pinga. Quando ele chegou no aeroporto com seu chofer, exatamente na hora combinada, fiquei na expectativa. Que felicidade, era um “caipira – pescador”, como todos nós mesmo.

A viagem foi muito tranquila, o céu de brigadeiro, limpo e muito azul. Saímos de Ribeirão Preto com proa de Aquidauana para abastecimento. Logo que passamos o morro da Mesa da Serra do Maracaju, a pista da cidade estava na proa.

Aterrissamos suavemente, e fomos para o abastecimento. O comendador fez questão de pagar a gasolina e o café. Decolamos para Miranda, nem compensava subir o voo muito, pois já estávamos no Pantanal, e nosso destino estava apenas a 70 Km de distância. Fui em voo baixo, creio que a 2.500 pés.

O ônibus deles se chama de Hulk, pois é inteiro pintado de verde. A rota de Aquidauana para Miranda é exatamente sobre a estrada que é uma reta, na planície. Quando ao longe via a cidade, abaixei, para 1.500 pés, o asfalto ficou na minha proa, e o incrível, lá estava na rodovia o verdinho ônibus, dos companheiros com 3 canoas, presas no teto. Coincidência, iríamos chegar em Miranda juntos. Baixei o voo mais 1.000 pés e dei um rasante sobre os companheiros, fiz um giro de 360º sobre o ônibus e fui para o pouso.

O aeródromo era muito simples, apenas uma pista de terra, contornei a cidade, vimos o Rio Miranda, passando pela ponte da cidade, não sei por que, mas eu e o companheiro ficamos alegres e rimos, pela coincidência de chegar juntos na pescaria.

Quando estava prendendo o avião, a turma chegou, foi uma festa. O companheirismo, sadio, sem obstáculos espirituais, com objetivos comuns, são momentos para se recordar e se alegrar sempre.

Fomos até a cidade, para almoçarmos e nos confraternizar para a pescaria, só alegria, depois de nos fraternizarmos com a pinga Jamel do comendador. Pegamos a grande condução e lá fomos pela estrada de terra para o Rio Miranda.

Uns 20km depois já entramos na estrada secundária para a fazenda, grandes pastos verdes, de braquiária, ótimos bois nelores enfeitavam a paisagem, pintando os cenários de centenas de pontos brancos. Passamos pela fazenda, aí começou a trilha para chegarmos ao rio.

A mata galeria era bem exuberante, e a trilha um pouco estreita para o Hulk. Neste ponto tivemos que cortar alguns galhos para o ônibus passar. O ônibus era superpreparado, canoas, motores e as camas de todos. Eu levei minha barraca, para ficar no acampamento, bem à vontade.

H:\HULK  abrindo cami 2.JPG

Aí está o companheiro de espada em riste, cortando os galhos que poderiam pegar nas canoas, A trilha foi aberta e logo chegamos ao rio.

H:\HULK acamp Miranda 3.JPG

Aí está o acampamento montado, uma maravilha, em um lugar super delicioso, em torno do acampamento havia uma mata imensa, onde proliferavam jaós, mutuns, e pelo menos a noite ouvimos o esturro de onça e uivo de lobo. Não quero ser exagerado, pois dormia sozinho na barraca, no meio do mato. As camas dos companheiros, eram beliches dentro do ônibus.

Sempre que acampei no meio de floresta, ou nos campos, minha preocupação sempre foi as cobras peçonhentas, que ao sentir nosso calor se aproxima, e quando a gente se vira e a comprimem, a picada pode ser fatal.

Assim a condição necessária de uma barraca é o fundo ou piso ser hermeticamente fechado. Quando se puxa o zíper sabemos que estamos isolados, de aranhas, escorpiões entre outros bichos.

A fazenda onde estávamos era recém comprada, havia na região que estávamos, muitos milhares de alqueires de mata virgem, assim a riqueza dos animais e aves era imensa. Andei muito com um morador ribeirinho, por sinal um grande pescador, que nos serviu de guia.

Ele levou-me para ver um carreiro de anta, este é o maior animal selvagem que temos, é muito manso e arredio. Fiquei parado no rio, duas vezes esperando o belo animal, vir beber água, a tardezinha conforme o recomendado. Segundo o companheiro mateiro, a anta, como de costume vinha vindo, ele havia escutado o animal pisando nos ramos e folhas, mas percebeu nossa presença e voltou no galope.

Eu duvidei, da escuta dele, ele não gostou.

Mandou-me ancorar a canoa, e entrar no mato com ele, fomos caminhando com cuidado pelo carreiro. Ele era incansável, a trilha foi se estendendo mato a dentro. Ele se animou, mostrou-me um bando de jacutingas em uma grande árvore, fazendo uma algazarra louca. Depois de uns 500m, a mata ficou em completo silêncio, apenas ouvíamos o solitário pio de um jaó. Apenas o ruído de nossos passos, quebrava a harmonia da mata virgem.

Não sei quando andamos com certeza, mais foi mais de hora. A mata foi ficando mais rala, a vegetação menos fechada, e saímos em uma capoeira, entremeada de pastaria. O Tonho, este era seu nome, estendeu a mão, e reduziu os passos, apontando o dedo, para um pequeno banhado, bem a nossa direita, e lá estava a solitária anta pastando. Fomos nos aproximando, logo ela nos percebeu, e sem correria, agitando sua pequena tromba, foi se afastando, agitando as plantas e a água do banhado. Logo desapareceu entre as retorcidas árvores do cerradão.

O guia olhou para mim, orgulhoso e disse: “Eu mato, doutor, e mostro o pau”.

Voltei para a canoa bem cansado pela caminhada forçada, mas feliz pelo tudo que vi.

Para mim era um dia especial meu aniversário, a visão da anta e o caminhar na mata foi meu presente.

H:\Sérgio Aniversário 1.JPG

Foi uma grande surpresa para mim este bolo, era dia de meu aniversário, 16 de abril, o cozinheiro fez um bolo de chocolate, e me ofereceram uma espada da guerra do Paraguai para cortar o bolo. Muita emoção nesses momentos de companheirismo.

O rio Mirante nestas alturas, mais de 50Km a montante da cidade, já é mais estreito, mais dentro da caixa, com águas mais corridas. Os barrancos se sucedem nas curvas pronunciadas águas acima. Nas matas ciliares da região, encontramos muitas aves, as vezes parava em um poço, e no silêncio do ambiente, pareceu-me que a mata também estava calada. O único som audível com clareza eram as águas espertas do rio, roçando o leito, e as margens onde as pedras emitiam vibrações, essas ondas eram longas, mas potentes, pois faziam o fundo do barco vibrar.

Nessas horas o companheiro Ésio, também mantinha o silêncio, parece que sentíamos a profunda emoção de estarmos ali, longe de tudo, buscando os sons da natureza. Nossos ouvidos logo começavam a identificar as vozes do silêncio da mata que nos rodeava, de uma maneira tão presente, que parecia como estivéssemos sempre ali, talvez alguma coisa de nossa distante evolução, ainda estava gravada em nossa mente.

O almoço.

Estamos sentando esperando o peixe frito. Tomando uma pinga do comendador, famosa no Brasil inteiro. Ele levou uma caixa de sua pinga, Jamel, aí aprendi uma lição com o fabricante da pinga. Ele compra pinga de todo mundo, de todos os alambiques, aí sim o seu técnico a mistura, corrige o pH, a coloração e a mistura tem que ficar no gosto de todas as pingas da mesma marca. Ela assim se torna especial.

O mesmo deve ocorrer com o whisky, com o café, entre milhares de outras bebidas. É vivendo e aprendendo.

Neste ponto o Rio Miranda não é muito largo, com algumas corredeiras, em com sorte encontra-se bons peixes para a pesca. O rio Miranda se caracteriza por ter inúmeros meandros, que vão se contorcendo pela mata galeria em todo percurso.

A HORA TRISTE DA PARTIDA.

O Hulk foi nos levar ao aeródromo de Miranda para virmos para casa. Veio somente eu e o comendador, segundo os amigos, os pobres, pois os ricos ainda iriam ficar mais uns 5 dias pescando e se divertindo.

Aí está a pista do aeródromo de Miranda. Saímos da cidade, com um pouco de dor no coração, pois os companheiros ainda iriam ficar mais 5 dias pescando.

Esta é a ponte encostada na cidade de Miranda, não dá para ver, mais o Hulk, tinha acabado de passar e está chegando nas árvores logo à frente. Nos despedimos dos companheiros, quando eu dei uma rasante sobre o ônibus. Bons companheiros e ótima pescaria. Saudade.

VIAGEM DE TREM PARA CORUMBÁ.

A vida as vezes é um desafio. Em uma roda de amigos, uns contando vantagem de ir para Corumbá de trem, que demorava 24 horas, eles alugavam um vagão leito somente para eles, e a viagem seria o início de uma grande e inesquecível epopeia. Além do mais, era uma recordação da velha Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que estaria para ser desativada. Diziam, o Brasil não sabe manter suas tradições.

Imagina uma estrada de ferro que uniu o centro sul do país até a Bolívia, ser desativada!

Eu já havia ido para o Pantanal, de fusca, de caminhonete e de avião. Contudo de trem “Da Morte”, pela Noroeste do Brasil, seria uma nova aventura, digna de ser vivida, eu quis ir com a turma de trem.

Certo dia vindo da região de Marília para Bauru, tirei essa fotografia do trem que ia para Corumbá. Fiquei animado, o último vagão desta composição, tem cama para 8 pessoas e uma sala de reunião e refeições. Banheiro com bom chuveiro.

Logo veio à minha mente as histórias da heroica: Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Aventuras, lugares e cargas somente transportadas por ela. Quiz saber mais, e achar um grupo para irmos ao Pantanal, por este trem. Foi com esse pensamento em mente que encontrei estes amigos, E lá combinamos, para irmos.

Acertamos em 8 amigos e alugamos o último vagão do trem, que era um vagão próprio: tinha beliche para 8 pessoas, banheiro, uma sala com cadeiras, enfim, eram muito bem distribuídas as dependências, e tudo muito bem feito. Coisas perfeitas do passado, onde os barões do café e do gado viajavam, para suas grandes fazendas no Noroeste: Cafelândia, Avanhandava, Penápolis, Araçatuba, Andradina, entre outras.

Saímos de Bauru na hora do almoço, e somente chegamos em Corumbá, no outro dia as 20:00 horas. Nem quero somar o número de horas que a viajem demorou.

Histórico: A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB) era uma companhia ferroviária brasileira que operava uma rede ferroviária de bitola métrica (um metro de distância entre os trilhos) com extensão de 1622 quilômetros, construída na primeira metade do Século XX. Sua linha-tronco vai de Bauru-SP até Corumbá-MS, na divisa com a Bolívia.

Esta estrada de ferro praticamente corre no rumo dos bandeirantes e da conquista do oeste do Brasil. Cortou no passado, as matas da região de Avanhandava, Penápolis, Birigui, Araçatuba, chegando gloriosamente no Rio Paraná. Uma ponte de ferro rodoferroviária, cruza o estado e chega a Mato Grosso, liga Três Lagoas a São Paulo. Cruza o estado, Ribas do Rio Pardo, Campo Grande, Anastácio, Miranda e finalmente Corumbá, ligando-se a Bolívia, onde começa a propalada estrada de ferro da Morte, Corumbá até Santa Cruz de la Sierra.

Esta fotografia acredito ser histórica, pois é a capital do MS, Campo Grande, quando a linha férrea ainda passava por dentro da cidade. Acredito ser o ano de 1978 pela idade da perua veraneio da foto. Esta fotografia foi tirada por mim, de manhã quando o trem cruzava a avenida principal de Campo Grande.

Havíamos jantado depois da cidade de Três Lagoas, quando a próxima estação seria Água Clara. Depois de um banho, havia um ótimo chuveiro no vagão leito. Fui dormir bem tranquilo, no balanço ritmado do trem, ainda mais que nosso vagão era o último da composição ferroviária.

Trinta quilômetros aproximadamente depois da capital passamos em Terenos. A cidade está na área onde moravam os índios de mesmo nome. A cidade manteve o nome e a ocupação dos índios. Com a implantação da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que em data de 6 de setembro de 1914, inaugurou a estação ferroviária e telegráfica, do mesmo nome. Não se previa que ali seria a sede de um próspero município.

Está é casa típica, do Brasil, na época que a ferrovia foi feita, seu aspecto me lembra quase todas as casas feitas pela companhia na época, ao longo da linha férrea. O trem passa dentro de uma estação em Terenos, onde o número de índios vendendo todos os tipos de artesanatos da cultura terena era muito grande. A estação era muito movimentada, fiquei impressionado com o número de passageiros que embarcaram para Anastácio e Aquidauana.

Depois desta estação os trilhos de ferro, se contorce em curvas fechadas, a composição vai bem lentamente. Da janela do lado direito vejo que a rodovia Br-262, ela acompanha as curvas dos trilhos, é possível observar o movimento de carros e caminhões.

Logo depois tudo muda, a composição ganha um pouco mais de velocidade, começa a descida do planalto para a planície pantaneira, passando pela Serra do Maracaju. O trem percorre um longo trecho de retas. As invernadas todas cheias de bois nelores. Passa por rios encachoeirados, vales muito lindos, valeu a pena enfrentar a viagem.

Entre Campo Grande e Aquidauana aproveitamos para almoçar no restaurante do trem. Por sinal foi uma ótima refeição. Resumindo, a fotografia está péssima, mas a comida estava ótima.

Em Aquidauana havia dois movimentos distintos. Do lado direito do trem, um grande movimento de pessoas e vendedores. Deste lado o esquerdo, uma menininha, olhando para a janela onde estávamos sentados. Eu desci, me afastei, a menina continuou com seu inocente olhar para a composição. Dei um sinal ao companheiro, ele pegou uma sacola e colocou sanduiches e um refrigerante. Esta cena é profunda em meu coração. As mãozinhas estendidas, o rostinho angelical, a humildade do ser criança, a esperança…. Os passinhos claudicantes nas pedras soltas, o olhar distante, no irmãozinho menor, à espera da merenda que a irmã havia conseguido.

Voltei correndo ao trem que já ia saindo.

Na estação de Taunay, muitas pessoas pegaram o trem, mas o importante foram as recordações que o nome veio à minha mente. Guerra do Paraguai, a Retirada da Laguna, um livro escrito por Visconde de Taunay, onde conta as agruras da guerra nos pântanos, sua passagem por estas trilhas, daí o nome da estação, muito próprio por sinal. Esta seria uma outra longa história.

De todas propriedades rurais que passamos pelo pantanal alto essa foi escolhida como a mais típica. O gado nelore, em volta da casa, a braquiária no meio do arvoredo. Um pomar de antigas mangueiras e um grande pé de ipê, no meio do arvoredo.

Na estação de Agachi, vimos o primeiro sinal do pantanal baixo, uma anhuma, gritando pelo seu domínio, pouco antes da estação. Esta ave soberba emite um típico som do pantanal, que nos traz lembranças pantaneiras.

Na estação muito humilde por sinal, ao lado da composição, existia um vagão, que na realidade foi transformado em uma casa. Não sei dizer o motivo, mas aquelas duas crianças significaram muito para mim, naquela distância da escola, vivendo naquele isolamento. O menino sorrindo vendo o trem passar. A menina séria esperando a vida passar.

Chegamos à cidade de Miranda, muito movimento na estação, por sinal a estação ficava no meio da cidade. Uma agitação incrível, muitos vendedores, oferecendo de tudo. De frutas, como bananas, cajus, abacaxis e salgadinhos. Eu comprei uma bandeja de cajus.

A grande maioria dos vendedores eram mulheres e crianças, de características de índios que habitam a região.

O chefe do trem avisou que a composição demoraria uns 30 minutos na estação. Aproveitei e desci do trem, e pude constatar, a estação fica na avenida principal da cidade de Miranda. Assim a passagem da composição férrea pela cidade é um acontecimento.

Depois de Miranda existem três estações no Pantanal, as pessoas fazem compras, fazem as despesas, vão ao médico, compram remédios, e depois praticamente o trem as levam de volta para a enorme fazenda da região, onde existem três estações ferroviárias. É uma nova realidade, essa verdadeira entrada para o Pantanal.

Uma fotografia do satélite mostrando a região 20Km depois da cidade de Miranda, onde a ponte ferroviária, aparece a montante da ponte rodoviária. Mostra a mata galeria onde desemboca o limpo Rio Salobra, e a grande curva do rio, antes das pontes.

No entardecer passamos pela ponte do rio Miranda, na primeira foto o rio. Na segunda a estrutura da ponte, que segundo consta veio desmontada da França.

Vista da ponte ferroviária cruzando o Rio Paraguai, uma visão, já no início da noite do grande rio.

O rio Paraguai neste ponto é bem largo, pode-se ver isso pelo comprimento da ponte. As pontes são antigadas mais as estruturas perfeitas, feitas como as da Torre Eiffel na França, de onde vieram resistiram e ainda resistem ao tempo.

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A última etapa da longa viagem, a passagem incrível pela Serra do Urucum, logo depois desembarcamos em Corumbá, onde já éramos esperados, e fomos direto para a chalana. Bem amigos, fim de uma viagem, de mais de 30 horas. A pesca é uma outra história.

TODAS AS HISTÓRIAS QUE ESCREVI SÃO DE UM PASSADO NO PANTANAL.

AS HISTÓRIAS DE HOJE SERIAM DIFERENTES.

Dia 03-08-2022.

O Pantanal tem estado muito diferente, em muitos aspectos, pelo que tenho visto e observado.

Nota: Nesse momento, quando estou escrevendo este “trabalho”, dia 03-08-2022, acabo de ver na EPTV-Ribeirão Preto, uma boiada atravessando o Rio Taquari, que está morto, não tem mais água, seu leito é puro areia. A mesma reportagem, mostra que a 40 anos atrás, uma boiada para atravessar esse mesmo lugar, tinha que fazer os bois nadarem. As cenas que mostraram, do Rio Morto são estarrecedoras e inimagináveis

Onde estão os Rios Voadores da Amazônia, que inundavam a planície pantaneira. Tão bem descrito pelo Professor Enéas, que cobriam a planície de águas, dando vida a todo bioma pantaneiro?

Onde estão as fartas águas, que fertilizavam o solo, molhando o caminhar das boiadas, e propiciavam águas limpas para os cozinheiros das comitivas, fazer o quebra-torto e a janta?

Mais preocupante de tudo, onde estão as águas do grande Rio Taquari, onde ontem as boiadas passavam nadando e hoje passam com sede, levantado poeira do chão.

Ontem os bois, eram milhares de pontos brancos, no azul das águas e no verde do capim mimoso. Hoje são pontos bancos nos ressecados areões.

E a Transpantaneira, com suas matas, suas 147 pontes sobre os corixos, onde estão? A seca e as queimadas levaram.

Sabemos que são ciclos da vida, sabemos que está acontecendo em todo o mundo, mas não consigo parar de pensar, se nós os homens civilizados, não temos uma grande culpa em tudo isso? Termino imaginando e com esperança, que haverá tempo de nos corrigirmos, antes que seja tarde demais.